domingo, 25 de maio de 2008

JESUS CRISTO: ESTE DESCONHECIDO


Fui alertado por muitos amigos ajuizados a não escrever este texto. Diziam: - "Cuidado, Antonio, você vai se queimar..." Mas minha cabeça dura não deixou que os ouvisse e aqui estou escrevendo neste computador, do qual nada entendo, estas maltraçadas linhas. Até porque sou convencido que, por mais parodoxal que possa parecer aos olhos leigos, a espiritualidade maior quer que eu as escreva, enquanto o universo sorri agradecido.

Primeiro, quero deixar claro que considero-me uma pessoa profundamente espiritualizada. E dedico minha vida e minhas forças a serviço do que entendo como o bem para as pessoas, à conquista de dias melhores, à concretização da justiça, da paz e da dignidade para todos. E, foi justamente por isso, é que me autorizei a escrever este texto que agora você lê. E, espero, chegue até o fim.

Desejo aqui tratar da notória pessoa de Jesus Cristo. Este personagem maravilhoso e milenar que a tantos encanta. Até aos que o cruxificariam novamente se ele aqui voltasse, fizesse o que fez, se cercasse de quem se cercou e defendesse as mesmas idéias e ideologias.

Se trouxéssemos para hoje, Jesus Cristo seria tido como o líder de uma legião de doze vagabundos. De andarilhos desocupados e alternativos. Uma horda de hippies barbudos, malucos, bêbados e fumados que estariam pelas esquinas apregoando o amor, a dignidade, a paz, o respeito entre as pessoas e as coisas mais que dizem que ele clamou aos céus e terras. E fariam isso para não trabalhar, se ocuparem de algo mais útil de fato.

E, certamente, as senhoras carolas que hoje frequentam as igrejas católica, evangélica, espírita, kardecista, etc; se vissem este grupo acentado nas calçadas de suas casas; ligariam para o 190 e pediriam à polícia para levar para a cadeia aquele bando de desocupados que lhes causava medo, pois poderia vir a assaltar as suas casas, ou mesmo, estrupá-las ao longo da noite que estaria por vir.

Analisando este conjunto de incoerências, ao meu ver, óbvias e exequíveis, pois, estas mesmas pessoas louvam sem cessar ao Cristo, nosso Deus. Os padres Marcelos cantam e encantam entre os artistas da rede globo e os prédios das igrejas se apresentam suntuosos, tocando magestosamente os céus e com sua arquitetura arrogante por sobre as casas pequenas e em sua maioria humildes de nossas cidades e povoados.

Assim, vejo que toda a história de Jesus Cristo se enquadra direitinho ao modelo da exploração capitalista entre os homens, que, sofridos e esfarrapados não conseguem desconfiar deste truque milenar e tão bem estruturado e mantido por Sua Santidade, o Papa. E viceja entre as colunas de mármore e os arabescos de ouro do luxuoso Vaticano. Onde os pobres não entram. As mulheres nada decidem, a visão do pecado se expande, assolando o crime, E, de forma indireta e inteligente, legitima a exploração, a socialização da miséria que mata os filhos de Deus, a concentração abusiva do poder e da renda. Ao mesmo tempo em que crianças são mortas, mulheres violentadas, desgraças constituídas: como fome, miséria, opressão, violência.

O famigerado paradigma judáico-cristão ainda se dilui nas relações humanas que aparentam o bem, mas fundem-se no mal. As procissões com velas acesas; as mulheres ajoelhadas com a figura humilde, o olhar longíncuo frente às imagens dos santos e santas cobertos até os pés e numa postura de subserviência para que sirvam de exemplo aos que terão direito à melancólica rotina de uma desprezível eternidade no céu, cantando glórias ao Senhor todo poderoso. Mas só para os que não pecam, não roubam porque não precisam, pagam o dízimo em dia porque podem e freqüentam as igrejas todos os domingos para que a aprendizagem de tais lições de horror nunca se perca.

Enquanto a psicologia, desde Freud já apontava os rigores do inconsciente e do iceberg de imposições e sofrimentos que ali se escondem, paralelamente, continuamos orando de mãos postas, olhos fechados e centrados no nosso próprio ego:

"...Pai Nosso que estás nos céus, Santificado seja o Vosso Nome..

