sexta-feira, 30 de novembro de 2007

BRUNA LOMBARDI




O cachorro de Bruna Lombardi tem pêlos amarelados e olhos azuis. Ela mesma tem olhos verdes - apesar de algumas fotos dizerem que são azuis. Seu marido, o ator Carlos Alberto Riccelli, já ficou grisalho, mas continua com o corpo sarado. O único filho do casal tem pinta de galã e mandou bem na estréia como ator e diretor-assistente no recém-lançado filme dos pais, O Signo da Cidade. A família mora entre São Paulo e Los Angeles. E Bruna continua linda com mais de 50 anos e nenhuma plástica. Ela recebeu a reportagem da Tpm disposta e sorridente. Durante as fotos, seu celular não tocou, ela não falou sobre outros compromissos e quis saber sobre toda a equipe. A exigência da leonina era apenas por naturalidade.Para garantir isso, fez questão de mostrar ao cabeleireiro como enrolar seus cachos. Só que nem tudo é perfeito e, no primeiro click, o clima pesou. Bruna não deixava ninguém encostar em seu cabelo e o sorriso já não convencia.Até que bateram os cinco minutos e a atriz molhou os fios loiros, que demoraram quase uma hora a tomar forma."Eu não estava me vendo naquele penteado. Não faço nada só pela imagem, tem que ser de verdade", diz, sentada no chão.
Pessoa de não-númerosFotos prontas, voltamos ao papo. A atriz não liga para números. Não sabe dizer há quantos anos é casada com Riccelli (seu filho tem 25 anos) nem quanto pesa. Não usa relógio nem lembra que livros leu. "Não contabilizo a vida. Gosto de viver o momento", explica. Talvez por isso, se confundiu ao confirmar à reportagem da Tpmque tem 50 anos, quando todas as fontes pesquisadas atestam 55 (ela teria nascido em 1º de agosto de 1952). O fato é que Bruna está ainda mais bonita do que já era na época de modelo, ou quando posou nua, há 16 anos.Mas, desde que Bruna Lombardi virou nome auto-explicativo, outras pessoas ordenaram os anos de sua vida. Aos 15, a garota que ganhava concursos de poesia e andava com os meninos na escola virou modelo. Em 1977, estreou como atriz em Sem Lenço, Sem Documento, da Globo. No total, foram oito novelas, quatro minisséries e seis filmes. Além disso, comandou durante dez anos o programa Gente de Expressão na TV Manchete e, depois, na TV Bandeirantes. Foi quando entrevistou figuras como os atores Dustin Hoffman e Kevin Costner e Harrison Ford. Bruna escreveu três livros de poesia, dois romances e, agora, lança O Signo da Cidade, segundo longa em que assina o roteiro (o primeiro foi Stress, Orgasms and Salvation). Bruna nunca foi habituée de revistas de fofoca. Sabe-se que ela é linda, simpática, inteligente e tem uma "família feliz". Mas a mulher que não demonstra insegurança, adora plantar árvores, protege os animais e busca o autoconhecimento não é uma personagem, nem sua vida um conto de fadas. Não existe milagre. Tudo é uma questão de coerência. Ou de incoerência.
Tpm. Há incoerência na vida de Bruna Lombardi? Bruna Lombardi. Meu temperamento. Se você estiver na minha casa enquanto trabalho, vai ver que sou superzen. Mas às vezes me dá uns cinco minutos, tem um lado meu que é descontrolado, meio italiana.Me sobe o sangue se alguém falar ríspido. Vou dar um exemplo: uma vez eu estava num posto de gasolina na estrada e vi um caminhoneiro jogando pedra num cachorro. Desci do carro... O Ri falou que só viu uma criatura pequena fazendo assim [apontando o dedo] para um gigantão.Talvez essas perdas de controle tenham te feito bem, afinal, você chegou aos 50 mais bonita que aos 30. Como construiu sua vida até aqui? Olha, qualidade de vida é fundamental. Eu entrevistei muitas mulheres no planeta inteiro e vi muitas lindas que tinham uma espécie de tensão. Quando a gente fica tensa, fica feia. Imagina a vida inteira assim. Se você não busca equilíbrio, é complicado.Você disse que não contabiliza a vida e se esquece do que passou. Como é isso? Não sou uma criatura de guardar memórias. Outro dia, o Ri me mostrou um livro e falou: "Você lembra desse livro?". Eu falei: "Não". Era O Livro dos Segredos, do Osho. Ele perguntou: "Você nunca leu?". Eu falei: "Não lembro". Ele falou: "Só que você fez o prefácio dele". Quando li o prefácio, achei tão maravilhoso. Tão certo com o que eu achava naquele momento. Uma amiga minha falou: "É muita coerência". Mas eu nunca me achei coerente. Você nunca fez plástica mesmo? Vou fazer em breve [risos]. Tô brincando, mas vou fazer, sem dúvida. Um lifting na hora certa. Quando você descobriu que era bonita? Descobri isso de tanto que me falavam. Mas nunca fui encanada. Quando era modelo, eu ia fazer foto de uniforme de escola, usava rabo-de-cavalo. Me arrumavam inteira, fazia a foto, pra mim era um personagem. Daí me desmoronava inteira e voltava de uniforme pra casa. Como começou a ser modelo? Eu fazia aula de dança, e um cara de uma agência foi numa apresentação e me convidou pra fazer umas fotos. Aí foi muito rápido, eu até queria meio que me esconder... Era tímida? Não, eu era moleque. Lacinho, bolsinha cor-de-rosa, não eram meu estilo. Eu andava com os meninos, ia para a rua. Como foi sua infância? Eu era curiosa, queria viver tudo, acelerada. Sou filha temporã, meu irmão é dez anos mais velho. Meu pai era cineasta. Minha mãe, atriz. [Bruna é filha do diretor de fotografia Ugo Lombardi e de Yvonne Sandner]. Tínhamos grandes conversas. Uma família italiana, em que todo mundo sempre falou junto. Foi na primeira vez que assisti a um filme americano que vi que uma pessoa falava e a outra ouvia. Aí dava uma pausa, a outra respondia. Falei: "Que engraçado! Eles param e ouvem". Por que seu pai veio para o Brasil? Veio com minha mãe e com meu irmão nos anos 50, quando vários técnicos de cinema da Inglaterra e da Itália foram convidados para montar a Vera Cruz aqui. Ele era um aventureiro que saiu de Roma para isso. Trabalhou com Fellini, Rossellini, Vittorio de Sica. Veio para o Rio, onde nasci. Com uns 8 anos nos mudamos para São Paulo.
Aos 25 anos, Kim estréia como ator em O Signo da Cidade, dirigido pelo pai e com roteiro da mãe; Bruna atesta o talento no papel de Diadorim, uma mulher que se passa por homem na adaptação de Grande Sertão: Veredas para a TV, em 1985.
E como você era na adolescência? Muito atirada para as coisas. Tenho um lado de me jogar e, ao mesmo tempo,uma coisa para dentro, para coisas que me interessam de verdade. E eu já era assim pequena. No pré, ainda não conhecia livraria, mas já ia para a biblioteca da escola. As colegas já pediam para eu escrever ensaios para elas. Fui reconhecida rápido. Era a única Bruna da escola, praticamente do país. Quando você decidiu ser atriz? Cedo. Fiz jornalismo e propaganda e marketing, mas ser atriz era um caminho natural por causa dos meus pais. Talvez por eu ter começado a trabalhar como modelo também. Um te maquia, outro te veste, você é personagem das pessoas. Eu nunca fui aquela menina que sonha em ser modelo, atriz. Tudo na minha vida veio antes de eu querer. Até o marido [risos]? Sempre fui de namoros longos, mas o Ri mudou tudo [Bruna conheceu o marido durante as gravações da novela Aritana, em 1978].Sua relação com o Riccelli passa uma imagem de ser perfeita. Vocês são lindos, inteligentes, trabalham juntos... E é assim mesmo, a gente não está mentindo. Para você ter uma idéia, na minha casa quase não tem parede. Estou ficando cada vez mais transparente. E o que o Ri e eu somos juntos é de verdade. É difícil você encontrar uma pessoa e acertar o passo. O Ri e eu crescemos juntos. É uma sorte, um pequeno milagre. Não sei como se constrói uma relação. Sei é que tem trabalho, não vem pronto. E até hoje fico perplexa com o olhar dele para mim. É legal ter alguém que te olha apaixonadamente.Você planejou isso? Nunca. Nem nos meus sonhos mais selvagens [risos]. Não fui criada para casar numa igreja de branco, tanto que não casei. Aliás, nunca me casei. Meu sonho era viajar, conhecer lugares remotos, ser a primeira a pisar em territórios. Imaginava que talvez fosse uma grande repórter. E nunca pensei que teria alguém para compartilhar minha vida. Imagina o quanto me surpreende a vida que tenho! Você teve só um filho por opção? Porque eu quis. Minha vida era complexa e eu achei que ia dar conta de criar muito bem um.A gravidez foi planejada? Não, foi surpresa. E me dei ao luxo de parar de trabalhar. Fazia umas fotos, umas campanhas, ganhava uma graninha, mas trabalhar mesmo não trabalhei. Depois de três meses que o Kim nasceu, precisei voltar à ativa porque tinha contrato. Aí me joguei na vida de novo e fui criando o Kim.Como é a relação de vocês? Nunca fui em busca dos papéis sociais que uma família tem ou parece que tem. Nunca falei: "Agora o papel de mãe, eu preciso agir dessa maneira", ou o papel de esposa. Não achava que eu tinha que preencher essas lacunas sociais. Então, minha relação com meu filho sempre foi quase de amigos. Em nenhum momento essa relação atrapalhou sua autoridade como mãe? Se você tem uma autoridade, ou ela é liberal demais, daí vem a idéia do limite, ou ela é limitada demais, daí vem a rebeldia. Se você coloca como: "Vamos ver, é a primeira vez para nós dois", não precisa impor limites. Sempre teve muita conversa, troca.
Estamos falando de papéis. Hoje os papéis estão confusos nas relações. Por exemplo: quantas vezes nos ofendemos se o cara quer pagar a conta e, ao mesmo tempo, cobramos uma postura de cavalheiro em outra situação? Acho lindo isso nas mulheres, essa coisa confusa que a gente é. O homem que tem humor para olhar para isso é bacana.De onde veio a idéia para o filme O Signo da Cidade? Queria contar várias histórias, com muita gente e muitos temas. Entre outras coisas, queria falar sobre como a vida da gente é conectada. Não adianta eu ser feliz sozinha, nenhum homem é uma ilha. Como você encara as possíveis críticas negativas ao filme? Sabe que nunca penso nisso? Na estréia na Mostra do Rio, muitos homens choraram [o crítico de cinema Luiz Carlos Merten, de O Estado de S. Paulo, confessou, no blog do Estadão, que chorou no filme de Bruna]. Isso mostrou que o filme derruba defesas. O Fernando Meirelles disse que, se um personagem não te pega, vem outro e,"pim", pega. Minhas coisas têm sido acima do que espero. Imagina, fiz a letra de "Sozinho na Cidade", o Ri fez a música e o Caetano gravou. Também fiz a letra de "Sorte", que a Maria Bethânia gravou. É difícil acreditar nos dois interpretando letras minhas no filme.Quando você atua, tem alguma vaidade na escolha de seus personagens? Não. Já fiz vários trabalhos, como Diadorim [personagem de uma mulher que se passa por homem, na minissérie adaptada do clássicoGrande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa], em que precisava estar medonha. Mas teve momentos em que muita gente falava: "Você precisa se enfeiar pra ser levada a sério". Meus editores falavam que eu não podia misturar meu lado bonito, glamoroso como lado escritora. Mas não me prendi a essas jaulas para ser aceita.E, na vida, você é vaidosa? Ah,todo mundo é. Mas meu sonho é ser mais vaidosa. Porque sou muito trabalhadora, então sou vaidosa "espelhinho do carro", sabe? Meu cabeleireiro me liga e fala: "Você precisa vir, você é louca! Quer que eu vá aí?".Você gosta de esportes? Nunca fui de esportes. O Ri é superesporte, eu sempre fui voltada pra expressão. Mas faço ioga há mais de dez anos.E a sua alimentação? Nunca faço dieta. Não acredito em fazer coisas contra sua vontade. Claro, de vez em quando você fala:"Exagerei, deixa eu dar uma maneirada". Mas tem alguns pecados que eu adoro: vinho, mandioca frita, pizza. E não me peso! Sou uma pessoa de não-números. Não sei há quanto tempo casei, por exemplo. Sempre fui assim. Uma vez fui levar o almoço pro meu filho na escola - ele havia esquecido no carro - e não sabia a série em que ele estava [risos], não tinha a menor idéia. Você tem medo de envelhecer? Isso é inevitável, mas tem coisas que me preocupam muito mais do que isso. O que está acontecendo com o planeta, por exemplo. Se envelhecer fosse problema, que alegria. Uma hora você vai ser escalada tipo Conduzindo Miss Daisy [filme norte-americano de 1989, que tem como personagem principal uma senhora de idade]. Mas deve ser legal viver esse momento porque senão sua vida acaba antes.Tem gente que me encontra e fala: "Ai, a época da faculdade". Adorei a faculdade, mas não queria estar nela agora, porque eu estou onde estou. Não tenho isso de olhar pra trás.




