sábado, 28 de fevereiro de 2009

A METAFÍSICA DA MORTE - Antonio da Costa Neto


"Pior que a morte é desviver."
(Fátima Guedes)


A morte sempre foi em nossa cultura e quase todas as demais um monstro, uma coisa de fato, horrível; o fruto do maior do medo, do frio, do escuro, do silêncio mórbido que causa os mais profundos arrepios. É o maior dos terrores: tudo, menos a morte, infelizmente, adiável, mas inevitável a cada um de nós.Todos - ou quase todos - o que mais temos é o medo de morrer. Nascemos e morremos. E pior ainda, já nascemos morrendo, o que é motivo de tristeza e sofrimento para muita gente. Sabemos de sua fenomenologia: um dia alguém vai morrer. Mas para o nosso sossego, a vida continua, dando-nos a ilusão de sermos imortais, o que, em última análise mantêm-nos vivos. Restando-nos a "certeza" de que não será agora, que ainda irá demorar anos e anos. E assim, sempre.
O medo de morrer, o pavor da primeira noite na sepultura, para onde iremos, inevitavelmente e por toda uma eternidade. Restando aí a tão medonha sensação dos crematórios. São, talvez, os maiores horrores e temores que a humanidade enfrenta e que a eterna evolução da tecnologia jamais irá resolver. Mesmo que se fale em clones, em elixir da vida eterna, nas belezas do pós-túmulo. Nada alivia esta dor, este sofrimento, este medo. Assim, a própria inexistência de solução - pois inevitavelmente todos morreremos - já mostra que isso não constitui um problema. A sábia energia do universo já deu prova de que todos estes têm solução. Se não tem solução, como é o caso, é porque não é problema e pronto.
Na verdade, o que aí constitui o mal é a nossa infinita ignorância. A humanidade continua muito burra, muito boba, coitadinha. E este brutal e infantil medo da morte é uma das provas mais evidentes da nossa pequenez e insignificância frente a grandiosidade do universo e do mundo. Nossa visão arraigada na matéria, numa sociedade de consumo profundamente atrasada - especialmente a nossa, que se fundamenta no mais rudimentar dos modelos capitalistas - e que se esqueceu de evoluir, há milênios. Uma legião de pessoas que dorme o sono pesado, intranquilo da dinâmica do produto e não, do processo. Do ter que ter à revelia de tudo mais, que passa a vida desvivendo e que, de repente, morre sem saber.
Ficamos e permanecemos assim, verdadeiros escravos do poder e do dinheiro. E o desligar da matéria, o ter que morrer, que abandonar este envólucro carnal que tanto nos encomoda: engorda, envelhece, fica doente, feio, gasta-se tanto com ele, transparece-nos como a maior das tristezas, insuportável para muitos. Que, talvez, mandá-lo embora possa ser um prêmio, uma maravilha sem precendentes. Por que nunca paramos para pensar nisso?
A bem da filosófica verdade, morrer é um grande prêmio, uma bênção a qualquer tempo. Morremos de medo de morrer porque somos uns patetas, um bobos, teleguiados por quem precisa de nossas vidas para nos explorar mais e mais a cada dia. Na minha terra existe um dito popular, uma brincadeira,que acaba sendo uma sábia afirmação pra valer. Dizem-se assim: "Morrer deve ser muito bom. Você já viu alguém que morre voltar para cá? - Então, deve ser bom demais ir para o lado de lá..."
Há apenas um mal em tudo isso: a morte, assim como tudo na vida deve acompanhar um processo natural. Morre-se quando se tem que morrer e pronto. Na velhice, na juventude, na infância. Por doença, um grave acidente, ou apenas e simplesmente, morrer por morrer e acabou. Enfim, tudo é vida e motivo de festa. O ter que morrer significa que fomos escolhidos para nascer um dia. Fomos e somos tão importantes que coube-nos uma missão única e especial e se morremos é porque a cumprimos.
Mas, contudo, a morte deve vir naturalmente como vem o dia depois da noite, a fome depois de horas sem comer, o cansaço depois do trabalho árduo, o gozo depois do bom sexo e assim por diante. Apenas ela não pode ser provocada, buscada, convidada antes da hora.
Nem pensar em suicídios, penas de morte, abortos, eutanázias e o que o valham. Se a pessoa está em coma há anos e vive vegetativamente, é porque tem que ser assim. Faz parte dos designos do universo. Ela já se acomodou, já se encontra confortável no seu canto, cumprindo sua missão, passiva, mas aos nossos olhos de pequenez inexplicável. Se está consciente, ela pensa e o seu pensamento é uma energia rarefeita orientada pelas trilhas da sabedoria maior que sabe muito bem, precisa dela e por isso mesmo, a constituiu desta forma. Aparentemente sofrível, mas pode,no seu âmago ser o maior dos prazeres. E quem somos nós para distinguirmos uma coisa da outra?
Se a pessoa antes deste estado pedia a eutanázia, como geralmente o alegam seus parentes e responsáveis - que na verdade o que querem, consciente ou inconscientemente é se verem livres do trambolho que carregam. Com certeza a esta altura ela já mudou de opinião e pediria para que não a matassem. É como nós quando vivemos certas experiências novas que se fazem acompanhar de uma força, uma nova adrenalina que nos alivia a dor que nos é dada. Sendo, portanto, um processo natural toda morte é um grande prêmio e tem que vir quando tiver que vir, de forma autônoma, natural e livre, como uma brisa, um sonho bom, uma primavera enluarada.
Uma enorme felicidade. Morrer, mesmo fazendo uma comparação materialista baixíssima, é como, por exemplo, conseguir-se um ótimo emprego para quem está sequioso por ele. Passar num ótimo concurso, ganhar na loteria, fazer um ótimo casamento. Enfim, morrer é também uma felicidade.
Mas o ediondo mundo capitalista não nos permite pensar e nem agir assim. Pois, colocaríamos em planos distintos as matérias, os produtos, os bens tocáveis, tangíveis e mensuráveis, traduzindo-se em dinheiro, em bens, em poder. Estas coisas pobres e miseráveis em torno das quais, já no terceiro milênio de evolução da humanidade, as instituições, as escolas, as crenças. as culturas, os governos, as famílias, enfim, a vida, ainda sub-existem em função delas.
Não devemos nos entristecer quando alguém nosso morre. Ao contrário, como orgulhosamente viviam muitas e muitas das comunidades milenares, morte é festa. É um grande motivo de alegria. Entristecemo-nos com a morte do outro porque somos fracos e covardes. Porque aquela pessoa vai-nos fazer falta. Não vai mais nos amar, lavar nossas roupas, cozinhar para nós, nos fazer companhia, dar-nos conselhos. Rir, dançar, cantar conosco. Ficamos tristes porque somos sádicos e egoístas. Pensamos em nós que não merecemos ainda o presente belíssimo da morte: um ramalhete de Deus. E este, só o entrega aos seres especiais, lindos, completos, iluminados, prontos e que merecem este presente. E, com ele, serem felizes sorrindo supremamente e por toda uma eternidade universal e divina.
Resta-nos esperar. E fazer tudo para que o presente venha quando for o seu tempo certo. Que seja belo e delicado assim como as ações que desempenhamos enquanto ficamos por aqui: "gemendo e chorando neste vale de lágrimas". As pessoas morrem como vivem. E devemos fazer de tudo para morrermos como tenhamos vivido: belamente, fortemente, impetuosamente... Como os animais, por exemplo, que geralmente morrem sadios, dormindo e sonhando com bondades e delícias. Sentindo os aromas magníficos da energia do mundo e da vida, da qual a morte é parte importantíssima, inseperável e fundamental para co-existam. Nascemos e vivemos para morrer. E morrer bem significa o cumprimento do que viemos fazer aqui. Alegemo-nos, pois. Afinal, a morte existe.


