sábado, 23 de janeiro de 2010

O DIA EM QUE GOTTFRIED BENN PEGOU ONDA


Alberto Pucheu

É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo. É preciso aprender.
Há dias de sol por cima da prancha,
há outros, em que tudo é caixote, vaca,
caldo. É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo, é preciso aprender
a persistir, a não desistir, é preciso,
é preciso aprender a ficar submerso,
é preciso aprender a ficar lá embaixo,
no círculo sem luz, no furacão de água
que o arremessa ainda mais para baixo,
onde estão os desafiadores dos limites
humanos. É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo, a persistir, a não desistir,
a não achar que o pulmão vai estourar,
a não achar que o estômago vai estourar,
que as veias salgadas como charque
vão estourar, que um coral vai estourar
os miolos – os seus miolos –, que você
nunca mais verá o sol por cima da água.
É preciso aprender a ficar submerso, a não
falar, a não gritar, a não querer gritar
quando a areia cuspir navalhas em seu rosto,
quando a rocha soltar britadeiras
em sua cabeça, quando seu corpo
se retorcer feito meia em máquina de lavar,
é preciso ser duro, é preciso aguentar,
é preciso persistir, é preciso não desistir.
É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo, é preciso aprender
a aguentar, é preciso aguentar
esperar, é preciso aguentar esperar
até se esquecer do tempo, até se esquecer
do que se espera, até se esquecer da espera,
é preciso aguentar ficar submerso
até se esquecer de que está aguentando,
é preciso aguentar ficar submerso
até que o vulcão de água, voluntarioso,
arremesse você de volta para fora dele.

domingo, 17 de janeiro de 2010

TRATADO GERAL SOBRE O CINISMO DO GOVERNADOR ARRUDA


Texto de Dora Kramer ao qual tomei a liberdade de fazer pequenas alterações para esta publicação no blog:


Para o exercício do logro, o governador José Roberto Arruda possui instrumental completo: não conhece limites, menospreza o discernimento alheio, confia na eficácia de seus truques e acha que suas mentiras têm pernas longas. E sempre têm, vez que lidera uma comunidade de eleitores bossais, sem, no mínimo, um pouco de memória política ou histórica.
A ideia de recorrer ao mesmo expediente de 2001, quando foi severamente implicado com o escândalo do painel do Senado ( juntamente com o hoje, assessor direto de Lúcifer, Antonio Carlos Magalhães) de novo pedindo desculpas por seus pecados alegando ter sido vítima da própria ingenuidade, deve ter-lhe parecido genial.
Afinal, foi muito bem-sucedido na ocasião. Recebeu uma votação extraordinária no ano seguinte para deputado federal e cinco anos depois de renunciar ao mandato e sair escorraçado do PSDB, virou um "case" em matéria de volta por cima, elegendo-se governador em aliança integrada, entre outros, pelo mesmo PSDB.
Nos quatro principais pronunciamentos que fez nesse período para negar e depois se penitenciar de seus delitos, José Roberto Arruda escreveu um perfeito tratado geral sobre a arte de iludir plateias com a feição do pecador contrito.