Venha a nós o Vosso Reino. Seja feita a Vossa Vontade...

O pão nosso de cada dia, nos dai, hoje. Perdoai-nos as nossas ofensas...

...E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal..."


E, ainda nos dizem, que esta é a oração que o Senhor nos ensinou. Claro, pois fica assim belo e fácil de nos enganar. Mas não se colocam em pauta os rigores ideológicos, e, de certa forma, a antropológica lavagem cerebral que esta junção linear de palavras vem significar na prática concreta e no sentido político das coisas. Isso nunca.

Seria cômico se não fosse trágico. Se associarmos isto aos rigores das ciências sociais transdisciplinares dos nossos dias, tudo seria menos do que medíocre. Num quadro ridículo em que a maioria absoluta da humanidade se expõe todos os dias, nos grandes centros e nos rincões do sertão cheio de analfabetos, desabrigados, famintos, mendigos que vivem da não menos famosa caridade alheia, que camufla a injustiça que o mesmo modelo de religião aqui descrito acaba fazendo acontecer.

Enquanto nosso consciente reza para papai do céu, nosso inconsciente abriga os governantes que estão nos céus dos palácios; os patrões burgueses e exploradores que ocupam as melhores mansões dos pontos mais nobres dos aglomerados humanos do mundo inteiro. O pão nosso, dai-nos hoje, pois não somos aptos para conquistá-lo. Formamos uma massa de incompetentes, de cegos, de micróbios minúsculos frente a grandiosa capacidade que os detentores do capital e do poder têm de decidir. E confundimos tudo isto com a figura de Deus. Do mesmo Deus que nos criou, nos guarda, vigia e pode, como tal, definir toda a eternidade por nós, sobre nós e até contra nós.

Ora, como o grandioso Deus poderia criar uma humanidade assim tão pequena? Que por entre os rigores da evolução, da sofisticada teconologia e dos avanços conqusitados, continua ironicamente em defesa de valores tão diminutos, de concepções insignificantes. E, assim, agindo antagonicamente contra o próprio Cristo - que, a bem da verdade, nem existe. Mas que foi criado e moldado para possibilitar a exploração fácil, o consumo abusivo que enriquece os ricos em nome da paz, da fraternidade e do amor divino.

Deixemos de ser ingênuos e inexpressivos. Já passa muito da hora de aposentarmos esta história de Jesus Cristo, os rigores da igreja, as confusas e amareladas páginas da bíblia, dos evangelhos, dos mandamentos que nos são impostos pelos rigores da igreja.

Acordemos para a vida, para o amor que consiste em fazer simplesmente o bem. Em quebrar os modelos maléficos da opressão e da resistência. Sorrir simplesmente. Acariciar os que carecem, enunciar a necessária crítica, a indignação frente às injustiças, a conquista da dignidade plena é a saída que o mesmo Deus certamente deseja para constituir o seu plano de amor. Para que todos vivam. E vivam em abundância.

Amar e respeitar de fato o outro, a vida e a natureza. É só o que interessa e sobre o que deveríamos nos debruçar para ensinar, aprender. Aprender e ensinar sempre. Sendo o que nos basta para vivermos felizes, em paz e como dignos herdeiros da energia máxima que tudo faz e ilumina. E que, por falta de uma melhor palavra, podemos, por enquanto, continuar chamando de Deus.
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Antonio da Costa Neto

sábado, 24 de maio de 2008

A BÊNÇÃO, PAULO LEMINSKI


Há muitos modos de se torturar uma criança.

Pode-se, por exemplo, fazer uma fogueira com todos os seus brinquedos e obrigá-la a assistir a cena. Esse era o método favorito entre os mongóis, que entendiam de tortura infantil como poucos.

Um outro método muito eficiente também é chegar de repente e dizer para a criança: - "Tua mãe morreu." Salvo caos raríssimos como o do imperador Nero, essa técnica dá resultados lancinantes. Já os russos preferem métodos mais sutis. Para torturarem uma criança eles enchem um quarto escuro com as obras de Lênin e Stalin e deixam a criança lá dentro por vinte e quatro horas. Os americanos, mais pragmáticos, preferem levar a criança a um parque de diversões bem distante e dizer: - "Titio vai ali comprar pipocas." E nunca mais aparecer. Só isso. Soube-se de casos em que pais ou responsáveis deixaram seus filhos ouvindo Frank Zappa, a todo volume, no escuro e por horas a fio, tortura preferida pelos pais contraculturais dos anos 60.

