sábado, 20 de dezembro de 2008

CRÔNICA SOBRE O AMOR

























Ninguém ama a outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário, os honestos, os simpáticos, os não-fumantes teriam sempre uma fila de pretendentes batendo à porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom da voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas e ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado. O beijo dela é mais viiciante do que o LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafageste. Ele diz que vai e nem liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, ele está sempre duro e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e, ainda assim, você não consegue dispensá-lo.
Na quando a mão dele toca na sua nuca, você se derrete feito manteiga. Ele toca Gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
- Não me pergunte. Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu pra ser sacudido num comercial de shampoo e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo.
Com um currículo desse, criatura, por que diabos está sem um amor? Há, o amor, esta raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemático: eu linda + você inteligente = a dois apaixonados. Não funciona assim. Amor não requer conhecimento prévio e nem consulta ao SPC, Serasa. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e ótimos pais de famílias tão assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é!



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Roberto Freire

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A RIQUEZA SIMBÓLICA DO FUTEBOL


Não podemos negar que o futebol é a grande coqueluche. A paixão, o encanto das multidões que atravessa épocas, idades, períodos históricos. Uma grande façanha, num mistério que ativa profundamente corações, almas, altera destinos. Faz vibrar, morrer e até matar. Arranca lágrimas, suspiros e gritos de dor até dos que se consideram os mais machos, os intocáveis. E tratam a emoção como coisa de mulher; para os fracos. E estes, são os que mais se esvaem, se entregam, se deprimem com a derrota, o desalento das frustrações futebolísticas...
Fico vendo tudo isto e pensando: - Pobre humanidade, tão leiga, incauta e inocente... coitadinha! A esta altura da evolução da ciência, da tecnologia, de tantas idéias revolucionárias e o ser humano ainda continua submisso e ingênuo a esta barbárie psicológica e social, absolutamente contra a sociedade, a economia e as pessoas. Um cinismo muito bem estruturado para enganar principalmente as classes populares, os pobres, o povo que trabalha, os donos das mãos que alimentam os habitantes da terra.
A vida, é lógico, seria outra se as pessoas gastassem a metade dos neurônios e da energia mental e física que colocam a serviço do futebol discutindo o preço (como eram vendidos os escravos de luxo), o salário do jogador como se fosse o deles. Se preocupando com os lances do jogo, a postura do juiz, a vitória de não sei quem. Ao invés disso, deveriam pensar a política, a economia, o mercado de trabalho, os impostos e taxas, o preço do aroz, do feijão, do aluguél, dos remédios, a péssima qualidade da educação, enfim, os problemas reais que envolvem a vida humana em sociedade.
Será que elas nem de leve desconfiam que o futebol - e os demais esportes competitivos, também - existe inclusive para isto. Para lançar uma nuvem de fumaça entre o indivíduo e os conflitos sociais, a corrupção, o uso fácil das massas, a exploração das mulheres, crianças, dos trabalhadores, a negação dos direitos humanos, da dignidade, da cidadania. Loucas de êxtase, elas não conseguem perceber o crime que se esconde por trás das estratégias do futebol, das negociatas que o envolvem, inclusive na simbologia do jogo, na competição entre machos que chutam, ferem, tomam a qualquer custo para aumentarem vantagens próprias.
Não enxergam os coitados que a própria vida também é conduzida da mesma forma, da luta de vencedores engolindo vencidos e colocam no meio da arena o futebol, justamente para ocultar o conflito, neutralizar consciências, alienar as pessoas.
A ficha de ninguém cai? Será que é tão maravilhoso assim ver um bando, uma chusma de suados e fedorentos correndo atrás de uma bola? Querendo tomá-la a qualquer custo, competindo, chutando, e, de vez enquando, fazer aquela rede tremer como uma péssoa doente? Não é muito pouco e pobre frente a complexidade da vida, os problemas que enfrentamos, as dores, os sofrimentos, os conflitos do mundo?
Pensando desta forma, de fato o futebol é muito rico. Não só de maneira simbólica, mas, também, de forma concreta. É riquíssimo em estratégias para manipular e tornar fácil o abuso das massas, das galeras, das torcidas cegas.
Quem vibra tanto numa partida, dá socos e urros, espuma o canto da boca para xingar o juiz e os jogadores adversários durante uma partida de futebol, jamais terá ânimo ou disposição para analisar as questões vivenciais mais sérias. Será incapaz de perceber se está ou não sendo usurpado pelos impostos, as leis, o governo, os patrões, os afortunados, os políticos miseravelmente corruptos. Será uma presa fácil ao jugo exterminador das elites capitalistas. Então, na universalização do futebol são sempre elas que ganham. E o seu placar deve marcar no mínimo uns dez a zero para elas, para as elites, que, satisfeitas têm mais este recurso em seu favor e fazem de tudo para perpetuá-lo.
