terça-feira, 29 de julho de 2008

A QUESTÃO DOS PARADIGMAS


A Questão dos Paradigmas
Por:
(*)Antonio da Costa Neto

"A sociedade como um todo vive uma crise análoga e singular
diferente de todas as crises parciais que tivemos no passado,
pois não trata apenas de questões passageiras, mas definiti-
vas em relação ao futuro histórico da espécie humana.
Vivemos hoje num mundo globalmente integrado e os pro-
blemas humanos, éticos, políticos, sociais, econômicos, cul-
turais e ecológicos são interdependentes, e, para resolvê-los
precisamos de uma nova prespectiva. Será necessária uma es-
trutura educacional, social, humana, política e econômica
radicalmente diferente. Uma revolução cultural na verda-
deira acepção da palavra: uma autêntica mudança de paradigmas.
A sobrevivência da humanidade
dependerá, certamente, de sermos ou não capazes de realizar
esta mudança."

(Fritjof Capra)


As reflexões aqui levantadas nos remetem a um dos pontos da maior importância frente à dinâmica e aos problemas do mundo contemporâneo que é a necessidade urgente de se processar uma extraordinária, uma radical mudança de paradigmas. Ou seja, das formas de ver, sentir, acreditar e fazer as coisas, com consciência de suas interferências, benefícios, malefícios, processos e resultados. O que em ciência se habituou a chamar de Estado da Arte em relação aos paradigmas antigo, novo e emergente.
O novo paradigma advoga a idéia de que tudo o que é vivo cumpre ciclos, etapas, fases com início, meio e fim. E ainda, tais ciclos são epigenéticos – ou seja, um ciclo nasce dentro do outro, sendo portanto herdeiro de características e semelhanças recíprocas. O ciclo seguinte nasce da epigênese do anterior e leva deste características, idéias, símbolos e imagens reais e em especial, aquelas criadas psicologicamente. O mesmo acontecendo, infinitamente, com cada um dos novos ciclos que se sucedem. Por exemplo, uma criança criada com medo será provavelmente um adulto medroso. Se for amparada com amor, será amoroso e assim por diante. Claro que outros fatores múltiplos irão interferir e não podemos, por isso, ser simplista assim. Aqui, tratamos simplesmente de um exemplo, de um aspecto didático, para ajudar o leitor melhor entender a nossa proposta.
Estes mesmos ciclos são recorrentes, isto é, carregam recorrências, sensações, emoções, sentimentos que foram criados no ciclo anterior a eles. Se tenho medo de minha mãe e a minha professora se parece com ela, meu inconsciente vai confundir as duas e eu, naturalmente, terei também medo da minha professora, e, provavelmente, dificuldades de aprendizagem na escola, mesmo sabendo que ela não é a minha mãe. Pois a luta do inconsciente sobre nós é infinitamente poderosa. E, finalmente, os ciclos a que nos referimos anteriormente, são probabilísticos porque poderão ocorrer entre eles fatos ou fenômenos absolutamente fortes que transformem a ordem das coisas. Não se tratando portanto, de um princípio determinístico, mas probabilístico, pois, por feliz sorte, a realidade é dinâmica, como já dissemos, viva e as coisas podem mudar de rumo a qualquer momento.
Assim, ainda apenas para exemplificar, uma criança criada com medo e sem amor, poderá encontrar uma professora o suficientemente amorosa e dedicada ao ponto de mudar a sua personalidade, tornando-a num adulto sensato e amoroso, embora as suas características originais negassem isto. Pois houve um fenômeno igualmente importante que mudou o processo, tais como o são as terapias, os grandes amores, as realizações plenas, tanto para o bem, como, especialmente para o mal, que é muito mais espontâneo em tudo na vida, como todos o sabemos.
Assim, o ser humano que tem uma expectativa média de vida um pouco acima dos 70 anos. Cumpre, portnato, dentro deste raciocínio, ciclos, fases, etapas de mais ou menos 5 a 7 anos que denominamos de a) vida intra-uterina/primeira infância; b) segunda infância e puberdade; c) juventude; d) idade adulta, maturidade; e) velhice; f) senilidade e morte. E dentro de cada um deles, os altos e baixos que segmentam a história de cada pessoa em especial, que, em conjunto, formam a maravilhosa história da humanidade.
O Planeta Terra, de vida e proporções muito maiores, atravessa, naturalmente, ciclos bem mais duradouros, de 1000 anos. E, dentro destes, os miniciclos que são os séculos, anos, meses, dias, horas, etc. nos quais a história do mundo passa por deprossões, períodos de calmarias e evoluções contínuas que se complementam e se integram, que são caracterizados pela física moderna como: a) grande explosão; b) aclive/ascendência; c) clímax; d) declive/descendência; e) saturação; f) caos, que é quando se chega novamente à necessidade de se mudar o paradigma – ou seja, uma nova grande explosão. E não apenas de aperfeiçoar, maquiar, melhorar funcionalmente o paradigma existente, como a humanidade inteira insiste em fazer. Perpetuando, assim, o caos quase que insustentável em que estamos vivendo muito especialmente nos últimos tempos.