Pais imaginativos gostam de torturar seus filhos contando-lhes histórias em que lobos tentam entrar nas casas dos porquinhos, sendo que a criança é um dos porquinhos. Ou histórias onde a bruxa malvada prende a Branca de Neve numa jaula para que ela (a Branca, não a criança) engorde e fique no ponto para ser assada no churrasco de domingo. Essa tortura ficcional - é muito eficaz porque vai repercutir na vida onírica dos petizes, produzindo, a longo prazo, sonhos angustiantes e pesadelos insuportáveis, dos quais, a criança, inevitavelmente, acorda gritando: - "Mamãe!" ...É a hora certa para dizer: - "Volte a dormir, querida, a mamãe, o lobisomem comeu!" (...)

Mas, de todos os métodos para torturar crianças, nenhum se compara ao método chamado "escola". A escola deve ter sido inventada por um verdadeiro discípulo do Marquês de Sade. Basta dizer, para vocês fazerem uma ideia, que nestes hediondos calabouços as crianças são obrigadas a memorizar que dois mais dois "são quatro", que "pi" é um número sem fim, que um ao quadrado é um e que todo o número multiplicado por zero - mesmo que sejam infinitos bilhões - é zero. E não para por aí.

Uma das torturas mais requintadas usadas nestas tais "escolas" é a chamada análise sintática. Nome inocente para disfarçar um dos mais requintados tormentos que a doentia mente humana conseguiu inventar.

Basta dizer que na tal "análise sintática" diante de uma frase uma criança tem que adivinhar quem é o sujeito, quem é o predicado, quem é o objeto. Não nesta ordem, é claro. Adivinhar é uma brincadeira divertida. Mas não no caso da "análise sintática." Se a criança adivinhar errado, reprova, e vai ter que fazer de novo, aquele ano inteirinho tentando advinhar - sob a tortura, o pavor e o medo da reprovação - quem é o sujeito, quem é o objeto, quem é o predicado. Depois de reprovar uma, duas, três, quatro vezes, a criança desiste e prefere ser trombadinha, traficante, surfista ou cabo eleitoral de Paulo Maluf. Tudo, menos sujeito, predicado e objeto.

Peguem, por exemplo, o tal "sujeito inexistente", o sujeito das orações que expressam os fenômenos atmosféricos. Chove. Quem chove? Ninguém chove. Venta. Quem venta? O vento. Errado. Ninguém venta. O vento se venta sozinho.

Que dizer do tal "sujeito oculto"? Claro que o "sujeito oculto" é sempre o principal suspeito do crime de haver frases no mundo. A não ser por isso, por que se ocultaria? Exemplo de sujeito oculto: "O assassino se escondeu atrás da parede de tijolos." "O espião da KGB usa óculos escuros." "Jack, o estripador era filho da rainha Vitória." "O Menguelle está vivo e muito bem no Paraguai." Esses sim, são os verdadeiros casos de sujeitos ocultos. Mas as crianças levam anos para encontrá-los. E quando os encontram, já estão de cabelos brancos como Sherlock Holmes.

A invenção da escola, como vocês estão vendo, torna obsoletos todos os antigos métodos de torturar crianças. Com mais escolas, as crianças sofrerão muito mais, se tornarão ingênuas, omissas e prontas para aceitarem todas as torturas possíveis. Os adultos se divertirão muito e todos teremos, enfim, "aquele Brasil com que todos sonhamos."
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(LEMINSKI, Paulo. ...E por falar em tortura. Jornal A folha de S. Paulo, de 18.09.85, citado na íntegra por Antonio da Costa Neto, in, Paradigmas em educação no novo milênio. Goiânia: Ed. Kelps, 2004).

