quarta-feira, 30 de abril de 2008

EU COMPREENDO SUZANE RICHTHOFEN


Não acho mesmo que Suzane von Richthofen e seus comparsas tenham feito uma bela coisa, que mereçam medálhas e serem premiados. Pelo contrário, cometeram um crime hediondo e devem ser punidos pelo que fizeram. Mas entendo bem a situação deles e defendo a tese de que a psicologia e suas descobertas novas e maravilhosas deveriam intervir neste tipo de processo, no exato sentido de aliviar as dores e os sofrimentos que não são merecidos. Pois, a lei afirma que o indivíduo deve pagar unicamente pelo que fez, não podendo ter mais punições intercorrentes. E, lógico, quem comete um crime nestas proporções, não o faz sozinho. É, na maioria das vezes, apenas o executor, sendo que tudo pode até ter sido causado pelas próprias vítimas.

Eu mesmo, já tive por muitas vezes talvez prestes a fazer isso, e, é claro, com requintes da crueldade igual aos que recebi desde a minha concepção. E olha que eu nem sabia de nada, não tinha pedido...Me fizeram, me inventaram e depois não queriam assumir as conseqüências.

Não sei se vem ao caso, mas sou o primeiro filho depois de dez anos de uma segura, tranqüila e até, aparentemente infinita lua de mel. E eis que vem o moleque. Pra chorar de noite, querer mamadeira, fazer cocô nas fraldas, em síntese, dar trabalho, incomodar o sonolento "status quo" daquele famigerado ninho de amor.

Meu pai queria - por razões freudianas não-confessas - que viesse uma menina para ele ser o rei absoluto da casa. A autoridade fálica única, o dono e senhor, o todo poderoso. E eu, por mais esta infelicidade, vim menino. Fizeram então um tremendo esforço, o maior possível para remediarem o problema. Minha mãe - aquela filha da puta - me vestia com camisinhas franzidas na cintura, com mangas fofas e golinhas com rendas. Uma gracinha que ainda amargo nas páginas amarelas do álbum de fotografias que meus sobrinhos menores rasgam, mas são incompetentes para fazer desaparecer para sempre. E ainda por cima, meu pai colocou no bebê, pelas mesmas razões da raiva que sentia, o mesmo nome do pai dele - daí o Neto no meu nome - com quem ele tinha uma relação, digamos, tumultuada. O que, ainda hoje tem sido um dos fardos pesadíssimos para eu carregar.

Agora, aos 80 cravados, pois vaso ruim... Minhas irmãs resolveram fazer uma bela festa para ela. Aliás, a foi um grande espetáculo. E como ela é acostumada a ler na igreja, escrevi pacientemente um texto belíssimo para que ela lesse na celebração da palavra, sua exigência para festa, uma vez que é católica apostólica brutal.
Fiz um escrito breve e repleto de citações. Digitei em arial, negrito 16 para evitar os problemas de visão. Ao lê-lo em casa como ensaio, e, ao pressentir o possível sucesso, começou a alegar que não enxergaria as letras e deixou as páginas voando no sofá que logo cairam na boca do meu cachorro Ébano que, que na verdade, era quem eu deveria homenagear. Pelo menos seria menos gasto de papel, de fosfato e de tôner.

De outra vez quando recebi de uma amiga uma bela homenagem em seu livro e eu, fazendo todo o esforço para que ele lesse a duas páginas e meia que tanta alegria me deram. Claro que não consegui, o que apenas aconteceria às custas das mais violentas das torturas, o que, evidentemente, não valeria a pena.

Estes são dois fatos de que me lembro. Mas minha mãe sempre me colocou no último dos planos. Inventando para o meu pai, idéias mirabolantes sobre as minhas artes para se deleitar com as surras que ele me dava e que ela assistia absolutamente omissa e passiva. Sem ser hipócrita, gostaria de ter a coragem e a valentia desta moça que deu a resposta às agruras, às humilhações e a todo o tipo de violência que, certamente, recebeu ao longo da vida. Tanto que a levou a cometer o crime horrível que acabou com a vida de seus pais, muitas outras, inclusive, a dela própria.

Os anos que os pais estão presos ao túmulo também deveriam ser levados em conta e subtraídos da pena dos demais culpados, pois também o são, da mesma forma que são vítimas. Pois alguém que chega a cometer este tipo de desatino, bem criado é que não foi. Não recebeu amor, nunca foi ouvido e compreendido, talvez como agora o faço, um tanto tardiamente, é claro.
Diz a sabedoria popular que quem cria monstros é depois engolido por eles. E é assim que eu vejo a situação. Não cometi este crime ainda e, com certeza, pela minha idade, formação, espiritualidade, e, pela idade dela, espero, não ter tempo para isso. Só estou referindo-me a tal fato porque achei oportuno e vendo que a situação se repete, ao contrário com o caso Isabella Mardone, outra grande tristeza carregada de dúvidas e mistérios que, certamente, amargaremos por muito tempo ainda enquanto cidadãos de um país de justiça cega e de injustiça com imensos óculos de grau.

Mas digamos que eu tivesse esta coragem. Certamente a Globo noticiaria aos quatro cantos, frente a minha idade, as bandeiras que defendi na vida, o que escrevi, publiquei e até este blog, até certo ponto, tão incisivo. Que pena que não se tornam públicos os crimes que minha mãe, os Ricthofen e muitos outros pais cometem. Que são processuais, lentos, invisíveis, pois o sangue da alma, dos espírito e da paz interior que matam é insípedo, inodoro, incolor. Mais fino e se esvai muito mais rápido de que uma mólecula de água ao sol causticante do meio-dia de verão tropical.

É pena que suas conseqüências durem tanto. Indo para gerações futuras e causando sofrimentos infinitos, como os que sinto agora e que foram provados por meus pais, avós, bisavós, trisavós, tetravós...Adão...Eva... Pobre humanidade trôpega, perdida e órfã de seus infinitos e omissos pais culpados e criminosos. E pior ainda, pelo que vejo, eternamente impunes e perdoados pelas desgraças humanas e o caos que provocam em todas as dimensões do mundo.

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Antonio da Costa Neto
(Obs.: Acho que ainda vou estudar Direito para me especializar na área criminal para defender, exclusivamente, este tipo de caso.)

sexta-feira, 25 de abril de 2008

ISABELLA: VÍTIMA INOCENTE DA INSENSIBILIDADE POLÍTICA

Além da dor e da morte física, Isabella também é vítima da insensibilidade política que reina neste país. Tiveram e têm a coragem de fazer uso de tudo o que aconteceu para manipalar cabeças, ocultar fatos, usar e explorar de um povo tão inocente quanto ela. Partem da lei da física de que dois corpos não podem ocupar um só lugar ao mesmo tempo. Com os pensamentos e as idéias é exatamente a mesma coisa.
Quem se emociona com Isabella, o choque, o crime, a dor, o desalinho e os erros - propositais? - da polícia em desvendar o caso, não poderá; igualmente se preocupar com a mesma proporção com as lides do governo, as falcatruas políticas, as múltiplas crises que constituem o dia a dia desta gente. Nós.

