sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O POETA DA ALMA - BOAS LEMBRANÇAS QUE RESTAM...



Eu morava em Silvânia, era só um menino pobre. Mas me encantava com o calor da recepção e da afetividade que eu recebia todas as vezes que ia comprar carne no açougue do Sr. João de Oliveira, ali, na 24 de outubro, mais ou menos enfrente à casa do Seu Cipriano. Ali onde é hoje aquele prédio do Claudio Corumbá.
A coisa era tão forte que escrevi estes texto há anos. Mas agora o encontrei aqui nas minhas gavetas e resolvi compartilhar esta alegria com vocês que é mais ou menos assim:

Eram: Máximo, Maximmon e, não tenho certeza, Maksson, os filhos simpáticos e bem educados do Sr. João de Oliveira. Tinha mais um monte, mas estes trabalhavam no açougue. Não convivi com os demais e não me lembro dos nomes. Mas sei que eram mais ou menos assim diferentes, exóticos.
Sr. João de Oliveira era açougueiro, dos bons. Era contador de casos, dos bons. Era fanático por futebol, também dos bons. Me lembro daquela pessoa baixinha que era só sorrisos. com seu chapéu de feltro cinza, meio amassadinho e com abas bem curtas, o que arredondava ainda mais a sua figura. Tinha o mesmo formato das mãos curtas nas extremidades de braços sempre abertos. Seu João era uma escola de afetividade. Ele gostava de abraçar o mundo.
Não era gordo nem magro, era assim, redondinho, bonitinho, parecia, na verdade, um açucareiro de porcelana, sempre sorrindo por sob os bigodes finos, à moda Zé Trindade, com aquela gargalhada fácil e farta enchendo a vida de alegria.
Eu não conhecia tanto assim os seus filhos, mas sabia quem eram. Uma das alegrias de viver em cidades pequenas. Você vê uma pessoa na rua e de pronto já sabe tudo sobre ela: quem é filho, pai, mãe ou neto de quem; o que faz, o que gosta, enfim, quase tudo...
E o que me inspira a escrever este texto, foi, justamente, a extrema alegria do Maximmon, quando, por acaso, me encontrou um dia em Goiânia, e aquilo foi gratificante, inesquecível. Mexeu comigo. Ele ficou feliz da vida que é como a gente fica quando ri com o corpo inteiro, especialmente, com os olhos e ele ria assim. E não sabia o que fazer para me agradar. E tudo era de muita educação, ternura, graciosidade, coisas meio que incomum em nossos meios, o que é uma pena.
Era a síntese da pureza que só as pessoas boas têm quando se encontram com um conhecido, acariciam um bicho, vê uma criança brincando. Fiquei muito feliz com tudo, e, especialmente, com aquele brilho de estrelas que eu via nos seus olhos. Era de uma santidade perfeita que nunca mais vi em nada e em lugar nenhum. O que me levou a concluir que Seu João de Oliveira - seu pai - era também educador dos bons e um sábio fazedor de olhares.
Nunca mais o vi mas guardei esta lembrança boa e doce dentro da alma. Não tive ainda como falar desta alegria que é tudo o que espero mas não recebo das pessoas com quem convivo. Meu sonho é que agora, de mão em mão este recado chegue ao seu destino, pois temos a obrigação de testemunhar as coisas boas que recebemos das pessoas.
Enfim, gostaria que todos saibam que o Senhor João de Oliveira era bom açougueiro, bom contador de casos e fã ardoroso de futebol. E também era um pai perfeito. Escolhia nomes bons, bonitos e diferentes. E educava bem demais o espírito, a alma e o coração de seus filhos. E isto é, de fato, o que mais importa. Senhor João de Oliveira era sim, um poeta da alma.