segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A MUDANÇA DA MUDANÇA: UMA REVOLUÇÃO CULTURAL PELA VIDA



A MUDANÇA DA MUDANÇA:
REFLEXÕES PARA AÇÕES  INSPIRADAS NA NECESSIDADE DE CONTINUARMOS VIVOS (*)

Antonio da Costa Neto (**)

“A indignação está sendo proferida, insistentemente, hoje em dia, bem mais do que em qualquer outro momento da história. Nosso primeiro grande desafio é o de criar o consenso de que uma mudança profunda, intensa e fundamental é, não só possível, mas, também, necessária e inadiável: mudança para ontem.  Cabendo, portanto, a cada um de nós buscar, de forma incansável, a  inspiração criativa, as propostas de mudanças, opções a serem adaptadas pelos indivíduos. Este sim, é o papel dos educadores, dos artistas, dos formadores de opinião, dos estrategistas da comunicação e das tecnologias, dos políticos, sociólogos, dos pais e mães, das pessoas comuns, dos homens e mulheres, do povo, enfim, de todos os seres vivos.  Sem esta mudança a tragédia será total.   
 A humanidade sairá, definitivamente, de cena. Cairá o pano.”

(Marilyn Ferguson)
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(*) Artigo elaborado a partir dos fragmentos relacionados às mudanças, transformações, métodos e abordagens da obra A conspiração aquariana – transformações pessoais e institucionais no Séc. XXI, da jornalista norte-americana, recentemente falecida: Marilyn Ferguson (Editora Record/Nova Era – São Paulo – 2010). Ressalta-se que o referido trabalho trata de temas da mais complexa importância para a vida no planeta após o Séc. XX – a denominada “era de aquarius”, tais como educação, saúde, agricultura, política, psicologia, mudança e transcendência. No presente estudo apresentamos os dados relativos aos processos de transformação e mudança, considerando o enfoque metodológico e os seus objetivos a partir, evidentemente, da visão e dos interesses do autor, sendo utilizado como norteador de cursos, palestras, seminários, debates, workshops e afins. Texto publicado no  www.mudandoparadigmas.blogspot.com

(**) Administrador de empresas, especialista em gestão de pessoas, sociologia do desenvolvimento, planejamento e gestão. Mestre em políticas e administração da educação. Professor universitário, pesquisador, conferencista, consultor em gestão e educação. Autor de livros, artigos científicos, resenhas e outras produções científicas com ênfase em modernização e processos de mudança.

É certo, todos sentimos que muita coisa vai errada no mundo. O caos, o sofrimento, as crises, as mazelas se conjugam e se complementam em todos os segmentos do planeta e a cada momento nos surpreendemos com males que não esperávamos. O declínio político, a incapacidade de planejamento, a concentração abusiva do poder e da riqueza que circunda o planeta com a guerra, a fome, o desespero, a precariedade na saúde, o aquecimento global, enfim, uma lista exaustiva, com a qual poderíamos preencher páginas e mais páginas. A educação, o desenvolvimento tecnológico altamente coesos, parciais, e, de certa forma, avalizando todas estas mazelas. A humanidade apresenta profundos sinais de cansaço e o estresse mundial já se tornou, a muito, uma indiscutível realidade a que tentamos mascarar a todo o custo. Assim, a opinião é uníssona: é preciso mudar. Mas, no entanto, parece que nossos métodos e fórmulas para se processar este grandioso fenômeno já deram as mais absolutas provas de suas anomalias e de brutais incapacidades para se fazer o que se busca e de se atingir ao alvo desejado. Suas engrenagens enferrujaram e precisam ser trocadas. Falamos em mudança e a processamos exatamente, no contundente sentido de evita-la. Nossa incapacidade de mudar está mais do que comprovada e o “falar em mudança par evitar a mudança”, com os fins ideológicos de se preservar o poder, a riqueza e o status da decantada burguesia saturou e precisamos de algo radicalmente novo neste sentido. É a mudança da mudança, a tônica do presente trabalho. Apresentar sugestões de como transformar tudo o que precisamos é, na verdade, o seu princípio norteador. Precisamos, sem dúvida, mudar as formas de mudar, para, enfim, mudar ou transformar. Eis no que estamos interessados.
Segundo Thomas Kuhn, em seu importante livro, A estrutura das revoluções científicas,  os que trabalham frutificamente com  velhas ideias permanecem, emocionalmente, tão ligados a elas que as levam até para o túmulo. Aferram-se ao que está errado mas lhes é familiar. Só uma nova geração reconhece o valor e a força de um novo paradigma, buscando o foco inicialmente, na mudança individual: um a um. O que será o caminho para uma mudança coletiva de paradigma que, por sua vez cria um novo consenso, uma nova forma de viver e desfrutar. Gerando, assim, de modo ininterrupto novas ideias num ciclo evolutivo interminável. Instituições revolucionárias, famílias integradas, modernas, transcendentes, arte e cultura do Século XXI estimulam os que delas participam para as suas próprias mudanças, levando, assim, a uma transformação coletiva de mentalidade que é, em síntese, o que todos nós, consciente ou inconscientemente buscamos.
As forças que levaram o planeta à quase catástrofe que, por assim dizer, hoje vivemos com sérias e drásticas perspectivas para um futuro muito próximo trazem em si a semente da transformação necessária. O presente desastroso desequilíbrio pessoal e social prenuncia um novo tipo de sociedade. Funções, relações, instituições e velhas ideias estão sendo reavaliadas, reformuladas, remodeladas – algumas apenas maquiadas por profissionais e pessoas céticas que, infelizmente, ainda não acordaram. Estamos vivendo o fantástico prenúncio da mudança da mudança, uma rápida remodulação de nós mesmos e de todas as nossas instituições em crise. Falamos, portanto de revolucionar, de transformar, trocar o que temos por forças e fatores radicalmente novos e originais em todos os sentidos: o único caminho e a esperança de continuidade da vida humana em sociedade, num padrão aceitável de decência, felicidade, cidadania e valores em todo o dito mundo civilizado.
Devemos mudar para uma humanidade embutida na natureza, promovendo a autonomia do indivíduo numa sociedade absolutamente descentralizada. No sentido político, falamos de uma sociedade anárquica no bom e no amplo sentido. Ou seja, uma sociedade, por ora, utópica, onde todos tenham a verdadeira consciência de até onde e como podem ir. Ou seja, um consenso crítico de liberdade para os pensamentos, as palavras e as ações. Uma sociedade profundamente ética, onde o desrespeito a qualquer direito alheio, por si, não exista. Pois a evolução humana automatizará tais princípios que ocorrerão, naturalmente, como um bebê que chora quando sente fome, ou procurar e beber água quando se tem sede. Simples assim. Não somos vitimas e nem limitados a condições ou condicionamentos. Somos, sim, herdeiros ininterruptos de riquezas evolucionárias. Somos capazes de imaginar, inventar e fazer experiências que até agora apenas vislumbramos. Pois ainda somos guiados pela horrenda cegueira da competição e do pior de todos os males que é o egoísmo.
E todos sofremos, mesmo que indiretamente, de tais revezes que teimam em continuar aí enquanto precisam, drasticamente,  serem transformados. Precisamos, sem dúvida, com a maior urgência, partir em busca de novas perspectivas que, no mínimo, respeitem a ecologia de todas as coisas vivas, incluindo nós os humanos: nascimento, morte, aprendizado, saúde, família, trabalho, ciência, espiritualidade, artes, comunicação, relacionamentos, política e tudo mais. A vida não pode ser, necessariamente, circunscrita, o que faz parte de um passado milenar, sem necessidade, nem mesmo, de ser lembrado.
Até aqui, somos os causadores, querendo ou não, dos conflitos, dores e sofrimentos que carrega a humanidade e precisamos entender que não estávamos errados, mas apenas parciais. O que já é o bastante para desgraçarmos o mundo o que temos conseguido com êxitos invejáveis. É como se tivéssemos enxergando apenas com um olho, sem desafiar os sistemas em seus cernes. Fomos todos induzidos pela nossa educação miserável, pela cultura a competição burguesa a sermos unilaterais demais diante dos fatos e dos fenômenos que nos cercam. O que nos coloca a serviço de perpetuar o que aí está, suprimindo o novo e preservando o velho que nos assusta, corrompe, adoece, estressa, deprime, e, enfim, mata. Choramos, sofremos, mas somos incapazes de mudar.
