terça-feira, 21 de junho de 2011

"Em última análise, o que move o mundo é a inteligência rebelada, não é o conformismo surdo. E se o combustível da inteligência for a alegria, melhor ainda.


(Geneton Moares Neto)

AINDA SOMOS PALHAÇOS DEMAIS...





O Dr. Içami Tiba está por aí ganhando milhões com uma palestra piegas intitulada "Os pais que levam o filho à igreja, não vão buscá-lo na cadeia !!! ..." E claro, como muito esperto e safado que é, lista alguns pontos importantes, como autênticos chantilee na merda para engagnar trouxas como nós, dentre os quais listo e tento explicar:

1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre.

2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar com internet, som, tv, etc...

3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados.

4. É preciso confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.

5. Informação é diferente de conhecimento. O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona.

6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? A mãe não pode alimentá-la. A criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai determinar que não haverá um passeio, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinquente.

7. Em casa que tem comida, criança não morre de fome . Se ela quiser comer, saberá a hora. E é o adulto quem tem que dizer QUAL É A HORA de se comer e o que comer.

8. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.

9. É preciso transmitir aos filhos a ideia de que temos de produzir o máximo que podemos. Isto porque na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio: não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0.

10. As drogas e a gravidez indesejada estão em alta porque os adolescentes estão em busca de prazer. E o prazer é inconsequente.

11. A gravidez é um sucesso biológico e um fracasso sob o ponto de vista sexual.

12. Maconha não produz efeito só quando é utilizada. Quem está são, mas é dependente, agride a mãe para poder sair de casa, para fazer uso da droga . A mãe deve, então, virar as costas e não aceitar as agressões. Não pode ficar discutindo e tentando dissuadi-lo da idéia. Tem que dizer que não conversará com ele e pronto. Deve 'abandoná-lo'.

13. A mãe é incompetente para 'abandonar' o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, não a respeita.

14. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, não deve alterar a voz. Deve dizer que está nervoso e, por isso, não quer discussão até ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, virá em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as saídas, a balada, ficarão suspensas, até ele se acalmar e aplicar o devido castigo.

15. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.

16. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhou o carro após o vestibular, ele o perderá se for mal na faculdade.

17. Quem educa filho é pai e mãe. Avôs/avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite. Nunca.

18. Muitos avôs/avós são desequilibrados ou mesmo loucos. Devem ser tratados. (palavras dele). 19. Se a mãe engolir sapos do filho, ele pensará que a sociedade terá que engolir também.

20. Videogames são um perigo: os pais têm que explicar como é a realidade, mostrar que na vida real não existem 'vidas', e sim uma única vida. Não dá para morrer e reencarnar. Não dá para apostar tudo, apertar o botão e zerar a dívida.

21. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.

22. Pais e mães não pode se valer do filho por uma inabilidade que eles tenham. 'Filho, digite isso aqui pra mim porque não sei lidar com o computador'. Pais têm que saber usar o Skype, pois no mundo em que a ligação é gratuita pelo Skype, é inconcebível pagarem para falar com o filho que mora longe.

23. O erro mais frequente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.

24. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.

25. Cair na conversa do filho é criar um marginal. Filho não pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, terá que mostrar qual é o consumo (KWh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto isso (seus supostos luxos) incrementará o gasto final.

26. Dinheiro 'a rodo' para o filho é prejudicial. Mesmo que os pais o tenham, precisam controlar e ensinar a gastar. "A mãe (ou o pai!) que leva o filho para a igreja, não vai buscá-lo na cadeia..."

Ora não substimem mais a minha pobre inteligência. Me desculpem. Mas acho que é muito importante a gente discutir ideias em sua pluralidade. Mas na minha visão de estudioso de educação, odeio Içami Tiba, Gabriel Chalita, Augusto Cury e toda esta cnalhada, esta quadrilha, que não seu escritores, mas diria eu, criminosos, que usa a eduação, a ingenuidade, a purera do povo brasileiro pra fazer a apologia da educação a serviço da economia internacional, do desenvolvimento técnico-científico dos USA, fudendo as nossas crianças, a nossa sociedade, mas claro, diluindo coisinhas bonitas e boas para que o extremo veneno ideológico, social e político que acaba por nos desgraçar. Mas como somos bobinhos demais, tupiniquins demais, atrasados, burros demais e nos deixamos levar desde sempre.

Fui lendo o texto e morrendo de ódio, até que resolvi registrar uma rápida e superficial análise, para entabularmos, você e eu, um dedo de prosa, ou, que seja, um debate a respeito, o que acho que é muito bom, pois todos aprendemos.


