quinta-feira, 1 de março de 2012

REPENSAR/REFAZER A EDUCAÇÃO


Como professor e estudante que fui até bem pouco tempo, fico pensando nos problemas da educação. Desde que sou menino e que me alfabetizei, ainda no interior de Goiás, mais precisamente, em Leopoldo de Bulhões, onde meu pai era mestre-de-obra na construção da igreja católica, o que era o maior orgulho, mas hoje, nem tanto. A impressão que eu tenho é de que os problemas são os mesmos. E o que é pior, a cada dia, mais graves, sérios e complexos, pois envolvem sempre mais pessoas e outros valores. E a coisa vai se complicando.

Minha visão é, portanto, que temos que modificar a escola. Dizem que os alunos não querem assistir as aulas, concordo! Mas por que elas não poderiam ser mais ricas e interessantes a ponto de fazerem os alunos gostarem delas? A meu ver, muito do que a escola ensina não serve para nada. A não ser, para desviar atenção dos alunos dos problemas do mundo e da vida. Que eu também sei, não são poucos. Parece-me que os adolescentes e os jovens de hoje, mesmo os que freqüentam as melhores – leia-se as mais caras – escolas, são uns alienados do mundo e da vida. O que aprendem, aprendem na Internet, instrumento muito rico, mas sob o qual, temos que estar de olho o tempo todo e fico perguntando: Por que os professores não orientam seus alunos neste sentido?

Por que não discutem - claro no nível dos alunos - as coisas do mundo como a política, a economia, o mercado. Enfim, tudo o que tanto precisamos para conduzir o mundo e a vida nestes tempos tão duros em que vivemos? Como empresário, tenho hoje, a maior dificuldade em encontrar pessoas que pensem. E se eu quiser, tenho que ensinar os candidatos a pensar. E depois de prontos, eles vão embora e eu fico como um bobo na praça, formando gente capacitada para os meus concorrentes. O que não tem o menor problema, pois, afinal, estou de alguma forma, ajudando à sociedade e ao mercado. Posso estar engandado, mas não seria da escola esta função?

Vejo que todos se preocupam com a estrutura da escola, do prédio. Querem consertar o piso, as torneiras, os banheiros e, claro, isto é muito bom, mas insuficiente. Acho que o que se tem que pensar mesmo é a filosofia da escola, o que ela ensina, para que ela ensina. Estaria a escola ajudando o aluno a viver mais e melhor? A transformar para o bem a vida e a sociedade? Não posso afirmar, mas desconfio que não, ela tem feito até o contrário disso.

Converso com pedagogos e concordo com os poucos que dizem que tudo o que dificulta a autonomia é anti-educativo e não pode permanecer na escola. Como disse, não entendo a fundo da questão, mas vejo que as nossas crianças, jovens, adolescentes e adultos, enquanto estudantes, não podem ter nenhuma autonomia na escola. E quando digo nenhuma, é nenhuma mesmo. Ora, os alunos têm que usar o uniforme, que na maioria das vezes, odeiam – vejo a luta lá em casa como é neste sentido. Depois, o aluno tem que aprender um conhecimento que na maioria das vezes não tem nada haver com ele. Sob a desculpa de que está no programa e tem que ser assim. Mas como tem que ser assim, num tempo de direitos humanos, de um governo pluralista e voltado para os interesses do povo trabalhador? Será que estou errado? Desconfio, mais uma vez que não. É que os profissionais da educação não querem saber disto. Pois dá trabalho formar uma pessoa crítica, que pensa, que exige. Pois esta pessoa irá exigir, primeiro, boas aulas, educação de qualidade, no que vale aquele princípio: - não vou criar cobra para me morder.

E este é, na verdade, o grande problema, talvez o maior, talvez o único. Enquanto os educadores não se debruçarem sobre esta premissa. Enquanto não se darem conta dos desserviços humanos, sociais, políticos, e, principalmente, ideológicos, que prestam, embutidos nas pequenas contribuição que dão, nada disto vai mudar. Os educadores - coitados - têm que perceber que escola não foi inventada para educar ninguém. Mas muito pelo contrário, o seu objetivo é o de alienar o povo, a massa, para que os poderosos vivam bem e tenham tudo. Só isso.

Os educadores precisam, finalmente, entender que o que ensinam, e, especialmente, o como ensinam têm uma única finalidade: a de facilitar o uso e o abuso do povo, do eleitor, dos trabalhadores, inclusive, eles próprios. Nesta perspectiva, nariz de palhaço é pouco. Orelhas de burro é menos ainda. Não sei como uma classe supostamente preparada, com curso superior, etc. não se desperta deste pesadelo. É muita acomodação, muita ingenuidade - por que não dizer, muita burrice.