quarta-feira, 21 de novembro de 2007

MEUS PAIS FORAM UNS MONSTROS


Eu fui sempre uma criança acuada. Vivia com um medo horrível, pois sempre desagradava meu pai ou minha mãe. Se falasse ou me calasse era considerado como desobediente, astuto, atrevido, mal-criado. Confuso, atordoado, nunca sabia o que e como deveria me comportar e me dava sempre mal. Sempre.
E não-raro apanhava muito. Não entendia nada e achava que a vida era assim mesmo. Minha vida era esperar a tarde para saber se tinha surra ou não. Fui até me acostumando com a idéia e estranhava se, por acaso, naquela tarde não tinha bronca nem surra, depois que o meu pai chegava do trabalho e minha mãe contava e aumentava tudo. Ela tinha um certo prazer mórbido em me ver apanhar - mesmo jurando, como o faz até hoje - "que mamãe te ama"...Ah! mentirosa! Mas até onde sei, ela também apanhou muito na infância do meu avô que era um bruto. Que certamente apanhou do seu pai...que apanhou do seu pai...indo parar a culpa em Adão e Eva...

Fui o primeiro filho depois de 10 anos de casamento. Meu pai não queria homem - e hoje entendo - por ciúme, para não haver competição naquele mesmo espaço onde ele reinava sozinho. E, por infelicidade - mais minha do que dele - nasceu um menino. E minha mãe muito covarde e subserviente como sempre, se dobrava às exigências incabíveis do pai em relação ao filho, exercendo uma total omissão durante toda a minha infância, o que deixou-me com seqüelas irrecuperáveis.

Para a criança ingênua e desavisada é muito sofrimento viver sob a mira do pai ou da mãe, sem saber se agiu errado ou não. Se vai levar surra ou não, ou ser ridiculariza em frente aos colegas e aos adultos, parentes ou amigos da casa. É um crime que se comete contra ela - e a pessoa só deveria procriar depois que soubesse disso e pudesse evitar esta barbaridade psicológica tremendamente horrível. E isto vai criando uma mágoa, um buraco por dentro, o que poderá resultar em conseqüências drásticas.

Hoje, com mais de 50 anos de idade, continuo aqui sofrendo os revezes desta conduta irresponsável que meus pais exerceram contra mim. E pior, nunca souberam disso. Papai e mamãe precisam ter um cuidado especial e singular em relação aos seus filhos, que não pediram para vir ao mundo e muito menos para pagarem pelas suas irresponsabilidades morais e afetivas. A dinâmica psicossocial que desencadeiam em cada um dos seus filhos, a forma como os repreendem, se for preciso e os mitos que criam na medida em que atuam desta ou daquela forma ou se omitem em fazê-lo. Tudo forma uma globalidade em que se embasam as estruturas psicológicas da pessoa, suas relações, e, por fim, a sociedade toda. E por conseqüência, os crimes, crises, horrores e sofrimentos.

Família é ótimo. Mas pode ser o foco de muitos problemas de ordem psicológica e de sofrimentos eternos para as pessoas que as compoem, as gerações futuras e aquelas com quem terão quaisquer contatos ao longo da vida. A família pode ser o túmulo da felicidade. Eu, especialmente, como professor a vida toda, imagino a série de injustiças que cometi. Os sofrimentos causados. As reprovações feitas, discussões, mal-entendidos, dores, lágrimas, sofrimentos.

Por via das dúvidas, já que o objetivo deste blog é mudar paradigmas, espero que os pais e mães, meus possíveis leitores, possam aprender e aplicar algumas lições com seus filhos, dentre as quais, destaco:

01 - Não estabeleça limites, mas discuta-os. Negocie sempre. A criança deve expor a sua vontade, sua opção, assumí-la e pagar o preço por ela. Sempre. Queremos criar cidadãos que facilitem a construção de um mundo melhor e isso só acontecerá se a criança vivenciar esta realidade na resolução de seus próprios problemas desde a mais tenra idade. Aliás, a criança que recebeu tudo pronto dentro de uma ordem impositiva, será sempre um ser bossal, um passivo frente às diversidades do mundo e da vida. Meu pai, por exemplo, já morreu há muitos anos. Eu continuo aqui pagando e sofrendo pelos atos impensados dele. Fruto da sua brutalidade, sua ignorância, sua falta de princípios, cuidados, educação, sensibilidade. Passando suas conseqüências para as pessoas com as quais convivo- inclusive agora, pra você que passa a comungar comigo estas idéias.

02 - Cuidado para não criar mitos e fantasias enganosas principalmente que reflitam sobre o prazer, o sexo, os desejos - como infelizmente, fizeram comigo. Não minta e nem esconda nada. Toda criança que pergunta tem o direito de saber a verdade. Ao modo dela, é claro. Não negligencie a informação. O preço a ser pago pode ser muito caro. Gera sofrimentos, dores, doenças, desgraças na família. Pois estas coisas não passam despercebidas aos olhos do sábio universo.

03 - Todos temos as nossas preferências. Papai e mamãe também têm as suas e não admitem. Me leve para a sua casa e em cinco minutos eu digo qual é o seu filho ou filha preferida. E coitado dos demais... mas na frente deles é preciso ter um superior cuidado e corrigir os atos, fatos e falhas neste sentido. Sempre que privilegiar o seu(a) prefirido(a), cuide de voltar atrás, acariciar, dar calor, sorrisos, carinho e atenção aos demais e sempre procurando contrabalanciar privilégios, benefícios, carinhos, elogios, presentinhos... troca, reciprocidade, barganha...

04 - Diálogo é sempre um bom remédio e sem dose balanceada. Pode exagerar. E se for de olho no olho é melhor ainda e dá resultados muito mais imediatos. Carinho, entendimento, empatia: coloque-se no lugar da criança e lembre-se que ela não tem o raciocínio objetivo do adulto. Se você fala pra criança: - "Não puxe o cabelo da sua irmã.". Ela vai entender: - " Não....PUXE O CALBELO DA SUA IRMÃ..." pois após a palavra não, a afirmação é muito maior, e, possivelmente ela vai entender que deve puxar. Se ela for bronquiada ou apanhar por isso, começa aí o processo de construção da loucura.

05 - Relativise sempre a sua posição com o seu pai e a sua mãe durante a sua infância e cuidado para não cometer injustiças graves e inconscientes com os meninos que representam o papai e as meninas que representam a mamãe. Eles não sabem, não eram vivos e não têm culpa de nada. Resolva os problemas com seus pais ou com os terapêutas...deixem as crianças em paz...

06 - Faça dos seus filhos, vencedores. Mime-os, mas não demasiadamente. Diga mais sim do que não, mas, na hora certa, com assertividade. A criança precisa assumir seus atos, omissões, palavras, desejos, mas nunca ser corrompida, humilhada ou sofrer quaisquer danos por isso. Dê à criança o direito de ser criança... Cada não que se diz é amutilação de um pedaço do cérebro da criança.

07 - Por via das dúvidas, use e abuse do amor, do carinho, da dedicação, do afeto. Colo, carícias, palavras doces, elogios, beijinhos - muitos, inclusive, selinhos na boca - são importantes e deliciosos. O amor é a base de tudo. E a falta dele é a responsável por todas as dores, sofrimentos e crises do mundo. E tudo começa com a família. Papai e mamãe são os grandes responsáveis pelo mundo que temos e o universo não costuma perdoar quem teve a chance de fazer o bem e não o fez. Você agora já sabe disso...e a sua responsabilidade se multiplica.
(Lembre-se de passar este texto para a frente. Colabore para que as crianças sofram menos e para que o mundo seja um pouco mais feliz).

domingo, 18 de novembro de 2007

AVISO






Quando eu envelhecer
vou usar púrpura
com chapéu vermelho,
que não combina
nem fica bem em mim.
Vou gastar a pensão com uísque
e luvas de verão,
sandálias de cetim - e dizer
que não temos dinheiro para a manteiga.
Vou sentar na calçada quando me cansar,
devorar as ofertas do supermercado,
tocar as campainhas,
e passar a bengala nas grades das praças
e compensar toda a sobriedade da minha juventude.
Vou andar na chuva de chinelos,
apanhar flores no jardim dos outros
e aprender a cuspir...

A gente pode usar camisas
horríveis e engordar à vontade
comer um quilo de salsicha de uma vez
ou só pão com picles a semana inteira
juntar canetas, lápis, bolachas de cerveja
e coisas inúteis em caixinhas.