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

PASSAGEM DAS HORAS - ÁLVARO DE CAMPOS (Pseudônimo de Fernando Pessoa)


Não sei sentir, não sei ser humano,

não sei conviver de dentro da alma triste,

com os homens,

meus irmãos na terra.

Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido.

Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo.

Mas tudo ou sobrou ou foi pouco,

não sei qual, e eu sofri.

Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos.

E fiquei triste como se tivesse

querido vivê-los e não conseguisse.

Amei e odiei como toda gente.

Mas para toda gente isso foi normal e instintivo.

Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.

Não sei se sinto demais ou de menos.

Seja como for, a vida, de tão interessante que é a todos os momentos,

a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,

a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,

de sair para fora de todas as casas,

de todas as lógicas, de todas as sacadas

e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A ECONOMIA DO AMOR DA MUSA FUTURISTA HAZEL HENDERSON


A economia do amor Musa dos movimentos sociais, a futurista Hazel Henderson defende a inclusão dos critérios de qualidade de vida para calcular a riqueza das nações.

Com fala mansa e língua ferina, a ativista e consultora inglesa Hazel Henderson não tem formação acadêmica, mas é doutora honoris causa em economia pelas universidades de Tóquio, San Francisco e Massachusetts. Naturalizada americana, Hazel prega uma globalização mais igualitária e humanista e viaja o mundo em defesa da inclusão de critérios sociais nos índices que revelam a saúde econômica das nações. Presença garantida nos fóruns sociais, ela foi uma das musas inspiradoras das esquerdas. Hazel aposta na diplomacia brasileira para liderar um movimento contrário à hegemonia americana, com enfoque na qualidade de vida e na preservação da natureza. Seu modelo econômico contabiliza o espantoso crescimento de paraísos fiscais como as Ilhas Cayman, que em 1998 sediavam 200 mil empresas e hoje abrigam 1,5 milhão. Na base desse bolo estaria a economia informal e a exploração dos recursos naturais, que ela batizou de economia do amor. Hazel veio ao Brasil para divulgar a Conferência Internacional dos Indicadores de Sustentabilidade e Qualidade de Vida, que acontece s este mês, em Curitiba.

ISTOÉ – Quais são os princípios da economia do amor?

Hazel Henderson – É como se fosse um bolo com várias camadas. Nas superiores estão a economia de mercado oficial, as transações em dinheiro e os investimentos privados. Depois vem o setor público. No recheio está a evasão fiscal. O que chamo de economia do amor é a metade produtiva do bolo. É todo o trabalho não remunerado dos colaboradores, das mulheres que cuidam dos filhos, dos idosos, dos serviços domésticos, dos voluntários e da agricultura de subsistência. Em 1995, a Organização das Nações Unidas (ONU) avaliou que essa economia representava US$ 16 trilhões. Desses, US$ 11 trilhões seriam gerados por mulheres e US$ 5 trilhões por homens.

Hazel – Todo o bolo está sustentado na mãe natureza. A moeda não é dinheiro. O valor está na absorção dos custos da poluição, na reciclagem e no tratamento dos efluentes tóxicos, nas toneladas de lixo espacial ao redor da Terra, na inclusão social, no investimento em saúde e em educação. Até mesmo o Banco Mundial concorda que o investimento em educação não deveria competir no orçamento com gastos como a construção de estradas. É um investimento que leva 20 anos para se pagar.

ISTOÉ – Como transformar os recursos naturais em riqueza?

Hazel – Antes é preciso olhar o cenário global. Os Estados Unidos estão perdendo credibilidade. Nesse contexto de falta de liderança, de repente o Brasil se torna um líder do grupo de 21, que já são 23, ou 24 países. Pelos critérios que usamos para avaliar uma economia saudável, o Brasil é o país mais rico do mundo, com toda sua biodiversidade. Nossos indicadores não consideram só o PIB. Usamos 12 aspectos para medir a qualidade de vida de um país: educação, emprego, energia, meio ambiente, saúde, direitos humanos, receita e sua distribuição, infra-estrutura, segurança nacional, segurança pública, lazer e moradia.

ISTOÉ – Qual o papel do meio ambiente nesse cenário?

Hazel – Este é o século das nações em desenvolvimento. Há um ano, todo mundo imaginava que seria a hora da hegemonia americana. Apesar do poderio militar, o século americano foi curto. O ponto fraco foi a economia. Vivemos hoje no mundo da informação, do conhecimento e da ecologia. Estamos redefinindo o progresso, numa direção sustentável, o que significa incluir no preço dos produtos o custo social e ambiental. Se deixarmos o mercado financeiro continuar como está, será como determinar a destruição mais acelerada dos recursos naturais. Este é o velho modelo, em que as empresas estão hipnotizadas pela idéia da lucratividade. Dinheiro não é riqueza. Não há como separar economia de ecologia. O mundo mudou e a economia tradicional precisa mudar. Não é à toa que o Prêmio Nobel de Economia de 2002, para Daniel Kahneman, foi sobre a psicologia dos mercados.

ISTOÉ – Por que instituições como o Banco Mundial estão interessadas em mapear as reservas de água do planeta?

Hazel – Elas querem transformar recursos naturais em dinheiro. Não pensam no retorno de longo prazo. No desenvolvimento sustentável, não se aumenta a lucratividade a cada trimestre, como querem os acionistas. Estamos redefinindo o progresso, numa direção sustentável que considera o progresso econômico de pequenas comunidades e a ecologia. Muita gente investe em fundos de empresas que respeitam o meio ambiente.

ISTOÉ – Por que a sra. é chamada de acupunturista da economia?

Hazel – Nossos avós não tinham noção de que os recursos naturais eram finitos. Se continuarmos no atual modelo econômico, precisaremos de dois, ou mesmo de três, planetas para suprir nossas necessidades. A economia insustentável não apenas destrói o ambiente, mas perde dinheiro. No Brasil, a nova administração compreende essas questões. Meu papel é agir nesses locais. É como se eu tivesse uma agulha de acupuntura para fazer pequenas contribuições úteis ao conjunto que é o planeta.

ISTOÉ – Como as mulheres se inserem nesse tipo de sociedade?

Hazel – Espero que mais e mais rapidamente as mulheres entrem no mercado de trabalho e na política. Nos Estados Unidos, as empresas gerenciadas por mulheres já empregam um terço da força de trabalho do país. Nos próximos anos, as mulheres serão as donas das empresas privadas.

ISTOÉ – Qual a diferença entre a administração feminina e a masculina?