 Somos, portanto, um construto de covardes e temos o maior medo de pelo menos tentar superar velhos limites e transpor a inércia buscando atingir, assim, uma amplitude de opção, um alento certo para muitos sofrimentos. Mas ficando olhando de longe temendo nos envolver. Qualquer um pode se sentir mais produtivo, confiante e confortável na  insegurança, mas é injusto demais para todos, pois tudo o que precisamos é de sair desta absurda zona de conforto falsa e falaciosa, na qual nos mergulhamos a séculos.  Estamos, assim, a anos-luz de qualquer transformação, evolução que sejam respostas naturais e corretas à crise que talvez durará para sempre, até nos sucumbir. Nossa patologia é nossa oportunidade de desencadear uma epidemia crítica de mudança. A crise não é destrutiva, é instrutiva. Temos que mergulhar no desconhecido, o conhecido nos tem falhado por completo. Eis o que precisamos entender de forma definitiva, desde os cidadãos mais simples dos rincões mais longínquos do mundo, até os detentores de esferas de poder das mais importantes metrópoles mundiais. Este mesmo poder que nos corrompe e destrói, aos pés do qual nos jogamos numa vertente absurda de submissão. Pois ainda somos pobres, pequenos e ignorante em demasia para a ousadia humana necessária.
Segundo Beatrice Bruteau – pesquisadora da ecologia humana profunda – “nós somos o futuro, nós somos a revolução e não podemos, passivamente, aguardar que o tempo nos melhore com ele”. É uma questão do simples para o complexo, do linear para o cíclico, do padrão para o personalístico, iniciando-se de pessoa para pessoa. Só assim poderemos começar a pensar ou sonhar com a transformação social que será possível como resultante da transformação pessoal: de dentro para fora. É a eclosão que acontece como a cura de uma febre. Mas mesmo assim, nós vivemos um dilema, a mudança pode ser facilitada, mas não decretada e o ser humano parece resistir  brutalmente a ela. Transformação não se produz por manifestos e, neste sentido, as más notícias podem ser sim, as boas novas. Novas perspectivas geram  épocas diferentes e mais inteiras, ou sejam, novas libertações de antigos limites. O paradigma que aqui perseguimos com tanta veemência é um esquema para a compreensão e a explicação de certos aspectos  da realidade e não passam de maneiras novas de se pensar velhos problemas. Portanto, a coisa é simples. Pois no fundo, não se acrescentará nada de novo, apenas formas, crenças e valores mudam, o que é mais do que suficiente para se transformar tudo: pura e simplesmente, uma questão de energia a ser transmitida nas ações que fazem as diferenças e não mais, só nas preces, nas desculpas injustificáveis que aliviam os incautos, mornos e sem coragem para quase nada como ainda o é a absoluta maioria de nós.
Recorremos aqui a uma importante visão da física em que Einstein sucedeu a Newton: saída do padrão cronométrico para a incerteza, do absoluto para o relativo e devemos nos inspirar nisto para nossas ações de todas as espécies, inclusive e principalmente quando pensamos em transformar algo, ação, método de trabalho, forma de viver. Neste confronto histórico entre os vivos as novas ideias são sempre recebidas com frieza, zombaria e hostilidade. São atacadas como heresias e de início elas podem sim, parecer bizarras e, até mesmo, vagas. Entendamos o processo e nele  se pode, a princípio, aderir a uma nova ideia sem abandonar a antiga e o que é melhor, se pode ainda ficar oscilando entre as duas durante a maturação, que, se evoluída,  levará, de forma autêntica para a adoção do que for, de fato melhor para todos. É um ciclo em zig-zag, em vai-e-vem, perturbador, que gera um frio na espinha. Mas, no final das contas, sempre as pequenas vitórias somam-se a um grande despertar cultural. A dissolução e o sofrimento são estágios necessários à transformação, os fracassos podem ser poderosamente instrutivos e geradores de um prazer jamais experimentado.
Precisamos adentrar ao pensamento complexo, agregando nele os sentimentos de bondade, amor, empatia, sensibilidade, pois a lógica, por si só é um profeta deficiente. A intuição é necessária para se completar o quadro. Por definição, no atrasado mundo que nos cerca, embora revestido da tardia ciência objetiva e da técnica superdesenvolvida, as resoluções não são lineares e muitas causam transtornos insuperáveis quando atuam sobre as outras ao mesmo tempo de forma impensada por quem as operem. Acreditamos que a confrontação desorganizada, a derrubada pura e simples do sistema ou a reforma gradativa servem apenas para preservar a alienação básica da sociedade; a matéria-prima para a manutenção dos processos de exploração, dor, sofrimentos descabidos para os tempos da era do conhecimento de avanços tecnológicos inimagináveis.
Bernard Levin, colunista do The Time de Londres afirma-nos que “a forma pela qual o mundo vive hoje não dará certo. Muitas pessoas têm todo o conforto material que desejam, mas, mesmo assim, vivem em silencioso desespero, nada compreendendo a não ser que existe um vazio imenso dentro delas. E esse vazio dói”. Mas como são cegas e avessas dentro da linearidade a que estão acostumadas. Tudo o que fazem é manter o mesmo processo que as desesperam. Falta-nos a visão do todo e a sensibilidade suficientes para ajudarmos a proceder as transformações que tanto desejamos, buscamos. Mas fazemos ao contrário.

A indignação está sendo proferida, insistentemente, hoje em dia, bem mais do que em qualquer outro momento da história. Nosso primeiro grande desafio é o de criar o consenso de que uma mudança profunda, intensa e fundamental é, não só possível, mas, também, necessária e inadiável: mudança para ontem.  Cabendo, portanto, a cada um de nós buscar, de forma incansável, a  inspiração criativa, as propostas de mudanças, opções a serem adaptadas pelos indivíduos. Este sim, é o papel dos educadores, dos artistas, dos formadores de opinião, dos estrategistas da comunicação e das tecnologias, dos políticos, sociólogos, dos pais e mães, das pessoas comuns, dos homens e mulheres, do povo, enfim, de todos os seres vivos.  Sem esta mudança a tragédia será total e , em absoluto sem solução.   A humanidade sairá, definitivamente, de cena. Cairá o pano.
E falamos aqui algo de existência incomensurável em relação ao tempo e a cronogramas. Nossa percepção neste sentido é demasiado estreita e por ora, não entenderemos esta axiomática que tanto defendemos. Dentro da eternidade, o tempo que temos não é nada. É um estigma do passado, cujo presente, nem por microssegundos, nós conseguimos captar. Quando temos o menor “insight”, tudo já passou. “Somos uma espécie condenada a viver coletando minúsculos passados quase sempre amargos e tediosos. É o que nos é dado por direito a chamar de vida. A soma de todos os nossos dias é apenas o começo”. E como nos ensina Teilhard de Chardin o futuro está nas mãos dos que podem oferecer às gerações vindouras razões válidas de  esperanças. Depois de tudo que sofremos e sangramos enquanto vivemos vem um “sim” indefinido para continuarmos. E é deste “sim” que depende o futuro do mundo que nos leva ao inusitado que nos amadurece e nos transforma. Profundas mudanças interiores podem ocorrer em resposta a uma meditação disciplinada durante uma grave enfermidade, de uma perda importante, de uma decepção amorosa, por exemplo. É dos maiores amargos que surge o doce sabor repleto de perspectivas novas. O “sim” que vem de dentro nasce da dor e do sofrimento que não podem ser evitados, mas precisam ser vividos e sentidos. É o que precisamos aprender a fazer revestidos de “outros sins”, de outras condutas, mais humanas e cheias de sentido para todos e não só para nós  e a quem dedicamos nossos melhores afetos. Prescindimos de sins, de palavras, pensamentos e ações, que beneficiem a todos os próximos e distantes de nós: somos uma rede de infinitas proporções e este saber é  a transformação iminente e necessária.
A maior parte dos habitantes da terra está preocupada com a sobrevivência, e não, com a transcendência. Uma rápida transformação da espécie humana tem sido articulada pelos mais talentosos pensadores, artistas e visionários da história. E nela, quem confia em si mesmo se sente mais à vontade para confiar nos outros: a transformação exige uma dose mínima de confiança. Estamos familiarizados com muitos tipos de ilusão e de auto-ilusão: nos jogos, na propaganda, na política; na apresentação de uma bela fachada. O ouro do crescimento material e limitado inspirou uma geração inteira de falsificadores. E, por enquanto, esta mera aparência nos satisfaz no âmbito de se levar a vida – mesmo que vegetativa – e pronto. É a dinâmica neurótica do material pelo material como se a grandiosidade da vida se reduzisse a este engano simples para uma humanidade que se acredita grandiosa, esperta, inteligente, muito evoluída e cheia de conhecimento.