Um crime brutal como este que envolve criança, família e mistérios é um prato cheio para as pessoas sem escrúpulos que manipulam os destinos do país, as condutas da informação, a opinião pública e seus processos e resultados em relação à qualidade de vida da sociedade. Portanto, é preciso manter as pessoas presas a esta comoção, para que elas não revidem, não questionem, não incomodem. O crime é usado como se fosse o futebol, os resultados dos campeonatos, da copa do mundo, o último capítulo das novelas, o vencedor do BBB da Rede Globo, a missa do Padre Marcelo Rossi, acompanhada de um cinismo confessional sem precedentes.

A ida do jogador Ronaldo com o travesti a um motel, o passeio da atriz Malu Mader com o marido à praia do Leblom... Tudo isto, gente é importante demais. Vivemos como um povo que não tem mais nada o que fazer. Somos, para todos os efeitos, uma gente desocupada, ociosa e que vive à marcê dos diz-que-diz feitos pela Candinha. Tudo é motivo para prender a atenção do povo. Para mantê-lo preso às correntes de uma ideologia falaciosa, enquanto seus valores e direitos são reduzidos a pó e obstruídos na escuridão dos palácios, nos corredores do Congresso, nos palcos do poder.

Assim, o caso não anda. A polícia nada descobre. E tudo se mantém no mais confuso diz-que-diz, ouvindo mais testemunhas, ampliando os autos, abrindo e fechando inquéritos e nada de solucionar este espetáculo dos horrores que precisa render suspenses; pois, muito dificilmente teremos uma segunda exibição tão rica de detalhes sórdidos envolvendo um pai enlouquecido, uma madrasta inconsequente e uma mãe omissa, fechando o jogo do xadrez necessário para a novelinha da vida real. Que causa choro, lamentos, arrepios, manifstações públicas, enquanto a onda da inflação, dos juros altos, das medidas coercitivas, da destruição contínua da vida invade casas e almas.

Hoje já contamos com sofisticados recursos da ciência para detectar verdades e mentiras. Temos a hipnose, os jogos sagrados da psicologia que conseguem desvendar os mistérios incontidos no mais fundo ermo dos vivos e até dos mortos. Existem sofisticados medicamentos que deixam a pessoa à mais absoluta mercê da verdade e que, inconscientemente entregam senhas de bancos, levam bandidos em casa, abrem cofres, entregam jóias, dólares, destroem suas vidas.

Será por exemplo que Ana Carolina Jatobá, a má-drasta, uma moça tão jovem e insegura não se deixa levar por nenhum lápso? Não é pega na menor armadilha do psicológico? Então, se culpada, ela é mais inteligente e esperta do que os Institutos de Criminalística, os exercítos de policiais, delegados, técnicos e pessoas altamente qualificadas e com anos de experiência? E o mesmo não acontece com o moço das entradas profundas e demoníacas? Não querem de fato descobrir se são culpados e incentes pois seria prejudicial em matéria de mídia, de adestramento do povo como se adestram bois que seguem indefesos para o matadouro.

Ora, por que então não desvendam o caso? Por que não esclarecem as pessoas de uma vez por todas se o pai e a madrasta são, definitivamente culpados ou inocentes, que é o que mais intriga a toda a população? A resposta é que tudo isto é uma grande carta na manga. A falta de escrúpulos faz com que usem a dor, a vida e o sangue inocente para lavarem as sujeiras dos púlpitos do poder incauto, covarde e mesquinho.

Não temos mais espaço para a ética, a dignidade, o respeito à dor alheia. Só à nossa. De qualquer modo, nada disso trará Isabella de volta. Mas todos os diretamente envolvidos no esquema da apuração: polícia, família, inocentes e culpados. Advogados, testemunhas, todos são gente como a menina que se foi para sempre, e, sua morte tão trágica e sofrida ainda serve de instrumento para espezinhar os que ficaram. Deixando-nos confusos para identificar qual afinal é o crime maior? Quem são os verdadeiros culpados e vítimas deste crime que a cada dia se amplia para além das suas dimensões originalmente maiores do que o mundo de Deus. Pelo menos, Isabella, você não está sozinha. Tem todos os brasileiros em sua companhia, de mãos dadas e brincando de ciranda nos jardins do paraíso.
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Antonio da Costa Neto

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A MASSACRANTE FELICIDADE...DOS OUTROS






Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Há no ar um certo queixume sem razões muito claras. Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem.

De onde vem isso? Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: "Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento" . Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligado na grama do vizinho. As festas em outros apartamentos são nada mais que o fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, sorrisos inexistentes e notícias mentirosas.

Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, nada revelam de suas aflições e sofrimentos e não dão bandeira das suas fraquezas, inseguranças, mazelas. Então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecer, descobrimos que estamos todos exatamente vivendo as mesmas circunstâncias - iguaizinhas - com motivos pra dançar pela sala e também pra se refugiar no escuro, literalmente. Só que as razões das dores e depressões raramente são divulgados pra consumo externo.

Todos são belos, felicíssimos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores, social e filosóficamente corretos. "Parece que ninguém, nenhum deles, nunca levou porrada. Parece que todos têm sido campeões em tudo". Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.

Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem alguma graça. Mas tem, e muita. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e re-começos, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia, no nosso currículum. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Será bom ter cotidianamente alguém secando nossa privacidade a título de segurança?

Estarão mesmo todas essas pessoas realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está em casa, lendo, desenhando,ouvindo música, vendo seu time jogar, escrevendo, tomando seu uisquinho? Tenha certeza plena de uma coisa: as melhores festas, as mais belas, emocionantes, fartas e luminosas só acontecem mesmo dentro do nosso próprio apartamento. Sempre.
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(Martha Medeiros, 44 anos, jornalista, poeta. Uma cabeça feitíssima).

sexta-feira, 11 de abril de 2008

SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA







Senhor Presidente da República Federativa do Brasil:

Começo essa mensagem dizendo o que penso do nosso atual Presidente da República (que pena que devo usar maiúsculas para isto, um desperdício), o que ainda é um direito individual garantido pela Constituição do meu País, que ainda não é um Estado totalmente dominado pelo stalinismo petista, conforme o seu profundo desejo. De uma forma objetiva e clara o Senhor Lula uma absurda fraude como político e ser humano, e o pior estelionatário da política que a história do país há de registrar. Será que ele consegue dormir em paz depois de ver, de cara, os imensos estragos feitos pelo seu governo e que está matando a cada dia o País e os sonhos de sua gente?
Embasado no discurso bonitinho que engana bem, ele ajuda a destruir, a ampliar o crime, criando para isso, fórmulas novas e sofisticadas, nunca antes vistas. E continua depois, cinicamente, a declamar os novos discursos decorados pagos aos seus altos assessores com o nosso dinheiro, para, exatamente, voltar a nos enganar. Este homem é uma grotesca metamorfose ambulante, que não tem formação, patriotismo, princípios, nem ideais, a não ser a luta pelo poder ditatorial e pela sistemática manipulação da ignorância dos eleitores para garantir a sua permanência no controle da sociedade. Se manter no poder que ele tanto gosta, que lhe garante conforto, status, boa comida, viagens, uma vida futura garantida, e, para tal, ele não mede esforços e nem ação.
Sua luta como político se resume a uma sede de poder para dominar o País, nos transformando reféns da burguesia petista, com a cumplicidade de suas "gangs" e de todos os canalhas de ocasião, que colocam seus interesses patrimonialistas acima da educação, do patriotismo, da cultura, da dignidade, da honra, da honestidade, da ética ou da moral. Esperávamos do seu governo políticas e diretrizes profundamente mais humanas, saudáveis e transformadoras e não, este emaranhado de enganações baixas, mas que ninguém percebe. O poder público sob seu comando, virou um inimigo dos que teimam em trabalhar com honestidade e estudar com esforço próprio para crescer na pirâmide social. Embora tudo seja inteligentemente montado para parecer o contrário.
E o povo, incauto, segue a valsa rumo ao terceiro mandato, que podem estar certo, virá. Negar isto agora faz parte das monstruosidades estratégicas de que este respeitável senhor é capaz, para com cara de doce e ingênuo, garantir os seus interesses pessoais e familiares. O aliciamento, o suborno material, a covarde manipulação da ignorância das massas e da imbecilidade coletiva, são suas marcas registradas. Ser vagabundo, corrupto e prevaricador viraram valores determinantes para esta nova sociedade petista que ele e seus assessores pérfidos e cruéis estão construindo. O nosso Presidente representa, na minha visão, o que de pior já foi produzido em matéria de político e que está plantando as sementes para a destruição da democracia e das liberdades individuais do País. Colocando por terra uma a uma das nossas conquistas, deixando nossa gente exposta a todos os males físicos e morais, calçados pelas pequenas esmolas, que isoladamente, mais prejudicam a longo prazo, do que ajudam.
Ele verá, pela televisão, segurando a mão da loura, quando estiver morando na Itália, a miséria absoluta, o descaso e o crime como frutos do seu governo fatídico. Seu sucesso como político só está sendo possível pelo fato de nossa sociedade ter sido, criminosamente, levada à falência cultural e educacional por desgovernos contaminados pela presença de corporativistas-corruptos e canalhas da política prostituída, que afundaram o País no mar da degradação de valores éticos. Nos últimos anos tenho gasto uma grande parte do meu tempo escrevendo o que penso dos seus atos de desgoverno, que está sendo apoiado por uma hedionda mutação do stalinismo - o petismo - e pelo mais escandaloso parlamento que jamais se poderia imaginar poder existir.
Um parlamento neutro, de senhores bem nutridos – alguns, até, ridiculamente demais – e, por não sofrem nossos problemas, não os conseguem enxergar, é claro.Tenho presenciado como cidadão e contribuinte, o funcionamento do balcão de compra e venda de alianças com todos aqueles que aceitam serem cooptados por dinheiro, assistencialismo, poder, status e mordomias, independente de formação e posição social; ignorantes, incompetentes, políticos, servidores públicos, meliantes, artistas, jornalistas, empresários, estudantes, professores, mestres e doutores, enfim, todos os que se envolvem com esta lamentável situação.
Percebo, também, que tudo está sendo feito com a covarde e silenciosa cumplicidade da Igreja Católica e com a de outras igrejas que, como o famigerado Governo Federal usam e abusam da ignorância da sociedade na cobrança dos seus dízimos e na manipulação mental das pessoas - para fazer fortunas, mandar dinheiro para contas no exterior, e construir mansões - e manter suas pobres ovelhas caladas diante da destruição do futuro de seus filhos e de suas famílias.
Todos estão sendo convencidos a darem o necessário apoio, para que se consiga implantar no País o domínio de um Estado comandado por uma burguesia formada no submundo da corrupção e do mais sórdido corporativismo, que já provocaram o apodrecimento moral e ético dos podres da República. Nossas Forças Armadas, senhor presidente, estão sendo colocadas em estado de inoperância, sucateamento, humilhação e desarticulação diante de nossa perda de soberania, risco crescente de invasão das forças esmagadoras de países vizinhos, falência da segurança pública, e da flagrante destruição da Amazônia e de nossas riquezas naturais.
Nosso Poder Judiciário está arcaico e corrompido pelo corporativismo sórdido, praticando duas (in)justiças: uma para os ricos e poderosos, outra para os excluídos e para os que não pertencem aos grupos que apóiam o desgoverno petista e seus cúmplices. A Justiça, se perdeu no submundo dos artifícios imorais que exploram as "brechas" dos códigos legais para proteger de todas as formas as suas "gangs". Nosso Parlamento virou uma casa de tolerância da política prostituída que consegue envergonhar aos prostitutos e as prostitutas de "profissão", muito mais dignos, honestos e autênticos, sem dúvidas.
O Poder Executivo já domina com folga os outros podres poderes da República, graças ao silêncio e a cumplicidade dos Tribunais Superiores, dos comandos das forças policiais federais do país, e dos comandantes das Forças Armadas. Contudo, reconheço que o pior do que está acontecendo com o meu País não é o Senhor Presidente da República ser esta grotesca fraude como político e como ser humano.
O pior mesmo é vivermos em uma sociedade hipócrita e covarde, que está permitindo que se faça do País o quintal das doentias ambições de poder do PT e o patrimonialismo, que estão transformando, definitivamente, o setor público no paraíso da corrupção, da prostituição política, do corporativismo sórdido e da prevaricação. Estou cansado da ignorância deste povo, cansado de ver uma classe média deixar-se empobrecer sem reação, cansado da covardia da sociedade dita esclarecida, cansado do corporativismo público-privado que se vendeu à corrupção e ao petismo stalinista, cansando de uma convivência virtual de gente que protesta, mas não consegue se organizar para se apresentar nas ruas e lutar pelo nosso País. Somos uma sociedade apática dominada por ignorantes, corruptos, hipócritas e covardes.
E, talvez por isso mesmo, as pessoas não se tocam, não descobrem, não ousam. Conheço acadêmicos e pós-doutores que não conseguem enxergar nada disto, tamanha a lavagem cerebral que se propaga por meio das ações iníquas deste governo de horrores, de mentiras, de decepções grotescas e fúteis. Tanto que veio o segundo mandato, virá o terceiro, quem sabe, um quarto. Ou talvez não, simplesmente porque o Lula e sua loura já se arrumaram, já se enojaram do poder e desejarão uma velhice com outras aventuras e terão um futuro líquido, certo e garantido.
E ninguém vê. E o que é pior, acusa e despreza bravamente quem vê. Acho mesmo que como diz o André, meu sobrinho lindo de Silvânia:, quando eu digo em tom de bincadeira que estou, por este ótica, sozinho no mundo: “fora da brincadeira...” Eu tenho ou não tenho razões de sobra pra me considerar um gênio?