"Inútil resistir à verdade", disse ele em momento alto de franqueza quando admitiu ao Senado, em 23 de abril de 2001, que cinco dias antes havia mentido naquela mesma tribuna ao negar a violação do sigilo do painel eletrônico e chamar de mentirosa a funcionária que afirmava ter entregado a ele a lista de votantes na cassação de Luiz Estevão, no ano anterior.
Naquele ato de contrição, na véspera de renunciar ao mandato de senador, Arruda se disse vítima da própria cobiça - "o poder estava me levando, pela vaidade exagerada, pela ambição desmedida, a um atalho, a um desvio, que não é o caminho que tracei"- e assegurou ter aprendido a lição: "É um aviso para mudar enquanto é tempo".
Invocava a desproporcionalidade entre o crime e o castigo - "não matei, não roubei, não enriqueci, não desviei dinheiro público!" - e distribuía ensinamentos a respeito da prevalência da ética sobre a ambição.
"Não há nada de errado em ser ambicioso, mas o erro que muitos temos cometido, e eu certamente cometi, é definir a ambição antes de definir a ética." Esta seria a receita contra a tentação de, diante da oportunidade, se reduzir o "rigor ético".
Parlamentar de primeiro mandato à época, Arruda dizia ter sido acometido por "grande dose de ingenuidade".
"De fraqueza, de açodamento. Falhei, fui ingênuo, infantil, descuidado algumas vezes, mas pretendo, com esse gesto (a penitência) que vem de dentro da alma, dar o exemplo de que sempre se pode retomar o verdadeiro caminho."
Daí em diante, a bordo desse discurso, José Roberto Arruda tomou o caminho da reconstrução da carreira. Pediu perdão coletiva e individualmente a quase cada um de seus eleitores, percorrendo bairros de porta em porta, dizendo de seu arrependimento aos cidadãos de Brasília.
Até chegar em 2006 a governador do Distrito Federal e, três anos depois, voltar à cena da transgressão com provas produzidas em operação da Polícia Federal, de como havia, de novo, privilegiado a ambição do poder em detrimento do "rigor ético".
Aliou-se a um esquema de ilicitudes montado pelo antecessor e tomou um atalho para o Palácio do Buriti se elegendo "por dentro" do aparelho. Viciado, e, portanto, aderiu aos vícios.
Conforme ficou demonstrado pela entrega de gabinete, acesso e desenvoltura de trânsito no poder ao homem que operava a corrupção, que viria a se transformar no denunciante do esquema e com ele, Arruda, visto por todo o Brasil em cena amena de transação financeira.
E o que diz agora o penitente de outrora?
Apela por indulto, alega outra vez ingenuidade, alude ao "erro" de ter "permitido que interesses contrariados" ficassem tão próximos dele e mostra que se alguma coisa aprendeu, foi a se aperfeiçoar na arte de ludibriar: "Eu perdoo a cada dia os que me insultam. Entendo as suas indignações pela força das imagens. E sabem por que eu perdoei? Porque só assim eu posso pedir perdão pelos meus pecados".
Ato contínuo pede que o deixem trabalhar em paz a fim de que "o governo não seja prejudicado" e muitas obras possam ser inauguradas em prol do povo "tão sofredor e, como ele, vitima inocente de descalabros, engodos e interesses iníquos de poucos poderosos".
Uma síntese do festival de descaramento que assombra o Brasil.