Walter Bracht, um cientista brasileiro da motricidade humana, afirma em seu importante ensaio intitulado: "A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo...capitalista"... Quando nos diz que "cumprindo o papel de reforçar a estereotipação do comportamento masculino, o futebol tem contribuido enormemente para o adestramento mental e físico necessário para a preparação e a manutenção da força de trabalho necessária aos interesses da classe dominante." E continua : " o aprendizado do futebol enfatiza o respeito incondicional e irrefletido às regras e dá a estas um caráter estático e inquestionável. O que não leva à reflexão e ao questionamento, mas sim, à acomodação, forjando um conformista feliz e eficiente. Nele, o aprender as regras significa reconhecer e aceitar regras pré-fixadas. Pois o comportamento inconformado à regra não leva a uma transformação do futebol, mas à imediata exclusão do indivíduo inconformado. No que entra a autoridade do juíz que, no inconsciente coletivo, representa os poderes sociais estabelecidos, o mito das autoridades a quem devemos toda a obediência"...
Ora, isto é, politicamente, um grande malefício contra a sociedade que quer e precisa se transformar para alçar os padrões mínimos da dignidade e da cidadania. E aí, estes ilustres senhores que dão sua vida a serviço do futebol, dele extraindo fortunas incalculáveis, status, prestígio e valores, em nenhum momento desconfiam que trabalham contra a sociedade, contra os humildes, os pobres, o povo. Não percebem, porque não querem. Porque enquadram o ser humano aos esquemas da exploração, da fome, da miséria, da violência. E assim, na mesma proporção em que a sociedade mais se oprime, mais aumentam os esquemas, as estratégias do futebol, dos jogos, campeonatos, torneios, copas, etc.
E mais, se numa partida, as duas equipes têm condições iguais para jogar? Então a que ganha é porque foi superior, mais preparada, mais dedicada e mereceu o mérito. O que, como num passe de mágica é repassado para o inconsciente das pessoas que internalizam uma sensação idêntica para as relações econômicas, sociais e do trabalho. Assim, "se o meu patrão é rico e bem-sucedido é porque ele é melhor do que eu. Estudou, se dedicou e merece o mérito. Pois nascemos em condições iguais." Onde se ocultam as relações de poder e as dicotomias socioeconônomicas, residindo aí o crime maior dos esportes competitivos: o de assassinar a consciência crítica das pessoas, tornando-as inocentes úteis a todos os processos exploratórios.
É preciso, para fixar melhor isto, criar líderes econômicos com salários arquimilionários, como os mitos do futebol, recebendo homenagens estonteantes, para quem são estendidos tapetes vermelhos enfrente aos maiores palácios do mundo. Vigiar dia e noite os astros, policiando suas vidas. Caso contrário, a coisa perde o sentido. Se o atleta, geralmente um beócio, um pateta, um bobo, se transforma numa pessoa comum. O futebol, sendo, como deveria, um instrumento lúdico para a distração, o lazer e a saúde, dexaria de ser este importante meio político de manipulação humana e social. Ajudando a manter a ostentação de poucos por meio da exploração de muitos. Assim, como todas as demais práticas sociais prestam um único serviço: o de aniquilar a percepção crítica para que os ricos continuem mais ricos, os explorados mais explorados, os pobres muito mais pobres e tudo permaneça como se fosse certo, justo e normal. Pois se no futebol ganha quem é o melhor, na vida também é assim e pronto.
É por isso que os poucos representantes cínicos das elites, barrigudos e impecavelmente bem-vestidos em seus ternos caríssimos, se apresentam com um indisfarçável sorriso nos lábios durante as comemorações das vitórias, as entregas de títulos, troféus e medalhas. Pois sabem que ali se escondem os mecanismos perversos de perpetuação das suas fortunas construídas às custas do suor dos torcedores, do sofrimento das galeras. Os profissionais do futebol e do esporte se vendem a estes déspotas degenerados para constituirem este espetáculo de horror. E o pior, acreditam piamente, juram que não. Ao contrário, afirmam que agem pelo povo sofrido, que amam o Brasil e que fazem tudo pelo país. Inclusive ganham medalhas, acumulam troféus em suas estantes dentro das mansões luxuosas compradas com os muitos milhões que ganham jogando bola como se isto fosse a coisa mais importante do mundo.
Mas um dia, não sei quando, há de despertar a verdade. E os trabalhadores do futebol, os grandes atletas e o povo desconfiarão desta imensa farsa. Deste crime com cara lúdica de palhaço drogado. Tomara que ainda seja tempo para a reversão de alguns processos. E que, apesar de tudo, a dignidade possa abrir suas imensas asas sobre todos. Para aí sim, podermos comemorar, nos abraçar, cantar e dançar pelas ruas, de alma lavada. E não mais como os bobalhões ridículos de hoje em dia, festejando a própria desgraça e sem se dar conta disso.
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Antonio da Costa Neto