Mas por enquanto, temos de
usar roupas que nos deixem secos,
pagar aluguél, não dizer palavrão na rua
e ser um bom exemplo para as crianças.
Temos de ler jornal e convidar amigos para jantar.



Mas quem sabe eu deveria treinar um pouco agora?
Assim os outros não vão ficar chocados demais
quando, de repente,
eu for velha e usar vestido púrpura, me sentar no chão,
dar boas gargalhadas, não cumprir horários,
falar com desconhecidos,
entrar sem pedir licença,
me divertir na rua, e...
começar tardiamente a fazer tudo
o que eu tinha que ter feito a vida toda.



(Jenny Joseph)

sábado, 17 de novembro de 2007

ECOLOGIA PROFUNDA: UM NOVO RENASCIMENTO


Só uma mudança radical na percepção dos males planetários, acima de diferenças sociais, culturais e raciais, pode garantir a vida das gerações futuras em um mundo sustentável.

(*)Fritjof Capra

Hoje, a maioria das pessoas concorda que os anos 90 constituem uma década crítica. A sobrevivência da humanidade e do planeta está em risco. Os anos 90 e os primeiros 50, dos anos 2000 – no mínimo – representam décadas do meio ambiente, não porque nós decidimos assim, mas por causa de acontecimentos que quase fogem ao nosso controle. A preocupação com o meio ambiente não é mais uma entre muitas questões; ela é o contexto de tudo mais: nossas vidas, nosso trabalho, nossa política.
Estamos hoje diante de uma série de problemas globais que prejudicam a biosfera e a vida humana de maneiras tão alarmantes que logo podem se tornar irreversíveis. Temos vasta documentação sobre a extensão e significado desses problemas. Uma das melhores fontes é a série de relatórios anuais State of the World (Situação do Mundo), publicada pelo Worldwatch Institute (Instituto de Vigilância Mundial).
Na avaliação da “saúde ambiental” do planeta estes relatórios observaram as mesmas tendências alarmantes ano após ano. As florestas do mundo estão desaparecendo, enquanto os desertos se expandem. A camada superior das terras cultiváveis está diminuindo, enquanto a camada de ozônio, que nos protege dos raios nocivos ultraviletas, é destruída. A concentração de gases retentores de calor está aumentando enquanto o número de espécies de plantas e animais diminui. A população mundial continua crescendo. E a diferença entre ricos e pobres, também.
Quanto mais observamos os grandes problemas do nosso tempo, mais percebemos que não podem ser resolvidos isoladamente. São problemas sistêmicos – inter-relacionados e interdependentes. Estabilizar a população do mundo só será possível quando a pobreza for mundialmente reduzida. A extinção de espécies animais e vegetais continuará em escala maciça enquanto o Terceiro Mundo estiver sobrecarregado de dívidas. Somente interrompendo a escalada armamentista teremos recursos para evitar os numerosos impactos destrutivos sobre a biosfera e a vida humana.
Se observarmos atentamente a situação perceberemos que, em última instância, tais problemas são apenas diferentes facetas de uma única grande crise, que é, em essência, uma crise de percepção. Ela resulta do fato de a maioria de nós, especialmente nossas grandes instituições sociais, adotarmos conceitos de uma visão de mundo ultrapassada: uma percepção da realidade inadequada para lidar com o nosso mundo atual, superpovoado e globalmente inter-relacionado.
Ao mesmo tempo, pesquisadores da ciência mais avançada, vários movimentos sociais e numerosas redes alternativas estão desenvolvendo uma nova visão da realidade, que constituirá a base de tecnologias, sistemas econômicos e instituições sociais futuros.
De maneira que estamos no começo de uma transformação fundamental de visão de mundo na ciência e na sociedade; uma mudança de paradigmas tão radical quanto a revolução de Copérnico.
O paradigma que vai chegando ao fim dominou nossa cultura por vários séculos, durante os quais configurou a sociedade moderna ocidental e influenciou significativamente o resto do mundo. Esse paradigma consiste em uma série de idéias e valores, entre eles a visão do universo como um sistema mecânico composto de estruturas elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado a ser alcançado pelo crescimento econômico e tecnológico e – por último, mas não menos importante – a crença de que uma sociedade na qual a mulher é em toda parte subordinada ao homem segue uma lei básica da natureza. Todas estas suposições têm sido categoricamente desafiadas por acontecimentos recentes. E, na verdade, elas estão passando por uma revisão radical.
Um Fio na Teia da Vida – O novo paradigma, que pode ser chamado visão holística do mundo, vê o mundo como um todo integrado e não, como uma reunião de partes dissociadas. Também pode ser chamado de visão ecológica, se o termo “ecológico” for usado em sentido muito mais amplo e profundo que o habitual.
Este sentido mais amplo e profundo do “ecológico” está associado a uma escola filosófica específica e, além do mais, a um movimento global radical conhecido como “ecologia profunda”, que vai rapidamente ganhando destaque. A escola filosófica, fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess no início dos anos setenta, distingue ambientalismo superficial de ecologia profunda. Esta distinção hoje é largamente aceita como terminologia útil para referir-se à grande divisão dentro do pensamento ecológico contemporâneo.
O ambientalismo superficial é antropocêntrico. Vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui à natureza apenas um valor instrumental ou de uso. A ecologia profunda não separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer outro ser. Não vê o mundo como um aglomerado de objetos isolados, e sim, uma teia de fenômenos essencialmente inter-relacionados e interdependentes. A ecologia profunda reconhece os valores intrínsecos de todos os seres vivos e vê os seres humanos como apenas um fio particular na teia da vida. Ela reconhece que estamos todos inseridos nos processos cíclicos da natureza, e, em última instância, somos dependentes deles.
Finalmente, a consciência ecológica profunda é espiritual ou religiosa. Uma vez que o conceito de espírito humano é entendido como o modo de consciência no qual o indivíduo sente-se conectado com o cosmos enquanto um todo, torna-se claro que a consciência ecológica é espiritual em sua essência mais profunda. Não surpreende portanto, que a nova visão emergente da realidade, baseada na consciência ecológica profunda, seja coerente com a chamada “filosofia perene” das tradições espirituais – quer estejamos nos referindo à espiritualidade dos místicos cristãos, dos budistas, ou à filosofia e cosmologia subjacentes às tradições dos nativos americanos.
A teoria científica dos sistemas vivos, que se originou da cibernética de quarenta mas que emergiu por completo apenas nos últimos vinte anos mais ou menos, fornece a formulação científica mais apropriada de ecologia profunda, ou paradigma ecológico. Esta teoria vê o mundo em termos de relações e integração. Sistemas vivos são conjuntos integrados, cujas propriedades não podem ser reduzidas as das unidades menores. Exemplos de sistemas abundam na natureza. Cada organismo – da menor bactéria, passando pela vasta série de plantas e animais, até os seres humanos – é um todo integrado e, conseqüentemente, um sistema vivo. Células são sistemas vivos, como também o são os vários tecidos e órgãos do corpo: o cérebro humano é o mais complexo. Mas os sistemas não se restringem a organismos individuais e suas partes. Os mesmos aspectos de totalidade são exibidos pelos sistemas sociais – como a família ou a comunidade – e por ecossistemas que consistem de uma variedade de organismos e matérias inanimadas em mútua interação.
Todos estes sistemas naturais constituem totalidades cujas estruturas específicas surgem das interações e interdependência de suas partes. As propriedades do sistema são destruídas quando ele é dissecado, física ou teoricamente, em elementos isolados. Embora possamos discernir as partes individuais em cada sistema, a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes. Por isso, a abordagem dos sistemas não se concentra em blocos isolados, mas sobretudo, nos princípios básicos de organização.
Mudando Para a Integração – Como os sistemas vivos cobrem uma ampla série de fenômenos – organismos individuais, sistemas sociais e ecossistemas – a teoria fornece uma estrutura e uma linguagem comuns para a biologia, a psicologia, a medicina, a economia e muitas outras ciências; uma estrutura na qual a tão urgente perspectiva e ecológica está explicitamente manifesta.
Uma propriedade dos sistemas vivos é a de formar estruturas de múltiplos níveis dentro dos sistemas. Cada uma delas forma um todo com relação às suas partes e, ao mesmo tempo, é parte de um todo maior. Assim, células combinam para virar tecidos, tecidos para formar órgãos e órgãos para formar organismos. Estes, por sua vez, existem dentro de sistemas sociais e ecossistemas. Por todo o mundo vivo, encontramos sistemas vivos residindo dentro de outros sistemas vivos. Uma das vantagens da abordagem dos sistemas é o fato de os mesmos conceitos poderem ser aplicados em diferentes níveis de sistemas, o que, com freqüência, leva a diferentes insights.
Até aqui enfatizei as percepções e o pensamento. Mas a ecologia profunda requer não apenas uma mudança de nossas percepções e maneiras de pensar. Ela também pede uma mudança correspondente em nossos valores e ações.
E aqui é importante notar a impressionante relação entre mudança de pensamento e de valores. Ambas podem ser vistas como a passagem da auto-afirmação para a integração. Estas duas tendências – a de auto-afirmação e a de integração – constituem aspectos essenciais de todos os sistemas vivos. Nenhuma das duas é intrinsecamente boa ou má. O que é bom ou saudável, é um equilíbrio dinâmico entre as duas; o que é mau ou não-saudável, é o desequilíbrio, a ênfase exagerada em uma tendência e a negligência da outra. No antigo paradigma, enfatizamos exageradamente os valores e modos de pensar auto-afirmativos e negligenciamos seus correspondentes integrativos. Existem diferenças de cultura para cultura; contudo, o que estou sugerindo não é a substituição de um modo por outro, e sim, o estabelecimento de um melhor equilíbrio entre os dois.
O pior, é que boa parte de nossas instituições estão conseguindo disfarçar com base no discurso, ou na implantação de medidas isoladas do pensamento integrativo – que na verdade, se anulam no seu cotidiano – e assim, empresas, instituições e pessoas já pensam e se dizem estar no caminho certo, tendo com isto, um álibi perfeito para continuarem a solapar muito mais a economia, explorar as pessoas, devastar a natureza e assim por diante, estando, portanto, muito mais a serviço da degradação e do caos. Claro que precisamos de muito, mas muito mais do que isto mesmo.
Tendo isso em mente, vamos analisar as várias manifestações da passagem da auto-afirmação para a integração. No que concerne ao pensamento estamos nos referindo à passagem do pensamento racional para o intuitivo, da análise para a síntese, do reducionismo para o holismo, do pensamento linear para o não-linear e complexo, da tendência materialista para a espiritual, do comprometimento elitista para uma visão global de sociedade, buscando beneficiar a todos e não a segmentos estanques.
No que concerne aos valores, estamos observando a uma transição correspondente da competição para a cooperação, da expansão para a conservação, da quantidade para a qualidade, da dominação para a parceria. E claro, relativisando tudo isto para a prática, o cotidiano, as ações concretas de cada um e do todo o potencial humano atuante num mesmo, ou em múltiplos processos.
Pode-se notar que os valores auto-afirmativos – competição, expansão, dominação, etc. – estão, em geral, relacionados com os homens. De fato, na sociedade patriarcal, eles não são apenas privilegiados, mas têm também recompensas econômicas e poder político. E esta é uma razão pela qual a mudança para um sistema de valores mais equilibrados é tão difícil para a maioria das pessoas, e, sobretudo, para a maioria dos homens. Este é também um forte motivo de uma aproximação natural entre a ecologia profunda e o feminismo, conforme expresso no ecofeminismo.
Oikos, Nosso Lar Terreno – Toda a questão dos valores é crucial para a ecologia profunda, ela é, de fato; a característica central que a define. Enquanto todo o velho paradigma, incluindo o ambientalismo superficial, está baseado em valores antropocêntricos (isto é, centrados no homem), a ecologia profunda se baseia em valores ecocêntricos (ou seja, centrados na terra). É uma visão de mundo que reconhece o valore inerente da vida não-humana. Todos os seres humanos são membros de Oikos, o Lar Terreno; a comunidade mundial que se une por uma rede de interdependências. Quando essa profunda percepção ecológica tornar parte de nossa consciência cotidiana, um sistema ético radicalmente novo emergirá.
Tal ética ecológica profunda faz-se urgente hoje, especialmente na ciência, já que a maior parte do que os cientistas estão fazendo não é no sentido de promover e preservar a vida, mas destruí-la. Com físicos criando sistemas armamentistas que ameaçam varrer a vida do planeta, químicos contaminando o meio ambiente, os mananciais de água e de recursos naturais renováveis ou não, criando o efeito estufa, o aquecimento global do planeta; biólogos criando novos e desconhecidos tipos de microorganismos que se transformam em vírus nocivos sem saberem ou se responsabilizarem pelas conseqüências; psicólogos e outros cientistas torturando animais em nome do progresso científico. Com todas estas atividades em andamento, revela-se importantíssimo introduzir novas posturas éticas na ciência moderna, num tempo em que já é quase tarde demais.
Em geral, na nossa cultura, não se reconhece que os valores não são periféricos à ciência e à tecnologia, mas constituem sua base ou força propulsora. Durante a revolução científica do século XVII, os valores eram separados dos fatos e desde esta época tendemos a acreditar que os fatos científicos são independentes do que fazemos, e, portanto, independentes de nossos valores. Na realidade, os fatos científicos emergem de toda uma constelação de percepções, ações e valores humanos – em uma palavra, de um paradigma – dos quais não podem ser separados. Embora boa parte da pesquisa científica possa não depender explicitamente do sistema de valores do cientista, o paradigma maior, dentro do qual a pesquisa é realizada jamais será isento de valores. Os cientistas, portanto, são responsáveis por suas pesquisas, não apenas do ponto de vista intelectual, mas também moral.
Por fim, a visão de que os valores são inerentes a toda natureza viva está fundada na experiência ecológica profunda, ou espiritual, de que a natureza e o eu são um só. Esta expansão do eu até chegar à identificação com a natureza é o fundamento da ecologia profunda, conforme reconheceu claramente Arne Naess: “O cuidado decorre naturalmente se o eu se expandir e aprofundar de maneira que a proteção da Natureza seja sentida e concebida como a proteção a nós mesmos...Da mesma forma que não precisamos de nenhuma moral para respirar(...), se o seu eu, no sentido amplo, abraçar outro ser humano, você não precisará de nenhuma exortação moral para demonstrar cuidado...Você o fará por você mesmo, sem sentir qualquer pressão moral para faze-lo...Se a realidade for como é experienciada pelo eu ecológico; nosso comportamento surgirá de maneira natural e graciosa às normas estritas da ética ecológica”.
O que isso implica é que a conexão entre a percepção ecológica do mundo e o correspondente comportamento não é uma conexão lógica, mas psicológica. A lógica não nos conduz do fato de sermos parte integrante da teia da vida até certas normas de como deveríamos viver. Entretanto, se tivermos uma consciência ecológica profunda, ou experiência de sermos parte da teia da vida então seremos (em vez de deveríamos ser) propensos a cuidar de toda a natureza viva, e, especialmente, de todos os nossos irmãos humanos, independente de nacionalidade, raça, cor, condição humana, credo, condição econômica, social, ou sexual. Na verdade, nunca podemos deixar de responder desta maneira.
Surge o Novo Paradigma – Vou agora falar de outro modo pelo qual Arne Naess caracterizou a ecologia profunda. “A essência da ecologia profunda”, diz ele: “é colocar sempre questões mais profundas. Esta também é a essência da mudança de paradigma. Chegamos a um tempo que é preciso questionar todos os aspectos do antigo paradigma. A ordem é duvidar de absolutamente tudo. Provavelmente não será necessário descartar-se de tudo, mas, antes é preciso saber que se deve estar disposto a questionar tudo.
Um outro aspecto importante é o de analisar o aspecto dual das coisas, dos fatos e fenômenos. Nada é absolutamente bom ou mau para tudo e para todos. O que é bom para o homem pode não ser bom para a mulher, o que agrada o rico pode prejudicar profundamente o pobre e assim por diante. Então devemos nos perguntar sempre ao fazer alguma coisa: - A quem beneficiamos e a quem prejudicamos ao fazermos isto? E o mais ponderado e viável deverá ser escolher uma estratégia, um método, uma forma que seja a menos prejudicial para todos os direta e indiretamente envolvidos no processo.
Portanto, a ecologia profunda coloca questões modulares a respeito dos próprios fundamentos de nossa visão de mundo e nosso modo de vida – modernos, científicos, industriais, voltados para o progresso e materialistas. Ela questiona todo este paradigma de uma perspectiva ecológica; da perspectiva de nossas relações com os outros, com as relações futuras e com a teia da vida da qual fazemos parte.”
Uma das áreas mais importantes para ilustrar esta questão é a dos negócios e da economia. Hoje, o contexto ecológico está se tornando cada vez mais fundamental para os negócios, a economia e a administração. Uma das mais importantes tarefas é a de abandonar a busca cega do crescimento material irrestrito. O crescimento é a principal força propulsora das atuais políticas econômicas e atividades empresariais, e, é, também, o principal elo da destruição ambiental, da crise de valores, da violência, da miséria, enfim, de todos os males do mundo civilizado.
O crescimento, é óbvio, é próprio da vida. Entretanto, no mundo vivo ele não tem significado quantitativo, mas qualitativo. Para o ser humano, por exemplo, crescer significa desenvolver-se em direção à maturidade, não apenas aumentando de tamanho, mas também qualitativamente, pelo crescimento interior. O mesmo vale para todos os sistemas vivos. O conceito de crescimento desses sistemas é qualitativo e multidimensional.
Dar qualidade ao crescimento econômico significa estabelecer critérios de desenvolvimento aceitável ou inaceitável. Nos últimos anos, o desenvolvimento sustentável surgiu como um critério central. Lester Brown, do Worldwaltch Institute, que há anos vem sendo um dos principais defensores do desenvolvimento sustentável, define como sociedade sustentável aquela capaz de satisfazer suas necessidades sem reduzir as chances das futuras gerações e nem prejudicar outros núcleos de vida, bem como as pessoas menos favorecidas.
Este, para mim é o principal desafio da sociedade contemporânea: criar ambientes sociais e culturais nos quais possamos satisfazer nossas necessidades sem reduzir as chances das gerações futuras e dos outros segmentos sociais do nosso tempo; dar qualidade ao crescimento econômico, introduzindo o desenvolvimento sustentável como critério chave de todas as nossas atividades.
No Elmwood Institute, estamos empenhados em pesquisas deste tipo junto com um pequeno número de empresas pioneiras em termos ecológicos. Desenvolvemos discussões em mesas redondas, seminários e publicações dentro do que denominamos Ecomanagement Program (Programa de Administração Ecológica).
Também aplicamos a abordagem da ecologia profunda na educação em nosso Ecoliteracy Program (Programa de Alfabetização Ecológica), que compreende a elaboração de um currículo escolar orientado para a ecologia, o K-12 e do desenvolvimento de cooperativas comunitárias de educação.
Fazemos isto porque acreditamos que para conseguir a radical mudança de percepção necessária para a sobrevivência da humanidade, numa época já absolutamente tardia, necessitamos de uma ampla campanha pública de educação, discussão e diálogo. Esta é uma iniciativa que transcende todas as nossas diferenças raciais, culturais, sociais, políticas, econômicas, ideológicas, enfim, todas.
“Ecologia” é a palavra grega para designar “Lar da Terra”. A Terra é nosso lar comum e criar um lar comum para os nossos filhos – que são todos os filhos da Terra – bem como para as gerações do futuro é a nossa tarefa mais importante. É para isso que estamos aqui.