Vamos lá:


Ítem 13 - Concordo integralmente. Mas quando ele generaliza que gravidez é um fracasso do ponto de vista sexual, ele já está fazendo a apologia contra o aumento da população brasileira, com o quê enriquece o primeiro mundo. O que é um crime. Claro que ele se refere à gravidez indesejada, mas do jeito que ele coloco , o leitor menos avisado vai incutir a idéia de que a gravidez é sempre um fracasso, devendo ser evitada, fazendo com isso um vergonhoso e criminoso controle familiar inconsciente. Um crime.

Quando ele diz que se o filho não aprender ganhando tem que aprender perdendo, ele não considera a eficiência e o sucesso de quem ensina. Ora, a pessoa só aprende bem quando é bem ensinada. Mas como quem ensina é autoridade, fica sempre protegida, só se coloca a culpa e o sofrimento nas costas de quem tem facilidade de aprender. Mas e os professores antas que têm a maior dificuldade e a moira preguiça de ensinar? Se você atacá-los estará atacando a elite do processo, quem manda, quem comanda, e agindo assim vc estaraia abrindo perspectivas críticas para a massa, o povo, o traalhador, o eleitor. I isto é proibido ao ver da pedagogia instrumentalista que garante o funcionamento das perversidades do capitalismo.

Ele diz que o sucesso é uma obrigação e que tirar boas notas é uma obrigação. Sim. Mas ele se esquece de identificar quais são os processos, os critérios estabelecidos para o sucesso e para a boa nota. Será que o que a escola ensina é, de fato, o que o aluno quer e precisa para mudar, e, principalmente, melhorar a sua vidda individual e social? Será que ter sucesso aprendendo as besteiras elitistas, a cultura inútil que a escola ensina é verdadeiramente um sucesso ou um fracasso? O aluno teria sim de tirar boa nota, se a escola ensinasse coisas úteis, interessante, que ampliassem a sua cultura, a visão de mundo, o nível de cultura e o entendimento das relações com o mundo, a complexidade dos problemas e dos conflitos.

Pois, por enquanto é o contrário, pois as escolas só ensinam UM MONTE DE NADA PARA COISA NENHUMA e a grande forma de inteligência, instinto de defesa está justamente na recusa em aprender. BURROS E BESTAS SÃO OS PROFESSORES IDIOTAS QUE AINDA INSISTEM NA MESMA TECLA. Ô GENTE BURRRA! Passar no vestibular é uma obrigação. Uma piada. Que vestibular? Para qual curso, qual faculdade? Para aprender quais imbecilidades?

É a maior das piadas: "PAI OU MÃE QUE LEVA O FILHO NA IGREJA NÃO O BUSCA NA CADEIA" ...kkkkkk . Por favor, né, sem palavras. Não seria o contrário, quando a igreja trabalha com aquele evangelho caquético e que no fundo é um jugo às espoliações cruéis do capitalismo, na socialização da miséria e na concentração do poder nas mãos dos brancos, dos machos e do capital, a quem o tal Jesus Cristo representa idealmente? Talvez não busque cmesmo, pois, geralmente, quem leva a vida com base no espírito da religião, da fé, do cristianismo, a exemplo da Profa. Eurídes Brito. se torna uma pessoa tão má, maquiavélica, fria, que não se incomodará nem um pouco se chegar a ver o filho apodrecer na cadeia. Justificará isto como sendo a suprema vontade de Deus e pronto. Isto sim. Ora, vamos acordar. Já passa muito do tempo...

Quando é que teremos um mínimo de inteligência, de sagacidade, de vergonha? Para só assim retirarmos o nariz de palhaço e irmos à luta? Entendendo na verdade quem é quem nesta história e de que lado do picadeiro da vida está o verdadeiro palhaço. Que me desculpem os que o são profissionalmente, é claro.


Já não passamos e muito da hora do B A S T A ?



Antonio C. Neto

sexta-feira, 10 de junho de 2011

"Ando cansado da vida preocupada, corrida, surrada, batida dos dias meus. Mais uma vez na vida eu viver a vida que eu pedi a Deus."
(Chico Buarque)

SEXTUPLOS MARAVILHOSOS




Esta é a família Columbus, de Ohio - USA - que teve sextuplos.

Esta foto pode ter preço?

sábado, 4 de junho de 2011

"Vivemos preocupados com problemas que há milhões de anos, a natureza ja solucionou." (Joseper C. Pearce)

ENGRAÇADO, OS EDUCADORES...

Comecemos falando de um grande consenso e de uma dúvida maior ainda. O consenso é de que prescindimos de uma educação de qualidade. Ou melhor dizendo, de ótima qualidade. Isto é, que seja capaz de desenvolver o potencial humano brasileiro para enfrentar os seus muitos dilemas e crises. Tentar, com sabedoria e serenidade solucionar os problemas e conflitos, cuja gravidade se acirra a cada dia, a cada momento. Tudo mais que óbvio e faz parte de um discurso uníssono, há, no mínimo, algumas décadas, dentro das universidades, das instituições, do governo, enfim, de todos os segmentos da dita sociedade civil organizada, especialmente, envolvida com a educação das pessoas.