Se o aluno tem que cumprir, sem questionar horários rígidos e inflexíveis, assuntos, professores, lugar na sala, colegas, dever de casa, tudo, sem o direito de abrir a boca e a escola ainda diz que está educando, formando cidadãos para um mundo justo e livre, então alguma coisa está muito errada e precisa ser refeita com a máxima urgência. É claro que o prédio limpo, o conforto, a segurança, a privacidade para estudar é muito importante. Mas, quando se quer, se ensina e se aprende até debaixo de uma árvore, sem necessidades outras. Eu mesmo fui alfabetizado e tive meus estudos iniciais sob uma frondosa mangueira. Aprendi muito e não tenho, pessoalmente, nada o que reclamar neste sentido. Éque naquele tempo - nem tão longíncuo assim, educação era educação. É que as "vacas eram mais gordas" e o governo, a economia internacional, os empresários, não queriam tanto, como hoje, tomar doce da mão de criança, se é que entendem o que quero dizer. Professor naquela época era professor mesmo, como D. Valdelice que me alfabetizou. O que ela dizia mais ter era vergonha na cara. Ensinava e a gente aprendia para a vida mesmo. Claro que tinha defeitos, mas não era como hoje, este horror todo que presenciamos no mundo inteiro e ninguém faz nada, a não ser querer mais salário.

Entendo, por fim, que precisamos todos fazer todo empenho para se repensar, e, mais que tudo, refazer todas estas coisas em educação. Se o aluno é educado com autonomia, com crítica, com liberdade, com alegria, claro que ele desejará ir para a escola e lá permanecer. Temos que perder o medo da felicidade e começarmos a formar cidadãos que saibam pensar. Pois no mundo de hoje, só faz quem pensa. Acredito que a escola tem se esquecido que o mercado evoluiu, as demandas são outras e o capitalismo não é mais o mesmo. E para crescer, é preciso, de fato, contar com trabalhadores e patrões, políticos e povo com mais sensibilidade, com visão ampla, com respostas para os desafios que aí estão.

Infelizmente, nossas escolas mais mecanizam do que educam. E sobra para nós cidadãos, empresários, trabalhadores, enfim, sociedade, este rescaldo social que aí está. A escola precisa orientar mais e mandar menos. Amar e respeitar mais, disciplinar e doutrinar menos. Simples assim. Pois teremos trabalhadores mais lúdicos e produtivos, um outro consumo, uma outra autonomia econômica, que permitirá, inclusive que os trabalhadores ganhem mais, inclusive os professores. Por ora, não basta culpar o governo, as pressões políticas, a economia, o sistema, o mercado. Temos que oxigenar, facilitar a evolução, o que começa com uma outra atitude dos educadores, dos professores, dos pais. Temos que começar tendo coragem para repensar o impensado. E refazer o que até agora tem sido feito só pela metade.

____________

Antonio da Costa Neto é educador, pesquisador, conferencista, autor de livros e artigos variados sobre o tema.

Um comentário:

georgia cully disse...

Li e adorei essa postagem!
Gostaria de compartilhar as idéias que vieram na minha mente enquanto lia. Começando pelo título,pois o modo no qual está institucionalizado a educação atual, é a forma a qual o poder quer mantê-la - Alunos preparados pra pensar podem transformar o meio social, vão votar com consciência, vão cobrar seus direitos e por fim por em risco a comodidade de muitos...

A escola nada mais é, do que a reprodução do ESTADO - Estado no qual faz "reformas" na educação...lança um projetinho aqui, faz umas costuras ali.. e vai mantendo seus objetivos primários.
Com isso, a mudança não vai acontecer de cima pra baixo se é que me faço entender, mas sim dos professores guerreiros, que tem consciência de seu papel na vida de cada aluno. Vai acontecer naturalmente e infelizmente a longo prazo, mas se continuar se propagando a classe de professores criativos, seletivos, que ensinam o conteúdo estabelecendo relações com o cotidiano dos alunos, ou seja, dando significado ao que ensina. Aulas precisam ser personalizadas sim, interessantes sim - Cada turma tem um perfil e isso precisa ser respeitado para que de fato haja a o ensino e a aprendizagem, que ambos não são as mesmas coisas - Nem sempre se aprende aquilo que é ensinado,a aprendizagem não é automática é construída.

Pra finalizar - " para repensar o impensado". Filosófica e verdadeira ...dentro das minhas verdades.

Creio que a visão mecânica de ensinar dos professores, não se deve a falta de vontade de ser um educador de qualidade, mas justamente por isso.. de pensar diferente, pois professores das diversas licenciaturas - História, português, matemática e todas as outras, são professores... não são pedagogos...e portanto foram formados de modo linear. Pra sollucionar isso, acredito muito nas formações continuadas, que fazem com que um : Simples professor, se depare com uma visão mais ampla de educação, que não se limita na matéria e muito menos em salas de aulas.
Geórgia Cully