No entanto, no âmago das coisas e da verdadeira alegria do existir em sua essência mais poderosa, a infelicidade é a marca da sensibilidade e da inteligência. Num mundo tão conturbado quanto o nosso em que as pessoas sofrem e choram na solidão, as crianças passam fome, os doentes morrem sem tratamento, o medo da peste, da falta de água da turbulência, do calor exagerado e de um frio assassino, nós não temos motivos para sorrir, achar graça e esbanjar as demasiado comuns expressões:  “está tudo bom”,  “está tudo bem”. Porque não está. A questão é nossa superficialidade que nos torna incapazes de enxergar a verdade inteira das coisas. Isto só se dá porque somos uma massa insensível e sem escrúpulos, principalmente, quanto ao sofrimento alheio porque nem sequer sabemos que o outro não existe: nós somos um só. E a vida é como um jogo de xadrez, que, no final, reis e peões são guardados todos na mesma caixa. Fazemos parte de um só bloco que singulariza a vida  seus, mistérios e contornos. “Podemos e devemos aprender a saborear as marcas e cicatrizes de nossos próprios remorsos como uma segunda chance para reencontrarmos o sentido de tudo”. Conforme nos esclarece Teodore Roszak.
Mas, sobretudo, pela nossa extrema falta de senso nós preferimos manter uma certa fidelidade hipócrita ante a um antigo paradigma. Mas, se tivermos coragem para comunicar nossas dúvidas poderemos desmantelá-lo enquanto há tempo de nos mantermos vivos e a serviço de alguma causa que valha realmente a pena. Não há a necessidade de esperarmos que ele, o paradigma decadente, apodrecido e aos pedaços caia encima de nós. É preciso focar os seus perigosos mitos e místicas, a fim de atacar suas ideias e táticas mais que ultrapassadas e obsoletas. O que nos faz um mal imenso.
A implosão da informação de Marshall McLuhan, segundo a qual a comunicação não deve ser somente ampla, mas também profunda, o que é ponto fundamental para mantermos, a partir de agora, nossos contatos, relações, trocas, querências pessoais e amorosas . É Carl Roggers que nos ensina que “as pessoas estão se mostrando realmente abertas, expressando o que sentem e sem medo de serem julgadas naquilo que consideram fundamental em seus seres em suas personalidades e somente aquilo que sentimos muito profundamente pode nos modificar”. É o soberano direito da autodescoberta. Um novo mundo é uma nova mentalidade e que agora  é centrada no interior das pessoas. Conhecendo suas diferenças, modos, ritmos, formas de ver, sentir, fazer, habilidades, sonhos, limitações e respeitando-os integralmente e em quaisquer instâncias, sem nome, classes ou distinções. Só assim estaremos processando a mudança, ou, melhor dizendo, nos transformando as coisas e as pessoas.
Parece um tanto paradoxal, mas ainda, Aldouxs Huxley  se mostra profundamente otimista quanto à multidão dos homens existentes à margem da sociedade, o que foi considerado como uma heresia. Mas não nos esqueçamos que foi com esta premissa que ele veio  apoiar Bertalanfy, na Teoria Geral dos Sistemas, tão aplaudida atualmente, e,  segundo a qual, “nada pode ser considerado isolado, pois tudo faz parte de um sistema”, daí a sua importância pela função de incluir a todos, sem quaisquer fronteiras, e, isto é grandioso. Lowis Pauwels e Jaques Berger em  O despertar  dos mágicos descreveram uma rebelião aberta de indivíduos inteligentes, transformados por suas descobertas anteriores, mesmo as de vivências de misérias, dores, erros e sofrimentos, que são ingredientes fundamentais para medidas grandiosas de transformações realmente válidas para a vida.
Só dentro desta perspectiva é que começamos a considerar o sentir a ciência, as crenças e valores, aí incluindo as religiões, tudo num só bloco para o fazer pensar. O que, apenas para iniciar esta discussão, afirmamos ser que as que  podem, juntas, suportar a carga do futuro. “Não a ciência das escolas, as filosofias simplificadas, as  religiões das igrejas, mas a dimensão espiritual e mística que transcende hábitos e políticas”, segundo o pensamento de J. B. Priestley.  No contexto de se inteirar de tais segmentos do saber, nós, passaremos, ao invés de desejar  ver o que há do outro lado da lua, deveremos tentar entender o que há do outro lado de nossas mentes, o que só poderemos fazer exercitando o nosso lado bom  que temos e trazemos no íntimo. Se, espiritualmente falando, conseguirmos, pelo menos apontar o que há de errado conosco, quais as nossas  necessidades mais profundas, então, talvez, o desespero, o medo da morte irão, gradativamente, desaparecer.  E somente os seres inteiros, com tais características, é que serão os agentes das transformações que aqui descrevemos. Mas os  homens, em sua maior parte, ainda continuam a pensar de acordo com os velhos padrões fragmentados dos dias mais lentos da história.
Ruth Ananda “se referiu a uma nova consciência que poderia levar a humanidade para muito além do medo e do isolamento, incluindo o conceito de auto realização de Abranham Maslow”. Pessoas engajadas em outros estados de consciência se tornam mais abertas,  menos egocêntricas e mais responsáveis. Substituindo as estreitas lealdades por uma preocupação ampla, crítica e amorosa com as outras pessoas. Buscando o que o educador  John  Holt clama por um ser humano radicalmente novo. Necessitando, portanto, de uma revolução de consciência. A liberdade canta não só dentro de nós, como também em nosso exterior. O homem não quer sentir-se estagnado, o que deseja, na verdade, é ser capaz de mudar, de transformar a si mesmo e os contornos em sua volta o que requer, ao mesmo tempo, tolerância para experiências e ondas de inquietação.
Somos todos, invisivelmente, ligados uns aos outros e há dimensões em que transcendem o tempo e o espaço  exigindo a emergência de um novo ser humano autônomo. Há a procura de pessoas especiais que não podem ser encontradas em qualquer lista “à venda”. Devemos nos procurar uns aos outros, nos encontrar e nos unir. Precisamos acreditar que, algum dia,  vamos conseguir transcender à “consciência normal” e inverter a brutalidade e a alienação da condição humana e fermentar toda a sociedade com esta nova premissa, transformando o todo. Somente através de uma nova mentalidade poderá o ser humano modelar-se a si mesmo. Abram os olhos há mais coisa ainda, mais profundidade, mais altura, mais opções e mais perspectivas do que havíamos imaginado. É preciso acabar com o perigo da cegueira da opinião dominante. Precisamos começar a ver através dos olhos e não mais, ver com eles eliminando, definitivamente, o que fragmenta  os poderes do raciocínio e da imaginação.
A maior revolução em nossa geração é que os seres humanos modificando as atitudes anteriores de suas mentes podem modificar os aspectos exteriores de suas vidas. Só o homem, de acordo com Willian James é o arquiteto de seu próprio destino. A ciência mecanicista não explica os mistérios da vida. Acreditar nisto é uma ingenuidade, ela, ao contrário, viola a natureza, nossa filosofia, nossa arte, sentimentos e intuições. Precisamos, para compreender isto de um novo instrumento holístico; de um novo princípio de organização inerente à natureza. Portanto, ainda aguardamos o primeiro passo poderoso que começa com a união do intelecto com a mente intuitiva, conforme nos ensina Carl Jung por meio de sua sagrada psicologia transpessoal e a revolução que ela representa, deixando o homem pronto para as transformações necessárias e que, com certeza, ainda estão por vir.
Começa-se  assim uma nova conspiração de indivíduos para elevar a um novo estágio o edifício da vida, conforme nos lembra Teilhard de Chardin, em seu O espírito da terra, o alcance que chamou de “ponto ômega” – “nada no mundo pode resistir ao fervor do espírito coletivo”. A mente fica ofuscada quando emerge da sua sombria prisão  e talvez seja este o grande problema, o de saber submergir a este momento de escuridão e insegurança frente o novo que avança ao nosso encontro.