Antonio da Costa Neto

quarta-feira, 9 de abril de 2008

EDUCAÇÃO & BATATAS FRITAS BARATAS




Michael W. Apple
O sol se refletia no teto do pequeno carro, enquanto percorríamos a estrada de pista simples. O calor e a umidade faziam-me perguntar se sobraria algum líquido no meu corpo, ao fim da viagem, e levava-me a apreciar os invernos de Wisconsin mais do que seria de se esperar. A idéias de inverno parecia muito remota, neste pequeno país asiático pelo qual eu tenho grande apreço, mas o assunto em discussão não era o clima, eram as lutas dos educadores e ativistas sociais para construir uma educação que fosse consideravelmente mais democrática do que aquela vigente no país, no momento. O tópico era perigoso. Discuti-lo filosófica e formalisticamente em termos acadêmicos era tolerado. Trazê-lo abertamente à discussão e situá-lo dentro de uma séria análise das estruturas de poder econômico, político e militar que agora detêm o controle sobre tantas coisas na vida diária desse país é uma outra questão.
À medida que progredíamos por aquela estrada rural, no meio de uma das melhores conversações que já tive sobre as possibilidades das transformações educacionais e das realidades das opressivas condições que tantas pessoas estavam enfrentando naquela terra, meu olhar da alguma forma foi atraído para um dos lados da estrada. Num daqueles acontecimentos quase acidentais, que esclarecem e cristalizam o que realidade é realmente, meu olhar caiu sobre um objeto aparentemente inconseqüente. Em intervalos regulares havia pequenas placas de sinalização plantadas na terra a poucos metros do lugar onde a estrada e o campo se encontravam.
A placa era muito mais do que familiar. Levava a insígnia de um dos mais famosos restaurantes de fast food dos Estados Unidos.
Trafegamos por quilômetros, passando por terrenos aparentemente desertos, ao longo de uma planície quente, ultrapassando sinal após sinal, cada um deles uma réplica do precedente, cada um com menos de meio metro de altura. Não se tratava de outdoors. Estes dificilmente existem nessa pobre região rural. Ao contrário, eles eram exatamente iguais às pequenas placas que são encontradas próximas às fazendas do meio-oeste americano e que indicam o tipo de semente de milho que cada agricultor plantou no seu campo.
Fiz ao motorista um amigo chegado e meu ex-aluno que havia retornado àquele país para trabalhar nas reformas educacionais e sociais que eram tão necessárias aquela que se revelou por fim uma pergunta ingênua mas crucial para minha própria educação. Por que estas placas estão ali? Há um restaurante por perto? Meu amigo olhou-me surpreendido. Michael, você não sabe o que estas placas significam? Não há restaurantes ocidentais num raio de oitenta quilômetros de onde estamos. Estas placas representam exatamente o que há de errado com a educação, neste país. Ouça isto. E eu o escutei. Trata-se de uma história que deixou em mim uma marca indelével porque ela condensa, em um conjunto importante de experiências históricas, as conexões entre nossas lutas como educadores e ativistas, em muitos países, e as formas pelas quais o poder atua de forma diferencial na vida cotidiana.
Não poderei transmitir os estranhos sentimentos que nos assolavam olhando aquela vasta, às vezes linda, às vezes assustadora e crescentemente despovoada planície. Ainda assim é crucial ouvir a história. Escutem-na.
O governo da nação decidiu que a importação do capital estrangeiro é crítica para sua própria sobrevivência. Trazer americanos, alemães, britânicos, japoneses e outros investidores e fábricas claramente criará empregos, criará capital para investimentos e tornará a nação capaz de ingressar rapidamente no século XXI. (trata-se, evidentemente, de uma ?conversa? dos grupos dominantes, mas vamos supor que eles acreditem, realmente, nisso). Um dos modos pelos quais o governo, dominado pelos militares, planejou fazer isso constituiu em colocar parte de seus esforços de recrutamento no ?agri-business?. Na busca deste objetivo, o governo ofereceu vastas extensões de terra aos interesses internacionais na área de ?agri-business?, a muito baixo custo. De particular importância para a planície que atravessávamos era o fato de muito desta terra havia sido oferecida a um fornecedor de uma grande empresa americana de restaurantes de ?fast food? pra plantar batatas, para fazer as fritas do restaurante, uma das marcas registradas de seu grande sucesso por todo o mundo.
A empresa estava ansiosa para aproveitar a oportunidade de transferir parte de sua produção de batatas dos Estados Unidos para a Ásia. Como muitos dos trabalhadores rurais dos Estados Unidos estão agora sindicalizados e estão (corretamente) exigindo salários razoáveis, e uma vez que o governo daquela nação asiática desaprova oficialmente sindicatos de qualquer tipo, o custo de plantar batatas seria bem menor. Além disso, a terra naquela planície era perfeita para o uso de tecnologias recentemente desenvolvidas pra o plantio e a colheita de batatas com um número consideravelmente menor de trabalhadores. Máquinas substituiriam seres humanos. Finalmente, o governo estava muito menos preocupado com leis sobre proteção do meio ambiente. Tudo considerado, este era um bom negócio para o emprego do capital. Obviamente, pessoas viviam em parte desta terra e cultivavam para seu próprio sustento e para vender o excedente , depois que suas próprias necessidades ? relativamente mínimas ? eram satisfeitas. Isto não deteve nem os interessados no ?agri-business? nem o governo. Afinal, o povo poderia ser removido para dar lugar ao ?progresso?
E, afinal, os camponeses ao longo daquelas planícies não tinha realmente os documentos de posse daquela terra (eles haviam vivido ali talvez por centenas de anos, bem antes da invenção dos bancos, das hipotecas e das escrituras ? sem papel não há propriedade). Não seria difícil remover o povo da planície para outras áreas para deixá-la ?livre? para a produção intensiva de batatas e para ?criar empregos?, retirando sustento de milhares e milhares de pequenos agricultores, na região. escutei com redobrada atenção, à medida que o resto da história ia se desdobrando, e que passávamos por campos (com as placas da referida empresa) e vilas abandonadas. O povo, cuja terra havia sido tomada por tão pouco, mudara-se, naturalmente. Assim como em tantos outros lugares similares, nos países que os grupos dominantes chamam de Terceiro Mundo, eles migraram para cidade. Tomaram suas magras posses e se mudaram para as favelas, sempre em expansão dentro e ao redor do único lugar que oferecia alguma esperança de encontrar suficiente trabalho remunerado (se todos, incluindo as crianças trabalhassem) para que pudessem sobreviver.
O governo e os segmentos importantes da elite empresarial oficialmente desencorajavam isto, contratando, por vezes, bandidos para queimar as cidades miseráveis, outras vezes, mantendo as condições tão adversas que ninguém ?gostaria? de morar ali. Mas, ainda assim, os despossuídos vinham, às dezenas de milhares. Afinal as pessoas pobres não são irracionais. A perda de terra arável tinha que ser compensada de alguma forma e se isso implicava ser empilhado em lugares que eram infernais, bem, quais eram as outras alternativas? Havia fábricas, sendo construídas na e em torno das cidades, que pagavam salários incrivelmente baixos (algumas vezes menos do que o suficiente para comprar o alimento necessário para repor as calorias gastas pelos trabalhadores no processo de produção), mas ao menos poderia haver trabalho remunerado, se o sujeito tivesse sorte.