sexta-feira, 9 de maio de 2008

INSTITUTO ALEXANDRE NARDONI

As escolas do Brasil - quase todas - deveriam ter este nome. Pois elas se dedicam sempre a algo parecido com o que podemos identificar como a ação mais importante da vida deste notável cidadão: matar criancinha inocente. Muitas escolas apregoam hipocritamente que as crianças são suas filhas. Induzem aos alunos a chamarem os professores de tia ou tio - uma das coisas que mais odeio - e, cega, cruel e friamente, matam-nas todos os dias.
Só que não o fazem com a monstruosa coragem do casal Nardoni. Agem de forma processual, covarde e lenta. Não matam o corpo. Matam o espírito, ferem a alma, sufocam as alegrias; estrangulam os sonhos para terem a certeza de que eles jamais sobreviverão às suas maldades, à eterna violência que cometem. As escolas são loucas. Loucas para que seus alunos se rebaixem aos auspícios dos rigores sociais. Digam sim às exigências brutais da vida, do mercado, da sociedade contemporânea onde ninguém tem o direito de viver, de sonhar, mas apenas de servir ao dono e senhor todo poderoso e definidor todos os desejos.
Atendendo ao convite de uma diretora, fui semana passada a uma escola que se dedica à "educação" infantil, para tratar de uma possível consultoria. E, embora sendo meio de semana, pensei que fosse feriado, tal o silêncio que ali encontrei em plenas duas da tarde. Indagando então à sorridente, muito bem-vestida e maquiada diretora, ela explicou-me que não. Não era feriado, o fato é que as crianças eram muito disciplinadas - diria eu, adestradas - e não davam, sequer um pio durante as aulas.
E assim, como passávamos pelo corredor central, ela abriu delicadamente a fresta de uma das salas - selas de aula - e o que eu vi lá dentro, deixou-me meio aterrorizado: uma classe cheia de crianças caladas, de olhos arregalados e olhando, como que numa coreografia bem ensaiada, para o quadro-negro e o caderno, onde apontavam em monstruoso silêncio a lição do dia. Tive um calafrio nas costas, mas segui com a minha conversa, agora um tanto trôpega e desapontada.
Minutos depois, a cirene nazista soa longamente para o início do recreio, do intervalo. As crianças saem esfuziantes das salas, como quem se livra de um tormento insuportável. E quase se atropelam aos gritos, aos urros. Subindo nos baldrames, derrubando as caixas de lixo e outros utensílios da escola perante o desespero das poucas adolescentes encarregadas da ordem e da disciplina das crianças, como se elas fossem cachorrinhos amestrados para o circo da vida. A conversa se interrompe. Era impossível ouvir qualquer som além do grito dos meninos querendo agarrar com unhas e dentes os poucos minutos de liberdade que possuiam.
Terminado o intervalo quase todos voltam às suas salas. Menos um grupo de pequeninos que, sob a orientação de uma nervosa professora, se preparava para uma atividade fora da sala - o que considerei menos mal, causando-me um rápido suspiro de alívio.