Estando justamente aí o maior problema: precisamos mudar, transformar, retirar o que existe e colocar algo de diferente no lugar, uma mudança de essência e não, de aparência. Mas é o que acontece na política, nas empresas, nas organizações da família, da igreja, da escola, da ciência, da tecnologia, etc. Fomos criados de uma forma que temos muito medo de sair da nossa zona de conforto, mesmo sabendo que ela não mais existe. Mas preferimos permanecer ali e continuar reclamando, ao invés de mudar porque o modelo fixo garante, sim, um bem aparente para aqueles que o comandam.
Assim a humanidade passou por vários paradigmas historicamente acumulados que cumpriram suas etapas e se extinguiram no processo natural de evolução. Dentre outros, podemos citar o Paradigma Religioso-Medieval, das concepções, fórmulas mágicas inspiradas e ditadas pelos tenebrosos deuses do universo retratados por monstros e/ou figuras estranhas pelas várias mitologias por nós estudas. O Paradigma Estrutural- Funcionalista que surge com o advento da Revolução Industrial. Nascendo, com ele, o dogma da disciplina militarmente imposta, a definição da ordem, da hierarquia e dos princípios rígidos impostos pelos detentores dos meios de produção e do capital, principalmente. O Paradigma Judaico-Cristão que aí está, associado à estrutura funcional das organizações e ao dogmatismo religioso comandado pela igreja católica, favorecendo à visão do patriarcado, do predomínio do macho, à centralização unificada do poder, da concepção do pecado e da linearidade absurda e antagônica do céu para os bons e do inferno, do fogo eterno para os maus. Ou sejam, aqueles que rebelarem aos seus princípios e causas.
Maquiavélica e perversamente a junção destes paradigmas todos leva a grande massa dos seres humanos à uma brutal subserviência aos princípios, valores e dogmas que os constituem e que são, imediatamente, consubstanciados na ação social da igreja, nas leis, nas organizações, escolas, famílias, no Estado, nas normas e nos estatutos das empresas e das escolas. Nos meios de comunicação de massa, e, muitas vezes, no fomento da própria arte e da cultura. O que deixa como justo e natural a exploração astuta dos trabalhadores, das massas populares, a concentração do poder, da riqueza, do bem-estar e de todos os meios de sobrevivência, o que leva à socialização da miséria, à degradação da natureza, à violência, ao desespero social e toda a sorte de problemas a que todos nos achamos expostos em toda a sociedade contemporânea.
Mas o mais forte, o que conduz na prática a síntese de todos os demais e define as ordens e normas de conduta da vida é o ANTIGO PARADIGMA CARTESIANO-NEWTONIANO. Criado e difundido pelas concepções da física clássica de Isaac Newton e a filosofia de Reneé Descartes e que já deu suas profundas marcas de superação. Mas, infelizmente, a humanidade continua fazendo todos os esforços no sentido de mantê-lo vivo e presente por meio de sua cultura, seus valores, escolas, universidades, famílias, religiões, instituições de pesquisa, serviço público, etc.
As sociedades contemporâneas, infelizmente, ainda não conseguiram identificar o terrível atraso que significa a manutenção de tal paradigma em suas práticas. O que, na verdade, constitui um crime silencioso contra elas mesmas. Homens e mulheres ainda fogem cegamente da possibilidade de vislumbrar o novo, uma outra concepção de valores. Muitos sabemos que o atual momento já há muito dá suas mostras de uma senilidade absolutamente crônica. Mas os que ainda julgam ganhar com isso, impõem drasticamente os seus valores. Pois o paradigma cartesiano-newtoniano é próprio e justo para se ganhar dinheiro, centralizar forças, fortalecer elites, ajustar mandos. Para se acumular poder e fortuna, sendo, claro, o responsável por muitos avanços na sociedade dos homens, especialmente, no desenvolvimento da técnica, da ciência, do planejamento, das organizações.Mas, infelizmente, trás também um conjunto incomensurável de males, estragos, dores e sofrimentos para a humanidade toda.
Podemos exemplificar neste sentido os imensos cinturões de fome e miséria em volta do mundo, que, por sua vez geram doenças, endemias, violências, guerras, corrupções de todas as ordens. Levando à depressão social, à tristeza, ao estresse, à degradação contínua e rápida da natureza. A total impossibilidade de uma vida com paz, harmonia, decência e alegria de viver para todos, indistintamente.