_______________
(*) Físico austríaco radicado nos USA. Recebeu o seu PhD. na Universidade de Viena e realizou pesquisas sobre física de alta energia em várias universidades européias e norte-americanas. Publicou inúmeros trabalhos sobre relações da física com a mística e a fenomenologia. É autor de muitos artigos, resenhas, documentários, relatórios científicos e livros, entre os quais: O táo da física; O ponto de mutação; A sabedoria incomum; Pertencendo ao universo; A teia da vida e Conexões ocultas.

PENSE NISSO!...


"Muitas vezes a pessoa psiquicamente doente não poderá curar-se enquanto sua família estiver seriamente conturbada. Uma família, por exemplo, pode usar um de seus membros para que seja um fracassado crônico, desiquilibrado, dependente ou depressivo... ou mesmo uma criança- problema aparentemente sem esperança de recuperação, como bode expiatório para descarregar a tensão coletiva, que, sem isso, seria insuportável.

O distúrbio psíquico desta pessoa tem suas raízes no papel especial que lhe foi inconscientemente imposto pela família e o tratamento psicoterapêutico pode falhar porque a família se recusa a abrir mão do seu bode expiatório.

Portanto, muito cuidado. As nossas ligações com as famílias são extremamente duais; podem ser mascaradas e profundamente perigosas".


(Horst E. Hichiter)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

TAO


TAO
O Tao (lê-se "dao"), palavra chinesa que significa caminho, de acordo com a religião taoísta, é uma força que está em todos os processos de transformação que percorrem o mundo e não existem palavras que possam descrevê-la. Relaxe, você já está em casa - Princípios do Tao para enriquecer a vida diária quem entra em contato com ela, sente-se muito melhor, mais saudável e feliz. Porém, é muito mais fácil encontrá-la quando estamos em contato com o mundo natural. Para isso, bastam algumas atitudes feitas, pelo menos, uma vez por semana:





  • Caminhe ou corra no parque prestando atenção às arvores e plantas.

  • Almoce ao ar livre e sinta a brisa tocar seu rosto enquanto aprecia a comida.