sábado, 16 de janeiro de 2010

EDUCAÇÃO FORMAL: UM PROJETO MAQUIAVÉLICO A SERVIÇO DAS ELITES


(*)Antonio da Costa Neto

Estamos em pleno Séc. XXI e algumas coisas permanecem arraigadas no atraso conceitual, metodológico, filosófico, dentre outros. Aí incluindo, os processos pedagógicos, as suas teorias e práticas, a gestão das escolas, enfim, o projeto de educação formal das pessoas.
Faz-se mais que urgente e necessário repensar com profundidade a tônica do papel das escolas, os serviços e desserviços que prestam. Suas lacunas e fragilidades - algumas muito graves - se, de fato, pretendemos superar a crise endêmica que assola o planeta e possamos ter uma qualidade de vida, no mínimo, digna para todos. Sem dúvida, um dos poucos caminhos que ainda nos restam para a superação dos grandes males do mundo a que todos nos achamos expostos e que podemos ser vitimas a qualquer momento.
Sempre trabalhei com educação e sou um apaixonado pela sua causa. Mas paradoxalmente sempre fui também um crítico veemente das escolas, suas ações, seu cinismo histórico doentio. O teor da violência simbólica que elas carregam, praticam e cometem com isto um crime imenso e silencioso contra a humanidade, com uma preocupação absolutamente insensível de se perpetuar o poder do capitalismo - notadamente o internacional - e com ele, todas as formas iníquas de exploração das pessoas e da natureza. Gerando, com isto o grande caos, as crises, os horrores que as sociedades contemporâneas atravessam.
Acredito que quase todos nós estamos insatisfeitos com as múltiplas realidades que nos cercam. Somos a cada dia mais pobres, preocupados com o futuro de todos e, principalmente, o das gerações mais jovens. Muito nos incomoda a tirania do mundo moderno, a iniqüidade da economia e do mercado de trabalho, a violência urbana, o aquecimento global do planeta as endemias primárias, a questão da água no mundo, a corrupção, o trânsito caótico, a violência urbana, apenas para exemplificar.
Mas continuamos, inexplicavelmente, educando as pessoas para que elas possam dar continuidade a tudo isto. Persistimos a reclamar, a reproduzir o modelo, a termos os mesmos resultados que culminam com a infelicidade, os conflitos sociais, a morte precoce e antinatural. E tudo isto me incomoda muito, tanto que venho dedicando anos de estudos, pesquisas e publicações neste sentido, como algumas das conclusões que venho colocar a público por meio deste pequeno ensaio.
Bordieu & Passeron são dois autores clássicos importantes que vêm nos alertar sobre a escola como o mais importante aparelho ideológico a serviço do Estado opressor. Ou seja, para que a sociedade da exploração e do consumo funcione, é preciso que tenhamos cidadãos incautos, inocentes úteis e desinformados. Que forneçam sua força de trabalho, se disponham consciente ou inconscientemente a serem profundamente explorados e que, por fim, paguem e proporcionem o maior lucro possível aos detentores do capital produtivo, num círculo vicioso de mais exploração, mais consumo e mais lucro, e, por conseguinte, com mais miséria, mais desgraças, mais destruição, mais caos.
Ora, o indivíduo que se expõe tão facilmente a este tipo de conduta horrenda e socialmente criminosa precisa ser suficientemente alienado e alijado politicamente de qualquer posicionamento crítico para fazê-lo. Cabe, portanto, às escolas a sublime tarefa de formar - conformar e deformar - as massas inteiras em relação aos potenciais construtores desta sociedade que, por sua vez, garantirá o pleno bem-estar dos seus mandantes, por meio da exploração contínua e gradual dos ditos subordinados, do povo, das classes populares, dos trabalhadores, entre os quais se incluem os profissionais da educação, que, em última análise, trabalham ideologicamente contra eles mesmos.
É preciso que saibam disto, embora doa. No entanto, a saída possível começa com o conhecimento e a aceitação desta dura realidade, o que, a princípio, os educadores têm a maior dificuldade. O que já faz parte do projeto maquiavélico de se usar a educação para a garantia dos interesses da perversidade dos modelos econômicos centralizadores e perversos, qualificando sempre as pessoas no sentido de se facilitar o processo de uso e de exploração das mesmas. Isso se inicia com a própria formação dos educadores. As faculdades de educação, sempre na extrema retaguarda das universidades - para não falarmos na brutal falta de qualidade e responsabilidade acadêmica da grande maioria das instituições isoladas - fazem de tudo para aniquilar o futuro educador de qualquer visão crítica. Nos seus currículos é proibido falar em economia, inflação, ideologia, mecanismos internacionais, corrupção, crises, exploração do homem pelo homem; para que a crítica seja brutalmente assassinada antes que invada os calabouços horrendos das nossas escolas de todos os níveis, transformando-as em substrato inconsciente da alienação social das massas por meio dos conteúdos que ensinam, das táticas que usam, do policiamento que exercem.
Os pedagogos, os orientadores educacionais por exemplo, são formados para atuarem como autênticos cães-de-guarda farejadores dos interesses burgueses dentro das instituições educacionais. Basta que uma mínima prática ensaie a fugir destes, que começam a latir e rosnar grosso pelos corredores e gabinetes prontos para estilhaçarem qualquer educador que se atreva a fazê-lo. Os cursos de licenciatura são outra vergonha deslavada, formando sempre pseudo-profissionais subservientes aos regimes e domínios da exploração capitalista e dos demais sistemas econômicos em todo o mundo. Sendo notória a transformação da performance entre o calouro e o formando que perde ao longo de seu "curso" toda a sensibilidade, a disposição crítica, a autonomia, a flexibilidade. Produzindo a grande massa dos professores incautos e inocentes que, por infeliz sorte, aí temos.