sábado, 13 de dezembro de 2008

SILENCIA-SE A VOZ ILUMINADA DE MARILYN FERGUSON...




"No fundo sabemos que o outro lado de todo o medo é a liberdade."


(Marilyn Ferguson)

"...Hoje ela se ocupa da jardinagem do seu rancho lá nas nuvens. Onde se pode conversar, onde os anjinhos são cor de chope, onde se pode debruçar, vendo o mar....ah!...
Toca piano e a virgem canta. Diz pro menino: - Tia Memim!..
E aos seus amigos que ficaram, um portador há de levar: um par de asas e um pára-quedas pra quem quiser visitá-la..."
(Guinga e Aldir Blanc - 'adaptado')



Morre inesperadamente em 19 de outubro de 2008, provavelmente vítima de ataque cardíaco, Marilyn Ferguson. Cala-se assim a grande e iluminada voz. Eu, especialmente, tornei-me outra pessoa - com muitos defeitos, claro, mas com muito mais qualidades - depois que li, pela primeira de muitas vezes, seu livro A conspiração aquariana - transformações pessoais e institucionais no final do século XX. Um trabalho maravilhoso, encantador, uma lição sobre o que o mundo mais precisa: o amor. O verdadeiro. Amor pela vida, o planeta, as pessoas, a natureza, os bichos. Amor pelos amigos e inimigos. Marilyn ensinava a amar. Uma mulher, uma alma especialmente iluminada, cativante, calorosa, voltada para o bem das pessoas e para a melhoria do mundo.
Nascida em 05 de abril de 1938, em Gran Juction, Colorado. Tornou-se jornalista e conhecida mundialmente como fundadora da psicologia humanística, sendo também ganhadora de vários prêmios honorários. Influenciou muito o trabalho ecológico do Vice-Presidente Al Gore, um participante da sua rede informal: justamente, a conspiração aquariana.
Desde muito jovem trabalhou como assessora jurídica e se tornou autora de poesias e outros contos publicados em várias revistas. Mais tarde, escreveu artigos depois de viver por um curto período de tempo em Houston, Texas, mudando-se definitivamente para a Califórnia.
Publicou seu primeiro livro sobre economia doméstica, com seu segundo marido, Mike Ferguson em 1968. Pouco depois, veio a desenvolver um interesse duradouro pelo que chamou de potencial humano, onde se notabilizou pelo estudo sobre o cérebro e suas implicações com a criatividade, a aprendizagem e o bem-estar, o que a inspirou para escrever A revolução do cérebro, considerado um dos maiores e melhores estudos acadêmicos deste sumário de descobertas de idéias dentro da chamada vanguarda científica.
Ao tempo de sua morte escreveu Chopra: "Ferguson poderá descansar no conhecimento de que um divisor de água tinha sido ultrapassado e que a sua liderança absolutamente revolucionária tinha, de forma constante, em todo o mundo ganhado força em todas as gerações desde que o livro fora escrito."
O seu pensamento reflete a visão holística de renovação dos valores fundamentais de nossa sociedade, por meio de uma profunda e enigmática mudança de paradigma. Era a "era de aquarius", onde o ser humano percebe a sua íntima união com o holos, o todo, formando uma única realidade, dando a exata origem à Nova Era: um tempo de compreensão, amor e bondade, cumprindo-se o verdadeiro destino do ser humano no mundo.
Marilyn parte sorrindo porque deixa a sua marca nos mais de 100 milhões de exemplares vendidos de sua magnifíca criação. Seus ensinamentos fazendo transpirar e conspirar sonhos de dignidade, justiça, beleza, ar respirável, transformando a terra em paraíso. Difundindo o supremo bem entre as pessoas, saneando a grande aventura da vida. Plena, vasta e eterna, para todos.
E isto tem que fazer a diferença. Os frutos doces e suculentos das muitas árvores plantadas pelas suas mãos tão sábias ainda serão colhidos e saboreados por esta humanidade inteira tão sequiosa e necessitada de cada um deles. Fica a lição, o grande sonho, a força transformadora traduzida em poesia e arte, como bálsamo contra todos os sofrimentos impostos aos que vivem.
Minha homenagem a esta musa, irmã, parceira conspiradora. Certamente ela irá plantar flores e colorir mais o ceu dando-lhe mais vida, sons, suavidade, harmonias, belezas. A esta hora, junto a Deus, ela já deve ter sua escolinha para alfabetizar anjos. Continuando sua missão, sua saga de bondades. Até breve, irmazinha universal. Continuemos conspirando juntos nesta nossa família maravilhosa. Em que de mãos dadas, gente, luz, paz e harmonia congreguem a ciranda que segue a sua maestria.
Repouse e nos espere. Sábia dos sonhos, estrela, musa, fada. Madrinha do encantamento. O ceu sorri pleno com a sua chegada, ampliando com isto a rede do amor, da bondade, das coisas boas e belas que você ensinou o mundo inteiro a viver. De forma tão intensa como a luz do seu sorriso infinito. O sorriso dos poucos que podem ensinar e melhorar anjos.
Até breve! Espere por nós,
minha irmãzinha cósmica!!!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O BRASIL É PEÇA-CHAVE EM UM NOVO JOGO MUNDIAL