Nós já entramos no maior período de mudança que o mundo já conheceu. Os males que sofremos hoje têm suas bases no pensamento humano até aqui, objetivamente estrangulador e a solução está no entendimento profundo de tais relações por uma metalinguagem que transcenda os estreitos domínios das formas, que, por exemplo, nos comunicamos. Mas, felizmente, um novo tipo de interrelação entre os indivíduos, começa. Alfredo Korzybski ressaltou a linguagem com outro aspecto de consciência que modela o pensamento. Os princípios da semântica geral com as palavras cria em nossas mentes imaturas grandes vazios e por isso mesmo, podemos confundir a realidade e criar falsas certezas. Isolamos as coisas que só podem existir com continuidade, deixamos de perceber o processo, a mudança, o movimento. E tudo é fruto de uma ideologia animalesca, fundada nas concepções de um capitalismo, ou mesmo de um socialismo gritantemente atrasados e que se formatam nos princípios da profunda desigualdade, da miséria para muitos e da opulência, não só material para poucos. E, pior ainda, para os mesmos, desde os primórdios da história do ser humano sobre a terra. E isto persiste na educação, na política, na gestão das organizações, no planejamento genuinamente grotesco que ainda temos. Pois sua evolução está apenas na aparência, nos dogmas, no papel. E não é só isto, as demais ciências, as práticas sociais, a psicologia, a arte, a universidade, os meios jurídicos, a construção civil, as ciências ambientalistas, ecológicas, a biologia, os serviços, a vida, enfim, tudo caminha por esta ainda estreita e pueril estrada que conduz o que a humanidade incauta  chama de evolução.
Quando a pessoa libera uma nova capacidade, esta torna, de súbito, evidente para outras que podem, então, desenvolvê-la também. Certas habilidades, artes e esportes desenvolvem-se de forma espontânea em culturas específicas. Até mesmo nossos talentos “naturais” devem ser encorajados. Os seres humanos não falam e nem andam de forma biologicamente natural, mas por imitação. Se os bebês fossem metidos em berços de asilos sem nada a fazer a não ser olhar para o teto iriam caminhar e falar muito tarde, se é que chegariam a fazê-lo. Estas capacidades têm de ser liberadas e envolvem a interação com outros seres humanos e com o meio. E dentro do contexto de todas as ações e medidas isto se repete, pois, como estamos vendo, tais fenômenos se renovam, pelo menos similarmente, inclusive nos processos de transformação e de mudança que aqui tratamos. Ou seja, tudo volta a acontecer, por isso muitas das mudanças que temos são parciais e limitadas  e devemos suprimir esta limitação dentro de tal processo.  Neste contexto nós conhecemos a meia mudança, também chamada de não-mudança que é a forma mais eficiente de não se mudar nada. A simples inovação é, por assim dizer, uma estratégia dos neutros, dos que na verdade querem falar em mudança, justamente, para não realizá-la. Pois o discurso contrário pareceria reacionário demais para quem precisa se mostrar em grandes evoluções. É chic e necessário falar e propagar a mudança, mas realiza-la, nunca, pois isto irá ferir a nossa zona de conforto. E o mundo civilizado está, infelizmente, cheio disto.
 Outra forma é a  mudança por exclusão a mais fácil e limitada das formas de mudar. Ela dá início a tal segmento, mas não o conclui. Neutraliza processos e cega seus agentes, criando, por assim dizer, um falacioso sentido de satisfação em relação ao que se espera mudar. Quando o velho sistema de convicções permanece intacto, mas admite um punhado de anomalias, do mesmo modo que o velho paradigma tolera um certo número de fenômenos estranhos a ele e que se agregam às suas bordas, antes da ruptura que leva a um outro paradigma mais inteiro. Um indivíduo engajado a uma mudança por exclusão pode desaprovar todos os membros de um particular grupo, exceto um ou dois; os que defendem as exceções que confirmam a regra; em vez de exceções que não confirmam a regra que se excluem mutuamente para que tudo permaneça como antes. E, ao mesmo tempo, nada pode parecer estranho nesta que podemos chamar de uma evolução só das aparências.
Estranho o antagonismo que existe entre o apelo para a mudança e ao mesmo tempo, os processos utilizados para impedi-la.  No geral, quando as pessoas sentem que as mudanças necessárias e desejáveis podem mesmo acontecer, consciente ou inconscientemente, todas as medidas são tomadas para que o fenômeno não se conclua. Quebram-se seus processos e o resultado é evitado a qualquer custo. Demitem-se seus agentes, retiram-se os recursos, promovem-se bombardeios de ideias e exatas revoluções contra qualquer possibilidade, ainda que longínqua. Se for descoberto que certa pessoa, grupo, equipe, organização tem o vírus da mudança ou o potencial para mudar elas, no geral, passam a ser tratadas como quem tem uma terrível doença crônica contagiante e que pode contaminar e desgraçar todo o seu meio. Passam a ser abandonadas, a viver sozinhas e são olhadas com desdém e comiseração, como se fossem infelizes e inúteis. Para disfarçar, opta-se no máximo, pela mudança quantitativa que é aquela que se dá lentamente, pouco a pouco e só acontece porque os indivíduos envolvidos não a percebem. É a mudança por partes, gradual e fragmentada e quando chega ao fim – se é que isto acontece – já se faz necessário começar de novo  um outro processo de mudança mais atual e eficaz. Mudança meramente disfarçada para que tudo continue como estava antes, gerando aí um profundo suspiro de alívio para antecipar as reclamações que se seguiram de que nada muda, nada acontece e assim, sempre, num ciclo vicioso e doentio.
E falando ainda em mudança que não muda, resto-nos ainda o que se acostumou de chamar de mudança pendular –  é o abandono de um sistema seguro e fechado por um outro. É a mudança que falha no processo de integração do que estava correto no antigo e erra ao distinguir o valor do novo, de seus exageros. A mudança pendular rejeita a sua própria experiência interior passando de uma espécie de conhecimento incompleto para outra. Todas estas mudanças não chegam à transformação, pois, lidam com informações limitadas, conflitantes e antagônicas, diria, meio que de propósito. Não conseguindo integrá-las, não fundindo uma visão dupla em uma única, levando os sujeitos a optarem por relações não- conflitantes, reprimindo aquelas que não se encaixam nas convicções dominantes. Ou seja, exibem e camuflam, ao mesmo tempo, o fenômeno da mudança para que tudo permaneça  sem mudar, assim como todos os demais processos até aqui discutidos.
Mudemos, portanto, pelo menos o foco. E, para isto, necessário se faz um certo convencimento  de que estamos inseridos até o atual momento histórico em mudanças que nada mudam, ou seja, fracassam, por razões óbvias. Comecemos a discutir a mudança de verdade, ou, melhor dizendo, possíveis processos de transformação, ou mudança de paradigmas. A bem da verdade, a mudança que buscamos – é, em síntese, a base da transformação, ou seja a mudança das antigas formas de mudar que já deram mostras mais do que suficientes de suas graves anomalias em todos os tempos. A mudança até hoje se dá de uma forma particularmente parcial, sendo coordenada por quem tem mais do que razões e privilégios próprios para nada mudar. Este sim, o sentido filosófico, as questões ideológicas para a não-mudança. Mas seria extremamente cruel, frio e criminoso se admitir tal processo de frente, daí os elegantes  discursos falseadores, o maior, talvez o único grande mal de nossos tempos. Assim, os agentes das tais “mudanças” são, geralmente, sectários e pobremente instintivos, fundam-se na hipocrisia que chamam de técnica. E as suas propostas para mudar são vistas- por eles próprios, é evidente – por uma ótica decadente, proporcionando os privilégios e os benefícios para quem já os tem. E, assim, por mais que se mude, tudo continua a mesma coisa. É o eficaz sentido político da não-mudança que temos visto e vivido.
 Mudar paradigmas é transformar bases, ideias, pensamentos, valores e ações, partindo, portanto de uma visão ampla dos ciclos que envolvem as causas, os efeitos, os processos e resultados de qualquer realidade que se proponha que venha ser  mudada, ou melhor, transformada.  E, para tanto, tudo deve ser feito de forma simultânea, integrada, múltipla. É fundamental o entendimento de que tudo e se liga a tudo e a todos num intenso, global e pertinente sentido de redes vivas e infinitas.  Colocar-se no lugar do outro, dos que sofrem, dos que buscam, dos que necessitam e que, quase sempre estão fora dos processos, dos poderes de decidir, e, portanto, de mudar. Todos devem decidir e mudar juntos. Ao contrário das hierarquias secas que ainda temos. Agregando, desta forma os sonhos, os desejos, as necessidades, ritmos, estilos de ver, crer, desejar e fazer as coisas. Derramar por todos e para todos as benesses do que, do como e do para que e para quem mudar. Já de início, o termo mudança é pouco, é mínimo. E o que precisamos falar e  fazer é uma transformação radical e profunda. Transformar e  evoluir cenários, extinguir normas e hierarquias, formar redes vívidas e lúcidas. Dando chances de vida com abundância de qualidade para todos. Assim, reformar é pouco, inovações não existem, mudança é quase nada. Estamos falando de transformações radicais e propositivas para que a vida seja o êxito possível.