Recomeçamos, diretora e eu a dita conversa. É quando ouço aquela turma cantando uma musiquinha que, de tanto chamar-me atenção, decorei a letra. E era assim: "...para ouvir o som do mosquitinho e as batidas do meu coração zinho...pego a chavinha e tranco a boquinha..." Aparentemente normal. Se não fossem dois detalhes sórdidos. Primeiro, ao pronunciarem as palavras pego a chavinha e tranco a boquinha os garotos encenavam aquilo: abaixando, fazendo o gesto de apanhar a chave, levando-a à altura da boca; fazendo um movimento rodando a mão para a direita, exatamente como se a trancassem. E em seguida, no mais absoluto horror pedagógico, cantarolavam de boca fechada - hum,hum,hum!... - hum, hum, hum!... no mesmo ritmo da música e sob os gritos da professora, para que prendessem bem os dentes para dar o tom por ela pretendido.
Claro que isso não passa de um treinamento brutal, uma verdadeira tortura pedagógica, para que, inconscientemente, estas crianças, num fututro próximo, calassem suas "boquinhas" frente aos rigores, aos abusos da vida. Quem tranca a sua boca assim, ludicamente e em grupo, jamais irá abri-la para reclamar, gritar, reivindicar, criticar se for preciso. Quando forem negados os seus direitos ou retirada a sua dignidade. Assim se cumpria o fim precípuo das instituições escolares iníquas como as nossas: a de formar cidadãos subservientes, ingênuos e disponíveis à perversidade do mundo, aos rigores da elite, aos ideais da burguesia exploradora e insensível. Cidadãos incáutos e facilmente explorados, consumidos, escravos dissimulados pela modernidade estarrecedora do capitalismo perverso.
Tentei falar com a diretora, que, num sorriso disfarçado por trás dos óculos escuros, rodando nos dedos o chaveiro do seu carro último tipo, pois precisava sair para cumprir um compromisso pessoal, disse-me: - Liga não, professor, é assim mesmo. Meu filho já cantava sempre esta música para mim, com a maior graça. Gosto de ver os alunos cantando assim porque mato um pouco as saudades dele, hoje adulto, casado e morando bem longe de mim. E, mudando rapidamente de assunto, tratando logo de questões objetivas sobre meu trabalho, preço, contrato, estas coisas práticas da ideologia do capital de que ela, certamente, tanto gosta.
Arrepiado, confuso, assinei os papéis, depois de titubear em relação a prestar algum serviço para aquele tipo de gente. Mas a sabedoria do universo, imensamente maior do que todas, inspirou-me a aceitar o convite. Pois é exatamente ali que posso fazer alguma diferença, levando a sementinha de fraternidade, respeito, amor, consciência crítica e vontade política para fazer um pouco de bem. Embora tardio. Estarei lá discutindo com estes profissionais. Abrirei os trabalhos com esta pouco respeitosa crônica. Espero que a ficha caia - embora considero um pouco difícil - E tomara que eu saia vivo de lá.
Contudo, isto suscitou-me uma enorme dúvida. Por que será que as escolas geralmente se chamam Pedacinho do Céu, Cantinho da Felicidade, Menino Jesus de Praga, N. Senhora de não sei o quê; Madre Teresa de Calcutá? Quando, na verdade, elas deveriam se chamar: C. E. Cantinho do Inferno, Adolf Hitler, Timotty McWey, Osama Bin Laden, Jack, o estripador, Klaus Outman, o carniceiro de Lyon, Suzane von Richthofen, e, por que não (?), Alexandre Nardoni... seria muito mais justo, lúcido, digno e coerente com o que elas realmente fazem.
Ah! Lembrei-me, Sílvia Calabresi, aquela famosa torturadora de Goiânia seria uma bela homenageada se tivéssemos escolas com o seu nome. Pelo menos estaríamos fazendo alguma conjunção com a verdade dos fatos.
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Antonio da Costa Neto