O Paradigma Cartesiano-Newtoniano no máximo camufla uma “pseudo felicidade” para os poucos ricos, os donos, os mandantes, que, cercados de seus badulaques e bijouterias de péssimo gosto, vivem afugentados e medrosos, temendo que o mundo caia sobre suas cabeças ou se esvaia de sob seus pés a qualquer momento. Que é o que vemos acontecer em todos os dias.
Na verdade, este Paradigma é a junção dos modelos anteriores, modernizada e difundida nos moldes da ciência. É, portanto, um paradigma frio, linear, produtivo, centralizador, exato, preocupado com resultados vistos por uma ótica unilateral, monádica, há muito, fora do contexto e de todos os propósitos de uma vida digna para todos. Trata-se de uma concepção, uma método, uma filosofia absolutamente capenga e superada como o é a mentalidade da grande maioria das pessoas, e, sobretudo, das nossas grandes instituições sociais.
A nova proposta é a de transição para adotarmos um NOVO PARADIGMA SISTÊMCO, CONTINGENCIAL, EMERGENTE, HOLÍSTICO. Oriundo das concepções transdisciplinares, da ciência antológica, da visão feminina do mundo, da física quântica, da teoria dos fractais, da teoria geral dos sistemas de F. V. Bertalanffy, Fritjof Capra, Marilyn Ferguson, Waldemar de Gregori, Clotilde Tavares, Humberto Maturana, Francisco Varela e muitos outros. Um paradigma novo e que difunde em suas teorias, estudos e pesquisas uma visão de mundo muito acima fria, mecanista e inumana a abordagem cartesiano-newtoniana. Uma maneira de ver e fazer as coisas fundamentadas no processo, no prazer, na dotação da alegria, do bem-estar, do compartilhamento, da compaixão, na abertura de horizontes e perspectivas, na co-participação de todos na construção de um planeta e de uma vida de melhor qualidade para todos. Enfim, uma nova realidade tundada no processo de evolução natural da raça humana, que infelizmente, vem fazendo um esforço brutal para não compreendê-lo e pior que isto, não aplicá-lo.
Diferentemente, esta nova proposta deixa de ser centralizadora absoluta e passa a descentralizar tudo: poder, riqueza, processos de tomada de decisão, participação ativa, acesso aos lucros, às formas de fazer as coisas, o sentimento de estar presente e se fazer importante, numa verdadeira revolução copernicana em relação a fatos, fenômenos, e, principalmente, pessoas. É uma abordagem que se preocupa em personalizar e não, padronizar, harmonizar ao invés de mecanizar. É quente, prazerosa, repleta de vida, respeito, beleza, sensibilidade, estética, mística, ações humanas, respeito, alteridade, empatia constantes. Vê infinitos processos e os resultados como um efeito natural e direto destes. Assim, bons processos gerarão bons resultados, sempre. Tornando desnecessárias a imposição de limites, o controle rígido, a guarda, a punição, a dor, o sofrimento, a desconfiança geradoras das desgraças humanas em todos os segmentos do mundo de hoje, da sociedade moderna.
Para que a humanidade tenha uma possibilidade de vida decente, paz duradoura, ar respirável, felicidade, meios de sobrevivência, saúde plena, lazer, educação, acesso e dotação dos meios de sobrevivência (bens, espaço, prazer, participação nas decisões, etc.) é preciso que ela abandone os estreitos limites da visão cartesiana de mundo: fragmentária, mecânica, fechada, preconceituosa, sexista, capitalista e adote a nova concepção global, aberta, flexível, intermitente, calorosa, responsável, afetiva, emocional, inteira, co-responsável . Plena de compaixão, senso ecológico, amor e bondade. Para que todos vivam com amor e alegria. Segurança, bem-estar e qualidade estrema, que é tudo o que nós, pobres mortais podemos vislumbrar para que o mundo não seja mais este “vale de lágrimas”, mas uma “passarela sonora, perfumada, cheia de luz, vida, sorrisos e esperanças”. Com corações e almas aliviados, ávidos, contundentes e cheios de esperanças. Iremos assim construir um mundo onde o famoso "amai-vos uns aos outros" não será mais apenas uma mensagem bíblica. Mas será, sim, a única saída.
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(*) Educador, pesquisador e conferencista nas áreas de educação, gestão de pessoas e formação política. Autor de artigos sobre o tema, incluindo os livros: Paradigmas em educação no novo milênio, Educação alienante existe e Escolas & Hospícios - ensaio sobre a educação e a construção da loucura. Contatos: antoniocneto@terra.com.br ou ainda pelo blog: www.mudandoparadigmas.blogspot.com

