sexta-feira, 3 de junho de 2011

TABELA DE SALIÊNÇA DE D. ANTONIA BACADA








Toda a minha geração de meninos
“perdeu a virgindade”
na casa de D. Antonia Bacada,
bem ali, ao lado do Cemitério.
(espero que me perdoe por usar aqui o apelido que odiava).
A gente entrava, sorrateiramente, pé-anti-pé, pelos fundos,
morrendo de medo de ser visto
e dava logo de cara com um cartaz na parede da cozinha,
que dizia, com uma letra feia e muitos erros:
TABELA DE SALIENÇA
Isso.........10 cruzêro.
Aquilo.....5.
Aquilo Outro...7,50.
Serviço Completo....15.
Etc. Etc. Etc.

Era o que ela cobrava para brincar

com as suas meninas.

Cada um de nós tinha a sua preferida.

Eu, por exemplo, gostava muito da Luzia Fogoió,

porque, além de loura, ela era fofinha,

gorda, repolhuda e muito farturenta.

E assim as coisas ficavam muito mais fáceis

e eu, coitado, me gabando de bam-bam-bam.

Outros ficavam loucos com a Claudiona, desconfio

até que pelos mesmos motivos.

Tinha gente que eu nem posso dizer o nome

que adorava a Dercília e ficava horas na fila

esperando a moça terminar o serviço,

tomar o seu banho tcheco e se refazer para

a nova jornada, que ia noite a dentro.
E os valores cobrados nos obrigava

a fazer contas e mais contas
pois todo o mundo queria o tal “serviço completo”...
E o dinheiro era curto para tanta despesa.
À noite era melhor, pois a gente soprava a lamparina,
entregava o dinheiro – bem abaixo do combinado –
e saia correndo pela rua a fora.
Este era o enigma, porque nós, os homens,
tínhamos tanta facilidade para entender a matemática nas aulas.
A gente tirava notão e passava tranqüilo.
É, D. Antonia Bacada deveria ser homenageada como educadora
e o seu nome ser colocado em alguma escola da cidade.
Ensinava matemática com teoria e prática.
Bem melhor do que muita professora formada
e a gente aprendia que era uma beleza.


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(Antonio da Costa Neto, in Poemas para os anjos da terra).

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