Hazel – As mulheres têm motivações diferentes ao começar suas empresas. Elas querem ser independentes e ajudar sua comunidade. A outra motivação é que muitos negócios começaram em suas próprias casas, o que facilita tomar conta dos filhos. Muito abaixo na lista estão as mulheres que querem ficar muito ricas ou ter poder. As mulheres estão criando alimentos orgânicos e abrindo lojas de produtos saudáveis. Elas estão muito mais envolvidas com a ecologia.

ISTOÉ – Como é possível sobreviver no mundo competitivo de hoje?

Hazel – O próprio Charles Darwin fala em altruísmo, cooperação e como isso, e não a competição levou à evolução das espécies. Os cientistas descobriram que um hormônio nos capacita a formar grupos para nos proteger. Não nos surpreende que as mulheres, e em particular as mães, precisem desse hormônio para se unir aos filhos. O importante é notar que o modelo econômico atual, chamado de racional pelos teóricos, maximiza os interesses individuais. Por incrível que pareça, o mundo que se preocupa em compartilhar e com o trabalho cooperativo é chamado de irracional. Só que é esse modelo que vai garantir a evolução da nossa espécie.
ENTREVISTA DA REDE BBC/BRASIL - Por: Darlene Menconi

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O DIREITO AO FODA-SE!


Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. "Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.

A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende? No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso: "Nem fodendo!". O "Não, não e não''! E tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade ''Não, absolutamente não!'' O substituem.

O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações nde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porranenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone","chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça. E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do ''foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.". Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao ''foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e FODA-SE.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O GRANDE ENÍGMA DOS HOMENS - Osho


"...Duas coisas que jamais consgui ver
na vida:
- uma criança burra;
- ou um adulto inteligente.
Eis o grande enígma: alguma coisa
está muito errada no meio do caminho.

E só pode ser a escola. Com sua frieza,
sua desumanidade, mesquinhez gratuita
e o seu quinhão infinito de injustiças.

Deformando homens e mulheres
para que se explorem mutuamente.
Tornem-se insensíveis, vis e egoístas.

A escola, tal como a temos é o grande erro da humanidade
em todas as fases da sua história.
Em todos os lugares sociais que ocupou."


(Osho)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

VIAGEM - Interpretada por Marisa Gata Mansa


Viagem

(1973)

(Música e letra: João de Aquino e Paulo César Pinheiro
Interpretação:

Marisa Gata Mansa)


Oh, tristeza me desculpe,
Estou de malas prontas,
Hoje a poesia veio ao meu encontro,
Já raiou o dia, vamos viajar !


Vamos indo de carona,
Na garupa leve do vento macio,
Que vem caminhando,
Desde muito longe, lá do fim do mar,
Vamos visitar a estrela da manhã raiada,
Que pensei, perdida pela madrugada,
Mas que vai escondida,
Querendo brincar.


Senta nessa nuvem clara,
Minha poesia, anda, se prepara,
Traz uma cantiga,
Vamos espalhando música no ar.


Olha quantas aves brancas,
Minha poesia, dançam nossa valsa,
Pelo céu, que o dia,
Fez todo bordado de raios de sol,

Oh, poesia, me ajude.
Vou colher avencas,
Lírios, rosas, dálias,
Pelos campos verdes,
Que você batiza,
De Jardins do Céu.

Mas, pode ficar tranqüila,
Minha Poesia,Pois nós voltaremos,
Numa Estrela-Guia,
Num Clarão de Lua,
Quando serenar...

Ou, talvez até, quem sabe ?
Nos só voltaremos,
Num cavalo baio,
No Alazão da Noite,
Cujo nome é Raio
- Raio de Luar. !!!



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

PROFUNDAMENTE - de Manoel Bandeira






Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.


No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balõesPassavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.


Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Quando eu tinha seis anos

Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.



(Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pág. 81.)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

ANTIGUIDADES - de Cora Coralina


Quando eu era menina
bem pequena,
em nossa casa,
certos dias da semana
se fazia um bolo,
assado na panela
com um testo de borralho em cima.

Era um bolo econômico,
como tudo, antigamente.
Pesado, grosso, pastoso.
(Por sinal que muito ruim.)

Eu era menina em crescimento.
Gulosa,
abria os olhos para aquele bolo
que me parecia tão bom
e tão gostoso.

A gente mandona lá de casa
cortava aquele bolo
com importância.
Com atenção. Seriamente.
Eu presente.
Com vontade de comer o bolo todo.
Era só olhos e boca e desejo
daquele bolo inteiro.
Minha irmã mais velha
governava.

Regrava.
Me dava uma fatia,
tão fina, tão delgada ...
E fatias iguais às outras manas.
E que ninguém pedisse mais!
E o bolo inteiro,
quase intangível,
se guardava bem guardado,
com cuidado,
num armário alto, fechado,
impossível.

Era aquilo, uma coisa de respeito
Não pra ser comido
assim, sem mais nem menos.
Destinava-se às visitas da noite,
certas ou imprevistas.
Detestadas da meninada.

Criança, no meu tempo de criança,
não valia mesmo nada.
A gente grande da casa,
usava e abusava
de pretensos direitos
de educação.

Por dá-cá-aquela-palha
ralhos e beliscão.
Palmatória e chineladas
não faltavam.
Quando não,
sentada no canto de castigo
fazendo trancinhas
amarrando abrolhos.
"Tomando propósito".
Expressão muito corrente e pedagógica.

Aquela gente antiga,
passadiça, era assim:
severa, ralhadeira.
Não poupava as crianças.
— Valha-me Deus!...
As visitas ...
Como eram queridas,
recebidas, estimadas,
conceituadas, agradadas!

Era gente superenjoada.
Solene, empertigada.
De velhas conversas
que davam sono.
Antigüidades ...

Até os nomes, que não se percam:
Dona Aninha com Seu Quinquim.
Dona Milécia, sempre às voltas
com receitas de bolo, assuntos
de licores e pudins.
D. Benedita com sua filha Lili.
D. Benedita-alta, magrinha.
Lili-baixota, gordinha.
Puxava de uma perna e fazia croché.
E, diziam dela línguas viperinas:
"— Lili, é a bengala de D. Benedita".
Mestra Quina, D. Luisalves,
Saninha de Bili, Sá Mônica.
Gente do Cônego Padre Pio.

D. Joaquina Amâncio ...
Dessa então me lembro bem.
Era amiga do peito de minha bisavó.
Aparecia em nossa casa
quando o relógio dos frades
tinha já marcado 9 horas
e a corneta do quartel, tocado silêncio.
E só se ia quando o galo cantava.

O pessoal da casa,
como era de bom-tom,
se revezava fazendo sala.
Rendidos de sono, davam o fora.
No fim, só ficava mesmo, firme,
minha bisavó.

D. Joaquina era uma velha
grossa, rombuda, aparatosa.
Esquisita.
Demorona.
Cega de um olho.
Gostava de flores e de vestido novo.
Tinha seu dinheiro contado.
Grossas contas de ouro
no pescoço.

Anéis pelos dedos.
Bichas nas orelhas.
Pitava na palha.
Cheirava rapé.
E era de Paracatu.

O sobrinho que a acompanhava,
enquanto a tia conversava
contando "causos" infindáveis,
dormia estirado
no banco da varanda.
Eu fazia força de ficar acordada
esperando a descida certa
do bolo
encerrado no armário alto.
E quando este aparecia,
vencida pelo sono já dormia.
E sonhava com o imenso armário
cheio de grandes bolos
ao meu alcance.

