domingo, 6 de abril de 2008

ISABELLA, A MENINA DO BRASIL


Não só o Brasil, mas o mundo inteiro vivem dias do mais profundo horror com o brutal assassinato da menina Isabella, que foi, da forma mais monstruosa possível, atirada da janela do apartamento onde seu pai, sua madrasta e os irmãos mais novos moram. E muitas interrogações se seguem: Estará o pai da menina envolvido no crime em função da tumultuada relação com a mãe dela? Há uma possibilidade mesmo que remota do envolvimento da mãe biológica, já que não se pode saber o que se passa pela doentia mente humana e, nesta fase dos acontecimentos, absolutamente nenhuma hipótese pode ser descartada?
O ciúme, a loucura, a necessidade de envolver o pai da menina em problemas e dificuldades, tudo pode levar ao mais ardente dos horrores. Eu, pessoalmente, a considero muito fria, distante, todas as vezes que se fala no assunto. Muito, muito estranho...
Seria a madrasta a grande criminosa motivada pela loucura do ciúme, o exaspero, a comoção doentia? Os dois tramaram a morte da menina? Nenhum deles? O crime monstruoso foi, infelizmente, cometido. A vida da menina doce encantadora de um pequeno anjo, infelizmente esvaiu-se por entre os dedos, se esparramando no gramado colorido de dor, de vermelho, do mais absoluto desespero.

Independente de nada a justiça precisa ser feita. Como desvendar este mistério tão complexo? O pai afirma que levou a menina para o quarto, quando ela já dormia. Saiu, trancou a porta e foi, inocentemente, ajudar a mulher a subir com as duas crianças, e, segundo ele; tempo suficiente para que o monstro - até agora invisível - invadisse o apartamento...e...zapt! fizesse o mundo inteiro chorar e se encher de sofrimento e mágoa.

Como estudioso de minúcias do sociograma familiar, uma curiosidade não deixou de chamar-me a atenção. Uma questão de quebra-cabeças de nomes. É que o pai da madrasta, Ana Carolina, que aliás tem o mesmo nome da mãe da menina, também chama-se Alexandre, como o verdadeiro pai da menina, que é também um dos principais suspeitos do crime. Uma simples coencidência? Um jogo neurótico de atrações, cuja cumplicidade pode ajudar na execução de tamanha monstruosidade? Ainda mais da forma prosáica como foi realizada, horrível, triste, arrepiante.

Por outro lado, sei que o nosso processo jurídico ainda é suficientemente grosseiro para atender a este tipo de sulileza e que, certamente, será considerada sem a menor importância. E será que tem? Mas, enfim, o importante é que a justiça seja plenamente feita. Que os culpados sejam punidos exemplarmente. Pois, apagar este sorriso, acabar com estas gracinhas e destruir as muitas alegrias que certamente viriam, é algo mais que sério. Tem um custo altíssimo e tem, necessariamente que ser pago.

Mas, como no caso da violência brutal cometida contra a menina de Goiânia, coloco aqui meu reclamo para que este crime seja aproveitado pelo lado positivo da reflexão. Para que todos nós, pais, educadores, cidadãos comuns, deixemos de assassinar processual e vagarosamente as Isadoras, as Marias, os Pedros e os Joãos de nossas vidas. E o fazemos com muita eficiência, por meio da obrigatoriedade de se frequentar uma escola fria, iníqua, criminosa. A indução a castigos, a negação dos direitos de serem crianças, a imposição de dogmas e valores. O tratamento criminoso das crianças como se elas fossem adultos em miniaturas.

No geral, queremos que as crianças sejam objetivas, que tenham hora para tudo, e que, neuroticamente, respondam a obrigações, cumpram tarefas, levantem sonolentos, não brinquem disto e daquilo, e, finalmente, que atendam aos desejos e interesses dos mais adultos que as rodeiam. Isto também não é uma tipologia de crime? Não é uma forma lenta de assassinar a alma, os sonhos, os desejos, as graças, o brilho dos olhos? Nada mais triste. Tão triste quanto matar a alma de nossas crianças é tirar a vida do corpo daquele anjo chamado Isabela, a menina do Brasil, que, como os seus sonhos, vão embora antes que se concretizem.

E, finalmente, que os nossos governantes acordem para esta especialidade de crimes que tanto acontecem em nossos dias. Sempre estamos vendo inaugurar novas técnicas, metodologias do horror, de mortes, de assaltos, de desreito, de dor e de medo, enquanto estas horradas senhoras e senhores continuam afirmando que este país nunca esteve tão bem governado e com tudo sobre o mais absoluto controle. Que a morte de Isabella não seja em vão. E que nos leve a refletir e mudar, a reduzir a mediocridade e as mentiras, para que deixemos todos de ser meio-assassinos, sem culpa e sem consciência das brutalidades que cometemos. Embora doa e seja terrivelmente triste.


Antonio da Costa Neto

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