Por que nas aulas ainda é exigida a tradicional e enfadonha chamada dos alunos? Ora, porque se trata de um momento tão cru, frio e desinteressante que só mesmo a coerção da chamada pode garantir a presença dos alunos. Aliás, o modelo aula/prova, num processo de controle policialesco à imposição de um saber balizado pelo interesse capitalista já foi superado há décadas. E, no entanto, continua aí firme e forte, segregando a teoria da prática, a indução da dedução. Criando forças antagônicas entre o saber, a ludicidade, a vida. Daí a grande resistência dos alunos que querem tudo, menos ir para a escola. E ela – a escola – é a grande responsável por isso. Deveria ser motivadora, interessante, convidativa, agradável. Mas não, continua sendo este "café requentado da pior qualidade" como muito sabiamente brinca o Prof. Pedro Demo em um dos seus inúmeros escritos. Mas é impossível fazer isto sem formar a consciência crítica, a percepção aguçada dos fenômenos, o teor da iniciativa; valores é claro, inúteis à exploração da pessoa, morando aí o grande dificultador de uma educação de real qualidade que, na maioria das vezes, os educadores já acreditam que fazem. Ignorando por concreto a imensa distância que estão deste projeto que ainda está por vir.
Em síntese, a escola ensina aos seus alunos muito pouco do que realmente lhes interessa para viverem, fazerem suas conquistas, construírem sua felicidade, que é o que de fato interessa a todo o ser humano. Ela se utiliza de uma metodologia que mais confina o pensamento da pessoa fazendo dela um autêntico retrógrado aos interesses, motivações e impulsos do mundo e da vida moderna. Não avalia, mas pune o diferente, o criativo, o líder, o capaz. As escolas, tal como estão, estragam as pessoas, limitam suas capacidades, reduzem o seu potencial, transformando-as em pura massa de manobra. E ainda chamam isto de educação.
Há também uma política recessiva de não-valorização do educador e dos profissionais da área. O que é estratégico. E faz parte de um esforço brutal para que o famigerado fracasso da educação seja, de fato, um sucesso para os detentores do poder. Por isso, paga-se mal para que se ensine mal. Para que o magistério seja uma profissão de senhoritas caprichosas ou de senhoras "bem casadas" que não dependam do seu dinheiro para viver, para pagar suas contas. Assim, o Estado opressor atinge seu duplo objetivo: o de gastar menos com a educação para que sobre mais dinheiro para a compra de badulaques para as madames do seu circuito, tendo, em contrapartida gente desmotivada para ensinar bem. Perpetuando a alienação das massas com que se aprazem os governantes, os grandes empresários, os donos do poder. Precisamos, portanto, reconstituir todo o paradigma da educação e da escola, construindo e compartilhando normas e regras, elaborando conjuntamente novos, ricos e diversificados conhecimentos que tragam as respostas realmente necessárias a uma vida digna e de melhor qualidade para todos. Que ajudem a descentralizar o poder e a riqueza, que dêem a todos voz e vez na construção do mundo com o qual, com certeza, quase todos sonhamos.
Devemos, por exemplo, substituir a enfadonha e tediosa chamada nominal dos alunos por atividades ricas, lúdicas, interessantes, convidativas que, por si, já garantam a freqüência e a pontualidade. Trocar a obrigatoriedade do uso do uniforme pelo bom senso estético em saber o que, como se vestir; respeitar o outro, as suas condições econômicas, individualidade, autonomia. Não chamar mais ninguém de tio ou tia, senhor ou senhora, mas respeitosamente, por você e pelo próprio nome, horizontalizando a democracia e propiciando mais liberdade em termos psicológicos. Descentralizar o poder, diversificar os ambientes, os processos, os métodos. Cativar, amar, contextualizar o lúdico. Promover, e não, punir. Educar para a vida, ao invés de induzir para a exploração, o uso, o abuso, o lucro, a construção da insustentabilidade para a vida.
Precisamos enxergar com olhos críticos a essência do papel das escolas e dos educadores que nelas atuam. Sentir a palpável dualidade dos pequenos serviços e dos infinitos desserviços que prestam. Os irremediáveis estragos que cometem. Evitar, daqui para a frente, as profundas desgraças que têm ajudado a constituir, estando ainda hoje, muito longe de saberem disto. E será que desejam mesmo saber? Por onde começar? Buscar uma reflexão para uma ação diferente. É para isto que estamos aqui. Pois nada é por acaso neste universo infinito ao qual pertencemos.
___________
(*)MsC. e Doutorando em Sociologia da Educação, Professor Universitário, pesquisador e conferencista. Coordenador de projetos afins, autor de diversos livros e artigos sobre o tema. Está implementando experimentalmente o Projeto de sua aut0ria: Pedagogia da Complexidade - uma proposta de educação para o III Milênio, com pesquisa, diagnóstico e políticas e diretrizes com novas arquiteturas para a educação formal.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A HORA E A VEZ DE D. HEBE CAMARGO


