Não acho mesmo que Suzane von Richthofen e seus comparsas tenham feito uma bela coisa, que mereçam medálhas e serem premiados. Pelo contrário, cometeram um crime hediondo e devem ser punidos pelo que fizeram. Mas entendo bem a situação deles e defendo a tese de que a psicologia e suas descobertas novas e maravilhosas deveriam intervir neste tipo de processo, no exato sentido de aliviar as dores e os sofrimentos que não são merecidos. Pois, a lei afirma que o indivíduo deve pagar unicamente pelo que fez, não podendo ter mais punições intercorrentes. E, lógico, quem comete um crime nestas proporções, não o faz sozinho. É, na maioria das vezes, apenas o executor, sendo que tudo pode até ter sido causado pelas próprias vítimas.
Eu mesmo, já tive por muitas vezes talvez prestes a fazer isso, e, é claro, com requintes da crueldade igual aos que recebi desde a minha concepção. E olha que eu nem sabia de nada, não tinha pedido...Me fizeram, me inventaram e depois não queriam assumir as conseqüências.
Não sei se vem ao caso, mas sou o primeiro filho depois de dez anos de uma segura, tranqüila e até, aparentemente infinita lua de mel. E eis que vem o moleque. Pra chorar de noite, querer mamadeira, fazer cocô nas fraldas, em síntese, dar trabalho, incomodar o sonolento "status quo" daquele famigerado ninho de amor.
Meu pai queria - por razões freudianas não-confessas - que viesse uma menina para ele ser o rei absoluto da casa. A autoridade fálica única, o dono e senhor, o todo poderoso. E eu, por mais esta infelicidade, vim menino. Fizeram então um tremendo esforço, o maior possível para remediarem o problema. Minha mãe - aquela filha da puta - me vestia com camisinhas franzidas na cintura, com mangas fofas e golinhas com rendas. Uma gracinha que ainda amargo nas páginas amarelas do álbum de fotografias que meus sobrinhos menores rasgam, mas são incompetentes para fazer desaparecer para sempre. E ainda por cima, meu pai colocou no bebê, pelas mesmas razões da raiva que sentia, o mesmo nome do pai dele - daí o Neto no meu nome - com quem ele tinha uma relação, digamos, tumultuada. O que, ainda hoje tem sido um dos fardos pesadíssimos para eu carregar.
Agora, aos 80 cravados, pois vaso ruim... Minhas irmãs resolveram fazer uma bela festa para ela. Aliás, a foi um grande espetáculo. E como ela é acostumada a ler na igreja, escrevi pacientemente um texto belíssimo para que ela lesse na celebração da palavra, sua exigência para festa, uma vez que é católica apostólica brutal.
Fiz um escrito breve e repleto de citações. Digitei em arial, negrito 16 para evitar os problemas de visão. Ao lê-lo em casa como ensaio, e, ao pressentir o possível sucesso, começou a alegar que não enxergaria as letras e deixou as páginas voando no sofá que logo cairam na boca do meu cachorro Ébano que, que na verdade, era quem eu deveria homenagear. Pelo menos seria menos gasto de papel, de fosfato e de tôner.
De outra vez quando recebi de uma amiga uma bela homenagem em seu livro e eu, fazendo todo o esforço para que ele lesse a duas páginas e meia que tanta alegria me deram. Claro que não consegui, o que apenas aconteceria às custas das mais violentas das torturas, o que, evidentemente, não valeria a pena.
Estes são dois fatos de que me lembro. Mas minha mãe sempre me colocou no último dos planos. Inventando para o meu pai, idéias mirabolantes sobre as minhas artes para se deleitar com as surras que ele me dava e que ela assistia absolutamente omissa e passiva. Sem ser hipócrita, gostaria de ter a coragem e a valentia desta moça que deu a resposta às agruras, às humilhações e a todo o tipo de violência que, certamente, recebeu ao longo da vida. Tanto que a levou a cometer o crime horrível que acabou com a vida de seus pais, muitas outras, inclusive, a dela própria.
Os anos que os pais estão presos ao túmulo também deveriam ser levados em conta e subtraídos da pena dos demais culpados, pois também o são, da mesma forma que são vítimas. Pois alguém que chega a cometer este tipo de desatino, bem criado é que não foi. Não recebeu amor, nunca foi ouvido e compreendido, talvez como agora o faço, um tanto tardiamente, é claro.