Por:
Hazel Henderson



O capital financeiro do Brasil e sua maior cidade estão vibrando com entusiasmo e com um sentido de novos começos e oportunidades para impulsionar um novo modelo de desenvolvimento além do "Consenso de Washington".Vinte anos atrás, eu descrevi (Futures Research Quarterly, 1985) como a China estaria aparecendo como um novo e importante player mundial com um modelo cultural único de desenvolvimento. Hoje, o Brasil, já a oitava maior economia do mundo, também já aparece como um ator poderosamente global com recursos culturais únicos que fazem par com seus fartos ativos naturais.
Enquanto a China oferece ativos humanos incomparáveis com suas 1.2 bilhões de pessoas hábeis e engenhosas, seus recursos naturais estão depauperados. Os 170 milhões de brasileiros desfrutam de auto-suficiência energética, milhares de quilômetros de praias gloriosas, terra agrícola rica e abundante, um clima benigno, esmeraldas e outros recursos minerais preciosos, além de depositar incomparavelmente a biodiversidade mundial.
A eleição do Presidente Luis Inácio Lula da Silva num processo democrático e civilizado revelou um novo modelo para os índices democráticos mundiais. Um novo sentido de esperança, solidariedade e proposta nacional permeia o Brasil - um gigante continental similar em tamanho com o seu vizinho Norte-americano, os Estados Unidos. Enquanto isso, análises econômicas obsoletas de mercados financeiros e do Fundo Monetário Internacional (FMI) não podem ver a riqueza real e os recursos do Brasil melhor do que entenderam os ativos culturais da China vinte anos atrás.
Enclausurado no estreito "economismo" do Consenso de Washington, os analistas financeiros vêem somente indicadores monetários: habilidade para servir a dívida externa e taxas de crescimento do PIB - entretanto social e ecologicamente destrutivas.O Brasil tem problemas reais: educar seus cidadãos criativos para a Era da Informação; criar mais empregos e moradias; diminuir suas grandes distâncias sociais entre ricos e pobres e reestruturar sua economia doméstica. O Brasil que o FMI e os financistas focalizam é o Brasil do déficit que representa 60% de seu PIB; risco cambial; crescimento do PIB e taxa de inflação, baseando-se mais nas estatísticas econômicas deficitárias do que na real situação do Brasil e seus enormes potenciais.
A nova administração do Presidente Lula da Silva abraça um novo pensamento e propostas inovadoras, com programas que vão desde o globalmente reconhecida "Bolsa Escola" do ex- ministro da Educação Cristovam Buarque, até os novos modelos de desenvolvimento sustentável adotados pelos mais destacados pensadores e sua comunidade empresarial. Fiquei encantada com a dimensão do novo entendimento com relação à necessidade de se tomar decisões governamentais e empresariais com indicadores mais amplos, mais sistêmicos e científicos.Uma nova iniciativa, liderada por grupos de empresários, incluindo o influente Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e a Fundação Getulio Vargas.
Presidentes de importantes companhias brasileiras e grupos da sociedade civil, irão lançar uma grande conferência internacional em Outubro de 2003. Essa conferência irá reunir estatísticos e acadêmicos brasileiros de várias disciplinas com colegas da Europa, América do Norte e Ásia, que tiveram iniciativas pioneiras em novas contabilidades nacionais, indicadores de desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, assim como métodos contábeis empresariais de ponta.Por meio dessas medidas, o capital social e ecológico do Brasil estariam sendo agregado, juntamente com a contabilidade similar a infra-estruturas publicamente financiadas (que os Estados Unidos inseriram em suas contas nacionais a partir de 1996).
Isto iria equilibrar a dívida pública brasileira com esses ativos, da mesma maneira que essa correção contável inseriu um terço do superávit orçamentário americano entre 1996 e 2000. O Canadá foi atrás da medida em 1999 e saiu de um déficit orçamentário para um superávit de 50 bilhões de dólares canadenses. Outras correções ainda não realizadas pelos Estados Unidos exigem uma re-categorização da saúde e educação, que passam de "despesas" a investimentos no capital humano.O novo Brasil está tomando um rumo que vai além do Consenso de Washington.
O novo modelo de desenvolvimento será acionado pelo investimento nos seus ativos intelectuais e humanos enquanto crescem sua robusta indústria local e a capitalização de novos setores de sustentabilidade de sua economia: energia limpa renovável (a força hídrica já é a fonte energética dominante), eficiência no sistema de transportes e infraestrutura, tecnologias limpas, desenho urbano e inovações em muitos velhos setores industriais. Por exemplo, eu conheci o campus da Universidade Católica em Porto Alegre, que estará produzindo células fotovoltaicas altamente eficientes para o desenvolvimento energético de pequenas empresas e residências em regiões rurais.