Tem-se noticiado muito nos últimos dias que a veterana apresentadora de televisão brasileira, Hebe Camargo submeteu-se a uma cirurgia para a retirada de alguns nódolos da região toráxica, sendo, posteriarmente constatada a presença de um câncer. Claro que não é uma notícia para ninguém se alegrar. Nem eu. Pois não sou dado a comemorar o sofrimento de nenhum ser humano, ou mesmo de qualquer ser vivo, animal, planta,etc. Mas não há como negar o velho dito popular que no fundo guarda toda a sebedoria, quando diz que "quem semeia vento colhe tempestade" e outras coisas que o valham.

É bem conhecida e creio que deva mesmo ser perpetuada a importância de D. Hebe para a televisão brasileira, sendo que são histórias que se confundem desde os primeiros tempos desta maravilha tecnológica e a sua trajetória no Brasil, sempre abrilhantada pela presença desta exuberante cantora, humorista, atriz, apresentadora. Uma mulher de talentos múltiplos e que agora, especialmente, aos 81 anos de idade, é uma estrela que brilha como poucas com seu inegável charme, seu carisma, elegância, a especial gargalhada, a força, a fibra pessoal e uma série de infinitas qualidades de mulher, de personalidade pública.

Mas eu, que por falta de algo melhor para fazer costumo perder o meu tempo com o seu programa, exibido às segundas, e sempre tem alguma coisa que interessa, artistas bacanas, conversas bem entabuladas, música boa, etc. Mas...a formatação, as características, a idumentária da estrela principal, servem em tudo aos interesses do comando, do poder e de suas formas expúrias de explorar os trabalhadores, o povo, as pessoas mais simples e pobres.

Como tudo na vida tem sempre um mas, eu considero a Hebe uma pessoa meio falsa, mentirosa, auto-centrada demais e com muitos motivos para rir sempre - a começar pelos milhoões mensais que recebe do SBT - e que como todo e qualquer dinheiro, não tem geração espontânea e, é claro, sai de algum lugar de onde fará falta para alimentar crianças, comprar remédios ou ataduras para hospitais públicos, consertar estradas, escolas, reduzir a violência que ela tanto critica. Além de tudo ela é muito maquiavélica, vai do choro soluçamente à gargalhada cabulosa em fração de segundos e suas caras e bocas quando clama por justiça e pelo bem-comum não conseguem convencer-me pois ela não vive o que apregoa. Não tem caráter o suficiente para a necessária coerência na inteireza dos fatos.

Claro que ninguém, nem ela tem culpa por ganhar tanto. Aliás, seria ótimo se todos os brasileiros ganhassem tão bem. Mas falta essência humana sobre a gestão dos fatos, não há sensibilidade, empatia, verdade. Tudo cheira a um teatrinho banal na medida em que são feitas críticas tão rasgadas, abertas e mais nada. Ao contrário, para esta gente é muito importante que tudo se perpetue, pois o glaumur que sustenta seus luxos vem desta mentira fatídica.

Na verdade, o Programa da Hebe é, por exemplo, um leque aberto de puxa-saquismo de políticos, de importantes corrúptos, de empresários milhionários, desonestos e de dondocas como ela, bem-sucedidas às custas de pequenas ou grandes mentiras ditas com tamanha convicção e com a cara de verdade, que acaba por convencer uma população incauta e de visão linear que só enxerga o lado fácil das coisas, dos fatos, Aquele que é apresentado entre risos e lágrimas, num populismo elitista sem precedentes que acaba por oficializar o caos, os horrores em que vivemos e que, em última análise servem para perpetuar o poder, a bastança, o sucesso de estereótipos de gente que jura que é boa, inteira, solidária.

E o engraçado é que estas, são pessoas de meias verdades. Que metem o pau nos políticos, quando eles caem, se esborracham. Mas depois quando os mesmos dão a volta por cima e retornam para seus tronos, são abraçados, beijados e louvados no não menos famoso "Sofá da Hebe" como se nada tivesse acontecido. São de duas caras mas que só mostram uma: a boazinha, a santa, a casta que se arrepia e sua para esbravejar palavrões contra assassinos, ladrões e corruptos, mas que não pensariam duas vezes em louvá-los e aplaudi-los se for para beneficiar poderosos, elites, patrões e governos, de cujas tetas retiram o que alimenta seus egos e gordas contas bancárias.