De manhã cedo
quando acordava,
estremunhada,
com a boca amarga,
-ai de mim-
via com tristeza,
sobre a mesa:
xícaras sujas de café,
pontas queimadas de cigarro.
O prato vazio, onde esteve o bolo,
e um cheiro enjoado de rapé.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

OS NADAS - de Manoel de Barros


No descomeço era o verbo.

Só depois é que veio o delírio do verbo.

O delírio do verbo estava no começo, lá,

Onde a criança diz: eu escuto a cor dos passarinhos.

A criança não sabe que o verbo escutar não

Funciona para cor, mas para som.

Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.

E pois.

Em poesia que é voz de poeta, que é a voz

e fazer nascimentos

-O verbo tem que pegar delírio.

_____________


Depois de ter entrado para rã,

para árvore, para pedra- meu avô começou a dar germínios

Queria ter filhos com uma árvore.

Sonhava de pegar um casal de lobisomem para ir vender na cidade.

Meu avô ampliava a solidão.

No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos doquintal:

Meus filhos, o dia já envelheceu, entrem pradentro.

Um lagarto atravessou meu olho e entrou para o mato.

Se diz que o lagarto entrou nas folhas, que folhou.

Aí a nossa mãe deu entidade pessoal ao dia.

Ela deu ser ao dia,

e Ele envelheceu como um homem envelhece.

Talvez fosse a maneira

Que a mãe encontrou para aumentar

as pessoas daquele lugarque era lacuna de gente.

________________


Por viver muitos anos dentro do mato

Moda ave

O menino pegouum olhar de pássaro

-Contraiu visão fontana.

Por forma que ele enxergavaas coisas

Por igualcomo os pássaros enxergam.

As coisas todas inominadas.

Água não era ainda a palavra água.

Pedra não era ainda a palavra pedra.

E tal.

As palavras eram livres de gramáticas

ePodiam ficar em qualquer posição.

Por forma que o menino podia inaugurar.

Podia dar as pedras costumes de flor.

Podia dar ao canto formato de sol.

E, se quisesse caber em um abelha,

era só abrir a palavra abelha e entrar dentro dela.

Como se fosse infância da língua.

POEMA EM LINHA RETA - Fernando Pessoa


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras,
pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo,
nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!

Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

CÂNTICO NEGRO - José Régio


"Vem por aqui"
— dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por ondeMe levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

GESTÃO MUNICIPAL/ NOVAS ARQUITETURAS PARA A ADMINISTRAÇÃO DE PREFEITURAS





O nosso sistema político necessita de ser transformado, e não, apenas reformado. Nós precisamos de algo mais, e não somente de algo a mais. Somos todos convocados a inventar, descobrir, criar, elaborar, aprimorar novas alternativas e desvendar outras fórmulas para caminhos verdadeiros, autênticos e justos para todos os seres vivos sobre o planeta Terra.Prescindimos de uma nova política do país, do Estado e, principalmente, do Município, do corpo, da mente e da sociedade. Nossa qualidade de vida dependerá daqui pra frente do poder para o povo: um a um.”
(Marilyn Ferguson)