Assim, máquinas gigantes colhiam as batatas e as pessoas se transferiam para as cidades e o capital estrangeiro ficou feliz. Não é uma bonita história. Não o que ela tem a ver com a educação? Meu amigo continuou minha educação. O governo dominado pelos militares deu todas essas grandes empresas internacionais vinte anos de isenção de impostos para facilitar as condições de sua vinda para o país. Assim, há hoje muito pouco dinheiro para fornecer saúde, moradia, suprimento de água, eletricidade, serviço de esgoto e escolar para milhares e milhares de pessoas que buscam o seu futuro na cidade ou foram literalmente empurrados para ela. O mecanismo para não fornecer esses serviços era realmente inteligente. tomemos a falta de qualquer instituição de educação formal como exemplo. Para que o governo construísse escolas deveria ser mostrado que havia uma ?legítima? necessidade para a realização desse gasto. Estatísticas tinham que ser produzidas de numa forma que fossem oficialmente aceita. Isto poderia ser feito apenas através da determinação oficial de números de nascimentos registrados. Entretanto, o próprio processo de registro oficial tornava impossível a milhares de crianças serem reconhecidas como realmente existentes.
Para realizar a matrícula na escola, a mãe/o pai tinha que registrar o nascimento da criança no hospital local ou nalguma instituição do governo ? nenhum dos quais existiam nessa área de favelas. E mesmo que tal instituição pudesse ser encontrada, o governo oficialmente desencorajava as pessoas vindas de fora da região da cidade de mudar-se para ali. Freqüentemente, recusava-se a reconhecer a legitimidade da mudança, como uma maneira de impedir os agricultores desalojados de virem para as áreas urbanas, aumentando, assim, a população. Nascimentos de pessoas que não tinham o direito ?legítimo? de ali estar não contavam, de fato, como nascimentos. Esta é uma brilhante estratégia na qual o Estado cria categorias de legitimação que definem problemas sociais de modos muito interessantes.
Assim, não haviam escolas, nem professores, nem hospitais, nem infra-estrutura. As causa profundas dessa situação não estão na situação imediata. Elas só podem ser esclarecidas se nos centrarmos na cadeia de formação do capital internacional e nacionalmente), nas necessidades contraditórias do Estado, nas relações de classe e nas relações entre campo e cidade que organizam e desorganizam aquele país.
Já fazia um bom tempo que meu amigo e eu estávamos rodando. eu me esquecera do calor. A frase final da narrativa não é nada bombástica. Foi dita devagar e claramente, dita de um modo que a tornou ainda mais imperiosa. ?Michael, esses campos são a razão pelas quais não existem escolas na minha cidade. não há escolas porque há tantas pessoas que gostam de batatas fritas baratas?
Conto essa história que me foi contada, por uma série de razões. Em primeiro lugar, porque este é simplesmente um dos modos mais poderosos que conheço de lembrar a mim mesmo da importância capital de ver a escola relacionalmente, de vê-la em conexão, fundamentalmente, com as relações de dominação e exploração da sociedade mais ampla. Em segundo lugar, e igualmente tão importante, conto essa história para marcar uma posição teórica e política crucial. relações de poder são de fato complexas e nós precisamos realmente levar muito a sério o foco pós-moderno no local e na multiplicidade das formas de luta nas quais necessitamos nos envolver. É também importante realmente reconhecer as mudanças que estão ocorrendo em muitas sociedades e ver a complexidade do nexo ?poder/saber?
Entretanto, em nossos esforços para evitar os perigos que acompanham alguns aspectos das ?grandes narrativas? anteriores, não vamos agir como se o capitalismo tivesse de alguma forma desaparecido. Não vamos agir como se as relações de classe não contassem. Não vamos agir como se tudo que aprendemos cobre as formas de compreender o mundo pudesse, de alguma forma, ser jogado fora simplesmente porque agora nossas teorias são mis complexas.
A negação dos direitos humanos fundamentais, a destruição do ambiente, as condições abjetas sob as quais as pessoas (apenas) sobrevivem, a falta de um futuro significativo para milhares de crianças que mencionei em minha história ? tudo isso não é apenas ou mesmo primariamente um texto para ser decifrado nos nossos livros acadêmicos à medida que seguimos nossos temas pós-modernos? É uma realidade que milhões de pessoas experimentam nos seus próprios corpos, diariamente. O trabalho educacional que não seja fortemente relacionado com a profunda compreensão destas realidades (e esta compreensão não pode abandonar a séria análise da economia política e das relações de classe sem perder muito de sua força) está em perigo de perder a sua alma. As vidas de nossas crianças exigem mais do que isso.
Não seria inadequado terminar esse ensaio com a última frase do parágrafo precedente. Mas desejo propor-me a algumas reflexões adicionais sobre o que significa a história que contei, porque penso que o tema das batatas fritas baratas oferece um exemplo extremamente importante da política do senso comum e da política, não apenas de classe, mas das suas intersecções com a branquidade, com raça, o colonialismo e o neocolonialismo.
Talvez seja apropriado, nesse momento, que eu diga algo sobre minhas opiniões políticas. Fui e continuo sendo um acadêmico ativista e um ativista acadêmico, dependendo da situação em que me encontro. Assim, como muitas outras pessoas, esforço-me por aliar meus escritos a movimentos pela transformação social e por permanecer um intelectual orgânico, cujo trabalho tem origem nesses movimentos, mas também os realimenta. Isto é mais bem sucedido algumas vezes do que outras, mas exige um esforço consciente. E, como tantas outras pessoas, isso tem significado tomar parte concreta em esforços anti-racistas, na política sindical, contra a ganância empresarial, em mobilizações contra a guerra e o imperialismo, na política pela educação e em inúmeras outras lutas. Previsivelmente, isto inclui uma cota de riscos desde a confrontação com membros da Ku Klux Klan, até ser preso em um país asiático (diferente daquele com o qual comecei este texto) por falar contra repressão dos eu governo militar aos direitos humanos e a prisão de professores líderes sindicais.
Digo tudo isso, não para tentar demostrar que sou o bom sujeito que Michael Apple supostamente é, mas para oferecer um tipo diferente de argumento. O fato de alguém ser claramente um ativista político não garante que ele esteja livre das dinâmicas diferenciais de poder, dinâmicas que penetram em nossas vidas diárias sob formas muito sutis. Isto pode exigir um ato consciente para interromper nosso senso comum e tornar esta participação clara. Na história que contei, raça e classe fazem uma intersecção com relações coloniais e neocoloniais tanto nacional quanto internacionalmente. Destaquei as conexões entre a prática de consumo nos Estados Unidos e o empobrecimento de certos grupos, claramente identificáveis, numa nação asiática. Penso estarem claras as relações de classe que emergem e que ali são criadas. A destrutividade das relações de produção e o correspondente empobrecimento de milhares e milhares de pessoas num país como esse não podem ser separados da capacidade de consumir o povo de outra nação.
No entanto, esta também é uma história sobre dinâmica racial e sua institucionalização sob formas coloniais e neocoloniais. Relações de branquidade, são, estruturalmente, recriadas aqui. Não constitui um acidente histórico que estas relações internacionais sejam criadas e toleradas entre um centro arrogante e uma periferia que quando chega a ser vista, é vista pelos do centro como habitada por pessoas descartáveis que, para os olhos dos imperiais, são, de algum modo, diferentes ou menos que isso. Por que isso não é óbvio? Como educadores, estamos envolvidos numa luta em torno de significados. Entretanto, nessa sociedade, como em todas as outras, apenas certos significados são considerados legítimos, apenas certas formas de compreender o mundo acabam por tornar-se conhecimento oficial? Isso não é uma coisa que simplesmente acontece. Nossa sociedade é estruturada de tal modo que os significados dominantes têm mais possibilidades de circular. Esses significados, obviamente, serão contestados , serão resistidos e algumas vezes serão transformados, mas isso não diminui o fato de que culturas hegemônicas têm maior poder para se fazerem conhecidas e aceitas.
