terça-feira, 2 de agosto de 2016

OLIMPÍADAS NO BRASIL: UM VERDADEIRO CIRCO DE HORRORES PARA POVO


Dei aulas de sociologia dos desportos para o curso de educação física da Faculdade D. Bosco, de Brasília, nos bons tempos que nem se falava em computadores por aqui, ainda mais de internet. Mas a tecnologia avança em passos bem largos e nem faz tanto tempo assim. Foi ontem. Mas o que quero dizer é porque não sei por quais cargas d'água, veio parar nas minhas mãos um texto maravilhoso que guardo até hoje, leio, admiro, amo. Tem até uma resenha dele aqui no blog, minto, ele está aqui no blog e se quiser, é só lê-lo. Você vai adorar. Trata-se de A CRIANÇA QUE PRATICA ESPORTE RESPEITA AS REGRAS DO JOGO...CAPITALISTA, de Walter Bracht, um gênio. E é, a partir dele que gostaria de fazer aqui uma rápida reflexão sobre as olimpíadas no Brasil. Ou melhor, "olimpiadas",  Se é que me entendem...
O Brasil vive, se é que vive, não sei com que mais teor e força, uma crise colossal e, ao mesmo tempo, as olimpíadas, que não sei por onde começar por esclarecer qual seria a crise maior. Primeiro, porque é inapropriado, por exemplo, um pai de família desempregado, sem dinheiro para colocar comida na mesa e querer, ao mesmo tempo, dar uma festa gigantesca só para impressionar os amigos e esconder a sua real condição neste momento e é isto o que as "autoridades" - benditas aspas - estão fazendo neste momento e não têm, sequer, a dimensão da catástrofe e do atraso. São muitos milhões, bilhões que se gastam com a estrutura para uma olimpíada de dimensões continentais como esta, num momento em que faltam esparadrapo e seringas nos hospitais públicos, giz e carteiras nas escolas, saneamento nas ruas, salários para os funcionários públicos, só para exemplificar.
Pergunto, isto se justifica num momento como este? Enquanto os pais de família se contorcem em busca de trocados para o pão, nós somos meio que obrigados a assistir os desfiles das celebridades financeiras do mundo, dos atletas que recebem nefastas quantias em dinheiro, fazem fortunas e mais fortunas como o mesmo dinheiro que falta nos lares das pessoas - pois a economia é una e o dinheiro que se acumula nas contas das grandes estrelas dos desportos é o mesmo que falta para comprar pão, leite, remédios, pagar professores, médicos, etc. etc. etc.
Um absurdo total, um desrespeito que perpassa a lavagem cerebral do correr atrás da tocha olímpica e celebrar isto como se fora um ritual dos deuses e depois ir para a casa - quando se tem casa - para passar fome e sede. É o apologético pão e circo que, por mais que circunde a evolução tecnológica, o ser humano, até por força do esporte competitivo e sua vertente ideológica perversa, o ser humano não se liberta. Pior, aplaude o seu algoz, por meio da vitória, do gol, do ponto da passada mais rápida, do salto mais longo, coisas lindas, espetaculares mas que não enchem a barriga de quem tem fome, não dá estudos a analfabetos, tratamentos a doentes, casa, roupa... e tal...
E isto é o que se vê, ou seja, o menor dos males, recobrando aqui a célebre citação de Exupérry, de que o essencial é invisível aos olhos. Mas, por exemplo, o pior ainda está por vir que é a ótica linear e absolutamente estrategista da própria dinâmica do esporte. Aliado à educação e ao doutrinamento religioso, o esporte, sobre tudo o competitivo e de massa é uma das expressões ideológicas mais fortes e pesadas.Pois, o esporte organizado já é em si, uma aula de ideologia de poder. Simples: quando aplaudo um atleta/celebridade com bilhões na conta, o meu consciente considera que também faço parte daquela história, batendo, por tanto, um aniquilamento, na linha de que isto me basta: sou campeão, sou vencedor, tenho a medalha, em especial, a de ouro. E isto nada mais é do que uma profunda e sem precedentes lavagem cerebral.
Muito além de ser um ensinamento ideológico o esporte é também a expressão do rigor ditatorial: o atleta não ajuda a elaborar a norma que vem pronta, ele só tem que cumpri-la, e, se possível, com o maior dos êxitos, o que coloca pra fora o inesgotável circo dos horrores em relação aos seres humanos que aplaudem estes mesmos vitoriosos em volta de todo o mundo e a um só tempo. Para ser feliz no jogo tenho que me acomodar ao regime ditatorial imposto pela norma do próprio jogo, seja ele o que for. Portanto, se faz no esporte a apologia de quem pode, de quem tem, de quem manda, para que isto se torne legal, legítimo e, pior ainda, produzindo alegrias, aplausos, consternação, quando deveria ser, isto sim, motivo e sinal de repúdio.
A Rede Globo, aquela mesma do BBB, do Criança Esperança e outros monstros, tem sim, um centro de tv e comunicação bem no meio da cidade olímpica para que não se perca um detalhe que é levado ao vivo e em cores para dentro de sua casa inebriando o cotidiano de todos nós, o que não é uma alegria, mas um uso abusivo do nosso corpo, da nossa atenção e da nossa consciência. E onde estaria a inteligência de um povo que acata e aplaude tudo isto? Esta inteligência exite? Está dormindo e precisa acordar, quando recebe mais esta dose cavalar do sonífero olimpidíaco... É, de fato, o fim do fim.
Resumindo, olimpíada, copa do mundo, torneios campeonatos são coisas boas sim, lindas, saudáveis, maravilhosas. Mas muito mais para os riquinhos, os ricões, os atletas endinheirados. Os Galvões Buenos da Globo que nadam em dinheiro, para, justamente, fazerem a cabeça de um povo, que, pelo que parece, dá mostra de que ela ainda não existe e que precisa ser feita. Mas feita por que ótica? Vamos acordar, meu povo, não é mais possível que continuemos aplaudindo nossos algozes, sendo, no final das contas vítimas de nós mesmos. De olimpíadas, ou olimpiadas como esta: um circo de horrores contra cada um de nós, contra nossos filhos, nossas gerações, nosso futuro e nosso presente. Acorda, meu povo. Aproviete, pois ainda estamos vivos. Ainda.