I - APRESENTAÇÃO

  • Entendendo que a Administração Pública Municipal tem perdido sólidas chances de realizar um trabalho de altíssima qualidade em termos de conquista da melhoria da qualidade de vida das comunidades por elas servidas, tanto em termos de serviços de infra-estrutura social, como nos processos de gestão da coisa pública propriamente dita é que resolvemos desenvolver o presente programa, tendo como laboratório de trabalho a atual gestão municipal dos diversos municípios brasileiros. Buscando assim personalizar a metodologia do trabalho a ser realizado, considerando-se os seguintes aspectos básicos:
    As proporções físicas, geográficas e populacional, seus problemas básicos, complementares e as perspectivas de soluções de cada um deles em termos da dinâmica geral da própria gestão: individual, social, política, ética, cultural, econômico-produtiva, infra-estrutural e ecológica.
    A existência e o nível de consciência crítica e vontade política de seus agentes, o que, em última análise, o presente programa quer vir facilitar e implementar.
    Necessidade de operacionalização de uma nova proposta de ação administrativa frente à problemática que tem sido demonstrada pela gestão pública das cidades de maneira geral, não por responsabilidades pessoais definidas, mas por uma abordagem que requer melhorias e atualizações, podendo se transformar a presente proposta em um modelo de gestão para todo o País, e ser conduzida para congressos e eventos congêneres, e, por fim, objeto de publicações, pesquisas e mídia nacional e até internacional. A pouca evolução em termos da tecnologia da administração municipal dentro da realidade específica da grande maioria de nossas Prefeituras Municipais, sendo necessário a aprendizagem de novas concepções metodológicas de planejamento, ação com vistas ao atendimento dos objetivos e metas do atual processo de gestão municipal no Brasil como um todo. Implementar novos pressupostos de ação orçamentária frente aos rigores da atual crise econômica, tendo em vista a otimização de propostas, atividades e modelos de Gestão Pública Municipal, com vistas a solucionar também este tipo de problemática em nossas gestões públicas municipais.
    Optar por uma nova abordagem (ou paradigma, como preferimos denominar) de Gestão Pública Municipal mais solidariamente responsável e voltada para o atendimento das necessidades e problemas relativos à melhoria da qualidade de vida humana em sociedade no cômputo da administração pública municipal específica com a qual se trabalha.
    Um dos grandes problemas que o País atravessa é justamente causado pela falta de seriedade, de assertividade e de atualização dentro dos processos de administração da coisa pública, o que ainda mais se intensifica no caso da gestão municipal, onde, de fato, a realidade humana e social acontecem. Pois, em termos vivenciais e cotidianos o Estado, e mesmo, a Nação são apenas abstrações da visão teórica das ciências políticas e dos processos de legislação e exercício dos poderes políticos nas diversas áreas e esferas.Analisando mais friamente, fica claro que o que existe de fato, é, apenas e simplesmente, a cidade, o município e suas dimensões físicas concretas, para onde deveriam ser concentrados os poderes e recursos que pudessem favorecer à melhoria contínua da qualidade de vida das pessoas de uma maneira geral, em se considerando as áreas e atividades-meio-e-fim da ação governamental. Sociedade não existe. O que existe é a pessoa com suas conjunturas, aspectos, necessidades e carências. Assim, o que é o Estado, senão uma estrutura administrativa e burocrática? A cidade sim, esta existe, com limites sólidos e demarcados, com necessidades e carências físicas, reais.
    Afinal, quais são de fato as áreas de ação humana e social de responsabilidade do governo, e, mais especificamente ainda do Governo Municipal? O paradigma desta tipologia de gestão está de fato definido?
    Este é um referencial teórico-prático que direcione ações, políticas e diretrizes neste sentido ou as gestões das Prefeituras vêm sendo feita dentro de uma concepção empírica de ensaio e erro, gerando dificuldades muitas, gastos infindos, desperdícios de meios, bens, recursos, valores e talentos? Há como se pensar esta conjuntura e definir, enfim, novos meios de ação capazes de minimizar esta problemática, ajustar os gastos, despesas, ganhos e lucros políticos, sociais, administrativos e econômicos?
    Enfim, a Gestão Municipal tem dado respostas satisfatórias ao seu possível ciclo de evolução laboral, técnica, metodológica e política propriamente dita ou há correções e ajustes mais que urgentes a serem feitos no sentido de se corrigir sérias falhas e defasagens historicamente acumuladas ao longo da história econômica, política e administrativa brasileira?
    Como repensar a gestão dos serviços públicos municipais para além o estereótipo simplista da prestação de serviços que visem prioritariamente o bem-estar e a saúde financeira de seus agentes e autoridades, sobretudo os gerenciadores dos vários poderes executivos, legislativos e até do judiciário em nível municipal?
    O diferencial das condições pessoais de quem conduz e operacionaliza o serviço público precisa ser repensado urgentemente?
    Os privilégios pessoais descontextualizados da realidade macro, as condições de vida, o conforto doméstico, a segurança, o status quo dos governantes e seus assessores, familiares e agentes diretos da própria gestão precisa ser estudo e considerado profundamente no cômputo dos processos administrativos?
    É mais que necessário considerar este aspecto no jogo de poder, na esfera municipal e nas demais. É possível “por exemplo” que um Deputado represente o povo desempregado, sem renda e que ganhe um salário mínimo, quando recebe milhares de vezes mais?Quem ganha como elite é elite, governa para a elite, beneficia a elite e a massa preterida passa a combatê-la, a destruí-la, a se manifestar contra ela, em crimes, corrupção, greves, etc. daí a crise e a necessidade de se encará-la dentro dos processos aqui sugeridos.De que forma otimizar propostas? Como, quando e quem vai estabelecer as políticas e diretrizes de ação? Com que quadro de referência nossas Prefeituras têm trabalhado? Que problemas se acumulam e por quê? Entendemos que a pobreza ideológica, o absoluto descaso com estas questões e o despreparo crítico e político destas pessoas são os elementos principalmente responsáveis por este conjunto de disfunções, algumas delas até consideradas como sérias e definitivas para o futuro histórico destas mesmas comunidades assistidas. Sendo igualmente este o ponto de crucial importância e que o presente projeto se propõe a atacar, possibilitando aos agentes da Administração Pública Municipal a oportunidade de, em conjunto, repensar, refletir e refazer este conjunto de coisas definitivamente inadiáveis.Tudo isto sem falarmos na problemática específica tais como as de teores ecológicos (poluição do ambiente, do ar, da água, dos mananciais, degradação da natureza e destruição da fauna e flora), as políticas sociais para a juventude e a terceira idade, os pressupostos filosóficos da qualidade da educação, a saúde pública, a infra-estrutura das cidades em termos de saneamento básico e complementar de uma maneira geral, garantindo um mínimo de conforto e segurança para todas as pessoas e não apenas, da classe média para cima. Os problemas com o trânsito, as endemias, a hiperpopulação, o aquecimento ambiental, o tratamento do lixo, da água, o controle do uso e do tráfico de drogas, sexualidade, a segurança pública, a violência urbana galopante, o setor judiciário e cumprimento de leis, etc.A compreensão geral não pode ser outra de que a situação é realmente muito grave, já sendo quase que demasiadamente tarde demais. É, portanto, necessário tomarem-se medidas urgentes e imediatas que devem se iniciar basicamente com um novo e profundo processo de conscientização/capacitação das pessoas que atuam nos vários níveis e segmentos administrativos das Prefeituras, buscando torná-las bem eficientes, eficazes e efetivas para o Processo da Gestão Municipal que o atual contexto brasileiro passou a exigir, notadamente nos últimos tempos, antevendo suas especificidades, necessidades e problemas. Gerindo, por assim dizer, ações efetivamente assertivas, em comum acordo com a comunidade municipal, para a minimização de custos e dificuldades e a otimização de soluções, atendendo ao máximo de pessoas e de classes sociais daquela municipalidade.
II - JUSTIFICATIVA
  • Historicamente o Processo de Gestão Municipal (e também o estadual e federal que via de regra, acontecem da mesma forma) vem sendo concretizado apenas no sentido de garantir os direitos e benesses de seus executores, bem como a perfeita saúde econômico-financeira destes. O que tem levado as cidades ao caos e à insustentabilidade em todos os sentidos.
  • A saída passa por caminhos efetivamente mais democráticos, com mais representatividade popular, sendo auscutadas mais pessoas e elementos representativos legítimos dos vários segmentos sociais assistidos pelo processo de gestão, no caso, do município.É necessário, portanto, legitimar um sistema majoritário de ter voz e vez na definição das prioridades administrativas da municipalidade, no sentido de se orientar o plano de ação do fazer administrativo das Prefeituras a serviço da busca e da conquista de soluções otimizadas, ou sejam, aquelas que agreguem mais benefícios para mais pessoas, independente das categorias sociais, das tendências ou momentos históricos, causando, então, os menores impactos negativos possíveis.
  • Desde que estas mesmas soluções, políticas e diretrizes, sejam escolhidas mediante a concepção e um conhecimento social e político devidamente mais aguçado, com sensibilidade humana, com entendimentos filosófico e ideológico mínimos dos elementos que se inserem direta ou indiretamente no mesmo processo.Nesta abordagem, faz-se necessário que seja levantado um bom e suficientemente, múltiplo e democrático diagnóstico das necessidades e problemas da população da cidade.
  • Ou seja, um diagnóstico integral, definido por segmentos e representações o mais autênticas possíveis da totalidade da população, em termos técnicos, humanos e sociais e interagindo totalmente com a complexidade dos problemas para os quais a Gestão Pública Municipal tem sua finalidade.
  • Optaremos assim por uma metodologia que agregue o levantamento dos possíveis problemas em cada uma das áreas atinentes ao serviço público municipal. E, frente a este levantamento, partiremos para a segunda etapa: a de priorização dos problemas para os quais serão buscadas as soluções mais satisfatórias e que, espera-se, sejam aplicadas dentro de um cronograma de trabalho a ser sugerido e competentemente aprovado.Consideramos como prioridade a escolha dos problemas tidos como os mais importantes e consistentes para o bom e satisfatório manejo da Gestão Municipal frente à sua especificidade e momento, buscando atingir o leque maior possível do campo de ação da administração municipal. O levantamento e a seleção dos problemas devem ser feitos pelos segmentos o mais representativos possíveis – e que constituam o grupo de trabalho direto do presente programa - em função da subjetividade dos raciocínios, a diversidade humana e as múltiplas situações em que estão submetidas os habitantes da comunidade municipal.
  • Neste caso, o referencial ideológico é por nós considerado como fundamentalmente importante e, infelizmente, por razões de poder ou de falta de visão humana, política, crítica e administrativa, não tem sido nunca colocado em pauta, daí, ao nosso ver, o grande, o maior, talvez o único problema para o qual o presente programa se propõe a buscar soluções pertinentes e eficazes.Isto requer uma explicação ao mesmo tempo psicológica e sociológica.
  • E para atingirmos o seu fim didático, exemplificamos da seguinte forma: um prefeito ou um secretário municipal, por exemplo, são pessoas que têm uma posição social privilegiada em relação à maioria absoluta da população – enormemente pobre – a que representa. Ora, quem não sofre tais problemas na pele tem uma visão diferente de quem os sofre. E, na verdade as soluções são elencadas e implementadas pelos indivíduos que não sofrem o problema. Temos também os fatores do inconsciente das pessoas e a competitividade delas, o que acaba por definir do lado contrário da questão, não acontecendo nunca as soluções esperadas, daí mais problemas, caos, insatisfações e dificuldades que se repetem num ciclo ainda maior e mais complexo.
  • Isto não faz parte de um substrato de maldades que, a princípio, seria horrendamente cruel, mas é elemento do componente antropológico da raça humana em todos os segmentos. O grande problema é que as classes privilegiadas se negam bravamente, por um fator de competição, e, para não fugirem da própria zona de conforto, a enxergarem e aceitarem este tipo de situação e de problema.
  • Perpetuando assim as calamidades e as grandes catástrofes que se acumulam ao longo dos Processos da Administração Pública em todo o País, e, infelizmente, em quase todas as dimensões do dito mundo contemporâneo civilizado.Na maioria das vezes, o que emperra o processo é a própria gestão dos processos ideológicos, em outras palavras, pelo jogo de poder, a falta de consciência, de conhecimento, de domínio técnico, de vontade política, de empatia, de compaixão e outros sentimentos nobres, para a absoluta maioria dos políticos em todas as esferas e setores, cabendo a nós, neste trabalho o desdobramento da situação dos governos municipais, propondo sérias, consistentes e imediatas alternativas de solução.
III - OBJETIVOS DO PROGRAMA
3.1 - Geral:
  • Qualificar/conscientizar/motivar técnica, política, humana, social e ideologicamente um grupo de servidores dos vários segmentos da Prefeitura, Câmara Municipal e Representantes da Comunidade (com metodologia de efeito multiplicador, capacitando o grupo para repassar o programa para os demais servidores) para participarem efetivamente da construção de um Plano Norteador da Atual Gestão Municipal com vistas ao atendimento das expectativas políticas de toda a sociedade. Buscando a melhoria concreta da qualidade de vida da população, da infra-estrutura do município e a satisfatória eficiência dos processos de gestão devidamente integrados e aplicá-lo gradativamente de conformidade com as condições e interesses da Gestão Municipal.
3.2 - Específicos:
  • Discutir os planos e concepções teóricas e práticas dos modernos paradigmas da Gestão Municipal para o Brasil de hoje, em termos técnicos, econômicos, humanos, sociais, políticos e ideológicos devidamente adaptados à cada realidade específica.
  • Trabalhar os elementos humanos, sociais e psicológicos relativos aos processos da Gestão Pública Municipal e suas especificidades, considerando o teor da competitividade, os fins confessos e não-confessos que legitimam os processos da gestão da coisa pública em nível dos municípios.
  • Identificar as tipologias de personalidades e os conflitos humanos relativos à questão do exercício do poder na gestão do município e os seus resultados decorrentes, no bojo da própria Administração Municipal.
  • Conhecer os instrumentos da psiquê humana frente aos processos de comando e lideranças, bem como as interferências diretas no sentido da autocrítica e a definição das políticas e diretrizes mais apropriadas e adequadas para a maioria absoluta da população.
  • Proceder ao levantamento e a priorização das principais necessidades e problemas do município frente às especificidades do trabalho, subsidiando assim a implementação de um novo Plano de Trabalho para a Gestão Municipal.
  • Fazer a análise processual dos problemas priorizados, identificando suas causas, efeitos, processos, resultados e as interferências negativas, dificultadoras do sucesso desejável do plano de gestão dentro dos referencias técnicos e ideológicos uma vez adotados.
  • Propor soluções devidamente otimizadas por meio de uma eficiente Matriz Vetorial de Problemas e Operações a ser implementada no plano diretor de ação governamental da cidade.
  • Elencar políticas e diretrizes de ação que poderão fazer parte do Novo Plano de Trabalho da Gestão do Município em termos dos atributos legais de ação da Prefeitura, conforme o atendimento das especificidades trabalhadas e o objetivo maior do plano de ação definido pelo grupo.
  • Apresentar um efetivo Plano de Trabalho para a Gestão Municipal Específica, com agendas, propostas e sub-propostas nos vários campos de ação da Prefeitura, com um cronograma devidamente aprovado, plano de supervisão, atividades, recursos, coordenações e técnicos responsáveis, acompanhando, supervisionando e corrigindo possíveis falhas e defasagens decorrentes de sua aplicação.
IV - METODOLOGIA DE TRABALHO
  • O projeto tem como propósito uma modalidade de intervenção organizacional na Gestão da Prefeitura, partindo da conscientização, capacitação e motivação das pessoas envolvidas para este intento, dentro das concepções dos novos paradigmas definidos como filosofia do programa. Entendemos aqui que sem qualquer um destes aspectos torna-se impossível a realização da presente proposta, dentro do padrão de qualidade básico a que ela se destina. No geral, as pessoas não são devidamente conscientizadas, por isso falta capacitação, culminando com a desmotivação absoluta para tais atividades, levando assim ao caos que tentamos suplantar com este programa, que tem por finalidade a melhoria da qualidade do produto e do Processo de Gestão da Prefeitura Municipal.