Diz a sabedoria popular que quem cria monstros é depois engolido por eles. E é assim que eu vejo a situação. Não cometi este crime ainda e, com certeza, pela minha idade, formação, espiritualidade, e, pela idade dela, espero, não ter tempo para isso. Só estou referindo-me a tal fato porque achei oportuno e vendo que a situação se repete, ao contrário com o caso Isabella Mardone, outra grande tristeza carregada de dúvidas e mistérios que, certamente, amargaremos por muito tempo ainda enquanto cidadãos de um país de justiça cega e de injustiça com imensos óculos de grau.
Mas digamos que eu tivesse esta coragem. Certamente a Globo noticiaria aos quatro cantos, frente a minha idade, as bandeiras que defendi na vida, o que escrevi, publiquei e até este blog, até certo ponto, tão incisivo. Que pena que não se tornam públicos os crimes que minha mãe, os Ricthofen e muitos outros pais cometem. Que são processuais, lentos, invisíveis, pois o sangue da alma, dos espírito e da paz interior que matam é insípedo, inodoro, incolor. Mais fino e se esvai muito mais rápido de que uma mólecula de água ao sol causticante do meio-dia de verão tropical.
É pena que suas conseqüências durem tanto. Indo para gerações futuras e causando sofrimentos infinitos, como os que sinto agora e que foram provados por meus pais, avós, bisavós, trisavós, tetravós...Adão...Eva... Pobre humanidade trôpega, perdida e órfã de seus infinitos e omissos pais culpados e criminosos. E pior ainda, pelo que vejo, eternamente impunes e perdoados pelas desgraças humanas e o caos que provocam em todas as dimensões do mundo.
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Antonio da Costa Neto
(Obs.: Acho que ainda vou estudar Direito para me especializar na área criminal para defender, exclusivamente, este tipo de caso.)
5 comentários:
Eu concordo plenamente com vc, pois sou mais uma vítima da imcompreesnsão dos "santos" pais. Minha mão não é normal, é doente, mas é imperceptível aos olhos das outras pessoas, só quem convive é que sabe. Ela odeia meu namorado, nãp pq ele é uma marginal ou um aproveitador, simplesmente pq ele não é milionário, pq vem de uma família simples. Ele é estudioso, passou em concurso, carinhoso, honesto e mesmo assim ela o odeia. Sei o que é se sentir presa, vivo 23 anos numa imensão prisão onde não posso ter minhas próprias opiniões e escolhas, tudo pq ainda não formei, não tenho dinheiro e infelizmente ainda dependo da minha "mãe". Muitas vezes tive vontade de fazer o msm que a Suzane, mas acho que entre ter vontade e fazer há um grande abismo ou uma grande falta de coragem msm. Aí depois que esses "santos" pais ficam velhos e são abandonados num asilo as pessoas ainda criticam, é um absurdo, ninguém sabe os monstros que são e o qt esses pais fazem os filhos sofrerem. Eu nasci numa casa sem o mínimo de estrutura possível e tenho que sofrer as consequencias e as maluquices da minha mãe, que me magoam e magoam outras pessoa tb. Não vejo a hora de me estabilizar financeiramente e sumir de vez! Minha mãe vai ficar velha e morrer sozinha pq nem as pessoas de fora conseguem aturá-la. Só não sei por mais qt tempo posso aguentar, pois às vezes chego a duvidar até msm da minha própria sanidade e tenho medo de acabar como a Suzane, pq às vezes é um pulo pra loucura e acho que já estou quase lá! Só peço à deus pra me dar forças e me livrar logo disso tudo!!!
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Ora,Ora,Ora...se cada um que sofresse por ter maus pais, os matassem! Imaginem como seria o mundo???
O que sabemos sobre a intimidade daquela família???
Pois bem, eu e minha mãe perdemos o teto (e o chão também!), quando meu pai vendeu nossa casa e paramos na rua.
Tocamos nossa vida pra frente e aprendi lições nesta vida, mas nunca meu coração deu espaço a ódio ou a tramas maquiavélicas!
Acho graça do que li e vi que não está só em seus pensamentos...
...você deveria ter pena e não "compreender ódios", por favor!
Percebi que você parece ser orgulhoso e que esperava ter admiração dos pais. Não as teve? Não dê bola!!!
Porra, tanto estudo e graduações e sei lá o quê, pra ficar pensando (e divulgando) merda.
Irmão, procura um psicólogo.
Willian vc tem toda razão... Tem tantas coisas bacanas pra fazer na vida, pra que ficar remoendo passado?
Amigo, quanto tempo se passou, esquece isso, vc é inteligente, saudável, um home bonito. Bola pra frente!! Aproveite o que a vida te ofereceu de bom e manda o resto pras cucuias...
A condenação e a prisão deveriam terem sido executadas apartir do momento em que eles pensaram nessa atrocidade.
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