quarta-feira, 23 de julho de 2008

SABEDORIA VIVA DE MARGUERITTE YOURCENAR




"Qualquer verdade
produz o escândalo."


(Margueritte Yourcenar)

sábado, 19 de julho de 2008

AS FLORES DO JARDIM DE NOSSA CASA
















































































SIMPLESMENTE CLARISSE


























"Eu sei

muito pouco.


Mas tenho

em meu favor

tudo o que não sei..."



(Clarisse Lispector)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

EM QUE PENSAM OS GATOS?




























































O PIOR MAL DO BRASIL: A INVERSÃO DE VALORES



Já passei, há muito dos cinqüenta anos. Não reclamo. Quanto a isto, estou bem mais do que satisfetito. Deste tempo, tirei grande parte para estudar, aprender, ler, fazer pesquisas, intervenções, me preparar. Procurei dominar algum conhecimento para enxergar criticamente os fenômenos, a vida. Para agir com competência, com vontade política para que a vida fosse molher. A justiça acontecesse, as pessoas fossem mais felizes e com motivos para celebrarem a vida. Para brindarem a cada dia, cada noite, cada respiração a mais.
Assim, adentrei-me pelos caminhos da educação. Considero-me hoje uma pessoa com uma profunda visão de seus processos e problemas. Se eu tivesse algum poder na mão e autonomia para agir, com certeza eu resolveria todos os principais problemas desta conturbada área do saber humano. Sei muito o porque da insatissfação de alunos e professores. A evasão, a repetência, a resistência em aprender, a reprovação, o fracasso da educação e da escola.
Sei bem que a resolução destes problemas passa pela esfera da política em seu sentido pleno. Requer a troca de favores, de benefícios. O abrir mão do poder, do status. O preparar as pessoas para a crítica aguçada, a sensibilidade, o senso do bem-viver em seu sentido pleno.
Mas é justamente aí que mora o problema. Pessoas críticas, evocam, incrementam, exigem, questionam, literalmente, incomodam. E todos querem incomodar, carcomer, extorquir, usar e abusar. E não dá pra fazer isso com pessoas educadas. Mas com adestradas e é isto que as escolas fazem.
Escolas não foram feitas para educar ninguém, mas, ao contrário, para emburrecer, alienar, aniquilar a consciência crítica das pessoas e os imbecis dos educadores, mesmo os mais sensíveis, não conseguem, nem de longe, desconfiar disso. Coitados. São umas verdadeiras antas manipuladas para perpetuarem a inversão de valores, a exploração fácil, o acúmulo de riquezas para poucos. Sem desconfiarem que, com isso, garantem com monstruosa facilidade o abuso das pessoas, a construção do caos, ao qual todos nos submergimos a cada dia, hora, minuto, segundo...
É aí que começo a pensar. Sempre estudei e muito. Li tudo que caiu na minha mão sobre educação, gestão educacional, planejamento, técnicas, metodologias, sociologia e antropologia aplicadas. Ganhei prêmios, honra ao mérito, publiquei livros, artigos, textos. Fiz um monte de pesquisas, de intervenções pedagógicas. Propus ações, desenvolvi projetos, modifiquei a vida de muita gente. Melhorei escolas, vidas, revolucionei cabeças. E... continuo aqui à margem de tudo. E concluo: num País que canta em prosa e verso o cinismo de um Pelé, só porque, um dia jogou bem a bola para a rede, fazendo vibrar os famintos, que ao vibrarem, escondiam de sua condição, ficando mais fácil e simples perpetuá-la?