  • De acordo com os novos pressupostos, a devida orientação técnica, favorecida pelo indispensável campo de motivação e vontade política são fatores absolutamente fundamentais e indispensáveis para a implementação de um programa de trabalho com o nível de qualidade aqui proposto. O grande mal de tudo é a inconsciência que gera a ingenuidade, que, por sua vez, leva a apatia e vivemos num tempo em que nenhuma destas coisas pode ser ao menos tolerada, permitida, e, muito menos induzida pelos instrumentos de gestão, entremeados em suas concepções, métodos, processos burocráticos, administrativos ou legais. Sendo preciso igualmente favorecer a um outro tipo de liderança mais amena, democrática, humanamente responsável e pró-ativa em termos da consecução da qualidade de vida das pessoas e da melhoria contínua das estruturas vivenciais, conjunturais e políticas dos municípios.
Desta forma, a metodologia do trabalho será definida a partir das seguintes fases e etapas seqüenciais:
4.1 – Seleção do grupo de pessoas que participará do Workshop:
Devendo ser constituído de: políticos (seus representantes legítimos) e profissionais dos vários escalões da Prefeitura; secretários municipais, servidores, vereadores e representantes dos vários segmentos sociais (média ideal de 35 (trinta e cinco) pessoas).
4.2 – Workshop Básico de Implementação do Projeto:
Duração: (proposta de 40 (quarenta) horas-atividade, prioritariamente intensivas, ou em dois finais de semana consecutivos, conforme possibilidades e favorecimentos de ambas as partes (sendo negociado no próprio processo). Sendo necessário e conforme a especificidade de cada gestão serão realizados mais Workshops Básicos, visando a qualificação de um maior número de pessoas ou será reforçada a metodologia de repasse e multiplicação dos efeitos do programa desenvolvido, o que será definido caso a caso.
4.2.1 - Programa do Workshop:
  • Definição das normas técnicas de funcionamento do próprio programa, atendendo aos pressupostos democráticos do mesmo.
  • - Distribuição do texto: O poder correto, de Marilyn Ferguson, que deverá ser lido por todos, resenhado e apresentada a síntese até o final do evento, como complementação do seu referencial teórico.-
  • Concepções teóricas e práticas dos atuais Processos de Gestão Municipal: perspectivas, propostas, modelos, dificuldades, pressupostos históricos técnicos e operacionais.
  • Estudo das concepções estruturais e individuais nos processos de gestão, gerenciamento e administração municipal.- Jogos de poder e competitividade humana nos processos de gestão: grupos e equipes, pressupostos ideológicos, posturas e perigos do inconsciente.
  • Ideologia e processos de poder como fundamentos imprescindíveis na dinâmica dos processos de gestão do município.
4.2.2 - Levantamento das Necessidades e Problemas na Gestão Municipal Específica:
  • Priorização dos problemas a partir do referencial adotado pelo programa desenvolvido.- Análise processual dos problemas em termos de causas, efeitos, processos e resultados. Discussão e elaboração do quadro analítico. Montagem da Matriz Vetorial de Problemas e Operações (propostas de soluções e levantamentos dos impactos positivos e negativos no meio social onde se atua).- Definir os mínimos operacionais com os quais trabalhar: a) O que fazer? b) Como fazer? c) Quem vai fazer? d) Para que e para quem fazer? d) Quem se beneficia e quem se prejudica com o que vai ser feito? e) Quanto vai custar? Eventuais surpresas e novas medidas de correção?- Elaboração do Plano Final de Trabalho da Nova Gestão Municipal (metodologia de elaboração de projetos) que deverá nortear as perspectivas de coordenação, responsabilidade técnica, acompanhamento e correção de possíveis falhas e defasagens.
4.3 – Propostas de Implementação do Projeto:

  • Seleção do grupo experimental que participará do workshop básico de trabalho devendo ser adotado um método mais aberto e multifacetado possível de escolha, de forma a atender aos pressupostos democráticos do programa.
  • Realização do workshop – com no mínimo 40 (quarenta) horas de trabalho, qualificando, conscientizando e motivando devidamente as pessoas para este novo processo de Gestão Municipal.
  • Elaboração de um Novo Plano de Trabalho para a Gestão do Município de forma a subsidiar técnica e politicamente os programas de ação da Prefeitura Municipal.
  • Submeter o Novo Plano à aprovação da administração pública municipal, fazer as adequações necessárias, desde que não fira aos ideais éticos, filosóficos, ideológicos e políticos do programa, possibilitando assim a sua implementação e as melhorias esperadas.
  • Implementar o programa dentro da forma concebida, considerando as adequações realizadas, procedendo assim as mudanças necessárias dentro do Novo Plano de Ação aqui definido.
    Corrigir possíveis falhas e defasagens decorrentes do próprio processo de implantação, buscando a interação permanente das novas propostas aqui apresentadas.
  • Promover novos workshops, cursos, congressos, seminários, palestras no sentido de melhor qualificar e atualizar as pessoas (em regime de acompanhamento), não deixando que se defase as concepções metodológicas e as atualizações políticas do programa, atendendo à contemporaneidade gradativa do mesmo.
  • Redação e publicação do relatório anual das atividades do programa para o conhecimento de todo o público, a participação efetiva de toda a comunidade e o reestudo de implementação do programa nos novos exercícios e assim sucessivamente.

4.4 – Currículum Simplificado do Facilitador do Projeto:

Antonio da Costa Neto – Administrador, com Especialização em Gestão Pública, Mestre em Políticas e Planejamento Educacional, Doutorando em Sociologia da Contemporaneidade Urbana, consultor, palestrante, professor universitário e pesquisador nas áreas de gestão pública, empresas e educação. Autor de livros na área, artigos, ensaios e resenhas. Concebeu, implantou e coordenou diversos projetos de pesquisa e qualificação de pessoas nas áreas de gestão municipal, políticas públicas e educação superior.
4.5 – Condições Operacionais (a decidir):

Incluindo os meios gerais de trabalho, remuneração da carga horária trabalhada, instalações, reprodução do material didático-pedagógico e demais custos que por ventura possam ocorrer e que serão negociados oportunamente, caso a caso. Ficará sempre sob responsabilidade do contratante as despesas relativas meios, recursos, local, locomoção e acomodação dos profissionais devidamente envolvidos em quaisquer das etapas do processo.

V – CONSIDERAÇÕES FINAIS


Sabemos que o presente programa é fundamentalmente polêmico. Mexer com as questões do poder estabelecido, com as benesses das elites é historicamente uma coisa muito difícil, diria eu, quase impossível. Infelizmente, e, por isso mesmo, vemos nosso País e o mundo se sucumbir ao mais absoluto caos, a uma crise sem precedentes em todos os sentidos.
São sucessivas mortes em todas as dimensões do Planeta, crimes inusitados e quase já em nossas portas – e a qualquer hora, em nossas casas – guerras descabidas, imtempéries da natureza, com estrondosas secas, enchentes, terremotos, vendavais, aquecimento do ambiente mundial, poluições, endemias, doenças incuráveis, hiperpopulação, trânsito caótico, falta de espaço, poluição, desastrosa distribuição de renda, educação precária, desemprego, miséria, fome, péssima assistência à saúde das pessoas, habitação precária, educação de péssima qualidade, declínio da economia etc., levando a vida a padrões quase insustentáveis.

Enfim, não temos outra saída senão buscar mudanças profundas, embora possam significar inquietações e desconfortos para alguns segmentos.Infelizmente não há mais o que esperar para se tomar medidas absolutamente fundamentais em todos os sentidos e segmentos da sociedade. Não é só a administração pública que sofre deste conjunto de impropriedades, todas as instituições, organizações, entidades, grupos, classes sociais, passam por uma crise endêmica e sem precedentes. É notório o atraso das concepções da humanidade.Nossas escolas, igrejas, estruturas e conjunturas de trabalho, famílias, justiça, leis, processos de gestão, enfim, tudo necessita ser repensado e com toda a profundidade e com a maior urgência possível.
Portanto, precisamos começar de algum ponto, de alguma frente, e, por uma questão de conveniência estratégica, estamos propondo um início pela via da Administração Municipal.Queremos deixar claro que nosso objetivo não é, de forma alguma, competir com processos de poder, pessoas ou equipes. Pelo contrário, entendemos que é mais que necessário fazer alguma coisa, retomar os processos, reconduzir os sistemas. Não podemos ver o mundo sucumbir ao caos, de braços cruzados. Sabemos que com a presente proposta podemos contribuir muito com a qualidade de vida das pessoas, mas ao mesmo tempo, temos a consciência da grande dificuldade que iremos enfrentar para colocar o presente projeto em prática, pois no papel ele não passa de meras intervenções teóricas que quase nada significam.