Algo na atividade consciente está apto a uma profunda mudança, a adotar o verdadeiro conceito de transformação nas ações humanas. Uma transformação é, literalmente, uma nova forma de reestruturação de alguma coisa ou de alguém, buscando e esperando processos e resultados novos, autênticos e originais em todos os sentidos. Neste aspecto as mudanças parciais e rasas, não contam, pois são o construto básico da teoria oca que a nada leva. Uma transformação matemática, por exemplo, é a conversão de um problema em termos novos para que possa ser resolvido. Falamos aqui da natureza metafísica da transformação. Uma nova perspectiva que percebe outras perspectivas, ou seja, uma mudança de paradigmas e não como simples novas visões que conceituam como mudança as antigas tradições, tanto no sentido científico, como no místico, no cultural e em outras abordagens. Vivemos, portanto, a cisão entre o consenso e o conflito e este entendimento é fundamental para processarmos o que queremos e precisamos para que a vida persista.
O começo de uma transformação é extremamente difícil. Só temos que nos centrar  no próprio fluxo da atenção. E aí, imediatamente, adquirimos, por assim dizer, uma nova perspectiva. Qualquer coisa que nos conduza a um estado consciente e vigilante, assim como a nossa mente é o próprio veículo da transformação. É a busca de uma dimensão superior, ou seja, mais abrangente. E, para tanto, devemos atender aos apelos das modernas neurociências e colocar toda a energia do nosso cérebro a serviço do que queremos fazer, processar, aprender, descobrir. Para realizarmos qualquer mudança com êxito é a mesma coisa. Exercitando, proporcional e autenticamente, nossas capacidades mentais internas de sentimento, razão e prática, na quantidade, proporção manejo e forma conforme o que desejamos, o que esperamos, seu momento e características. Abandonando padrões, mas personalizando caso a caso, este sim, o grande segredo.
Tanto o cérebro, quanto o comportamento humano são, inacreditavelmente, flexíveis. Somos condicionados para termos medo, ficarmos na defensiva, sermos hostis, ainda que tenhamos também a extraordinária capacidade para a autotranscedência. Aqueles que acreditam na possibilidade de uma transformação iminente, não são otimistas em relação à natureza humana. Em vez disso, confiam no processo da transformação. Todos experimentando uma nova modificação positiva em suas vidas – mais liberdade, sentimento de união e afinidade, mais recursos criativos, meios de lidar com o estresse. Criando, assim, uma outra noção de sentido da vida. Estas pessoas são as que admitem que as outras também podem mudar. Acreditam ainda que se um determinado grupo descobrir novas capacidades em si mesmo, naturalmente, conspirará para criar um mundo mais hospitaleiro para a imaginação, o crescimento, a cooperação humana e que só a evolução individual pode conduzir ao desenvolvimento de todos. Neste sentido, coletivos são meras abstrações linguísticas que acompanham o viés da política da competitividade doentia. Sociedade não existe, mas sim, pessoas, com suas limitações, capacidades, desejos, angústias, carências, necessidades, problemas a solucionar. Coletivizar é adjetivar, quando o que deveríamos fazer é substantivar. Estamos exercendo, portanto, uma forma de enganação social por meio da linguagem elegante, da semântica culta e gramaticalmente correta, justamente para isto.
Não podemos mais nos ajustar aos paradoxos da vida cotidiana, ficando divididos entre o que os outros desejam de nós e o que desejamos de nós mesmos. Pois, no fundo, somos um só e tudo converge para um mesmo fim. O que precisamos ter é a certeza e consciência do fazer correto, sem os engodos elitistas a que fomos adestrados desde a mais ínfima idade. Quando nos reprimimos ou vacilamos porque temos que agradar ao poder sobre nós – seja ele correto ou não e nós intuímos isto sempre – estamos nos privando da transformação. Ao nível da percepção comum nós negamos a angústia e o paradoxo. Quando a luta é abandonada ela está, absolutamente, vencida. Para se chegar mais rápido é preciso diminuir a velocidade. Só vence a corrida quem tira o pé do acelerador, embora pareça que não. A transformação não é um espetáculo para ser observado. É para ser feito por todos, sem plateia. E a complexidade do método não deve ser confundida com a sua eficiência. A prática faz melhores nadadoras ou esquiadoras dentro e fora da água, quaisquer que sejam nossos talentos inatos.
A transformação é irreversível: espelho algum se torna ferro novamente e nenhuma uva madura fica verde de novo. Disciplinas altamente estruturadas tornam-se um simbolismo intrincado e pode beneficiar alguns, enquanto outros sofrem ao desalento e em profundo desespero em volta de todo o mundo civilizado. As altas mudanças com tecnologias simples são realmente as que contam no parâmetro da busca da evolução de verdade. Aquela que precisamos, buscamos, mas que se esconde em meio às complexas confusões criadas por todos nós, seres humanos cegos e incautos frente à real dinâmica do mundo e as exigências de uma vida minimamente digna para todos . Um método que dá certo por algum tempo pode, de repente, parecer inapropriado; ou mostrar que ainda  não está produzindo modificações significativas. Mas num retrospecto, pode-se verificar que muita coisa interessante  aconteceu, daí a carência da mudança, da transformação rumo ao perfeito que deixa, assim, de ser utópico, pelo menos no sentido platônico da palavra.
A transformação é processo, é uma viagem sem destino final. Mas nela há segmentos facilmente identificados: cumes, lamaçais, areias movediças, erosão, sol, chuva, escuridão, calor, frio, mas que quase todos resistem – os fortes, os que se fazem necessários. Para  identificar se o campo é ou não apropriado para a transformação devemos verificar no “mapa do território” alguns  estágios principais:
1.       O ponto de entrada preliminar, quase casual, algo que abale o velho entendimento do mundo, as antigas prioridades. Muitas vezes, produto do tédio,  da desmotivação, da  falta de curiosidade ou do desespero. É uma experiência espontânea, diria, mística, difícil de ser explicada e muito fácil de ser negada. Principalmente, pelo complexo de se resistir a quase todas as formas de mudanças, ou melhor dizendo, a todas elas, pelo menos pela ampla maioria de nós, os humanos. Transformar a realidade de modo a se chegar  mais perto possível do ideal de cada pessoa ou situação. A mudança de paradigmas só pode ter início com a harmonização das ideias e filosofias numa nova e poderosa síntese. Ou seja, uma transformação autêntica de crenças, valores e ações. É a dimensão de uma perspectiva realmente nova que permite que as informações se unam em novas estruturas e conjunturas. Não é isso que desejamos? Por que então nós negamos isto com todas as forças de que somos capazes? Questões que precisamos entender, para só então, termos as condições mínimas de continuar.
2.       Sob muitos aspectos a dificuldade de  processar a mudança  se deve ao fato de ter-se de abrir mão da certeza e passar a trabalhar com aproximações, o que leva a diferentes maneiras de se enxergar os fatos, os fenômenos e suas histórias. Colocando em risco a nossa “zona de conforto” dentro deste mesmo processo e sobre diferentes perspectivas e em distintas ocasiões. Integram-se ao mesmo tempo valores objetivos, subjetivos e intersubjetivos. Agregam-se ideologias, o que, no geral, nossa estreita visão não está preparada para lidar.
3.       Na mudança de paradigmas admite-se que se estava parcial ou totalmente errado antes e que se pode estar agora um pouco mais parcialmente certo. Percebemos opiniões que eram apenas parte do quadro – e aquilo que sabemos hoje é apenas parte do que saberemos amanhã. A mudança não é mais uma ameaça, ela absorve, amplia, enriquece. Cada percepção abre espaço para que a nova etapa seja mais fácil. E, assim, infinitamente. É, em síntese, a mudança da mudança, exatamente como na natureza; a evolução de um processo simples para um outro, complexo. Cada nova ocorrência altera aquelas que se seguem. Ela  não gera apenas um simples efeito linear. É uma súbita mudança, a saída do padrão para uma aspiral em ciclos evolutivos, sequenciados, permanentes e integrados entre si. Uma rede em co-existência, por vezes, um cataclismo.