Já sentiram a pouca inteligência deste cidadão? O seu cinismo em relação aos filhos ilegítmos? A frieza em relação à condição do seu outro filho como usuário e traficante de drogas? Pelé é, é na verdade, um cínico, um vazio, uma inteligência discreta e preconceituosa com bucho e bolso cheios. E os Delfins Netos enriquecendo os ricos? Os Antonios Hermírios de Morais e sua lânguida competitividade rabujenta? As Hebes difundindo as idéias burguesas, elitistas, profundamente irresponsáveis? E a piada que são nossos governantes - quase todos? Sílvio Santos, Gugu, Jô Soares, nossos Ministros? E o Presidente da República? Nossos Sindicatos, empresas, estruturas urbanas, meios de comunicação?
Como conseguimos viver e aceitar como normal estas realidades muito mais que absurdas? E as nossas igrejas, a começar pela Católica? Os padres Marcelos com aquela postura bíltre, imbecil, falsa? E a arrogância do papa? E a maioria dos nossos artistas, a Rede Globo, o BBBrasil? Não gente, trata-se de coisas demais contra nós mesmos e que ainda aplaudimos feito um bando de macacos adestrados? Um bando de idiotas a serviço da maldade no mundo.
Somos mesmo muito burros, incautos, vazios, insensíveis, manipuláveis. A esta altura de evolução das coisas do mundo ainda conseguimos viver neste lamaçal de mentiras e de maldades e achando tudo normal. É mesmo verdade, a humanidade inteira é muito menos que medíocre.
E o mesmo acontece com Ronaldinho Gaúcho, Romário, não sei quem mais que por jogar bola merece a condição de Deus, as fortunas incalculáveis, o status de mitos bem-feitores. Ayrton Sena é outro, um falso, um pobre de espírito com fama de ser Deus porque dá lições de competição, do forte, do animal que pisa mais do que ninguém, que alicia as mentes incautas para tal.
Num País em que os Mamonas Assassinas vendem bilhões de discos para cantarem as asneiras do mundo, o baixo-ventre, o sexo sujo, as besteiras sem nexo. Os políticos encinheirados que manipulam leis e dogmas para perpetuarem os ricos mais ricos e os pobres mais miseráveis são os que merecem o tapete vermelho, as aposentadorias milionárias, os privilégios dos seres humanos especiais. Os educadores que têm nome e são respeitados são os que difundem uma pedagogia eminentemente burguesa, a favor da capital e contra a vida. E só os ridículos, os vazios, os fúteis são eleitos, se perpetuam no poder, expandem suas maldades pelos becos e ruas. Onde o poder é dos insensíveis. Onde só se esquece um escândalo com a produção de outro. Onde se sucessedem: Os Anões, o Mensalão, a CPI dos Correios, o caso Isabela, os dólares na cueca e nada vira nada. Onde a polícia metralha inocentes, pessoas se matam e fica tudo como sempre.
Melhor mesmo é estar à margem, ser esquecido, não ser ninguém. Melhor mesmo era não ter nascido para não amargar esta dor, este sofrimento, esta vergonha absolutamente infinita. Pelo menos para os que têm algum brio. Para os que sonham com a decência, o amor, a justiça, a dignidade, a luz. Precisamos estraçalhar esta desgraça historicamente acumulada. Revolucionar é preciso. A nova lei é a de fazer emergir a revolução do amor. Pobres de nós. Os imbecis capazes de mudar tudo isto e que são condenados a morrer sem fazê-lo e a sufucar e matar um a um, todos os seus sonhos.
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Antonio da Costa Neto