terça-feira, 6 de maio de 2008

ESCOLAS X INTERNETE: A SINTOMATOLOGIA DO ATRASO


(*) Antonio da Costa Neto

Quase todas as transformações tecnológicas geram revoluções humanas e sociais em suas áreas correlatas. Por exemplo, não temos mais as famosas tinturarias, as serpentinas de cano que esquentavam a água nos fogões à lenha. Os correios quase não entregam mais cartas e correspondências, mas tiveram de inventar outras atividades para que pudessem sobreviver enquanto empresa. Assim acontece no mundo do marketing, dos fest-foods, do esporte, do lazer, das comunicações, do transporte.
Enfim, tudo muda, se transforma, se atualiza com o advento da tecnologia moderna, com as novas e sofisticadas invenções que facilitam a vida, agregam mais conforto, diminuem gastos e custos, aceleram movimentos, reduzem distâncias, etc. Só a velha escola é que continua a mesma, desde muito antes de nossos tetra-avós, devendo, pelo modo como vemos, continuar assim ainda por gerações a fio. Ela é uma organização intransigente, velha, cascosa, grossa, antiga mesmo. Resiste muito bem e com todas as forças a quaisquer formas de mudança. Tais como as conhecemos, as escolas aí estão há um sem número de séculos de história da dita evolução da humanidade.
Elas dão aulas. Meramente instruem. Reproduzem os conhecimentos. Antes, mimeografavam, hoje, xerocam os textos prontos, repassam as informações sem averiguá-las, questioná-las, analisar seu contexto, sua importância e sua finalidade nem mesmo técnica, quanto mais a humana, prática, histórica e social.
Chegamos há um tempo em que a Internet realiza com muito mais eficiência e dinamicidade aquilo que as escolas fazem de forma lenta, monótona, atrasada e muito desinteressante.
Faltam às escolas, o que a tecnologia tem de sobra: recursos, versatilidade, criatividade, ousadia, suspense, processos e resultados fabulosos e imediatos. O que leva ao deleite, ao prazer, à busca do conhecimento, ao interesse. Brincando outro dia no meu computador, encontrei um sem número de sites que ensinam passo as passo desde operações matemáticas mais simples, até sofisticadas equações de física, de álgebra, trigonometria, cálculos dos convencionais aos mais modernos, complexos e sofisticados.
E usam para isso cores, estilos diferenciados, movimentos, círculos, setas que mudam de tamanho, que rodam, mudam de sentido, de forma, prendem a atenção de forma lúdica e motivadora, tão diferente e superior à maioria de nossas aulas tão cansativas e mórbidas. Sons que vibram, que repetem barulhos da natureza, que emitem músicas, induzem ao silêncio, à reflexão; uma verdadeira maravilha. Sites, blogs, bibliotecas virtuais, exposições on-line, teleconferências e infinitas inovações que ensinam de forma sofisticada todos os conhecimentos das ditas ciências físicas, práticas, mecânicas, biológicas, humanas, exatas.
De forma que as escolas que temos e que meramente instruem, repassam, realinham o conhecimento pronto estão definitivamente superadas na ordem das coisas, no processo de evolução histórica da humanidade. E o que quer que as escolas façam neste sentido, o de meramente instruir, induzir, fazer decorar os conhecimentos prontos, a Internet é capaz de fazer melhor, mais rápido, com uma mínima margem de erros e com uma estrondosa capacidade de resultados imediatos, legítimos, e, mais que isto, enormemente satisfatórios para todos.
Da maneira em que foram concebidas e que até hoje aí estão, as escolas ocupam um espaço que não é mais delas, mas da Internet, dos computadores, da alta tecnologia, atualmente, em grande acesso, muitas vezes a preços populares, em ambientes públicos, em locais terceirizados, em casa e altamente utilizadas para tais fins.
De forma que nos encontramos numa bifurcação histórica frente aos processos de evolução do conhecimento. De um lado, podemos tranqüilamente sugerir que o governo transforme as escolas em grandes casas de computação (Lan House), onde o aprendiz recebesse a orientação mínima que poderia ser dada pelo próprio computador. E ali faria seus estudos com muito mais rapidez, eficiência de resultado, com uma metodologia no seu ritmo e mais motivação e interesse.