Tudo altera os fluxos, as percepções, seus processos e resultados. A mudança aumenta infinitamente. Podemos dizer que “síntese se baseia na síntese em evoluções permanentes e infinitas”. É a organização transcendendo velhos conflitos, rompendo a antiga ordenação. Potencializando, assim, a verdadeira transformação das coisas num movimento de maior maturidade, de abertura, de força, de criatividade. Estas são características a um só tempo amplas e sutis e que a pobre e limitada dimensão técnica a que a humanidade tem se dedicado, especialmente, após a revolução industrial, se esqueceu de agregar. E hoje talvez seja demasiado tarde para isto. O que, em si, prenuncia o caos. Daí o sentimento de todo esforço neste sentido ser pouco. Precisamos, pois, arregaçar as mangas, ranger os dentes e tencionar os músculos: enfim, revolucionar, no exato sentido da palavra.
Ninguém pode persuadir a outra pessoa a mudar. Cada um de nós vigia uma porta de mudança que só pode ser aberta pelo lado de dentro. Não podemos abrir a porta para ninguém, nem com argumentos e nem com apelos emocionais. Para a pessoa mudar alguma coisa dentro dela tem que morrer, o que é uma descoberta assustadora. O que prescindimos é de aspectos e valores para que  a solidariedade humana,  a condição essencial para a expansão de qualquer indivíduo, conforme Erich Fromm se faça presente em todos os processos decisivos sobre nossas ações em todos os campos da vida. O que depende de trocas, de relações pessoas fundadas no querer bem entre elas – sem tal amorização tudo parecerá impossível  ou será, no mínimo, muito mais difícil. Não há transformação sem amigos, somos parteiros uns dos outros, o que na intimidade de cada um parece gerar, inexplicavelmente, algum ponto de tensão, de reserva. O que temos é um medo enorme de nos doar pois, somos ainda, e, infelizmente, à revelia de tanta evolução, egoístas e competitivos por excelência.
Neste sentido, o medo tem sido nossa eterna prisão: medo de nós mesmos, medo da perda, medo do medo. Nossos medos são um repositório de tesouros de autoconhecimento e, uma vez que sentimos a transformação de um medo, temos, igualmente, dificuldades de tornar a senti-lo. O eu transformado dispõe de novos instrumentos, dons, sensibilidades que são interações internas que precisam de grandezas que, pelo que parece, ainda não temos. Perdemos tempo demais, historicamente, com os valores outros e até antagônicos a tudo o que necessitamos, daí a realidade a que nos achamos expostos como no fundo de um poço e arranhando loucamente suas paredes para sair. Precisamos, portanto, de processos de transformação e mudança. Eles experimentam, especulam, inventam e saboreiam o inesperado. É como Maslow  nos dizia que “temos medo  de nossas potencialidades superiores. O medo de saber é o medo de saber, pois o conhecimento sempre agrega responsabilidades”.
A transformação é uma experiência que apresenta resultados e nós aprendemos muito com ela. Sempre que integramos a algum processo para tais fins, se soma alguma coisa à nossa compreensão, às nossas habilidades. Seja qual for o fim a que chegamos, nós não perdemos a descoberta, o novo, o crescimento interior que é o profundamente mais importante. Por outro lado, nenhuma ideia radical poderá sobreviver se não tiver incorporada em indivíduos cujas vidas sejam a própria mensagem. Razão e intuição são complementares, enriquecem-se mutuamente quando sucumbem à transformação, resgatando a qualidade do “eu” e da importância de cada indivíduo.
Só ai é que parecemos estar prontos para a exploração – o sim, após o não final é  a entrega deliberada e de uma forma intencional. Nós soltamos alguma coisa que estávamos apertando, para que possamos flutuar. É o colocar a mão na massa transformando fatos, fenômenos, aspectos, coisas, movimentos, pessoas naquilo que desejamos, buscando, assim, a integração de tudo a tudo, ou seja, a penetração do mistério até então oculto por detrás de nossas máscaras, nossos jogos e os conflitos, especialmente, os travados conosco mesmos.
Neste estágio, podemos parecer visionários demais, mas conspirar passa a ser muito mais do que necessário – a conspiração – a descoberta de outras formas e dos modos de usá-las a serviço dos outros facilita a transformação mas não a impõe: conspira para a renovação sistemática e inteira. A mesma que tem sido descrita historicamente como o verdadeiro despertar. O que prescinde do entendimento de que ”se algo vai mal no mundo é porque algo vai mal comigo”. Fomos divididos e somos incapazes de harmonizar pensamentos e sentimentos contraditórios, quanto mais, antagônicos, negando o contágio, a conspiração, a multiplicação de ideias, o fazer-se plural. E neste sentido, a importância do processo é outra descoberta, aprender é mais importante do que acumular informações, assim, nos convencemos de que, buscar, exclusivamente resultados, como temos feito historicamente, faz parte de outro plano. Os objetivos e os pontos finais importam menos, pois transformar é aventurar-se naquilo que não tem fim. Quando entendemos que a vida se torna um processo, desaparecem as velhas distinções entre vitórias e derrotas, sucessos e fracassos tudo é um sinal para nos ensinar a aprofundar a busca. Devemos deixar de adiar a vida, prestando mais atenção no momento do que no relógio. A incerteza é uma companhia mais do que necessária e os conhecimentos tácitos sintonizando sinais interiores tornam-se muito mais fortes.
Mudança significativa, conforme nos ensina Mahatma Gandhy, só pode ser implementada em nível de pessoa, de conversas de vizinhos, de pequenos grupos, em aldeias longínquas, entre árvores e bichos. Ou seja, dentro da simplicidade criativa do espírito que é, o que, de fato, nos enriquece. E, para tanto é preciso saber aproveitar as instâncias, locais e momentos propícios à criatividade lúdica. Mudar e transformar é sair das hierarquias agonizantes para entrar e se integrar a redes cheias de vida. Se quisermos, por exemplo, mudar a burocracia, a primeira coisa a fazer é mudar os tecnocratas, um por um, chegando a todos.  A mudança, a transformação social não virá tão rápida como gostaríamos. Formar uma comunidade em transformação é um processo tão sutil quanto longo e delicado. Devemos, portanto, apenas viver nossas condições, e, assim, poderemos transformar o mundo, provocando a necessária revolução das almas, dos sentimentos bons, eternizando as alegrias de viver.
A revolução pessoal, tão urgente quanto necessária se caracteriza pela nossa capacidade de transformar a nós mesmos, ela não se  com opera milagres e nem com ideias antigas. Deve haver também a crítica interna de injustiças, devido à cultura moral, à religião, aos costumes, às ciências, à tecnologia com que comungamos, à educação que recebemos e assim por diante. Deve exigir respeito pela singularidade individual, com a sociedade sendo considerada como um meio para o desenvolvimento do indivíduo e da fraternidade humana em seu sentido não só mais puro, como também, mais pleno.  Analisar a justaposição existente entre a miséria e a opulência, o maior dos horrores, o maior dos crimes, no final das contas, o que cria toda a problemática e a necessidade de solucioná-la por meios transformadores. Sem mudarmos basicamente esta realidade a partir de nós mesmos e dos nossos privilégios nada poderemos fazer e tudo o que discutimos e estudamos é uma exata perda de tempo.
Qualquer verdade neste sentido produz o escândalo”, sugere-nos Marguerite Yourcenar. Superar os mistérios dos buracos negros, não no cosmos, mas dentro de nossas almas é, absolutamente, fundamental  e tudo é nulo quando não temos coragem de abrirmos mãos de nossos privilégios geradores das misérias para tantos. Fragmentamos e congelamos aquilo que deveria ser móvel, aquecido, vivo e dinâmico. Montamos hierarquias de poderes artificiais para nada, e o que é pior, nós não conseguimos enxergar isto. Competimos com o que deveríamos cooperar e cooperamos com o que deveríamos competir numa autêntica e absoluta inversão de valores. Vivemos uma necessidade crítica de mudança e tudo fazemos contra a natureza, enquanto deveríamos viver com ela.
Lembremos o modelo de mudança de paradigma introduzido por Thomas Kuhn: toda importante ideia nova parece estranha no início. Como disse o físico Niels Bohr, “grandes inovações, inevitavelmente, parecem desordenadas, confusas, incompletas, compreendidas apenas em partes, até mesmo por seus próprios descobridores e misteriosas para qualquer outra pessoa. Não há qualquer possibilidade de alguma especulação que não pareça absurda à primeira vista”. É preciso no mínimo cinquenta anos para que uma descoberta importante penetre na cabeça do público, o que, frente às necessidades dos tempos atuais, põe em risco e ameaça todo o futuro coletivo, incluindo aí o de cada um de nós.