  • Se puder, visite uma região que tenha lagos ou mesmo o mar, entre na água e sinta a natureza.

  • Ande de bicicleta no campo, pare para fazer um piquenique e colha algumas flores.

  • Tenha seu próprio jardim, mesmo que viva em apartamento. Cuide você mesmo dele.

    "TRANSFORME SUAS ATITUDES E PENSAMENTOS E VOCÊ TRANSFORMARÁ SUA QUALIDADE DE VIDA. TRANSFORME SEUS PENSAMENTOS NEGATIVOS EM POSITIVOS E TUDO SE TRANSFORMARÁ EM PAZ INTERIOR E SAÚDE"
    LIVRO: POSITIVE THOUGHTS AS A MEDICINE, THE WORLD RENEWAL

    BANHO DE QUENTÃO
    O quentão é uma bebida típica das festas juninas. Entretanto, suas propriedades estão sendo aproveitadas nos banhos de ofurô. Que tal tomar um bom banho de quentão?
    o O gengibre alivia as dores musculares, aquece o corpo e atua na prevenção de resfriados.o A canela é diurética e atrai bons fluídos.o O cravo é anti-séptico, melhora as picadas de insetos e a descamação da pele.o A laranja é um antidepressivo natural e diminui a ansiedade.

    FONTE: DAY SPA KAN TUI:
    WWW.DAYSPA.COM.BR

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

OS SETE SAPATOS DE MIA COUTO




















"Não podemos entrar na modernidade com o atual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei Sete Sapatos Sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher, e sete, é um número mágico:
Primeiro Sapato
A idéia de que os culpados são sempre os outros;
Segundo Sapato
A idéia de que o sucesso não nasce do trabalho;
Terceiro Sapato
O preconceito de que quem critica é um inimigo;
Quarto Sapato
A idéia de que mudar as palavras muda a realidade;
Quinto Sapato
A vergonha de ser pobre e o culto das aparências;
Sexto Sapato
A passividade perante a injustiça;
Sétimo Sapato
A idéia de que, para sermos modernos, temos de imitar os outros."









PLASTIFICAR A CIDADE?




Num país em que as pessoas morrem por doen­ças de fácil cura, a morte de uma palmeira é completa­mente irrelevante. Mesmo que, em vez de morte, tenha havido assassi­nato. E mes­mo que, em vez de uma pal­­meira, tenham sido assassi­na­das dezenas de palmeiras. Maputo fez-se bonita para a Cimeira da União Africana. Palmeiras foram adquiridas (e não foram nada baratas) para embelezar a mais nobre das avenidas da cidade. O cidadão comum sabia que esse dinheiro saía do seu bolso. Mas estava até feliz por colaborar no renovar do rosto da cidade. Da sua cidade.
As palmeiras reais vieram e fizeram um vistaço. Os Maputenses passeavam-se, com acrescida vaidade, pela lar­­ga avenida. Mas as pal­meiras têm um enorme in­conveniente: são seres vivos. E pedem rega. Apenas depois de terem sido plan­tadas é que se iniciaram obras estra­nhíssimas de abre-e-fecha buraco, põe-e-tira tubagem. As palmeiras, pa­cien­tes, ainda esperaram. Mas es­tavam condenadas à mor­te. Uma a uma, come­çaram a secar.
Durante meses (e até hoje) fica­ram os seus ca­dáveres de pé como mo­numentos à nossa inca­pacidade. Não houve sequer pudor de lhes dar destino. Elas sobraram ali, como provas de um criminoso desleixo. O cidadão que, antes fora iluminado por súbita vaidade, agora se interrogava: ali mesmo nas barbas da Presidência da República ?
A morte destas palmeiras interessa, sobretudo, como sintoma de um relaxamento que atingiu Moçambique. A folhagem seca dessas pal­meiras é uma espécie de bandeira hasteada desse abandalhamento. Não se trata, afinal, de uma simples morte de umas tantas árvores. Não tarda a que Maputo receba um outro evento internacional. Compraremos outros adereços para a cida­de. Uns para embelezar de raiz, outros para maquilhar as olheiras de Maputo. Dessa vez, porém, compremos palmeiras de plástico. Ou plastifiquemos estas, já faleci­das, depois de lhe passarmos uma demão de tinta verde. Ou, se calhar, nem disso precisa­remos: à velocidade com que espaços que deviam ser verdes estão sendo ocupados por placards e anúncios publicitários não necessitaremos de mais nada. Aliás, qualquer dia, Maputo nem precisa de vista para o mar. Esta cidade que sempre foi uma varanda virada para o Indico está prescindindo dessa beleza. Locais cuja beleza advinha da paisagem estão sendo sistematicamente sendo ocupados por publicidade de tabaco, bebidas alcoólicas e bugigangas diversas. Um dia destes, nem necessitare­mos de ter mais cidade. Trocamos a urbe por pro­paganda de mercadorias.
Depois, queixamo-nos da globalização.




Por: Mia Couto


(Romancista Moçambicano)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

POR UMA PEDAGOGIA PARA O TERCEIRO MILÊNIO I


Ao longo das nossas publicações neste blog, traçamos aqui um rápido quadro conceitual sobre as questões éticas, políticas e filosóficas que norteiam a educação e as práticas escolares com processos e resultados positivos e negativos. Vamos agora discorrer sobre as novas propostas que vimos ajudando a adotar por meio do Projeto Pedagogia da Complexidade que temos implantado em algumas escolas nos últimos anos.
Em primeiro lugar é indispensável um certo olhar dialético sobre a educação, a escola e ações pedagógicas, colocando definitivamente por terra esta visão ingênua de que só existe o lado bom, o dos serviços prestados às sociedades do mundo desde tempos imemoriais.
Nada disso. Escola e educação prestam serviços e desserviços num tempo em que impõem regras e normas. Ditam espaços e obrigam a determinados comportamentos e posturas. Enquanto ensina um conhecimento historicamente acumulado e que pode ser algo muito bom para quem aprende, as escolas e seus métodos forçam todo um estigma psicossocial nocivo à construção de uma sociedade de iguais, melhor que a nossa, justa e fraterna, com o que, certamente, quase todos sonhamos.
Acontece, porém, que estes são os instrumentos invisíveis que garantem o funcionamento de uma sociedade em que poucos exploram muitos e tudo parece natural ao longo dos séculos. E, assim, são incutidos nos educadores por meio do processo de sua formação profissional e os inibe de, na maioria das vezes, enxergarem na prática esta dicotomia, este atraso que envolve historicamente o fazer educacional, chegando hoje a um limite insustentável.
A partir desta visão entendemos que a escola deve personalizar ao invés de massificar seus métodos e tratamentos. Daí a importância da pesquisa e do diagnóstico das verdades intrínsecas de cada pessoa para atender sonhos, desejos, dificuldades, facilidades e metas específicas. Cada pessoa, cada aluno é um ser em especial, um universo a parte e que deve ser considerado como tal. Caso contrário, estaremos prejudicando uns mais que outros e ajudando a manter as desigualdades e injustiças que se corporificam no mundo, constituindo o grande caos em que nos achamos imersos.
Ao mesmo tempo as escolas deveriam ensinar o que as pessoas precisam aprender para viver com mais qualidade, ao invés de instruí-las para que melhor se adeqüem à exploração que as consome. Assim, os currículos escolares, os conteúdos e programas de ensino deveriam ser constituídos de outros saberes, de como, por exemplo, resolver os próprios problemas, entender melhor a política, a economia, o funcionamento da máquina social, a tomar as decisões acertadas e oportunas.
O mesmo acontece com os métodos de fazer aprender. Estes devem respeitar diferenças, modos, ritmos, estilos, desejos. Uns aprendem melhor lendo, outros ouvindo, falando, sentindo, brincando, rindo. Outros ainda, de formas mais diferenciadas. As escolas, linearizando seus métodos e técnicas, mais uma vez avalizam as desigualdades sociais, ajudando a manter a crise endêmica na qual o planeta se mergulha, talvez, sem quaisquer esperanças de salvação.
Entremear a sala de aula com atividades diversificadas, com encontros sociais distintos, proporcionar ao aluno a vivência em realidades diferentes e iguais a sua. Dar chances ao exercício da solidariedade, da troca, do respeito, da multiplicidade cultural, da arte, do esporte, da produção, dos serviços e do humor que dignifica a vida. Avaliar durante o processo, promover quem ensina e quem aprende. Favorecer relações mais saudáveis, duradouras e a construção de uma realidade amena, bela e feita de seres humanos mais inteiros e sensíveis à própria condição da vida.
A nova comunidade escolar deve ser aberta, volátil, reflexiva. Todos decidem juntos. Os alunos se dirigem aos professores por seus primeiros nomes, tratando-se mutuamente por você e os encaram como amigos, como parceiros e não mais como figuras autoritárias, como algozes.
O novo currículo deve ser rico e sutil, flexibilizar os assuntos difíceis, numa perspectiva lúdica, atrativa e interessante. Proporcionar conhecimento além do convencional, integrar artes, humanidades e demais ações, elaborando alunos e professores seus próprios programas. Os alunos aprendem biologia cuidando de animais e botânica, plantando e cuidando de pomares, hortas e jardins. Eles discutem, participam, fracassam, têm êxito. Aprendem a acertar e a errar.
Os estudantes passam a conhecer seus próprios comportamentos. Concentração, relaxamento e fantasia são utilizados para que se mantenham abertos os caminhos intuitivos. Eles refletem sobre paradoxos, filosofias conflitantes e suas implicações com os complexos problemas do mundo.
Queremos colocar um fim na era da escola que se esconde atrás de subterfúgios funcionalistas e que acabam por arregimentar massas dóceis e ingênuas. Uma escola que trabalha à luz da indução burguesa e para a manutenção de um capitalismo perverso, mesquinho e em desuso, que tolhe a liberdade e a coragem de agir pela transformação requerida no nascente milênio de evolução da humanidade.
Precisamos da escola que flexibilize os horários, o uso do uniforme e que use a boa qualidade das aulas e atividades, o prazer, o lúdico, o desejo de estar e permanecer nela como instrumento de garantia de sua freqüência e do seu sucesso, independente das chamadas e de outras imposições. Uma escola que ame e respeite seus alunos e não que os transforme em vitimas indefesas. Que personalize suas ações, priorize o processo ao resultado e que apenas ensine o que tenha significado e importância. Que avalie permanentemente e ensine a todos a pensar, a sentir e a agir de forma harmônica e integrada, formando seres críticos, sensíveis e conscientes.
É preciso, finalmente, que a educação e a escola sejam canais da grande verdade que o “amai-vos uns aos outros” não é mais apenas uma mensagem bíblica. É a única saída.

