segunda-feira, 26 de março de 2012

M A R A V I L H O S O C H I C O ! ! !


Francisco é, na verdade, um nome maravilhoso. Tudo o que é Francisco, Chico, Xiquin é bom. Meus padrinhos Francisco Luiz e Nenem da Costa, que também era Francisco, por exemplo, eram muito bons, honestos, carinhosos, trabalhadores, humildes, bem-humorados. E eu morro de saudades deles. Francisco, do Zé Tavares é um menino de ouro. Tem o Chico Preto, que eu adoro. E o que falar do rio, o Velho Chico, o Rio São Francisco? San Francisco, São Francisco o protetor dos bichos? Sem dúvida o melhor dos santos, com sua história feita de amor e pureza, suas ideias, seus presépios... Tem o Buarque, o César, o Science... todos um encanto... e outors, e outros ...
... E para completar tudo isto vem o Chico Anyzio. Nosso saudoso Chico do riso, das gargalhadas, das coisas boas e belas que só ele sabia fazer. Vejo hoje este humor enfadonho, repetitivo, de baixa qualidade e que tem graça por duas vezes, mas que se repete por anos e anos como se fosse um tabu da responsabilidade de se ter que fazer rir. Grandes bobagens. Mas com o nosso Chico era e é diferente. A gente ri mesmo, um riso gratuito, sem peso, sem ter que forçar.
Chico Anysio fazia graças supremas com seus mais de 200 personagens que ele criou e representou como ninguém. São Pantaleões, Bozós, Aroldos, Qualhadas, Jovens, Painhos, Professores Raimundos, Justos & Veríssimos, Nazarenos, Popós, Santelmos, Albertos Robertos, Bentos Carneiros, infinitos, com detalhes, incríveis sutilezas com o refino da arte associada ao poder de fazer rir. E tudo isto junto é mais do que uma santificação. Eas moças? A Dedé que eu acho que quase ninguém se lembra. Neide Taubaté, Salomé de Passo Fundo... enfim, todas e todos profetas.
Donos do ensinamento, da arte, do quebrar antigos preconceitos, do fazer o bem incontido e a todos, o que foi a maior de suas artes, como homem, pai, parceiro, colega, amigo, um Chico-tudo. E fica pareendo até que convivi com ele. E a inteireza de seus partners de cena? Sofia, Terta, Soiza, Paulete??? Claro que tudo saia da cabeça do grande Chico: trejeitos, adereços, figurinos, mantras, sons, tudo...
Quem não gostaria de ter morado em Chico Citty? De fazer parte de suas histórias, de seus mistérios de morrer de rir? Quem não gostaria de ser filho, de se casar com Chico, de ser seu amigo de infância em Maranguape, ou de ser o próprio Chico? Ah! eu queria muito. Gostaria de ter tido qualquer uma destas posições. Além do humor, o esporte, as crônicas, as composições:

"..Quero o bate-papo na esquina.
Eu quero o Rio antigo com crianças nas calçadas,
brincando sem perigo, sem metrô e sem frescão...
...cidade sem aterro, como Deus criou...
Quero a Cinelândia estreando 'E o vento levou',
O velho samba do Ataúlfo que ninguém jamais gravou,
PRK-30 que valia 100.
Como nos velhos tempos...
"

Este poema de amor e encantamento pelo seu Rio de Janeiro, na voz da eterna Alcione. Sabiam que é dele? E a crônica linda que encerrou o Fantástico em sua homenagem? Me lembro que a ouvi, há exatos 30 anos. Mas claro, não me recordava dos detalhes. Você propõe, de forma muito mais que genial a reinvenção da vida. Que as pessoas nasçam velhas e morram crianças, e, assim, o mundo iria todo andando para trás.
Aí, Chicão, você sugere que o homem nasça com 80 anos. Não foi? Pois é, que infeliz acaso. Me entendeu? Por que você não propôs 120, 130 ou 150? Pois aí, certamente, Deus que ouve o mito, iria obedecer você e teríamos mais uns bons pares de anos com a sua companhia carnal.
Mas que bom. Como sua proposta é lei para Deus. Ele inspira o homem ao invés de soprar o barro, antes que ele nasça e que volte à sua origem magnífica. E assim se fez. Deus inspirou você, passando a ser um Chico Anyzio. Tendo dentro de si a sua essência mágica, acolhedora da vida, seus feitos e bondades.
E nós, que aqui ainda estamos gozaremos das delícias deste mundo que será novo, diferente e muito melhor. Como Deus, que, certamente, não poderá mais ser o mesmo agora que tem você por dentro. Pois um Deus que tem dentro de si um Francisco Anyzio passa a ser um Deus muito maior.
Um Deus de luz, de beleza, de graça. E o mais importante que tudo: um Deus que sabe rir e, principalmente, fazer rir. Um Deus bem-humorado. Em síntese, aquele Deus-Menino do poema de Fernando Pessoa que cresceu e criou asas: enfim, o Deus que faltava. E deixando pronta esta alegria, você, Chico, ganhou um presente infinito e encantador, que é a paz. A paz de criança dormindo. A síntese mais que perfeita do que você agora é.
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Antonio da Costa Neto