Nossa ideia é a de criar novos paradigmas, apontando as falhas dos antigos, derrubando os velhos muros à procura de novas percepções melhor atuantes e mais abrangentes frente à complexidade dos problemas do mundo que precisamos resolver. Portanto, sejamos, acima de tudo, flexíveis, criativos, repletos de doçura e de humanidade. Um sistema rígido e frio – como o que aí temos acumulará tensões até que se rompa em algum ponto da estrutura, de modo súbito e até muito perigoso. A reorganização humana e social é como a manobra de um navio quando se atacavam os problemas, centrando-se a direção e a atenção no lugar errado. Pode se, por exemplo, dirigir uma grande organização com um poder sutil, uma perspectiva aberta, franca, que respeite o ser humano em sua integridade moral, o que constitui uma força vigorosa de empatia, sensibilidade, compreensão e afeto. E são, justamente, estes, os valores que faltam para que as organizações e a vida sejam o sucesso que esperamos e não mais fontes de dor, sofrimentos, desgraças, angústias, depressões a que teimamos a nos acostumar.
Para tanto, o poder dos novos paradigmas é uma perspectiva que politiza mesmo aqueles que não têm interesse na política convencional. Nele se sente que as necessidades compartilhadas têm mais chances de serem concluídas com sucesso do que uma ideologia apenas radical que não se explica ou se fundamenta por si mesma. Outra coisa nele importante é o poder do processo que é um ato de autonomia transformadora: passos dados no caminho da liberdade e da felicidade que levam a outros ganhos mais fáceis de conquistar, e, principalmente, manter e distribuir. Programas, cronogramas, estratagemas são menos importantes do que engajamentos, sentidos, metas, sentimentos, bondades, belezas, união e esperanças. O objetivo bem definido demais sempre foge de nós. A salvação é o esforço contínuo e não, a realização plena. Pois esta não existe. Devemos, pois, nos engajar em uma busca eterna. Entendendo que a alegria da viagem só está presente enquanto existe o movimento dela própria e sem sabermos quando, onde chegar, se seremos bem ou mal recepcionados, pois isto, definitivamente só interessa aos fracos, aos medíocres. São estas as incertezas que permitem a alegria dos traslados. Nós só viveremos se tivermos bem alimentados de suspense, de esperas e de surpresas que quebram a rotina mórbida, a bem da verdade, a única coisa que nos mata a cada respiração.
A importância do poder da incerteza é o oxigênio necessário como premissa de vida. O incerto inova, muda, transforma, arrisca com maior facilidade é isto é da mais absoluta utilidade se é que desejamos mesmo continuar vivos. É o envolvimento lúdico no empenho de uma nova visão. Nossa imaginação deve ser livre para cometer enganos. E por que não? É preferível arriscar-se e perder, do que não jogar. Dispor-se a reconhecer a incerteza é estar livre para aprender, errar, adaptar, inventar, criar e voltar ao bloco do rascunho sempre.
E tudo inclui no plano estratégico de tais lógicas o poder de prestar atenção, de descobrir o que dá certo e de enfrentar os conflitos, deixando-nos completamente despertos, buscando o autoconhecimento, o voltar-se para dentro, explorar a psiquê, proporcionando a mudança do poder de cada indivíduo dentro de um mesmo processo. Ter flexibilidade para a busca de soluções, neutralizando assim, os ataques frontais. Comunicação, crescimento, transmissão de novas ideias, contágio com visões, indagações, experiências, novas imagens, sendo, em si, muito mais eficaz do que a mera instrução. O poder deste  conjunto de elementos aglutina a força perdida pela ignorância. Acentua opções e talentos coletivos, recompensa a diversidade e sufoca o conformismo. Iremos reconhecer que dispomos de mais opções do que imaginávamos, podendo, finalmente, dizer não às sufocantes e inaceitáveis.
Deveremos, portanto, despertar para a influência dos conhecimentos, descobrindo, finalmente, que “não tem que ser assim”. A maioria das pessoas falha porque não desperta e não percebe que se encontra numa bifurcação da estada e tem que decidir. No dizer de Alexis de Tocqueville,  em sua Democracia na América: “já basta de linearidade, dentro de um círculo nós somos poderosos e livres”. Devemos, então, aposentar as hierarquias e dar vivas à liberdade, descentralizando ao máximo o poder e a ação para que os desejos se cumpram e os sorrisos concretos possam florir e frutificar. Somos todos iguais dentro deste confronto. Considerar que uns são mais e outros menos é não só, uma ignorância brutal mas um atraso descabido enquanto estamos vivos e respirando. Pois na grande primavera da vida, os galhos são, naturalmente, uns longos, uns curtos, uns tortos e outros retos. Alguns carregam flores, pesados frutos e outros, nada, sendo isto o que deixa a natureza inominavelmente bela.
A descentralização é que conduz o fluxo das novas ideias, imagens e energias para todas as partes. As concentrações são antinaturais e fatais como um coágulo de sangue ou um fio elétrico desencapado.  Devemos dar vazão à necessidade de ataques simultâneos a todas as frentes e em todas as partes de uma só vez. O salto para uma nova ordem é repentino: ou tudo ou nada. John Platt propôs o uso de estratégias naturais  para conduzir a transformação social e conquista-la como um troféu que é de todos e tem o nome de preservação da vida. Trabalhar com a mudança viva, a transformação do que aí está, aconselhou ele, e, devemos, para isto e encontrar o foco do poder. Descobrir o caminho mais fácil e sermos catalisadores. Não consumindo nossas energias com inimigos ou adversários. Dedicando-nos aos que estão amadurecidos para a persuasão. O principal objetivo de quem enxerga não é lutar contra a maioria, mas, mostrar-lhe como.
Para transformar, bebamos, enfim, na fonte da intuição coletiva, na orientação que vem de dentro, na criatividade, na empatia, no claro senso de uma justiça sempre maior e ao alcance de mais e mais pessoas, em lugar de formar opiniões pela pobre e limitada lógica exclusiva. Mudar optando, naturalmente, pela intuição criativa, de certa forma conflitante, e, ao mesmo tempo consensual, portanto, muito mais rica, fluida e repleta do que tanto necessitamos para continuar a viver. O que se junta à vocação pelo bem que a sociedade de consumo conseguiu destruir com um sorriso cínico nos lábios. Lutemos por uma espécie de senso coletivo de destino, algo muito além do sucesso material e da gratificação imediata. Esta é  a retirada para um novo ciclo, uma outra visão, pois, precisamos e devemos sempre evoluir. É a sábia e vigorosa filosofia de Teilhard de Chardin  como a última possibilidade de recuperar o poder que fora entregue ao inimigo desconhecido e que não pode ser tomado, mas, amorosamente, conquistado de volta. “Pois, na empreitada do viver com dignidade, nós somos ao mesmo tempo, jogadores, cartas e apostas. Nada poderá acontecer se abandonarmos a mesa. E, ao mesmo tempo, não há força que nos obrigue a permanecer”.

Citações & Referências:  
  •                                                                                                                                                   Thomas Kuhn – em sua filosofia  privilegiando aspectos sociológicos, psicológicos e históricos do conhecimento a ser colocado a serviço da vida (...) Evolução humanística e sócio-política (...) Ciência para resolver problemas dentro de um paradigmas ou unidade metodológica: racionalidade, ciência normal, pensamento mítico, racional, pré-ciência, descontinuidade e mudança.     
  •  Beatrice Bruteau – pesquisadora da ecologia humana profunda  que em seu falbuloso          “Nós somos a revolução” faz, especialmente, um apelo para que sejamos capazes de entender e processar a mudança, não apenas esperando, passivamente (... ) E sugere que para isto devamos  sair do pensamento simples para o complexo, do linear para o cíclico, do padrão para o personalístico.
  • ·         Bernard Levin – no The Time de Londres afirma-nos que  devemos mudar (...) Segundo ele,  a forma como temos feito funcionar o mundo não serve mais e falando do desespero silencioso entre a posse material e a riqueza da alma e a saída possível é preencher este vazio com  atitudes de carinho, compreensão, amor, bondade e empatia fazendo o bem para todos e com todos.
  • ·         Teilhard de Chardin – em seu “O fenômeno humano” define a complexa humanidade em termos de razões, sentimentos e ações, no sentido de se congregar esperanças para uma vida futura (...)  O religioso francês difundia  o que, nos nossos dias chamaríamos de sustentabilidade dentro de uma visão bem mais profunda, inserindo o contexto do amor, da pureza e da bondade, ícones de suas obras e estudos que deixou publicados (...) De conformidade com os preceitos de Chardin o futuro está nas mãos dos que podem oferecer às gerações vindouras razões válidas de  esperanças (...) Depois de tudo que sofremos e sangramos enquanto vivemos vem um “sim” indefinido para continuarmos. E é deste “sim” que depende o futuro do mundo que nos leva ao inusitado que nos amadurece e nos transforma (...) Teilhard de Chardin, em seu O espírito da terra, nos conclama para  o alcance do que chamou de “ponto ômega” – “nada no mundo pode resistir ao fervor do espírito coletivo” (...)  S mente fica ofuscada quando emerge da sua sombria prisão  e talvez seja este o grande problema, o de saber submergir a este momento de escuridão e insegurança frente o novo que avança ao nosso encontro.