Antonio da Costa Neto
Projeto Pedagogia da Complexidade
antoniocneto@terra.com.br

POR UMA PEDAGOGIA PARA O TERCEIRO MILÊNIO II



A grande maioria de nossas escolas continua na contra-mão da história, e, a primeira coisa a fazer é convencer os educadores desta dura e mesquinha realidade. Surgida no bojo das contradições históricas e para a manutenção de um capitalismo centralizador, periférico e desusado a escola convencional continua prestando muito mais desserviços do que propriamente ajudando a humanidade a crescer. Já é mais que tempo de alterarmos todos os seus padrões de funcionamento, sua ordem de valores e sua práxis cotidiana.
O que propomos é a formação do homem político, do cidadão inteiro, configurado na essência humana. Valorizar o ser superior em detrimento da aprendizagem apenas técnica dos ofícios, realizando a educação como exercício pleno e conscientizador, um ato político em toda a sua instância.
A complexidade do mundo atual cobra outros aprendizados muito mais densos, profundos. E a escola, muito preocupada em dar respostas aos argumentos ditados pela perversidade das exigências capitalistas, negligencia quaisquer outros saberes buscando formar apenas o ser que trabalha e consome em potencial: ou seja, a escola prepara para uma vida minimamente vegetativa e não se dá conta do brutal atraso que tal fenômeno representa.
Raciocinemos pedagogicamente: Ao chegar à escola uma criança em especial – ou qualquer outro estudante – recebe pronto um pacote de imposições que incluem desde o estabelecimento rígido do horário, quem é a professora, os assuntos a serem tratados em uma ordem estabelecida, a roupa que deve vestir, o lanche e até o local onde satisfazer suas necessidades pessoais. Em nome da ordem e da disciplina, diga-se de passagem - a qualquer custo - comete-se contra o aluno uma imensa violência simbólica, que, logicamente, se constituirá em múltiplas formas de violência concreta no bojo da vida social deles enquanto pessoas. Advindo daí principalmente, a grande escalada da crise no mundo. Quem aprende em bases violentas, será violento, o que se consubstancia na relação ideológica como as coisas se dão, as decisões são tomadas, as políticas e diretrizes viram fatos concretos o que está intimamente ligado à forma como as pessoas são educadas.
Entendemos que é chegado o momento em que o aluno não só deve como precisa começar a decidir, a ser escutado, a dizer sim ou não, a optar, a exercer na prática a sua criticidade, a sua autonomia. Queremos uma juventude ciente do seu poder de transformação; que no vestibular saiba optar por uma carreira; que tenha espírito de cidadania; que ajude a transformar a sociedade. Mas como, se ela aprendeu sendo passiva, objeto da vontade do outro o tempo todo, a dizer sempre sim, a negligenciar suas vontades e desejos, a sublimar o seu prazer? Vejo ser esta a grande problemática que emperra a qualidade da educação e da escola convencional, e, em nosso projeto: Pedagogia da Complexidade – uma proposta de educação para o terceiro milênio, estamos, em síntese, implementando alguma mudança de paradigma com vistas ao procedimento de atividades educativas que se traduzam na busca da tão sonhada melhoria da qualidade de vida, o grande objetivo de toda educação.
Em primeiro lugar, como já dissemos, faz-se necessário conscientizar o educador deste sério fato. Senão uma barreira intransponível, certamente uma das etapas mais complexas e difíceis que enfrentamos neste desafio. A formação dos educadores, de uma maneira geral, anacroniza, endurece a sua linha de raciocínio, redirecionando-a para os fins exclusivamente mercantilistas, o que faz parte da manutenção de um projeto educativo a serviço da hegemonia do poder e do favoritismo das elites de todo o mundo civilizado. Conscientizar o educador é um projeto infinito que nunca se conclui, mas de qualquer forma, precisa ser iniciado a partir de novas bases, levando-o a conhecer este conjunto de disfunções, este câncer pedagógico, este absoluto anacronismo secular do sistema educacional e que acaba por adentrar na vida de muitas das nossas escolas.
Em seguida, não podemos mais entender como eficiente a escola que massifica seus procedimentos como se os alunos fossem todos iguais, a começar pela própria ignorância. Assim, propomos um enfoque permanente de pesquisa, coleta de dados para que a escola passe a conhecer mais de perto “as verdades individuais” dos seus alunos, seus problemas e necessidades afetivas, emocionais, econômicas e de aprendizagem.
É preciso ter um diagnóstico permanente de quem é o meu aluno, quais seus sonhos, desejos, objetivos, metas, angústias, carências, dificuldades e facilidades para aprender e operar com os conhecimentos que adquire, de como utilizá-lo a serviço das conquistas esperadas. Daí trabalharmos com uma educação para a complexidade da vida, do mundo e das suas exigências contemporâneas e não, com a linearidade simplista para a instrução daquilo que apenas perpetua o caos em que todos, sem exceção, nos encontramos inseridos, neste mundo caótico que nos cerca.


MsC. Antonio da Costa Neto

Projeto Pedagogia da Complexidade

61 3274 2755
antoniocneto@terra.com.br

domingo, 11 de novembro de 2007

A GRANDE INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA



Sempre defendi a tese de que a família é a grande responsável por tudo o que a pessoa é: caráter, personalidade, conduta, temperamento, tudo se agrega no meio social e cultural em que a criança é inserida da concepção aos primeiros cinco ou seis anos de vida. Os seres humanos são preparados genética, material, sexualmente para se casarem, se acasalarem, sei lá...ter filhos. Mas não o são psicologicamente, gerindo a partir daí o grande caos, os imensos conflitos que assolam a humanidade. A máxima "a culpa é da mãe..." não está longe de ter uma boa razão. Mas não é só da mãe, é do pai, dos irmãos, das babás, das empregadas, enfim, de todos os que constituem o ciclo familiar.

Para a criança incauta e inocente é muito difícil fazer a leitura do amor, do carinho ou da falta destes. Sendo, ao contrário, muito fácil, acumular mitos, transtornos, traumas, sofrimentos que serão conduzidos para o resto de sua vida, como resultantes das relações com papai, mamãe, irmãos e irmãs preferidos, preteridos, esquecidos, etc. etc.

Como ficam as relações dos filhos homens, com os pais que rejeitam os seus pais - masculinos - o pai mesmo? E se o filho é homem e o seu pai é aficionado pela figura da mãe? E neste mesmo caso, quando chega uma irmãzinha? Claro que este pai vai ter a sua preferência marcante por esta filha, que, de alguma forma, reproduz a figura da mãe, com quem ele se identifica mais. Enquanto o filho - homem - representa psicologicamente a figura do pai, com quem ele sempre competiu e compete, e agora, com meios e recursos superiores, como pai, o mandão, o dono do dinheiro, da experiência e o jogo da sobrevivência. E, quase sempre, irá oprimir, humilhar este filho, criando nesta criança sérias seqüelas, problemas e distorções emocionais, afetivas que poderão ser altamente prejudiciais. Um verdadeiro crime inconsciente que boa parte dos pais comete, daí os filhos que matam pais, se rebelam, fogem, se entregam às drogas à prostituição, às gangues competindo cegamente com os pais que não os compreenderam, não deram a devida atenção que, como filhos, julgam merecer.

Aí todas as recíprocas são verdadeiras em relação à figura da filha com a mãe, do filho com o pai; a posição do filho único, do caçula, do filho do meio, todas estas são circunstâncias a ser profundamente analisadas caso a caso. Não há uma receita mágica e única, cada caso é diferente e vai depender do universo afetivo dos pais com os avós, destes com os bisavós e assim, infinitamente.

Você pode pagar agora o preço por uma ação psicologicamente impensada da sua bisavó ou do seu tetravô que interferiu da mesma forma na sua avó, que passou para seu pai ou sua mãe, que chegou em você e que, certamente irá para os seus filhos, netos e assim por diante...É, é assim que a banda toca.

Daí o meu projeto que está que chamo de Orientação Familiar para a Qualidade de Vida, para o qual busco parcerias, pois poderá ajudar imensamente a humanidade a ser mais feliz. A diminuir os crimes por ciúmes, por competição, pelas agruras do amor, do sentimento e das paixões ao contrário. Está tudo vinculado à perspectiva dos sentimentos, do calor humano, que por sua vez, se ligam ao vínculo familiar, que, de acordo com alguns pensadores da antropologia é o túmulo da felicidade.

Descobri este texto com o qual ilustro esta matéria sobre a grande importância da interferência da família na formação da personalidade das pessoas, e, por conseguinte, da tipologia de relações humanas que concretizam a sociedade que temos.Trata-se das Meninas-Lobo, de B. Reimound em o Desenvolvimento social na infância e na adolescência. Diz ele:

Na Índia, onde o caso de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se em 1920 duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seus comportamentos e atitudes eram exatamente semelhantes àqueles de seus irmãos lobos.

Elas caminhavam de quatro patas, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos, e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos. Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre; comiam e bebiam como animais, lançando a cabeça para frente e lambendo os líquidos.

Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; mas eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir, se esconder e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.

Elas foram também submetidas dos mais simples aos mais sofisticados exames de ordem biológica e genética, constando-se que se tratavam de seres que não tinham quaisquer anomalias ou deficiências neste sentido, sendo, portanto, absolutamente normais, apenas foram profundamente transformadas psicologicamente pelo meio social - ou familiar - que as abrigou na primeira infância, ou seja, de 0 a 5 anos.

Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se muito lentamente. Ela necessitou de mais de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de mais ou menos cinqüenta palavras. As pequenas e raras atitudes afetivas foram aparecendo pouco a pouco, apesar dos intensos esforços terapêuticos dos profissionais que a cercavam.

Ela chorou pela primeira e única vez por ocasião da morte de Amala e se apegou às pessoas que cuidavam dela e com as demais crianças com as quais conviveu. A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se por gest0s, inicialmente, e depois, por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar apenas ordens simples, mecânicas, lineares e repetitivas.


Vejam então o papel da mais absoluta importância que a família significa na formação das personalidades que conduzem as relações sociais. Veja como você trata seus filhos, como os repele, chama a atenção, estabelece limites. Lembre-se que você pode acertar ou errar profunda e definitivamente e de forma imperdoável. Então, por via das dúvidas, use e abuse do amor, do carinho, do afeto, do sorriso, do diálogo, do direito de voz e vez, de participação nas decisões. Passar a mão no rosto, nos cabelos, suspirar fundo e abraçar com profundidade é um santo remédio em todas e quaisquer circunstâncias. Lembre-se disso. Portanto, a mão que balança o berço é a mão que comanda o mundo...

Antonio da Costa Neto

sábado, 10 de novembro de 2007

VÉU E VAZIO: A MÁSCARA NA OBRA DE FRIDA KAHLO







A artista plástica mexicana Frida Kahlo começou a pintar aos 19 anos enquanto se recuperava de um acidente de automóvel, em 17 de setembro de 1925, que a manteve na cama por quase um ano. Em sua cama foram instalados vários espelhos e ela era, portanto, a imagem que mais conhecia e que mais pintava. Sobre sua escolha por auto-retratos Frida dizia que “uma vez que meus temas sempre foram minhas sensações, meus estados de espírito e as reações profundas que a vida tem causado dentro de mim, muitas vezes materializei tudo isso em retratos de mim mesma, que eram a coisa mais sincera e real que eu podia fazer para expressar o que sentia a meu respeito e a respeito do que eu tinha dentro de mim”.