Pois é muito melhor estar no computador, onde a criança, o adolescente, o jovem, ou mesmo o adulto passa horas seguidas sem pestanejar; do que assistir as aulas enfadonhas, sem interesse, mal-dadas, mal-pagas e mal-preparadas para que justamente, ninguém aprenda nada. Em seguida, ele poderia escolher a seqüência, o assunto, o método, a lógica que mais o interessasse. Depois, de período em período, ele faria, digamos, uma prova para o MEC, pela própria Internet e assim que estivesse pronto, seria certificado do seu nível de conhecimento, com que prosseguiria seus estudos com bem mais prazer e, evidentemente, com bem mais naturalidade e bem-estar.
Isto sem falar que muitos estudariam em casa, a custo zero para o governo. Seria muito bom em todos os aspectos. Quanto aos professores e pessoal da escola, uma vez justificada a sua absoluta falta de necessidade profissional teriam, por exemplo, o mesmo destino dos trocadores de ônibus que foram gradativamente substituídos pelas catracas que não adoecem, não se estressam, não tiram folga, não erram o troco e tudo continua funcionando maravilhosamente bem.
Pois a função minimamente técnica como a que os educadores de uma maneira geral vêm exercendo, deve ser cumprida por máquina. É um desperdício e um descalabro sub-aproveitar gente para fazer isso, como vem acontecendo nas nossas escolas frias, secas, desinteressantes em tudo.
Talvez, desta forma, a escola continue sendo necessária nas séries iniciais, onde o aluno tem acesso aos números, às letras e aprende a ajuntá-los; a única coisa que ela tem feito e que de fato acrescenta algum valor, alguma sabedoria aos que aprendem. Daí para a frente a tecnologia e a eletrônica têm dado mostras de uma muito maior eficiência e eficácia no campo do ensinar, do aprender e do instruir para reproduzir o conhecimento o que é muito pobre frente à complexidade das exigências do mundo de hoje .
Uma outra suposição possível, e, esta sim, comunga com os ideais da educação enquanto ciência e prática social contextualizada, seria a escola partir daí, de depois da Internet, para fazer o indivíduo pensar, a analisar criticamente o teor do conhecimento que adquiriu. Facilitar a interação do saber com a intersubjetividade do ser. Tornando-o capaz de usar o seu saber. Contextualizando-o efetivamente à sua vida, realizar as conquistas de que necessita, contribuindo como agente social para melhorar o mundo para todos.
Para continuar existindo a escola e a educação formal precisam ir além dos limites da ideologia, da contestação política, se atrever, ousar, ser afetiva, personalista, intermitente, nova. Ensinando o indivíduo a ser livre, crítico, autônomo, sensível, afetivo, criador. Agregando outros saberes que não os unicamente ditados pela perversidade do capitalismo caquético, centralizador e periférico que constitui nosso tormento e nossa agonia maior enquanto cidadãos e seres vivos. É preciso que elas passem a ensinar o amor, a afetividade, a compaixão, a harmonia, a ecologia, a beleza. Mas para que isto aconteça é necessário que os educadores em geral e os professores em particular aprendam primeiro estas lições. Pois a vasta maioria deles é cega neste sentido e está muito longe de saber disto. E o pior, de querer ter este conhecimento.
O caos, as crises das escolas são sintomáticos, permanentes e não, casuais. Eles são um convite para que os educadores mudem suas práticas, repensem profundamente seus conceitos. Que agreguem qualidade ao que fazem que ensinem também a inventar e não somente o que foi inventado. Que construam com seus alunos a história das civilizações contemporâneas e não os obriguem a se conduzirem pelas mesmas trilhas de um passado que não mais deveria existir.
Mas tudo isto requer trabalho, leituras, mudanças. E, acima de tudo, deveremos abrir mãos de privilégios caducos, de poderes simbólicos e inexpressivos a que tanto nos apegamos pela nossa cultura competitiva, linear e estagnada. Não temos mais que conscientizar os educadores. Precisamos acordá-los para que não sejam ceifados pelo marasmo0, pela morte antes mesmo de abrirem seus olhos para vislumbrarem os horizontes de prosperidade, vida, sonhos e alegrias. Que talvez, nunca virão. Pois a educação que temos jamais o permitirá.