Já passamos muito da hora de sistematizar os conflitos necessários. “Não se faz omelete sem que sejam quebrados os ovos”. Da mesma forma, não podemos congregar a melhoria da qualidade da vida de toda a população sem ferir ao famigerado status quo das elites, a concentração absurda e bem-estar, poder de mando e acesso à renda e recursos econômicos.Prescindimos de repensar a questão do poder. Isto faz parte do nosso compromisso como cidadãos, como seres conscientes deste conjunto de processos.
Temos uma responsabilidade sistêmica ao entender que tudo se liga a tudo e até mesmo, uma resposta espiritual que haveremos de dar, uma vez que responderemos pelo mal decorrente do bem que, por ventura, deixarmos um dia de fazer.Estamos identificando o Programa como de Modernização Administrativa da Gstão das Prefeituras Municipais, tendo como objeto real à capacitação técnico-política e a motivação das pessoas para a mudança dos paradigmas específicos, que prevemos como necessários e inadiáveis frente à vasta gama dos problemas do mundo e as perspectivas terríveis vislumbradas para o Planeta num curso espaço de tempo. Principalmente se considerarmos as conjunturas históricas.


Não podemos perder mais um minuto de tempo. A vida cobra-nos, muito e alto. Temos de repensar e, principalmente, refazer os processos vivenciais e com eles a Administração Municipal que é o campo que ora nos cabe. Vislumbrar que, com isto, possamos merecer melhorias concretas, paz, serenidade, desenvolvimento, sendo, acima de tudo agentes da busca da felicidade dos seres vivos sobre a terra. Inclusive, cada um de nós e nossas famílias pois igualmente nos encontramos expostos a tudo isto. Administrar e planejar a Gestão Municipal com muita competência técnico-política, paz, empatia, serenidade e amor é, com certeza, o grande desafio político do Século XXI. E não podemos, sob pena de garantia de nossa própria sobrevida, nos mantermos defasados e ultrapassados frente às novas exigências que nos é feita pela nova ordem mundial que ora se desencadeia. Vamos a ela.



CONTATOS:
Humanizar - Consultoria & ProjetosProf. Antonio da Costa Neto
STN - Ed. Montreal - I - Sala 106
70.770-100 - Asa Norte
Brasília - DF
Fone: (061) 3274.27.55
E-mail:
antoniocneto@terra.com.br
Blog: www.mudandoparadigmas.blogspot.com

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

UMA HOMENAGEM AO LADO FEMININO DA VIDA - pela poetisa goiana Sônia Maria Ferreira


ASAS DE BEIJA-FLOR

Serelepe sorridente buliçosa
ela chegou de repente
e começou a cantar
contou histórias gaiatas
contou taturanas pintadas
contou tentos no tempo
e fez previsão de futuro
Amou o passado
amor de filha amor de amante
amor de gente. Cochichou
aos ouvidos da história
Fez cócegas em S. Francisco
Puxou o manto dominicano
E pediu perdão pro Senhor
Brincou. Brincou com águas azuis
com força de lua nova
Ficou debaixo da choça
Bebeu pinga com limão
Dividiu o chá da alegria
deu receita de graça
e saboreou um raio de sol
Encontrou-se com a lua
Sem medo do galope épico
do lírico São Jorge
Participou de serenata
Montou na garupa do Santo
e começou a correr
passou por muitas primaveras
abraçou cada folha de outono
absorveu todas coares do inverno
suou suor de povo
molhou-se toda de azul
no orvalho de muitas manhãs
Vestiu avental. Fez comidinha
Mimou criança de colo
E se tornou berço do mundo
Fiou aconchego de algodão
Lavou roupa na bica
Rezou muitas ave-marias
e moeu muito café
teceu colcha de risada
— Tem jeito de menina
asas de beija-flor
e açúcar de manuê...
— Ainda não sabem quem é?

_______

Minha maior inimiga Sônia Maria Ferreira, prepotente ao máximo, egoísta (no bom sentido), burguesa ao extremo. Mas o poema é lindo, por isto permanecerá aqui.


Sonhos de Sônia

Numa de minhas crônicas afirmei, certa vez, que por essas esquinas da vida, onde a solidariedade humana se mede na grandeza do sorriso, encontrei Sônia Ferreira. Digo encontrei, itálico, por entender que o verbo aí deva tomar uma conotação diferente, deixando a pessoa física para buscar a espiritual.Isso mesmo, fui até o fundo, conheci a alma de Sônia e vi que somos irmãos-gêmeos em tudo. Viemos da mesma aldeia (o mundo interiorano), habitamos o mesmo castelo (de sonhos) e acreditamos na palavra (poesia), como recurso indispensável para reinventar a vida.Filha do folclorista e líder comunitário Joaquim Luiz Ferreira e da artesã Leolina Gonzaga Ferreira, ambos falecidos, Sônia nasceu em Orizona, antiga Campo Formoso, de Benedicto Silva e Zequinha da Costa. De lá saiu para o mundo da cultura, levando no embornal todos os conhecimentos adquiridos na sua aldeia. Daí sua fidelidade à terra goiana, às nossas raízes culturais. Bacharelou-se em Línguas Neolatinas, buscou mestrado na PUC do Rio de Janeiro, tornou-se conhecida, como pesquisadora, jornalista, cronista e poeta. Abrindo os braços e estendendo as mãos, criando, apoiando, amparando, solidarizando-se, conquistou o seu espaço, todinho dela, inteirinho dela.Fundou o Centro de Cultura da Região Centro-Oeste (Ceculco), que ela carrega nos braços e no coração. Em vinte anos de existência, o Ceculco fez história, conquistando Brasília, conquistando Goiás, deixando um rastro inesquecível de realizações culturais. Inquieta, madrugando nas madrugadas, antecipando as horas, Sônia não pára. Correu o mundo, desceu na Europa e abriu a bagagem e toma presentes: livros de autores goianos para os europeus! Retorna ao Brasil, na cabeça um mundão de sonhos ou de Sônia. Articula projetos, cria o Grupo de Brasília com suas idéias, incendeia Goiânia e corre para Orizona para fundar uma Academia, que nasce no casarão restaurado de seus pais.E cadê Sônia? Voou para Santa Catarina, onde fundou a Ciranda de Artistas do Balneário de Camboriú. E por lá ficou algum tempo. Fez amigos. Amável, sorriso sempre aberto, abriu seu coração goiano, estendeu sua mão generosa, tornou-se conhecida, amada, estimada. Conheceu e tornou-se amiga de muitos intelectuais. Aproximou-se de Theobaldo Costa Jamundá e Paschoal Apóstolo Pítsica, historiadores, nomes expressivos da cultura catarinense. Aliás, foi através de Theobaldo Costa Jamundá, que tornei-me sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Havia lido o meu livro General Curado — Estudo Biográfico, e me fez o convite. Sabiam que o nosso Joaquim Xavier Curado, o General Curado, que nasceu em Pirenópolis, governou Santa Catarina? Fui a Florianópolis, em companhia do médico e acadêmico José Normanha e tomei posse no Instituto. Era honra demais, tinha de comparecer. Agora, Sônia toma de assalto Santa Catarina, onde o nosso Gabriel Nascente abocanhou o prêmio nacional de poesia. Estende o manto da cultura goiana na terra de Cruz e Sousa. E vendo e sentindo o amor de Sônia pela cultura, lembro-me da imagem do poeta negro, autor de Broqueis: “Agora, fechando-os, como para adormecimentos vagos, vejo-te no entanto, melhor, sinto-te eterisada, de uma essência finíssima, onde há diluidamente talvez, muito do sol e muito da lua”.
( José Mendonça Teles - 17-11-1998)