John Fiske expressa a idéia de que nossos significados estão igualmente implicados em relações de poder: A produção de cultura (e a cultura está sempre em processo, nunca acabada) é um processo social: todos os significados sobre o eu, sobre as relações sociais, todos os discursos e textos que exercem esses importantes papéis culturais podem circular, apenas, quando relacionados ao sistema social, no nosso caso, o capitalismo branco, patriarcal. Qualquer sistema social necessita um sistema cultural de significação que sirva para mantê-lo seja para desestabilizá-lo, para fazê-lo mais receptivo à mudança. Cultura... e significados... são portanto, inerentemente políticos. Estão centralmente envolvidos na distribuição e possível redistribuição das várias formas de poder social. O conhecimento nunca é neutro, nunca existe uma relação empírica e objetiva com o real. Conhecimento é poder, e a circulação do conhecimento é parte da distribuição social do poder. A capacidade discursiva para construir um senso comum que possa ser inserido na vida cultural e política é central na relação social de poder.
Essas são afirmações genéricas, mas quando aplicadas ao específico da situação que relatei antes tornam-se ainda mais convincentes. Elas colocam minha necessidade de ser ensinado sobre as condições daquela verdejante planície dentro de seu contexto sócio-cultural mais amplo. Elas cristalizam em uma única história diferenças de construção de significados que separam o que no Ocidente, pode ser visto simplesmente como comer batatas e naquela nação asiática é visto por muitos ativistas como a destruição das possibilidades de um futuro melhor para milhões de crianças. A história documenta a importância de se perguntar a quais grupos pertencem as compreessões que são postas em circulação? Por que eu nada sei sobre isso? Qual a minha própria localização em um sistema internacional de relações econômicas que produz essas condições?
A história fala da continuada circulação de formas coloniais de compreensão, associadas de forma complexa e sempre cambiantes com os modos de produção econômica e de distribuição e consumo que estamos acostumados. De muitas maneiras, muitos de nós somos aprisionados nos discursos universalizantes de nosso próprio mundo, um mundo que pressupõe que de alguma forma já sabemos como compreender os eventos diários dos quais participamos. No entanto, a história que me contaram naquele passeio de carro e aquilo que vi são coisas que dizem respeito à questão de saber qual é a realidade a qual é o conhecimento, isto é, de quais grupos que são tornados públicos?
Sem exceções importantes os discursos universalizantes da Europa e dos estados Unidos modernos supõe o silêncio voluntário ou não do mundo não-europeu. Há incorporação, há inclusão, há domínio direto, há coerção. Mas raramente há um reconhecimento de que o povo colonizado deveria ser ouvido, Ter suas idéias conhecidas.
Estas idéias nos falam da relação entre as formas de compreensão que dominam nossa sociedade e do silenciamento das vozes do mundo não-europeu, ?não-ocidental. Entretanto, não são apenas as vozes que são silenciadas ( e eu conscientemente emprego a palavra silenciada ao invés de silenciosa pra significar que há um processo ativo no qual os grupos dominantes têm que fazer um esforço para manter o poder de seus significados hegemônicos), de forma que é quase por acidente que estou numa posição de ser ensinado a ver o mundo de forma diferente. São as conexões determinadas entre vidas nos países do centro e vidas nos países da periferia uma classificação em si mesma arrogante e infeliz que são tornadas invisíveis nesse mesmo e exato momento.
Esta invisibilidade é crucial. Há uma geografia social da branquidade. Sob muitos aspectos, branquidade é um conceito espacial. Nesse caso, ela implica viver uma vida intimamente conectada de maneira identificável à dinâmica internacional que tem alterado tão radicalmente as relações econômicas políticas e culturais, em muitas nações. Não está, necessariamente, baseada numa escolha consciente. Ao contrário, ela está profundamente cimentada nas nossas compreensões do senso comum, da vida cotidiana. Compramos nossas roupas, comemos nossa comida e fazemos o que fazemos de um modo que naturaliza as relações sociais e econômicas que realmente criaram as condições para a produção e o consumo dessas roupas e dessa comida. A branquidade, pois, é uma metáfora para o privilégio, para a capacidade de comer batatas fritas baratas. Obviamente, este não é um argumento novo nem original.
Há uma tradição bastante longa na economia política que nos faz lembrar que cada objeto manufaturado não é simplesmente uma coisa que carregamos na mão. Essa visão, de fato, é mais do que apenas reificante. Ao contrário, um objeto manufaturado, ou processado de caros tênis e camisas e mesmo à comida que colocamos na boca é corporificação concreta do trabalho humano e das relações sociais produtivas e destrutivas que resultam nele, ou são o resultado de sua feitura. Assim, comer batatas fritas baratas significa colocar a comida na nossa boca, mastigá-la e engoli-la.
No entanto, neste mesmo e exato momento, é também e profundamente um ato social pleno. Significa estar inserido no ponto final de uma longa cadeia de relações que retirou pessoas da terra, causou sua ida para as favelas e negou aos seus filhos cuidados médicos e escolas. Ainda, de modo mais imediato, significa estar em uma relação com os trabalhadores que preparam as fritas e as serviram, no restaurante de fast food. Trabalhadores que usualmente recebem um pagamento extremamente baixo, nenhum benefício, nenhum sindicato, e devem esfalfar-se em dois ou três empregos de tempo parcial para tentar colocar comida na sua própria mesa. Estou tentando dizer, neste momento, que comer batatas fritas baratas é uma das expressões máximas da branquidade. De modo muito similar, quase todos os benefícios econômicos desfrutados hoje pelos ricos, e, mesmo pelos não tão ricos, num país como os Estados Unidos dependem do desenvolvimento histórico de uma infra-estrutura econômica, depende do trabalho não-remunerado ou de baixo custo. Trabalho que freqüentemente teve a raça como uma dinâmica constitutiva a sustentá-lo. Assim, não seria exagerado dizer que as fábricas texteis do Norte industrial foram alimentadas pelo trabalho não-remunerado dos escravos que cultivavam a matéria-prima no Sul (obviamente, a economia inteira dependia do trabalho não-remunerado das mulheres, em casa, ou na fazenda). Por centenas de anos, capitalismo e escravidão estiveram vinculados, numa tensa relação. Deste modo, a branquidade como privilégio, não é apenas uma metáfora espacial mas também temporal. As condições de existência, a partir das quais nossa economia atual se desenvolveu, têm suas raízes no solo de centenas de anos deste trabalho.
Nós, presentemente, aproveitamos as vantagens obtidas com esse trabalho. (Infelizmente uma séria discussão sobre o fato de que essas presentes e tão desigualmente controladas e distribuídas vantagens são completamente de dependentes dessas relações históricas dificilmente vem à tona no conhecimento oficial do currículo escolar. Isto dá bem uma idéia sobre a importância daquilo que não é ensinado nas escolas, assim como daquilo que é parte do corpus do conhecimento considerado legítimo). Talvez eu possa tornar mais claro meu argumento de que estamos estreitamente conectados, de mil maneiras, com relações de privilégios, através de um outro exemplo, mais uma vez, pessoal.