Eu visitei os estados sulistas do Rio Grande do Sul e Paraná, que juntos com Santa Catarina, que receberam imigrantes europeus por 300 anos. Eles reproduziram pequenos e médios modelos remanescentes de empresas familiares tipicamente alemãs. Essas economias locais robustas garantem a maior parte dos empregos assim como um tipo de liderança empresarial com mentalidade civil que fazem de suas atraentes e bem planejadas cidades de Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis, mecas para os planejadores urbanos mundiais.
A visão das economias saudáveis de E.F. Schumacher, em que ele professa que "o pequeno é bonito" baseada no respeito às pessoas e à natureza, vive e floresce no Brasil - mas invisível às estatísticas macroeconômicas do FMI. Essa visão das economias locais prósperas e equitativas baseadas no capital da natureza, foi articulada em meu livro editado em 1981 "Política da Era Solar", assim que Ronald Reagan se tornou Presidente dos Estados Unidos. A visão de Reagan, compartilhada pela então primeira-ministra Margareth Thatcher, alicerçava as economias mundiais que estavam ingressando no século 21 olhando pelo espelho retrovisor: impondo Adam Smith e sua teoria de mercados da Inglaterra do século 18 sobre sociedades industriais complexas e interdependentes, jamais imaginadas por Adam Smith.
Desde os anos 80 Reagan-Thatcher, muitos danos foram causados aos recursos naturais e sociedades mundiais, através de privatizações submissas e globalização de mercados e comércio de corporações multinacionais seguindo esse modelo econômico obsoleto. Enquanto esses modelos estreitos de globalização estimulam rápidas mudanças tecnológicas - da explosão da Internet à biotecnologia - tais inovações tecnológicas são também nocivas.
Elas requerem inovações sociais concomitantes e controle democrático que promova seu desenvolvimento de maneira mais sensata. Enquanto trilhões foram desperdiçados em investimentos nesses setores nos anos 90, as enormes oportunidades nos setores sustentáveis foram negligenciadas pelos capitalistas americanos.Hoje, uma série de livros têm ajudado a articular minha visão do século 21 com informações baseadas em tecnologias em sintonia com ondas de luz da Era Solar - dos fotonicos, computadores óticos à biotecnologia, fotovoltaicos solares, energia de hidrogênio, transportes elétricos, setores de construção e manufatura. Ésses últimos livros, incluindo o Capital Natural de Paul Hawken, Amory e Hunter Lowis; Biomimicry de Janine Benyus; A Dança da Terra de Elisabeth Sahtouris e o Mundo Pós-corporativo de David Korten são amplamente lidos no Brasil.
Enquanto isso, os trabalhos do físico austríaco Fritjof Capra - O Ponto de Mutação e a Teia da Vida têm atraído muitos seguidores, incluindo os assessores do Presidente Lula da Silva. Portanto, descobri um novo paradigma sendo articulado no Brasil e amplamente debatido entre as organizações civis, governo e empresários, assim como na mídia de massa. Nos Estados Unidos, a mídia controlada comercialmente tem ignorado bastante esse debate a respeito da transição dos métodos industriais arcaicos baseados nos combustíveis fósseis para economias tecnológicas e pós-industriais, baseadas em maior eficiência de recursos, serviços e energia renovável.
Esse grande debate começou em Porto Alegre no ano 2000 e está agora se tornando público no Brasil. Os compromissos da Agenda 21 para corrigir as contas nacionais (PIB) e outros sistemas e modelos macroeconômicos obsoletos foram assinados por 170 países na Eco 92 no Rio de Janeiro. Assim que forem implementados, o FMI, os investidores e mercados financeiros terão que corrigir suas análises e modelos de custos para ativos de capital. Muitos já adotaram ferramentas de pesquisa tecnológica e financeira sofisticadas que contabilizam com mais precisão o capital humano, cultural, social e ecológico.
Essas ferramentas incluem a Iniciativa do Relatório Global (Global Reporting Initiative) em contabilidade corporativa; os critérios de performance corporativa do ISO 9000 e o ISO 14001; o SA 8000 e os parâmetros da OIT para excelência no mercado de trabalho, assim como os novos índices, limpos e éticos como no caso da BOVESPA (Brasil), London´s FTSE4Good, Grupo de Sustentabilidade da Dow Jones, os 400 Domini Social dos Estados Unidos e o Índice CALVIN do Grupo Calvert e os Indicadores de Qualidade de Vida Calvert-Henderson.
Como foi documentado pela Bovespa e por Peter Camejo em seu estudo Vantagem dos Investimentos Socialmente Responsáveis, fundador da empresa americana Progressive Asset Management, esses novos e mais completos indicadores normalmente superam os índices como Standard & Poors e outros de Wall Street.O Brasil pode se tornar um líder mundial na transição para a prosperidade sustentável e desenvolvimento humano. Meus ouvidos ainda sentem os ecos das universidades de Porto Alegre onde mais do que 100.000 delegados do mundo inteiro articularam formas de acelerar essa transição. "Um outro mundo é possível e alcançável!"