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(*)Professor, pesquisador e conferencista em educação. Autor dos livros: Paradigmas em educação no novo milênio; Escolas & Hospícios – ensaio sobre a educação e a construção da loucura (Ed. Kelps-Goiânia). Estando no prelo: Reflexões de Giovana – educação para a vida em plenitude.

sábado, 3 de maio de 2008

TERCEIRO MANDATO: ERA SÓ O QUE FALTAVA



O terceiro mandado para Lula vem aí a galope. As perspectivas de que ele aconteça de fato já foram bem mais longínqüas. Afinal, os grandes empresários deste país estão muito satisfeitos com os bilhões que estão ganhando. O bancos nunca faturaram - roubaram legalmente - tanto. E, é lógico querem continuar ganhando e nada melhor do que a dissimulação democrática do governo Lula para isso.
Por outro lado, a classe popular foi ao paraíso. Com as inúmeras bolsas-esmolas que recebem, consomem bem mais, Trocam a geladeira, compram elotrodomésticos, comem mais carne, se entoxicam muito mais, fazem a indústria pesada a contaminar ainda mais o ecossistema. Mas, afinal, isso não é nada, enquanto todos comem e assistem, ainda que não tão confortavelmente por causa do odor dos esgotos a ceu aberto, o medo da bala perdida, suas televisões de plasma. A coisa mais chique do mundo, o que nunca imaginaram ver e ter.
Só a classe média, os trabalhadores que o PT representa e defende (rs!) é que paga a grande conta. Mas quem é eleitoralmente esta classe? E ainda mais, quem são os poucos exemplares conscentes politicamente dentro dela? Para que servem seus mínimos e desprezíveis votos frente à avalanche dos detentores dos programas sociais do governo e da classe que só vai às urnas depois de manipulada pelos patrões riquíssimos e altamente favorecidos pela farsa que se montou no chamado governo brasileiro.
E de tudo isto, o que mais me dói é lambrar do cinismo babão exercido pelo sr. Presidente. Aquele discurso acalorado e com lágrima nos olhos clamando pela dignidade do povo e a manutenção e a ampliação dos direitos da classe trabalhadora que sustenta o Brasil e o luxo hipócrita das elites, do poder.
Assim a Dilma pode fazer, com pompa e circunstâncias o casamento da filha balsaquiana. O governador do Ceará pode fazer uma pequena turnê pelos melhores hotéis do mundo ouvindo as piadas sem graça de sua sogra faladeira enquanto pagamos as contas, sem que tenham médicos, gase, remédios nos hospitais; professores nas escolas, arroz nas panelas de nossas casas.
Manipulam-se as polícias para que o Caso Isabella não ande e, com isso, se aumente os salários dos parlamentares, o preço do petróleo, o custo de vida e continuem enganando o povo perpléxo com a brutalidade do crime e a impunidade contra os culpados e nos dizendo que a inflação acabou. "Que nunca neste país", como ele gosta tanto de falar, a paz reinou tão serena, o povo respirou ar tão puro, as perspectivas de uma vida solidamente melhor nunca foram tão presentes.
Tudo caminha para este infeliz terceiro mandato e só uma pessoa no mundo é capaz de evitá-lo: o próprio Lula. Mas duvido que ele, falso como tem-se demonstrado, manipulador, interesseiro, corrupto, egoísta, jamais irá querer parar de sentir o cheiro de mofo das velhas cortinas do Palácio. Deixar de dormir naqueles quartos imensos e mal-assombrados pela força do mal e do crime que ali se comentem contra o povo, as crianças, as mulheres, os tabalhadores, os pobres, os que sofrem.
Será que o Lula ainda consegue dormir em paz? Ainda pensa com sinceridade que faz de fato o bm para o Brasil e sua gente? Ele consegue ainda dissimular-se por dentro e enganar a própria alma em troca do poderzinho, dos jantares, dos passeios de carruagem? Coitado! Se vende por tão pouco.
Mas, por outro lado, quem melhor do que ele, uma vez que todos os que entram se corrompem, se consomem, se vendem. Ele conseguiu se transformar no melhor que tínhamos e no pior que temos. E assim será com todos. Pobres de nós, o povo brasileiro que ainda teremos que amargar por séculos contínuos de dor e miséria. Pois ainda vamos retirar o tapete e nos deparar com o lixo, então podre e fétido que este governo varreu, varre e varrerá para debaixo dele.
Pobre de nós, incautos, ingênuos e sem outra saída a não ser a da podridão, do descaso, do egoísmo e da incompetência. Com ou sem o terceiro mandato. Estamos fritos, segregados e condenados a sucumbir. Sendo o que sempre acontece com os covardes, os pequenos que não saem de sua zona de conforto e não têm coragem de ousar, de mudar nada... Nós bem que merecemos.
Antes de pensar em um novo mandato, o que seria o maior dos absurdos, com vistas a beneficiar a ele próprio e a sua gangue de novos privilegiados, o Presidente deveria era ler e aprender mais sobre moral, ética, responsabilidade política, honestidade, princípios, lealdade. Sei que o primeiro obstáculo é bem fácil de ser superado, basta a boa-vontade dele. Felizmente, nem tudo está perdido e o Brasil está repleto de cursinhos de alfabetização de adultos. Funcionam a noite e são, em sua maioria, gratuitos. Portanto, ele que trabalha tanto e que ganha tão pouco poderá, seguramente, frequentar de forma assídua e proveitosa, um deles, sem o menor problema.
Temos por tanto, uma luz no fim do túnel. É uma questão de aproveitá-la.

Antonio da Costa Neto