Mas, paralela a tudo isto vem a grande dúvida, a que incomoda profundamente. Atordoa pensadores, pessoas comuns, pais, alunos, autoridades, comunidades educacionais. E que pode ser sintetizada nas seguintes perguntas que insistem em não se calar: O que é, afinal e como se processa uma educação de qualidade para o povo do Brasil? Onde estaria o nó, o engano? Qual é a educação de que precisamos?

Seria esta que aí está? Que é realizada formalmente em nossas escolas, que, aos milhares, funcionam diuturnamente? Cumprem horários, obedecem currículos, formalizam disciplinas, aplicam provas, dão notas e obedecem, por sinal, muito bem, todas as suas funções cartoriais? Aliás, seria feita de questões cartoriais como preencher fichas, compilar diários sem erros, borrões e marcas, cumprimento de horários, de grades curriculares, indução à disciplina, uma educação que poderia ser classificada como sendo de boa qualidade, como querem os gestores, as autoridades, os professores, os estudiosos da educação de um modo geral

Posso estar errado, como sempre me acusam, mas pra mim, pelo menos, está, se não tudo, quase tudo muito errado. E ainda estamos por começar a realizar a educação de qualidade que é o sonho de todos, mas que ainda não conseguiu superar os discursos, sempre bonitos, mas igualmente, cheios de lacunas, inconsistências e ignorâncias outras. Que começam, logicamente, com o frágil pensar e o fazer político em que se desdobram tais ações, serviços ou desserviços que a nossa educação e nossas escolas prestam à sociedade brasileira, sem, pelo menos, se dar conta do que faz.

É possível, sinceramente, se pensar em educação de qualidade quando, por exemplo, os professores de português insistem em ensinar às crianças pobres - especialmente - que uma palavra é oxítona ou o que o valha, porque a sua sílaba pronunciada com mais força vem antes do começo ou do fim? O que tem isto haver com a ordem das coisas? Vai ajudar em que na estrutura do pensamento e na construção dos discursos que necessitam para suplantar suas necessidades? Estes professores se preocupam tanto em listar com perfeição a complexa conjugação dos verbos, suas regularidades ou não, procurar o sujeito, o predicado, os objetos, classificar frases, orações e períodos. Quando, no final de tudo, depois de tanto sofrimento, os alunos exaustos desta inquieta repetitória, não conseguem, se quer, formular um pensamento completo ou desdobrar a retórica dos "não menos famosos paloccis", capazes, por sua vez, de nos assaltar em nome das santas ações do governo, etc. Isto pode fazer parte de uma educação de qualidade frente à realidade brasileira que tanto carece de entendimento como forma de luta, coerção e exigências de dignidade para se viver em paz?

Podemos estar educando com qualidade quando quem ensina matemática faz de tudo para infernizar o raciocínio das crianças e dos adolescentes para percorrem os tortuosos labirintos para se descobrir os valores incógnitos de equações infinitas que não levam a nada? E as potências, os radicais, os números relativos, as equações trigonométricas? Não seriam colocadas a propósito nos espaços mentais onde deveriam estar os referenciais da crítica, da política e da ação transformadora do que nos incomoda e nos mata a cada dia?

Finalizando a lista e os professores de arte? Que ensinam a fazer lacinhos, panos de pratos, colagens e dobraduras, sem, no mínimo, agregar a isto, a sensibilidade lúdica para o posterior entendimento da estética política que envolve as relações do indivíduo com os seus pares e com o mundo? Não seria tudo isto no conjunto, não só uma autêntica perda de tempo, mas uma forma criminosa de se deseducar as pessoas, aliená-las, retirar delas quaisquer essências ou valores referentes à vida, seus processos e a busca de melhorias mínimas para cada cidadão em particular?

E os pedagogos, os cães de guarda da pequena burguesia que invadem os corredores das escolas para legitimarem a velha e ultrapassada ordem, a disciplina, a produção, os resultados estanques, fragmentários e contraditórios a tudo o que acreditam e que ditam estar fazendo? E as direções das escolas? E as demais autoridades educacionais? E tudo isto depois do aluno ter de se arregimentar a horários rígidos, a chamadas escolares infinitas, aos ambientes insípidos das escolas que são, hoje, muito mais restaurantes ou lanchonetes, para justificarem, assim a falta de comida que deveria estar em casa por meio da remuneração digna do trabalho de seus pais e que ninguém se dá conta disto. Pois distribuir merenda - diga-se de passagem, de qualidade duvidosa - é muito mais prático, econômico, instrumento de dominação do trabalhador, numa sociedade que se diz, democrática e liderada neste momento pelo partido dos trabalhadores e suas práticas e costumes populares demais. Por que os professores tão supostamente preparados não se dão conta disto? Seria mais uma estratégia mafiosa e maquiavélica para se manter a educação a serviço de regimes e domínios das elites privilegiadas?