Tomemos o ensaio que você está lendo. Enquanto olho pela janela do edifício no qual ele está sendo escrito, vejo uma usina termelétrica. Esta é uma importante parte da história. Esta manhã, Michael Apple veio para seu gabinete, abriu a porta, ligou o interruptor de luz e começou a digitar. Podemos interpretar isso como um simples ato físico. Apple coloca sua mão sobre o interruptor, aciona-o e surge a luz. entretanto, este simples ato não é tão simples porque ele precisa ser entendido relacionalmente. Michael Apple realmente abriu a porta, ligou a luz, foi até sua mesa e iniciou a digitação. Mas Michael também tinha uma relação anônima, mas não menos real, com os homens e mulheres mineiros que escavaram o carvão, em condições freqüentemente perigosas e crescentemente explorativas, carvão este que foi queimado para produzir a eletricidade que permitiu que a luz fosse acesa.
A ação de digitar este texto é totalmente de pendente desse trabalho. meu propósito, com este exemplo, não é colocar um foco luminoso (perdoem-me o trocadilho) sobre essas condições de uma forma tal que poderia nos levar ao imobilismo. Ah, tudo é tão complicado politicamente que tudo o que fazemos tem graves implicações. Ao contrário, meu objetivo é discutir sobre a natureza do senso comum. Nossos (refere-se aqui a grupos brancos e economicamente privilegiados) modos ordinários de compreender nossa atividade cotidiana, dentro e fora da educação, podem tornar extremamente difícil que apreciemos completamente o nexo das relações sociais das quais participamos. Nessas palavras, desejo desestabilizar nossas compreensões ordinárias da educação e da nossa própria posição na sociedade mais ampla.
Como Antônio Gramsci nos lembrava, a dominação racial, de gênero e de classe é legitimada através da criação do senso comum, através do consentimento. Este tema é especialmente importante hoje, dada à restauração conservadora que é tão poderosa nas esferas econômica, política e cultural da sociedade, uma vez que uma compreensão da natureza estrutural dessas conexões está sendo retirada de nossas vidas diárias. Meu desejo básico é que pensemos o social, reconheçamos que vivemos envolvidos em processos de dominação e subordinação que são muito velados. Compreender isso, pode exigir que nos desvencilhemos do senso comum porque nós estamos profundamente interconectados, queiramos ou não. O branco é definido não como um estado, mas como uma relação com o preto, ou com o marrom, ou amarelo, ou vermelho.
O centro é definido como uma relação com a periferia. Nos nossos modos usuais de pensar essas questões, a branquidade é algo sobre o qual não temos que pensar. ela está simplesmente aí. Trata-se de um estado naturalizado de ser. Trata-se de uma coisa normal. Tudo o mais é o outro. É o lá que nunca está lá. Mas está lá, porque ao nos reposicionarmos para ver o mundo, como constituído a partir de relações de poder e privilégio, a branquidade como privilégio desempenha um papel crucial. Este mesmo senso de conectividade ou relacionalidade, no seu contexto internacional, é tornado caro, nas palavras gaguejantes nos versos Satânicos de Salman Rushdie. O problema com os in...ingleses é que sua his... história aconteceu no além mar, assim, eles não sabem o que ela significa. Colocar qualquer outro grupo nacional privilegiado no lugar de ingleses pouco muda a idéia de Rushdie sobre a natureza de nossa compreensão ou a falta dela das relações internacionais e das vantagens desiguais que têm origem nos modos pelos quais tais relações são hoje estruturadas. Pensamentos finais à guisa de conclusão.
Contei uma história autobiográfica e refleti sobre ela para lançar luzes sobre a espacialidade da branquidade como uma relação internacional. Pelo fato de que grande parte constitui uma narrativa pessoal, necessito admitir Ter estado um pouco preocupado com o que fiz nesse ensaio. Tal preocupação leva-me a fazer uma advertência a mim mesmo e a você, leitor, sobre algum dos efeitos ocultos do (geralmente elogiável) impulso de empregar registros autobiográficos para elevar as conexões, não apenas entre a educação e a sociedade mais ampla, mas também entre nós e outros grupos de pessoas e que podem estar ocultas, dados os mapas de realidade que empregamos.
Muito do ímpeto por detrás das narrativas pessoais é moral. A educação é citada, corretamente, como um empreendimento ético. O pessoal é visto como um modo de despertar sensibilidades éticas. Ou é percebido, corretamente, como uma maneira de dar voz às subjetividades das pessoas que têm sido silenciadas. Há muito a elogiar nesta posição. No entanto, alho se mantém um tanto abafado nos bastidores, em muitas variantes de tais histórias, uma pungente consciência do político, das estruturas sociais que condenam tantas pessoas identificáveis a vidas de luta econômica e cultural (também corporal) e, em alguns casos, desespero. Fazer conexões entre o que pode ser chamado de imaginação literária e narrativa e o movimento concreto que busca transformar nossas instituições é simplesmente essencial neste caso. Argumentos políticos não constituem alternativas para preocupações morais. São, antes, estas preocupações tomadas seriamente, em suas implicações plenas.
Ora, freqüentemente vejo os relatos e as narrativas interpretativas como convincentes e plenos de significados. E, obviamente como usei essa forma, neste ensaio, não quero descartar o seu poder. Entretanto, permitam-me ser pouco sutil e apresentar minha preocupação aqui . Também freqüentemente estes textos correm o risco de cair num individualismo possessivo. Mesmo quando o autor faz a coisa certa e discute seu lugar social, num mundo dominado por condições opressivas, se ele não for reflexivo em relação a isso, seu texto pode servir à função confortadora de dizer basicamente: chega de falar sobre vocês, deixem-me contar-lhes sobre mim. Por estar ainda bastante comprometido em levantar questões sobre as dinâmicas de raça e classe é que me preocupo com as perspectivas que supostamente reconhecem as vozes negadas de muitas pessoas no nosso pensamento sobre educação mas que, na verdade, ainda acabam privilegiando os brancos, as mulheres ou homens de classe média, numa necessidade aparentemente infinita de auto-exibição.
Não interpretem de forma errônea o que estou dizendo aqui. Como já foi fartamente documentado em trabalhos feministas e pós-colonialistas, o pessoal é freqüentemente a presença ausente por detrás dos escritos mais desencarnados, mas ao mesmo tempo é igualmente crucial que interroguemos nossos motivos ocultos, nesses casos, quando empregamos tais modos de apresentação. É a insistência no pessoal, uma insistência que sustenta em grande parte a mudança para formas literárias e biográficas, também, em parte, um discurso de classe.
Devemos admitir seu poder em esclarecer como o mundo é construído, em torno de muitos eixos de poder, e de aclarar também nossa participação pessoal nesses eixos. Entretanto, embora o pessoal possa ser político, podemos perguntar: o político se esgota no pessoal? Ainda Mias: porque devemos pressupor que o pessoal é menos difícil de entender que o mundo externo?
Levanto essas questões, mas não posso respondê-
las de forma que valha para todas as situações. O que posso dizer é que tais questões necessitam ser feitas por todos nós que estamos compreendidos com múltiplos projetos envolvidos na luta por uma educação mais emancipatória. Por esta mesma razão, contei uma história da minha própria educação como branco e visitante estrangeiro que está conscientemente conectada a uma clara compreensão da realidade das relações de exploração e dominação estruturalmente geradas, relações que fazem com que nos perguntemos até mesmo se existe alguma educação numa situação como essas. foi, para mim, um momento educativo sobre o que significa ser branco num contexto internacional, um momento educativo que tronou claro para mim como o privilégio penetra nos atos humanos mais básicos, tais como comer. Como vocês poderiam esperar e eu estou certo que muitos de vocês o fariam, se tivessem uma experiência similar, estou agora envolvido, de forma mais consciente, no apoio às ações dos movimentos democráticos naquele país asiático, tanto nos Estados Unidos quanto lá.
E...como vocês poderiam também esperar, não como batatas fritas baratas.
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Michael W. Apple é professor da Universidade de Wisconsin, Madison, EUA.