terça-feira, 15 de julho de 2008

UMA COISA CHAMADA SOCIOGRAMA FAMILIAR





















Sabe o Chico Diaz, aquele ator mexicano, naturalizado brasileiro? Já notou as muitas semelhanças dele com o nosso especial compositor e cantor Chico Buarque? Os dois se chamam Francisco, são do meio artístico, idades até certo ponto similares. Os olhos de ambos são religiosamente de um verde-azulado como exatos oceanos não-pacíficos. Têm ambos paixões pelo futebol, a mesma altura, portes físicos bem semelhantes, etc. etc.
Pois é, Chico Diaz foi justamente o eleito para ser o grande amor - infinito enquanto dure - da também atriz Sílvia Buarque, filha mais velha do nosso, o outro Chico. Até aqui, tudo parece normal, mas vamos lá...
Escolhemos este exemplo, por se tratar de pessoas famosas e conhecidas para falarmos um pouco do fenômeno do sociograma familiar. Que, segundo nossas pesquisas é um dos fatores da maior importância na construção da sociedade, aí incluindo seus conflitos, problemas, dores e sofrimentos. E muitos dos quais podem ser evitados, a partir do desdobramento coerente, e, principalmente, amoroso de tais aspectos.
Segundo nossos estudos é na primeira infância, ou seja, de zero a cinco anos de idade é que se constroem os elementos constitutivos da personalidade, do caráter e das condições emocionais, pscicológicas, sexuais, enfim, de todo um aparato interno de cada pessoa.
O convívio com os familiares nesta idade. A luta com os irmãos pelo amor do pai e da mãe. As efetivas respostas destes, vão, ao longo dos tempos, formando o universo masculino e feminino de cada um. Suas defesas, interesses, gostos vão, vagarosamente se definindo ao longo dos anos. Quem é mais simpático, mais agradável: papai ou mamãe? Se o papai, então meu universo masculino fala mais alto, podendo, conforme o caso, nascer daí por exemplo a homossexualidade masculina. Ou a feminina, na composição dos contatos menina/mãe.
Claro que apenas isto não é uma condição suficiente, mas entendemos ser o básico na construção tal processo. Não estamos nos referindo a ele como bom ou mal, mas apenas fundamentando a provável causa de sua origem, para que possamos então associar aos demais critérios que constituem a personalidade de cada pessoa. Caráter, estilo, valores, jeito de ser e de fazer as coisas, gostos, opções, condições individuas, ritmos, formas de ver a vida. Tudo, segundo temos comprovado, nasce neste histórico em que todos, de forma positiva ou negativa, presente ou ausente, estamos, de alguma maneira expostos.
Temos aí de considerar também muitas sutilezas. Pois as coisas não são lineares, retilíneas, iguais para todos. Isto nunca, seria extremamente simplista pensarmos desta maneira. Pois a interferência de um avô, por exemplo na vida de uma neta porque ela tem semelhanças físicas com a falecida mãe dele. Ou de uma avó na vida do menino por causa da pinta do pai dela que ele tem no rosto. A afetividade forte de uma empregada negra, momentos, coisas, detalhes, tudo influencia tudo. Uma oportunidade, um detalhe, um grito fora de hora, um dedo em riste, um abraço um afeto podem modificar todo um destino, que, por sua vez irá modificar outros destinos infinitamente.