Quando Frida pinta seu rosto ela o representa, ela se faz personagem. Tanto que, se percorrermos, em sua obra, as várias representações de seu rosto, veremos a construção, pouco a pouco, de uma máscara, a personificação de Frida em torno de algo que acompanha toda sua obra: o olhar. O olhar de Frida é um olhar enigmático, petrificado, que faz com que olhemos o quadro e sejamos olhados por ele, num tal jogo de espelhamento que, de certa forma, estejamos nós mesmos no quadro. A Frida que nos olha, fixamente, olha a ela própria, e nós, ao olharmos para o quadro, posicionamo-nos no lugar de quem se vê no espelho e pinta, no lugar de Frida.

Num auto-retrato, de 1948, Frida aparece somente com a face descoberta e todo o restante do quadro é preenchido por uma renda armada, enquanto lágrimas surgem no seu rosto – o que não altera seu olhar petrificado. A renda armada é uma moldura contornando o rosto de Frida, que parece flutuar na tela. É uma espécie de avesso de máscara em que a parte velada é tudo o que não é rosto. Esse avesso de máscara é tão máscara quanto a própria máscara, a parte que a renda não vela também não mostra. É o rosto de Frida numa rigidez tal que parece estar moldado.

É tão máscara quanto o quadro “A máscara” de 1945. Nesse quadro, a parte mostrada é justamente a parte velada do quadro anterior e vice-versa, um negativo do outro. Por outro lado, ambas mostram a mesma coisa, coisa velada. Uma expressão rígida, fixa, moldada em papel mâché sobre a qual rolam lágrimas, sem que essas alterem a expressão do rosto da máscara. Sabemos que é Frida personagem, por detrás da máscara, devido aos cabelos pretos presos e a mão com um grande anel. Essa máscara nos reporta ao que está por detrás dela, Frida; sendo assim, podemos afirmar que este é mais um auto-retrato. E se nos outros auto-retratos Kahlo parecia pintar a ela própria, neste quadro e como se, com a máscara, ela dissesse que para olhar os seus quadros é necessário olhar para além do que é dado pela tinta, para algo que está para além do véu, da máscara. Se ela fez de seus auto-retratos máscara é como se neste quadro ela fizesse, na máscara, uma denúncia de tudo isso.

Ao olharmos para “A máscara” imaginamos o que faz Frida por detrás da máscara. Talvez se desmascare. Talvez as lágrimas – saltando por cima da máscara, através do buraco localizado à altura dos olhos – sejam da própria Frida e talvez seus olhos não estejam mais petrificados e, para não correr o risco de tê-los visto, ela se protege com a máscara. Talvez… São possibilidades que existem por causa da máscara.

A máscara, assim como o véu, é algo que se localiza sempre entre o sujeito e o objeto. O véu tem sua importância, pois tende a realizar como imagem aquilo que ele vela. Ao olhar-se para o véu, não é o véu que interessa, e sim aquilo que o véu cobre, sempre parcialmente. Quando se olha nessa direção, o que é visto não é nem o véu nem o objeto por detrás do véu, porém uma outra coisa, coisa imaginada.

O psicanalista francês Jacques Lacan diz que “sobre o véu pinta-se a ausência”, desse modo o véu torna-se tela ao pintar-se nele a ausência. Cada uma dessas imagens é vista, por um breve momento, como realidade para o sujeito o que faz com que essa tela, essa máscara, se torne mais preciosa para o homem que a própria realidade.

O véu vela a ausência e pode ser, ele mesmo, o lugar dessa ausência. Ou melhor, lugar do desejo, lugar em que pode estampar essa imagem capturada do desejo que sempre busca reconhecimento sejam pelos sintomas, sonhos ou fantasia, ou seja, formas nas quais o desejo se reveste com a máscara, de tal modo que o desejo fala através dessa máscara, de tal modo que Frida se recria através de sua obra.

Artigo de Renata Wirthmann publicado no jornal
O Povo, do Ceará.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

SIM, VOCÊ CONSEGUE!!!


As pessoas que têm problemas de auto-imagem raramente aproveitam seu potencial. Não enfrentam os riscos necessários, atolam-se em auto-acusações, não confiam nos outros e ficam na retaguarda quando deveriam ir para frente. Você consegue melhorar sua auto-imagem? Primeiro, precisa aceitar que o que você pensa sobre si mesmo é o único determinante e o mais importante fator para seu sucesso. Sua "personalidade", suas ações, como se dá com os outros, como é seu desempenho no local de trabalho, seus sentimentos, crenças, sua dedicação, suas aspirações e até seus talentos e habilidades são afetados - melhor, controlados - pela auto-imagem. Você age como o tipo de pessoa que imagina ser. É simples assim.

E não se fala mais nisso. Se você se considera um fracasso, provavelmente será um fracasso. Se você se considera um sucesso, provavelmente será um sucesso. De que outro modo se explicaria que pessoas aparentemente dotadas fracassem, enquanto pessoas aparentemente incompetentes sejam bem-sucedidas? "Conseguem fazer tudo isso porque acham que conseguem", disse Virgilio, e esse fato fundamental a respeito do triunfo da auto-imagem é tão válido hoje em dia, como há dois mil anos. Henry Ford concordava: "Quer você ache que consegue, quer ache que não consegue, terá razão."

Em resumo: a postura é mais importante que os fatos. Isso significa, especificamente que, em geral, a diferença entre as pessoas que idealizam, planejam, agem e triunfam e as que não têm idéias, conseqüentemente não planejam e nem agem, tem pouco a ver com alguma capacidade inata de criar idéias, de planejar e agir. É relacionada com a crença de que conseguem triunfar em qualquer área da vida. Aqueles que acreditam que podem, podem; aqueles que acreditam que não, não. É simples. Segundo, você precisa aceitar também como fato aquilo que William James chamou de "a maior descoberta da minha geração". A descoberta?

Os seres humanos podem alterar suas vidas alterando sua postura. Jean-Paul Sartre colocou isso assim: "O homem é aquilo que imagina ser". E Chekhov, da seguinte maneira: "O homem é aquilo que acredita ser". Isso não está mais em discussão. E, ainda assim, muitas pessoas, talvez você mesmo, se recuse a aceitar. Você aceita que a auto-imagem dirige sua vida mas, a despeito de toda a evidência apresentada por sábios, por seus pais, por sacerdotes, médicos, poetas, pesquisadores, filósofos, psicólogos, professores, terapeutas e treinadores, e a despeito de milhares de exemplos da vida real e nas centenas de livros de auto-desenvolvimento, você rejeita a noção de que possa mudar sua auto-imagem. Você está enganado. Pode mudá-la.

As bibliotecas e livrarias estão lotadas de centenas de livros, fitas e vídeos que podem dizer muito melhor que eu como mudar sua auto-imagem. Por exemplo: A Mágica de Acreditar, Mude sua Vida, Psicocibernética, Pense e Fique Rico, O Poder do Pensamento Positivo, Poder Ilimitado. A lista continua indefinidamente... Todos dizem basicamente a mesma coisa, que você pode mudar sua vida mudando o modo pelo qual pensa sobre si mesmo. E todos estão certos. Aceite.


Daniel C. Luz

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

IRMÃS CAJAZEIRAS
















Brasília como Capital da República precisa ainda evoluir numa série de coisas. Uma delas são estas mulheres da alta sociedade, altamente cafonas, mal-vestidas, maquiagem e cabelo de gosto duvidoso, com um discurso pragmático, decorado e fútil. Sempre na defensiva, elogiando os ricos e poderosos, numa linearidade pequeno-burguesa, tão antiga, quanto barata e desusada, demonstrando a pouca cultura, a pobreza de espírito, a desconexão entre aparência e essência. Gente nesta cidade só elas mesmas, seus genros, parentes elegantes, compadrios, empresários bem-sucedidos - sabe Deus por quais meios - e a casta branca, nórdica que habita os Lagos Sul, Norte e adjacências. Mais ninguém.
Como gostam de elogiar os ricos, para depois solicitarem patrocínios para seus eventos, cabeleiros e os tratamentos a base de botox, que precisam tanto. Pena que são muito infelizes na escolha dos profissionais que fazem suas cirurgias tão artificiais e mecanicamente esticadas a ponto de se rasgarem ao menor sorriso.
Assim, continuam assustando o bom gosto, o tino, o charme, a elegância. Como boa parte das senhoras brancas-ricas-burguesas da corte, continuam insuportáveis na sua aparência mórbida de acrílico, enquanto o mundo se afunda na desgraça, no crime, no roubo. Mas é aquela muito antiga cordialidade que afunila tudo para um canal da mentira que garante o status, a glamour destas estátuas de gesso, frias e insensíveis. Quando se encontram, já vêm com aquele sorriso esganiçado e artificial, de longe. Os beijinhos lado a lado na face, como estereótipo da mordida que não podem dar. E o - "Tudo bem, querida?" - "Tuuudo beem!", como se o mundo fosse um completo paraíso e ninguém estivesse sofrendo por aí. A coisa mais apavorante do mundo são os encontros festivos desta gente vazia misturando os cheiros do caro perfume francês com o das naftalinas baratas das lojas de um e noventa e nove da vida...
Que me desculpem as senhoras Bernadete Alves, do Programa Brasília na TV que, se assisto, certamente, já terei pela frente uma péssima semana. São rasgadoselogios aos ricos, aos famigerados e gananciosos. E as perguntas óbvias, burras mesmo, as repetições doentias, as frases feitas, os estilos copiados dos livrecos de auto-ajuda da pior qualidade. E os erros de português clássicos, como gtatuíto - ao invés de gratuito - o gerúndio vicioso que o seu amigo, justamente porque está no topo do poder, tanto odeia, cuidado, mocinha.
Elizabeth Garcia Campos que criou o IBQV - Instituto Brasileiro de Qualidade de Vida, uma proposta muito legal, não fosse a intenção até neurótica de se auto-promover a qualquer custo. Jamais vi uma publicação do tal "Instituto Burguês de Qualidae de Vida", que na média de duas páginas não traga em seu conteúdo pelo menos oito fotos de sua Presidente exibindo suas jóias, penteados, emoldurando belíssimos olhos azuis. Se for proposto para o IBQV algum projeto para contribuir para a melhoria da qualidade de vida de gente pobre, simples, honesta, trabalhadora, pode esperar o simpático..."sentimos muito, pretinho, mas desta vez não vai dar...quem sabe no próximo ano..." Enfim, é uma organização que visa ricos e poderosos: a gente que faz fila no Brasília na TV. Esta instituição deveria assumir o seu papel que é o de suprimir o trauma de sua Presidente de não ter sido eleita Miss Brasil na tardia juventude, se bem que merecesse, pois trata-se de uma mulher realmente muito bonita.
Mônica Nóbrega, deveria retirar a sílaba inicial do seu sobrenome. Como a televisão brasiliense ainda consegue manter este grau de superficialidade, de vazios, de futilidades? Ela é inexistente, como suas bijouterias, os óculos que troca a toda hora, o discurso descontextualizado que, certamente não a elegeu como Deputada Distrital, o que seria o absoluto fim do mundo. Por fim, Consuelo Badra com o foco em tudo o que não tem a menor importância, nas coisas evasivas e inúteis e sem o menor significado na ordem das coisas. Mas também...esperar o quê? E como as demais, usando a revista para que não seja esquecida.
Precisamos mudar, evoluir. Ter programas culturais de mais qualidade, com colocações espontâneas, simples, verdadeiras e boas para todo o mundo. Onde os não-brancos, os pobres e a classe média tenham igual acesso tal qual os ricos, brancos, esguios, perfumandos, elegantes, que moram em mansões e têm muito dinheiro na banco. Que para entrarem, os homossexuais, por esemplo, não precisem nem de longe ser cabeleireiros estereotipados que nada mais são que autênticos bobos da corte e iscas para que vejam - "Como não somos preconceituosas!" "Temos até pessoas assim como nossas amigas!..." E tão ignorantes que são - e por isso estão lá, cheios de orgulho - nem desconfiam disto. Só temos motivos para rir e tirar nossas fotos posadas, pois nossos sóis brilham mais e Deus é nosso hóspede em todos os dias de nossas longas e abençadas vidas...
Coitadas! Como são ingênuas. Pensam que são eternas, que não estão sujeitas aos problemas e às dores dos mortais comuns como todos nós, que não cheiram mal nas partes íntimas, que são frágeis, vazias e muito infelizes, certamente...
É...precisamos mesmo evoluir...
Antonio da Costa Neto