antoniocneto@terra.com.br

quinta-feira, 1 de março de 2012

REPENSAR/REFAZER A EDUCAÇÃO


Como professor e estudante que fui até bem pouco tempo, fico pensando nos problemas da educação. Desde que sou menino e que me alfabetizei, ainda no interior de Goiás, mais precisamente, em Leopoldo de Bulhões, onde meu pai era mestre-de-obra na construção da igreja católica, o que era o maior orgulho, mas hoje, nem tanto. A impressão que eu tenho é de que os problemas são os mesmos. E o que é pior, a cada dia, mais graves, sérios e complexos, pois envolvem sempre mais pessoas e outros valores. E a coisa vai se complicando.

Minha visão é, portanto, que temos que modificar a escola. Dizem que os alunos não querem assistir as aulas, concordo! Mas por que elas não poderiam ser mais ricas e interessantes a ponto de fazerem os alunos gostarem delas? A meu ver, muito do que a escola ensina não serve para nada. A não ser, para desviar atenção dos alunos dos problemas do mundo e da vida. Que eu também sei, não são poucos. Parece-me que os adolescentes e os jovens de hoje, mesmo os que freqüentam as melhores – leia-se as mais caras – escolas, são uns alienados do mundo e da vida. O que aprendem, aprendem na Internet, instrumento muito rico, mas sob o qual, temos que estar de olho o tempo todo e fico perguntando: Por que os professores não orientam seus alunos neste sentido?

Por que não discutem - claro no nível dos alunos - as coisas do mundo como a política, a economia, o mercado. Enfim, tudo o que tanto precisamos para conduzir o mundo e a vida nestes tempos tão duros em que vivemos? Como empresário, tenho hoje, a maior dificuldade em encontrar pessoas que pensem. E se eu quiser, tenho que ensinar os candidatos a pensar. E depois de prontos, eles vão embora e eu fico como um bobo na praça, formando gente capacitada para os meus concorrentes. O que não tem o menor problema, pois, afinal, estou de alguma forma, ajudando à sociedade e ao mercado. Posso estar engandado, mas não seria da escola esta função?

Vejo que todos se preocupam com a estrutura da escola, do prédio. Querem consertar o piso, as torneiras, os banheiros e, claro, isto é muito bom, mas insuficiente. Acho que o que se tem que pensar mesmo é a filosofia da escola, o que ela ensina, para que ela ensina. Estaria a escola ajudando o aluno a viver mais e melhor? A transformar para o bem a vida e a sociedade? Não posso afirmar, mas desconfio que não, ela tem feito até o contrário disso.

Converso com pedagogos e concordo com os poucos que dizem que tudo o que dificulta a autonomia é anti-educativo e não pode permanecer na escola. Como disse, não entendo a fundo da questão, mas vejo que as nossas crianças, jovens, adolescentes e adultos, enquanto estudantes, não podem ter nenhuma autonomia na escola. E quando digo nenhuma, é nenhuma mesmo. Ora, os alunos têm que usar o uniforme, que na maioria das vezes, odeiam – vejo a luta lá em casa como é neste sentido. Depois, o aluno tem que aprender um conhecimento que na maioria das vezes não tem nada haver com ele. Sob a desculpa de que está no programa e tem que ser assim. Mas como tem que ser assim, num tempo de direitos humanos, de um governo pluralista e voltado para os interesses do povo trabalhador? Será que estou errado? Desconfio, mais uma vez que não. É que os profissionais da educação não querem saber disto. Pois dá trabalho formar uma pessoa crítica, que pensa, que exige. Pois esta pessoa irá exigir, primeiro, boas aulas, educação de qualidade, no que vale aquele princípio: - não vou criar cobra para me morder.