É importantíssimo o papel dos professores e das escolas. Eles são verdadeiros mitos que em muito influenciam a vida de seus alunos. Os ídolos da TV, do cinema, os dogmas e discursos da igreja, da política, dos meios de comunicação. Precisamos cuidar detalhadamente de tudo. Pois é como aquela pessoa que se cuida, se guarda, se reserva e depois, quando se expõe acidentalmente a uma corrente de ar e já pega um resfriado daqueles...
Os seres humanos, como todos os animais de sangue quente, os mamíferos em geral
são altamente competitivos. E buscam eternamente uma fonte de energia. Ou seja, algo que lhe dê mais prazer, sustentação, vontade, motivo para continuar vivendo. Assim, esta fonte de energia na primeira infância é justamente o amor do pai para a filha e da mãe para o filho. Como todos os irmãos querem ao mesmo tempo este mesmo amor, competem com seus instrumentos e forças, tendo a partir daí os que ganham e os que perdem.
Os que ganham são, me geral, os vencedores, os bem-sucedidos, os mais felizes e realizados. Mas os perdedores, nem tanto. Podem cair nos labirintos da vida profissional, emocional, afetiva, buscando outras fontes de energia no trabalho, na subversão, na droga, na corrupção, etc. apenas para exemplificar.
Voltando aos Buarques e os Diaz. Todos sabemos que Chico Buarque tem, com a maravilhosa Marieta Severo, três filhas, três meninas, três mulheres lindas. E ambas competiram e ainda competem pelo amor do pai, Chicão. E Sílvia, como a primeira, a mais velha, teria, a princípio mais instrumentos para ser a ganhadora do pai. Daí a necessidade de se querer perpetuar o modelo tão bom, agradável, aconhegante. Perpetuando ao seu lado um Chico, artista, de olhos verde-azulados, amante do futebol e bem parecido com o pai. Já com Helena, a busca foi por um Carlinhos Brow, fisicamente o contrário, mas com algumas caractrerísticas do paizão, o lado artístico, por exemplo, como forma de compensar a relativa "perda".
O que atrai Síliva em Chico Diaz, são os elementos semelhantes à primeira fonte de energia dela, o que chamamos de "its", o que se gosta na pessoa, os elementos atrativos, etc. Sendo os "nits", ou "não-its", exatamente as características contrárias, as que coisas que não gostamos, indesejáveis, não só físicas, embora possam ser estas, as de imediato, mais marcantes. Mas devemos considerar também as emocionais, as psicológicas, as afetivas, etc.
Teríamos páginas e páginas para comentar. Mas como resumo da ópera, gostaria que a leitura deste texto leve ao entendimento de que os pais devam fazer dos seus filhos, todos ganhadores. Dando-lhes igualmente, amor, carinho, contato, afeto, calor humano; diluindo ao máximo a figura do preferido que todo pai e toda mãe, embora neguem de pés juntos, sempre têm. O que é normal, mas precisa ser compreendido e amenizado.
Pois a criança incauta e inocente não pediu, não tem a menor possibilidade de entender. Ela não merece sofrer os males daí advindos e que, mais tarde irá ser a fonte de novas dores, sofrimentos. Chegando a uma cadeia de inocentes que nada têm haver com o fato inicial. Criando, por assim dizer uma corrente infinita de violência e de maldades no mundo.
Podemos evitar estas dores. É uma questão de conhecimento, aceitação e humildade. Se estamos aqui para sermos felizes e constituir felicidades, o nosso dever é o de encarar estes fatos. Sei que dói. É difícil, mas é o caminho para contribuirmos para que haja mais alegria, mais amor, mais paz e serenidade no mundo.

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Antonio da Costa Neto

antoniocneto@terra.com.br