Engraçado, os educadores brasileiros, querem formar cidadania, mas tiram, enquanto pensam que educam, todas as condiçoes de seus alunos para tal. Querem cidadãos críticos, mas desde que não o sejam. Trabalhadores criativos, mas que são proibidos de inventar. Não podem, nem mesmo suspeitar da existência de nada novo, para além do que lhes foi imposto, quanto mais expressá-lo na prática cotidiana do que aprendem e quando aprendem.

Querem que os alunos pensem, mas se negam a desenvolver neles quaisquer espécie de raciocínio. Transformando a escola e suas práticas num meio brutal de aniquilar consciências, promovendo, no seu cotidiano, nada mais do que um processo lento, criminoso e autêntico de lavagem cerebral das pessoas. E, para tanto, obriga-as a operações, resultados, subserviência a horários, planilhas, burocracia, punições, notas. Nossos educadores e nossas escolas são como as pessoas que querem emagrecer mas que ingerem todos os dias, doses exuberantes de proteínas, açúcares, gorduras. E, não entendem o porque do efeito de tal processo. Até que, obesas e sedentárias, morrem diabéticas e inchadas antes mesmo de descobrirem o porque de seus problemas de saúde, depressão, ignorância.

Assim é a educação de qualidade que nós, os educadores brasileiros ainda realizamos em nossas escolas públicas e particulares, nos ambientes familiares e nas organizações sociais afins. É preciso, portanto, como doentes graves que somos, que aceitemos este diagnóstico e retomemos o nosso tratamento para uma saúde de qualidade que congregue vida e esperanças em termos de educação e desenvolvimento ético, político, humano e social. Talvez ainda haja tempo para o resgate e alguma espécie de salvação para educação que está mortalmente enferma e pedindo socorro. Aos gritos. Mas que, ideologicamente, nos negamos a escutar. Preferimos trabalhar em silêncio a serviço de nossos algozes. Ignorando, o que é mais confortável, as agruras e males que fazemos e cujo peso se aloja em nossas costas e que aumenta a cada dia, até não suportarmos mais.


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Antonio da Costa Neto
antoniocneto@terra.com.br

sexta-feira, 3 de junho de 2011

"O que se é é muito mais importante para a nossa felicidade do que o que se tem. " (A.S.)

TABELA DE SALIÊNÇA DE D. ANTONIA BACADA








Toda a minha geração de meninos
“perdeu a virgindade”
na casa de D. Antonia Bacada,
bem ali, ao lado do Cemitério.
(espero que me perdoe por usar aqui o apelido que odiava).
A gente entrava, sorrateiramente, pé-anti-pé, pelos fundos,
morrendo de medo de ser visto
e dava logo de cara com um cartaz na parede da cozinha,
que dizia, com uma letra feia e muitos erros:
TABELA DE SALIENÇA
Isso.........10 cruzêro.
Aquilo.....5.
Aquilo Outro...7,50.
Serviço Completo....15.
Etc. Etc. Etc.

Era o que ela cobrava para brincar

com as suas meninas.

Cada um de nós tinha a sua preferida.

Eu, por exemplo, gostava muito da Luzia Fogoió,

porque, além de loura, ela era fofinha,

gorda, repolhuda e muito farturenta.

E assim as coisas ficavam muito mais fáceis

e eu, coitado, me gabando de bam-bam-bam.

Outros ficavam loucos com a Claudiona, desconfio

até que pelos mesmos motivos.

Tinha gente que eu nem posso dizer o nome

que adorava a Dercília e ficava horas na fila

esperando a moça terminar o serviço,

tomar o seu banho tcheco e se refazer para

a nova jornada, que ia noite a dentro.
E os valores cobrados nos obrigava

a fazer contas e mais contas
pois todo o mundo queria o tal “serviço completo”...
E o dinheiro era curto para tanta despesa.
À noite era melhor, pois a gente soprava a lamparina,
entregava o dinheiro – bem abaixo do combinado –
e saia correndo pela rua a fora.
Este era o enigma, porque nós, os homens,
tínhamos tanta facilidade para entender a matemática nas aulas.
A gente tirava notão e passava tranqüilo.
É, D. Antonia Bacada deveria ser homenageada como educadora
e o seu nome ser colocado em alguma escola da cidade.
Ensinava matemática com teoria e prática.
Bem melhor do que muita professora formada
e a gente aprendia que era uma beleza.


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(Antonio da Costa Neto, in Poemas para os anjos da terra).