D. Hebe se diz uma mulher felicíssima e que não gostaria de morrer para não abandonar a vida boa, que, segundo ela própira, foi sempre um privilegiado presente de Deus. Mas Deus é assim mesmo quando lida com justiça. Ela dá o bem-bom. Mas cobra o bem-feito. E eu ficaria muito decepcionado se este mesmo Deus não desse a ela (e a uma série de personalidades, coincidência ou não com nomes dissílabos)a oportunidade de repensarem a mediocridade a que se expoem e as maldades que camufladamente ajudam a constituir, e, ainda por cima, vendendo a imagem de serem os melhores habitantes do planeta.

Hebes, Lulas, Dilmas, Malufs, Martas, Bentos, Sarneys, Hugos (Chaves)... e muitos outros têm é sorte demais e bondade de menos no coração. São interesseiros, espertos, hábeis. Mas, ao mesmo tempo vazios e fúteis. São os líderes na construção dos males que o mundo vive, o sofrimento que se traduzem no brilho de suas jóias, nos boletos sofisticados das poltronas de primeira classe dos aviões que cortam o céu do mundo, nas delícias culinárias que fazem esta gente engordar e se submeterem a sofisticados e caros tratamentos contra a obesidade mórbida só do corpo, mas não vêem e nem cuidam daquela que circunda a alma.

Mas a vez de cada um chega. A sabedoria universal, a maior de todas sabe muito bem como e quando agir. E mesmo que pareça que não, ela é sempre competente e abre os necessários processos e atinge aos resultados necessários. Vou rezar para que D. Hebe Camargo se saia desta com sucesso e sem o mesmo sofrimento que ela ajuda a causar nas pessoas, jurando que não. Que a lição seja aprendida e ela, seus parceiros, possam juntos reverter o quadro que concretizaram com os presentes gratuitos dados por Deus e eram justamente para serem usados ao contrário.

MEU SOBRINHO LIIIINDO....JOÃO VÍTOR









































UMA CAMPANHA NO MÍNIMO...EXÓTICA...


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Os animais também têm a marca de Deus.
"O homem implora a misericórdia de Deus mas não tem piedade dos animais, para os quais ele é um Deus. Os animais que sacrificais já vos deram o doce tributo de seu leite, a maciez de sua lã e depositaram confiança nas mãos criminosas que os degolam. Ninguém purifica seu espírito com sangue. Na inocente cabeça do animal não é possivel colocar o peso de um fio de cabelo das maldades e erros pelos quais cada um terá de responder."
(Sidhatta Gautama, o Buda)













































SOMOS MUITO FELIZES... PENA QUE NÃO SABEMOS DISSO...


Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Há no ar um certo queixume sem razões muito claras. Converso com homens e mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todos com profissão, marido, esposa, filhos, saúde, e ainda assim trazem dentro deles um não-sei-o-quê perturbador, algo que os incomoda, mesmo estando tudo bem.
De onde vem isso?

Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia:

"Eu espero/

acontecimentos/

só que quando anoitece/

é festa no outro apartamento".

Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligado na grama do vizinho. As festas em outros apartamentos são nada mais que o fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, sorrisos inexistentes e notícias mentirosas.
As pessoas notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, nada revelam de suas aflições e sofrimentos e não dão bandeira das suas fraquezas, inseguranças, mazelas. Então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecer, descobrimos que estamos todos exatamente vivendo as mesmas circunstâncias - iguaizinhas - com motivos pra dançar pela sala e também pra se refugiar no escuro, literalmente. Só que as razões das dores e depressões raramente são divulgados pra consumo externo.
Todos são belos, felicíssimos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores, social e filosoficamente corretos.

"Parece que ninguém, nenhum deles, nunca levou porrada. Parece que todos têm sido campeões em tudo".

Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.
Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem alguma graça. Mas tem, e muita. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e re-começos, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia,

no nosso currículum.

Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Será bom ter cotidianamente alguém secando nossa privacidade a título de segurança?
Estarão mesmo todas essas pessoas realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está em casa, lendo, desenhando,ouvindo música, vendo seu time jogar,

escrevendo, tomando seu uisquinho?

Tenha certeza plena de uma coisa: as melhores festas, as mais belas, emocionantes, fartas e luminosas só acontecem mesmo dentro do nosso próprio apartamento.

Sempre.
______________
(Martha Medeiros, 46 anos, jornalista, poeta. Uma cabeça feitíssima).