Quem é Hazel Henderson?

A autora tem seu ultimo livro recentemente editado no Brasil "Além da Globalização" pela Editora Cultrix. Ela deverá participar da conferência internacional que trará estatísticos do mundo todo para debater sobre novos indicadores de desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, para redefinir os conceitos de progresso e prosperidade.
Hazel Henderson é uma futurista independente, colunista internacional e consultora de desenvolvimento sustentável. Como editora das publicações Futures (Reino Unidos) e WorldPaper (EUA), ela participa de muitos conselhos, inclusive do Worldwatch Institute e do Fundo Calvert de Investimento Social, onde ajudou a criar “Indicadores da Qualiodade de Vida Calvert-Henderson”. Foi assessora da National Science Foundation e dos US Office of Technology Assessment de 1974 até 1980. É autora de diversos livros, entre eles Transcedendo Economia, Construindo um Mundo Onde Todos Ganhem (publicado pela Editora Cultrix), Paradigms in Progress, Creating Alternative Futures, The Politics of the Solar Age, The United Nations: Policy and Financing Alternative e Redefining Wealth and Alternatives. Para maiores detalhes visite o site:
http://www.hazelhenderson.com
Modelando Uma Economia Global SustentávelNeste livro, além da Globalização, Hazel Henderson faz uma critica à globalização especulativa, que ocorre à custa dos empreendimentos e das formas de vida mais locais e reais. Ela defende o uso do pensamento sistêmico e de uma abordagem mais holística como caminhos para a ruptura com o pensamento econômico convencional, preso a uma visão estreita de mercados e de PIB. Ao mesmo tempo, a autora oferece uma nova visão panorâmica das mudanças necessárias para uma nova economia global que promova a justiça e a sustentabilidade em todo os níveis , do pessoal e local ao global.
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Versão para o português deste artigo: Rosa Alegria, representante de Hazel Henderson no Brasil.