E este é, na verdade, o grande problema, talvez o maior, talvez o único. Enquanto os educadores não se debruçarem sobre esta premissa. Enquanto não se darem conta dos desserviços humanos, sociais, políticos, e, principalmente, ideológicos, que prestam, embutidos nas pequenas contribuição que dão, nada disto vai mudar. Os educadores - coitados - têm que perceber que escola não foi inventada para educar ninguém. Mas muito pelo contrário, o seu objetivo é o de alienar o povo, a massa, para que os poderosos vivam bem e tenham tudo. Só isso.

Os educadores precisam, finalmente, entender que o que ensinam, e, especialmente, o como ensinam têm uma única finalidade: a de facilitar o uso e o abuso do povo, do eleitor, dos trabalhadores, inclusive, eles próprios. Nesta perspectiva, nariz de palhaço é pouco. Orelhas de burro é menos ainda. Não sei como uma classe supostamente preparada, com curso superior, etc. não se desperta deste pesadelo. É muita acomodação, muita ingenuidade - por que não dizer, muita burrice.

Se o aluno tem que cumprir, sem questionar horários rígidos e inflexíveis, assuntos, professores, lugar na sala, colegas, dever de casa, tudo, sem o direito de abrir a boca e a escola ainda diz que está educando, formando cidadãos para um mundo justo e livre, então alguma coisa está muito errada e precisa ser refeita com a máxima urgência. É claro que o prédio limpo, o conforto, a segurança, a privacidade para estudar é muito importante. Mas, quando se quer, se ensina e se aprende até debaixo de uma árvore, sem necessidades outras. Eu mesmo fui alfabetizado e tive meus estudos iniciais sob uma frondosa mangueira. Aprendi muito e não tenho, pessoalmente, nada o que reclamar neste sentido. Éque naquele tempo - nem tão longíncuo assim, educação era educação. É que as "vacas eram mais gordas" e o governo, a economia internacional, os empresários, não queriam tanto, como hoje, tomar doce da mão de criança, se é que entendem o que quero dizer. Professor naquela época era professor mesmo, como D. Valdelice que me alfabetizou. O que ela dizia mais ter era vergonha na cara. Ensinava e a gente aprendia para a vida mesmo. Claro que tinha defeitos, mas não era como hoje, este horror todo que presenciamos no mundo inteiro e ninguém faz nada, a não ser querer mais salário.

Entendo, por fim, que precisamos todos fazer todo empenho para se repensar, e, mais que tudo, refazer todas estas coisas em educação. Se o aluno é educado com autonomia, com crítica, com liberdade, com alegria, claro que ele desejará ir para a escola e lá permanecer. Temos que perder o medo da felicidade e começarmos a formar cidadãos que saibam pensar. Pois no mundo de hoje, só faz quem pensa. Acredito que a escola tem se esquecido que o mercado evoluiu, as demandas são outras e o capitalismo não é mais o mesmo. E para crescer, é preciso, de fato, contar com trabalhadores e patrões, políticos e povo com mais sensibilidade, com visão ampla, com respostas para os desafios que aí estão.

Infelizmente, nossas escolas mais mecanizam do que educam. E sobra para nós cidadãos, empresários, trabalhadores, enfim, sociedade, este rescaldo social que aí está. A escola precisa orientar mais e mandar menos. Amar e respeitar mais, disciplinar e doutrinar menos. Simples assim. Pois teremos trabalhadores mais lúdicos e produtivos, um outro consumo, uma outra autonomia econômica, que permitirá, inclusive que os trabalhadores ganhem mais, inclusive os professores. Por ora, não basta culpar o governo, as pressões políticas, a economia, o sistema, o mercado. Temos que oxigenar, facilitar a evolução, o que começa com uma outra atitude dos educadores, dos professores, dos pais. Temos que começar tendo coragem para repensar o impensado. E refazer o que até agora tem sido feito só pela metade.

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Antonio da Costa Neto é educador, pesquisador, conferencista, autor de livros e artigos variados sobre o tema.