  • ·         Teodore Roszak – trabalha com a física da existência e nela devemos aprender a valorizar nossas dores e sofrimentos mais íntimos, mais internos (...) Nossas cicatrizes são preciosidades que ensinam o que devemos aprender. E uma vez apreendido, ter as chances e a coragem de reconduzir, transformar, mudar o que for preciso: todos temos esta segunda chance, pena que poucos de nós a aproveitamos.
  • ·          Marshall McLuhan – fala-nos  implosão da informação fazendo do mundo uma aldeia global segundo a qual a comunicação não deve ser somente ampla, mas também profunda é ponto fundamental para mantermos, a partir de agora nossos contatos, relações, trocas, querências pessoais e amorosas (...) Fixa assim o processo que traduzimos como comunicação tridimensional, efetivando, assim as relações de trocas entre as pessoas e o seu meio (...) Divulga os processos e importância da intercomplementaridade entre o verbal, o não-verbal e o factual, sem os quais a comunicação inexiste .
  • ·          Carl Roggers – nos ensina que “as pessoas estão se mostrando realmente abertas, expressando o que sentem e sem medo de serem julgadas. Somente aquilo que sentimos muito profundamente pode nos modificar”(...) Busca assim integrar aos processos de mudança os processos cerebrais do sentir, do saber e do fazer, complementando de forma múltipla e integrada os processos da comunicação anteriormente citados.
  • ·         Aldouxs Huxley – se mostra profundamente otimista quanto à multidão dos homens existentes à margem da sociedade, o que foi considerado como uma heresia (...) Mas não nos esqueçamos que foi com esta premissa que ele veio  apoiar Bertalanfy, na Teoria Geral dos Sistemas, tão aplaudida atualmente, e,  segundo a qual, “nada pode ser considerado isolado, pois tudo faz parte de um sistema”, daí a sua importância pela função de incluir a todos, sem quaisquer fronteiras, e, isto é grandioso.
  • ·          Lowis Pauwels e Jaques Bergerem  O despertar  dos mágicos(...) descreveram uma rebelião aberta de indivíduos inteligentes, transformados por suas descobertas anteriores, mesmo as de vivências de misérias, dores, erros e sofrimentos, que são ingredientes fundamentais para medidas grandiosas de transformações realmente válidas para a vida. 
  •         J. B. Priestley –  Fala-nos da grande importância da ciência genuína (...) “Não a ciência das escolas, as filosofias simplificadas, as  religiões das igrejas, mas a dimensão espiritual e mística que transcende hábitos e políticas”(...) Segundo o seu pensamento, a ciência e a tecnologia devem ser revolucionárias, transformando-se em relações metafísicas desprendidas dos preceitos e preconceitos econômicos e sociais, não esquecendo a ideologia, mas, pelo contrário, aprofundando ao máximo o seu entendimento na teoria, na prática e na práxis devidamente relativizada.
  •          Ruth Ananda – “se referiu a uma nova consciência que poderia levar a humanidade para muito além do medo e do isolamento, incluindo o conceito de auto realização de Abranham Maslow”(...) Pessoas engajadas em outros estados de consciência se tornam mais abertas,  menos egocêntricas e mais responsáveis com os destinos do mundo e da vida em seu sentido mais amplo e glorioso difundido dentro da boa ciência e da mística.          John Holt – Educador que clama por um ser humano radicalmente novo (...) Necessitando, portanto, de uma revolução de consciência. A liberdade canta não só dentro de nós, como também em nosso exterior, bastam, portanto, dois saberes: o de ouvir e o de buscar.
  •          Alfredo Korzybski – ressaltou a linguagem com outro aspecto de consciência que modela o pensamento (...) Os princípios da semântica geral com as palavras cria em nossas mentes imaturas grandes vazios e por isso mesmo, podemos confundir a realidade e criar falsas certezas. Isolamos as coisas que só podem existir com continuidade, deixamos de perceber o processo, a mudança, o movimento (...) E tudo é fruto de uma ideologia animalesca, fundada nas concepções de um capitalismo, ou mesmo de um socialismo gritantemente atrasados e que se formatam nos princípios da profunda desigualdade, da miséria para muitos e da opulência, não só material para poucos.
  • ·          Abrham Maslow – nos dizia que “temos medo  de nossas potencialidades superiores. O medo de saber é o medo de saber, pois o conhecimento sempre agrega responsabilidades” (...) E aprendemos a sucumbir e rejeitar nossa pirâmide de valores, necessidades e interesses a despeito dos condicionamentos sofridos pelas classes sociais, notadamente, as materialmente submissas e dependentes.
  • ·         Mahatma Gandhy –  esclarece que a mudança concreta só pode ser implementada em nível de pessoa, de conversas de vizinhos, de pequenos grupos, em aldeias longínquas, entre árvores e bichos. E, para tanto é preciso saber aproveitar as instâncias, locais e momentos propícios à criatividade lúdica (...) Mudar e transformar é sair das hierarquias agonizantes para entrar e se integrar a redes cheias de vida (...) Se quisermos, por exemplo, mudar a burocracia, a primeira coisa a fazer é mudar os tecnocratas, um por um, chegando a todos (...)  A mudança, a transformação social não virá tão rápida como gostaríamos. Formar uma comunidade em transformação é um processo tão sutil quanto longo e delicado.
  • ·     Marguerite YourcenarQualquer verdade neste sentido produz o escândalo”(...)sugere-nos na definição do ápice político em Memórias de Adriano, mostrando o que egos beligerantes, fantasias e vaidades interferem não só miticamente na prática cotidiana(...) Privilegia-se assim os processos tradicionais (...) Inibir quaisquer transformações é o ponto de partida para o caos (....) ainda que de forma inconsciente e por meio das máscaras humanas e das carrancas que todos usamos.
  • ·      Niels Bohr – esclarece qie “grandes inovações, inevitavelmente, parecem desordenadas, confusas, incompletas, compreendidas apenas em partes, até mesmo por seus próprios descobridores e misteriosas para qualquer outra pessoa. Não há qualquer possibilidade de alguma especulação que não pareça absurda à primeira vista”(...) É preciso no mínimo cinquenta anos para que uma descoberta importante penetre na cabeça do público, o que, frente às necessidades dos tempos atuais, põe em risco e ameaça todo o futuro coletivo, incluindo aí o de cada um de nós.
  • ·         John Platt –  propôs o uso de estratégias naturais  para conduzir a transformação social e conquista-la como um troféu que é de todos e tem o nome de preservação da vida. Trabalhar com a mudança viva, a transformação do que aí está, aconselhou ele e devemos, para isto e encontrar o foco do poder (...) Devemos, portanto,  descobrir o caminho mais fácil e sermos catalisadores (...) Não consumindo nossas energias com inimigos ou adversários. Dedicando-nos aos que estão amadurecidos para a persuasão. O principal objetivo de quem enxerga não é lutar contra a maioria, mas, mostrar-lhe como.
  • ·          Erich Fromm – foca, a partir da psicologia transpessoal o que prescindimos em termos de aspectos e valores para que a solidariedade humana,  a condição essencial para a expansão de qualquer indivíduo se faça presente em todos os processos decisivos sobre nossas ações em todos os campos da vida (...) O que depende de trocas, de relações pessoas fundadas no querer bem entre elas – sem tal amorização tudo parecerá impossível  ou será, no mínimo, muito mais difícil.
  • ·         Alexis de Tocqueville – nos dois maravilhosos volumes de “A democracia na América”, afirma, categoricamente, que “já basta de linearidade, dentro de um círculo nós somos poderosos e livres”. Devemos, então, aposentar as hierarquias e dar vivas à liberdade, descentralizando ao máximo o poder e a ação para que os desejos se cumpram e os sorrisos concretos possam florir e frutificar (...) Afirma ainda que no grande processo de mudança que é, justamente, implementar processos democráticos na construção de toda uma política americana, partindo do nada para toda uma construção teórica e prática; gerando transformações, precisamos, sim, de redes, vivas e lúcidas, construídas por todos, eternizando as primaveras do mundo.
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