sábado, 6 de dezembro de 2008

O ESTOTEANTE MIGUEL FALABELA




Sempre tive uma especial antipatia por certos artistas da Globo. Alguns eu não suporto mesmo. Adriana que não Esteves, eu detestava até ela fazer a Catarina de O cravo e a rosa, por este personagem eu me apaixonei, mas foi só. Agora de Letícia Sabatella, aquela sem sal, não há nada no mundo que me faça gostar. Ela é fria, irritante. Jean, do BBB, não é bem artista, mas esse se eu encontrar um dia, eu mato sem pensar. Na hora, com um tiro no olho que é pra fazer uma tenda da pele. Agora, Claudia Raia e em especial a tal de Débora Falabela, esta então eu odeio. Com a cara de peixe morto, um olhar vazio, gelado. Tudo que eu queria era encontrá-la pra dizer um monte de desaforos, fazer um desabafo carregado dos palavrões mais horríveis e sair batendo a porta e ela, sem entender absolutamente nada. Coitada! Ela só iria entender mesmo quando chegasse no inferno...
Acho que até por osmose e mesmo por causa do nome, Miguel Falabela sempre encabeçou desde o início esta minha lista de minhas "personas non gratas" no mais extremo sentido: prepotente, metido a besta, intelectualzinho de merda. Arrogante ao extremo, professor de Deus. Ele se acha e só quer ser o que a folhinha não marca: ator, autor, diretor, humorista, se exibe no cinema, no teatro, na televisão. O cara se mete em tudo... Um babaca. Um extremo bam-bam-bam do nada, como geralmente o é quem quer ser e saber de tudo. Pois é sempre quem não sabe de nada.
Sabendo disso um amigo meu trouxe de gozação, de uma de suas viagens ao Rio, o livro "desta peça" intitulado: Pequenas alegrias. Só de ver, comecei a desdenhar, perguntando: - "Até escritor ele pensa que é? Era só o que faltava. Comecei a ler e para desdenhar a literaturzinha dele comecei a mudar o título da obra para Enormes desgraças e dizendo em becos e ruas que esta era a síntese da vida daquele "carnavalesco dos horrores malditos".... Pois se ele é criativo, eu também sou. Acho mesmo que é aí que mora o real problema.
Certa vez tive a oportunidade de conversar com o Miguel em Cataguases, uma cidade mineira bem próxima ao Rio de Janeiro, terra de Maria Alcina e de Humberto Mauro, dentre outros. Claro que o achei estremamente idiota. Naquela época em que ele fazia o Vídeo Show e sempre terminava o programa com uma reflexão filosófica, só querendo ser o Dalai Lama do brejo...
Bem, depois começou uma novela dele: A lua me disse. Foi quando comecei a mudar meus conceitos. Adorei a história, os personagens, as tramas, o clima do Beco da Baiúca, os atores escolhidos, etc. A única coisa que eu fazia era esperar a hora, tal era o meu encantamento. O Sai de baixo, as bincadeiras, o humor picante, inteligente, a sensibilidade do artista. Enfim, hoje sou o maior fã desta criatura. Ele é bom em tudo: um ator, produtor, diretor, humorista, autor, et. etc. etc. da mais extrema qualidade.