sábado, 3 de novembro de 2007

FRACASSO DA EDUCAÇÃO RURAL E URBANA QUE OFERECE O CIRCO ANTES DO PÃO




Nos países latino-americanos, uma crescente porcentagem de jovens, rurais e urbanos, já está conseguindo concluir a escola fundamental e até a média ou secundária. Lamentavelmente, este êxito é mais aparente que real, pois em termos práticos está produzindo resultados decepcionantes. Os jovens, agora mais escolarizados e com um horizonte de aspirações e ambições ampliado, sentem-se frustrados, para não dizer enganados. Depois de estudar longos 11 anos, durante os quais alimentaram a ilusão de que este esforço lhes ofereceria um futuro de oportunidades e de prosperidade, eles descobrem que não estão aptos sequer a obter um modestíssimo emprego; pois egressam do sistema escolar sem possuir as "qualidades" que os empregadores esperam e necessitam encontrar em um bom funcionário. Isto acontece porque o sistema de educação, rural e urbano, não lhes proporciona os conhecimentos úteis, as aptidões necessárias e nem sequer as atitudes e os valores que necessitam para ser bons empregados; tampouco os prepara para que sejam bons cidadãos e pais de família que saibam educar, orientar, alimentar e cuidar da saúde dos seus filhos, etc. Falemos sem eufemismos, com exceção do que lhes foi ensinado nos três primeiros anos (ler, escrever, efetuar as 4 operações aritméticas, aplicar a regra de três e conhecer o sistema métrico), praticamente todos os demais conhecimentos são irrelevantes para que eles possam ter um melhor desempenho no trabalho e na vida pessoal, familiar e comunitária. Nesses oito anos subseqüentes, os poucos conteúdos que poderiam ser úteis geralmente são ensinados de maneira excessivamente teórica, abstrata, fragmentada e desvinculada da vida e do trabalho, com o que se transformam em virtualmente inúteis. Então, se impõe a seguinte pergunta: para que estudaram esses oito anos adicionais?

Sejamos objetivos e realistas: qual é a utilidade ou aplicabilidade na vida cotidiana que tem o ensino teórico sobre os logaritmos, os determinantes, a geometria analítica, a raiz quadrada e cúbica? Ou o ensino "memorístico" sobre a história da Cleópatra ou da Imperatriz de Bizâncio, os faraós e as pirâmides do Egito, a história da Mesopotâmia e as altitudes das Montanhas Rochosas? Alguns defensores deste conservadorismo educativo afirmam que tais conteúdos são necessários para desenvolver a criatividade, a engenhosidade, o senso crítico e problematizador, o espírito de iniciativa dos educandos e para oferecer-lhes uma suposta "formação integral". Pessoalmente, opino que existem formas mais inteligentes e produtivas para atingir tais objetivos. Conteúdos mais próximos - no tempo e no espaço - às realidades cotidianas dos educandos seriam muito mais eficazes para desenvolver as suas potencialidades latentes, para estabelecer relações entre causas e efeitos, para evitar que repitam os erros que foram cometidos no passado, etc. Outros teóricos afirmam que é necessário manter esses conteúdos para "democratizar" as oportunidades de acesso à universidade, ignorando que, na maioria dos países da América Latina, apenas 5 ou 10% dos jovens têm esse privilégio. Em tais condições, não é lógico nem justo castigar e entediar os outros 95 ou 90% que não chegarão à universidade, fazendo-os estudar durante oito anos temas excessivamente teóricos, abstratos, longinquos, não utilizáveis e prescindíveis, para não dizer inúteis.

Na dinâmica do mundo contemporâneo, os educandos têm motivações e interesses muito mais imediatos e concretos. A sua principal aspiração é conseguir um trabalho bem remunerado para adquirir os bens e serviços da vida moderna e para poder constituir uma família próspera e feliz. Portanto, uma educação realista deverá ser orientada ao atingimento desses anseios e necessidades concretas e prioritárias da maioria da população; e não a proporcionar-lhe uma crescente quantidade de informações descontextualizadas e desconexas, que são irrelevantes e não utilizáveis na solução dos seus problemas cotidianos.
A realidade concreta nos indica que, depois de concluir ou abandonar a escola fundamental e média, a grande maioria dos educandos rurais:

A - em uma primeira etapa, vão dedicar-se a atividades agropecuárias, como produtores ou como empregados rurais, nas quais fracassam, principalmente, porque a escola rural preferiu ensinar-lhes a história do Império Romano ou o Renascimento Francês, em vez de ensinar-lhes a produzir, administrar as propriedades rurais e comercializar as suas colheitas com maior eficiência; ignorando que este é o primeiro requisito para que possam incrementar a sua renda e, graças a ela, sobreviver com dignidade no meio rural.

B - em uma segunda etapa, depois de fracassar nas atividades rurais, esses ex-agricultores e os seus filhos migram para as cidades onde serão serventes da construção civil, pedreiros, pintores ou marceneiros, motoristas, manobristas e guardadores de automóveis, policiais e vigilantes, cozinheiros e garçons, balconistas e vendedores ambulantes, empregadas domésticas ou faxineiras de escritórios e de edifícios residenciais, garis, burocratas e operários das empresas públicas e privadas, etc, pois, no mundo moderno, são essas atividades urbanas, as grandes ocupadoras de mão-de-obra.

Isto significa que os conteúdos curriculares das escolas rurais não responderam às necessidades dos pais e agora os conteúdos das escolas urbanas não respondem às necessidades concretas dos seus filhos. Para que essas maiorias possam realizar-se como pessoas e sejam mais eficientes e produtivas, necessitam de conhecimentos que sejam úteis e aplicáveis para melhorar o desempenho nas ocupações majoritárias recém-mencionadas e, especialmente para que possam desempenhar, com eficiência, outras atividades que são mais valorizadas pela sociedade e pelo mercado de trabalho. O verniz pseudo-cultural e intelectual, tão freqüente nos nossos obsoletos currículos, não contribui ao atingimento de nenhum desses dois objetivos; pois os potenciais empregadores não estão muito interessados em saber se os jovens candidatos a um emprego conhecem a biografia de Montesquieu, Robespierre ou Richelieu.

O abismo existente entre aquilo que o sistema de educação ensina e o que os educandos realmente necessitam aprender é simplesmente inaceitável. Ele é tão prejudicial à nossa juventude, ao setor produtivo e ao futuro das nossas nações, que não podemos continuar aceitando inconsistentes teorizações, justificativas e elucubrações dos "especialistas" que insistem em manter nos currículos o supérfluo, em vez de substituí-lo pelo essencial. A sociedade como um todo, deverá exigir que o sistema de educação adote transformações radicais, corajosas e imediatas; porque as medidas cosméticas adotadas pelo referido sistema nas últimas décadas demonstraram ser mal priorizadas/direcionadas, insuficientes e ineficazes. Os cidadãos, que através dos seus impostos estão financiando esse anacrônico sistema de educação e pagando as conseqüências dessa má qualidade educativa, têm todo o direito de exigi-lo; e o sistema de educação tem o dever de acatar essa justíssima reivindicação. Os conteúdos que a maioria dos educandos, provavelmente, nunca utilizará deverão ser sumariamente extirpados dos currículos e substituídos por outros que tenham uma maior probabilidade de ser utilizados pela maioria dos educandos, durante o resto das suas vidas. É necessário oferecer-lhes uma educação que os ajude a que, eles mesmos, possam transformar as suas realidades adversas, corrigir as suas ineficiências e solucionar os seus problemas cotidianos.

As crescentes multidões de desempregados/subempregados, pobres e miseráveis que não têm dinheiro para pagar um teto digno, comprar os alimentos e os remédios ou mandar os seus filhos para a escola, para o médico e para o dentista, necessitam, em primeiríssimo lugar, de uma educação útil, no sentido de que as habilite a conseguir um trabalho/emprego gerador de um salário razoável, com o qual possam satisfazer as necessidades primárias de sobrevivência das suas famílias. Estas multidões de "mal-educados" pelas nossas escolas não estão muito interessadas em saber qual é a altitude do Everest ou a extensão do Rio Nilo; tampouco em conhecer a história das competições e batalhas que ocorreram no Circo Máximo ou no Coliseu de Roma. Depois que adquiram os conhecimentos necessários para serem empregados mais produtivos, melhores cidadãos e bons pais de famílias eles poderão buscar as oportunidades e as fontes para adquirir os outros conhecimentos que satisfaçam as suas curiosidades e os seus interesses intelectuais e culturais. Estas oportunidades e fontes não necessariamente deverão ser proporcionadas através do sistema de educação formal (escolarizado). É compreensível que os privilegiados da sociedade que já têm acesso ao pão desejem ir ao circo. Entretanto, a prioridade da grande maioria constituída pelos não privilegiados, pelos pobres, pelos sofridos e pelos abandonados é diferente, eles querem primeiro o pão, depois o circo.


Polan Lacki