domingo, 6 de abril de 2008

ISABELLA, A MENINA DO BRASIL


Não só o Brasil, mas o mundo inteiro vivem dias do mais profundo horror com o brutal assassinato da menina Isabella, que foi, da forma mais monstruosa possível, atirada da janela do apartamento onde seu pai, sua madrasta e os irmãos mais novos moram. E muitas interrogações se seguem: Estará o pai da menina envolvido no crime em função da tumultuada relação com a mãe dela? Há uma possibilidade mesmo que remota do envolvimento da mãe biológica, já que não se pode saber o que se passa pela doentia mente humana e, nesta fase dos acontecimentos, absolutamente nenhuma hipótese pode ser descartada?
O ciúme, a loucura, a necessidade de envolver o pai da menina em problemas e dificuldades, tudo pode levar ao mais ardente dos horrores. Eu, pessoalmente, a considero muito fria, distante, todas as vezes que se fala no assunto. Muito, muito estranho...
Seria a madrasta a grande criminosa motivada pela loucura do ciúme, o exaspero, a comoção doentia? Os dois tramaram a morte da menina? Nenhum deles? O crime monstruoso foi, infelizmente, cometido. A vida da menina doce encantadora de um pequeno anjo, infelizmente esvaiu-se por entre os dedos, se esparramando no gramado colorido de dor, de vermelho, do mais absoluto desespero.

Independente de nada a justiça precisa ser feita. Como desvendar este mistério tão complexo? O pai afirma que levou a menina para o quarto, quando ela já dormia. Saiu, trancou a porta e foi, inocentemente, ajudar a mulher a subir com as duas crianças, e, segundo ele; tempo suficiente para que o monstro - até agora invisível - invadisse o apartamento...e...zapt! fizesse o mundo inteiro chorar e se encher de sofrimento e mágoa.

Como estudioso de minúcias do sociograma familiar, uma curiosidade não deixou de chamar-me a atenção. Uma questão de quebra-cabeças de nomes. É que o pai da madrasta, Ana Carolina, que aliás tem o mesmo nome da mãe da menina, também chama-se Alexandre, como o verdadeiro pai da menina, que é também um dos principais suspeitos do crime. Uma simples coencidência? Um jogo neurótico de atrações, cuja cumplicidade pode ajudar na execução de tamanha monstruosidade? Ainda mais da forma prosáica como foi realizada, horrível, triste, arrepiante.

Por outro lado, sei que o nosso processo jurídico ainda é suficientemente grosseiro para atender a este tipo de sulileza e que, certamente, será considerada sem a menor importância. E será que tem? Mas, enfim, o importante é que a justiça seja plenamente feita. Que os culpados sejam punidos exemplarmente. Pois, apagar este sorriso, acabar com estas gracinhas e destruir as muitas alegrias que certamente viriam, é algo mais que sério. Tem um custo altíssimo e tem, necessariamente que ser pago.

Mas, como no caso da violência brutal cometida contra a menina de Goiânia, coloco aqui meu reclamo para que este crime seja aproveitado pelo lado positivo da reflexão. Para que todos nós, pais, educadores, cidadãos comuns, deixemos de assassinar processual e vagarosamente as Isadoras, as Marias, os Pedros e os Joãos de nossas vidas. E o fazemos com muita eficiência, por meio da obrigatoriedade de se frequentar uma escola fria, iníqua, criminosa. A indução a castigos, a negação dos direitos de serem crianças, a imposição de dogmas e valores. O tratamento criminoso das crianças como se elas fossem adultos em miniaturas.

No geral, queremos que as crianças sejam objetivas, que tenham hora para tudo, e que, neuroticamente, respondam a obrigações, cumpram tarefas, levantem sonolentos, não brinquem disto e daquilo, e, finalmente, que atendam aos desejos e interesses dos mais adultos que as rodeiam. Isto também não é uma tipologia de crime? Não é uma forma lenta de assassinar a alma, os sonhos, os desejos, as graças, o brilho dos olhos? Nada mais triste. Tão triste quanto matar a alma de nossas crianças é tirar a vida do corpo daquele anjo chamado Isabela, a menina do Brasil, que, como os seus sonhos, vão embora antes que se concretizem.

E, finalmente, que os nossos governantes acordem para esta especialidade de crimes que tanto acontecem em nossos dias. Sempre estamos vendo inaugurar novas técnicas, metodologias do horror, de mortes, de assaltos, de desreito, de dor e de medo, enquanto estas horradas senhoras e senhores continuam afirmando que este país nunca esteve tão bem governado e com tudo sobre o mais absoluto controle. Que a morte de Isabella não seja em vão. E que nos leve a refletir e mudar, a reduzir a mediocridade e as mentiras, para que deixemos todos de ser meio-assassinos, sem culpa e sem consciência das brutalidades que cometemos. Embora doa e seja terrivelmente triste.


Antonio da Costa Neto