Queridíssimo no meio artístico, bonito, elegante, debochado, bom de bola, bom de tudo. Miguel Falabela é três quartos da TV, do teatro e das artes brasileiras. Sem ele, estaríamos muito atrás neste campo do conhecimento e do fazer humano. Hoje, Negócio da China é algo que me deixa literalmente com água na boca. Me embobece. Ele tece as coisas com engenho, com arte, perspicácia, sensatez, sensibilidade e domínio técnico. O texto é leve, os personagens maravilhosos, o elenco, sob medida. Mesmo com altos e baixos inesperados, ele consegue dar o nó, dar a volta. Um sacana que pisca o olho e sabe que vai dar o melhor dos jeitos. E o núcleo dos portugueses? Uma absoluta delícia!
Em Toma lá dá cá...o único humor de verdade da televisão ele, como ninguém inventa coisas, bola participações especiais mais incríveis. Ajuda a segurar a onda e o sucesso do programa. Além de ser um Mário Jorge que, puta que pariu... Só ele mesmo pra fazer. Ele é ótimo, singalarmente maravilhoso. Seu seu admirador de carteirinha. Número zero. Me impressiona seu trabalho, sua garra, presença, força, competência, caráter. Certamente trata-se de um ser humano especial. Uma dessas pessoas maravilhosas que escapa aos olhos de Deus e vem parar na terra. Pra felicidade nossa: os mortais comuns e que precisamos deles para dar graça e sabor a nossas vidas.
Falabela, um gênio!
Ave Miguel!...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

FOI-SE MAIS UM ANO...

Foi-se mais um ano.
E com ele se foi uma quantidade incalculável de amores.
Cores, idades, alguns amigos, não sei quantos neurônios.
Memórias, remorsos, desvarios, cabelos, ilusões, alegrias, tristezas.
Várias certezas (se não me engano, treze).
Algumas verdades indiscutíveis.
Umas calças que não fecham mais.
E aquele vestido que eu gostava tanto.
Foi-se o meu gosto por vitrines.
Foi-se quase todo meu vidro de perfume.
Foi-se meu costume de imaginar asneiras à noite.
Foi-se meu forte instinto de acreditar no que me dizem.
Foi-se meu açucareiro de porcelana. Que pena.
Foi-se o tempo em que uma simples farra não significava
necessariamente uma condenação sumária ao dia subseqüente.
Foi-se a poupança. O troquinho da gaveta.
Foi-se aquele antigo projeto.
Foram-se exatamente nove vírgula seis por cento
de todas as minhas esperanças.
Será que você não se cansa tempo?
Não pensa em tirar férias, dar uma pausa, respirar um pouco?
Não lhe agrada a idéia de mudar o andamento, diminuir o ritmo?
Em vez de tic-tac, inventar uma palavra mais comprida
para compasso, mantra, ícone, diagrama?
Me diz sinceramente: para que tanta pressa?
Anda difícil acompanhar seus passos ultimamente.
Mas já é dezembro.
Foi-se mais um ano.
(Texto de Adriana Falcão, in O doido da garrafa)