terça-feira, 8 de julho de 2008

PEDAGOGIA: UMA ARTE DOS HORRORES


Seria cômico se não fosse trágico. Parece piada, mas eu, justamente eu, sempre fui tido como uma pessoa inteligente. Quase criança prodígio. Sempre escolhido para fazer e ler discursos na escola, redigir jornais, atas, fazer os deveres afins dos colegas. Meio gênio nas letras, enquanto para os números e cálculos, também um quase, mas desta vez, uma aberração. Quem dera se fosse ao contrário. Pois neste ponto é que muitos se tornam crápulas e se dão bem na vida, ganham dinheiro, prestígio. Aliás, não consigo me lembrar de nenhum destes que esteja passando por qualquer necessidade. Antes assim, melhor para eles.
Mas nesta minha, digamos, "inquietude intelectual", foi que eu, com mais ou menos 12 anos de idade, lá pelos idos de 66. Quando ainda fazia o terceiro ano primário, à tarde, no Grupo Escolar Moisés Santana, com a D. Nery do Sinhô, lá em Silvânia. Menino esperto, já comecei a ver que existia alguma coisa errada com a escola. Com aqueles conteúdos inúteis que ela tentava nos explicar. Estas coisas de horários, disciplinas, uniformes, deveres de casa, castigos. Falei com ela, que num sorriso enfeitado pela charmosa pinta que ela ainda leva no lado da boca chamou-me de algo, meio, "precoce, na linguagem de hoje", por já estar discutindo aquilo com tão pouca idade. E acrescentou uma coisa que nunca mais pude esquecer e que, certamente, influenciou a minha vida e o meu caráter para todo o sempre. Ela disse: - "Você não deixa de ter razão. Muita coisa precisa mudar na escola. Mas não é agora. As mudanças são lentas. Elas precisam acontecer devagar."
É, D. Nery, de fato, as mudanças são lentas. Muito lentas. Pois hoje, mais ou menos meio século depois, quase nada mudou. E se mudou, foi pra pior. Agora, que estudei muito sobre educação. Li uma pá de livros sobre o assunto. Fiz um monte de pesquisas, indagações, participei de eventos até internacionais. Trabalhei em escolas por décadas a fio. Me aposentei. Comecei de novo e não vi nada acontecer. Nada melhorar. Mas, desgraçadamente, sou testemunha viva de tudo ao contrário do que eu, aquele menino esperto tinha como esperança de dias melhores na educação e na escola.
Gostaria de saber para que servem as faculdades de educação? Os mestrados, doutorados, teses, se as escolas não melhoram em nada, não evoluem um passo sequer. Pelo contrário, retrocedem, caminham para trás. E continuam na contra-mão da história. E o dinheiro que o governo paga para custear pesquisas, intervenções pedagógicas? Os caminhões de livros que são publicados? Os eventos, congressos, anais, documentários, filmes, blogs, sites. Para que servem? Se as escolas - todas elas - continuam sendo covis miseráveis de pessoas más, maquiavélicas, frias? Elas continuam como resquícios do horror, da indução ao medo, da perversidade sinistra de se adequar as pessoas a um mundo desgraçadamente ingrato, horripilante, medonho. E os professores fazem isto, quase sempre com um discreto sorriso de felicidade nos lábios. Não como aquele de D. Nery. Que era doce, ingênuo, quase inocente. Hoje eles apresentam um sorriso pérfido, maléfico como se quisessem se vingar pelos seus sofrimentos, os salários baixos, as péssimas condições de trabalho e por aí vai.
Os conteúdos que ensinam são, na maioria cultura absolutamente inútil. E o que sobra é para adequar o aprendiz às indiossincrasias do capitalismo periférico, centralizador e profundamente atrasado. Tornando fácil e vista como normal a exploração, o acúmulo de riquezas, a miséria, a fome, a luta cruel contra homens mulheres e crianças indefesos; perdidos na sórdida selva da maldade que se tornou o planeta nos últimos tempos.
Desde o meu mestrado, em que me debrucei muito sobre a antropologia, comecei a defender a tese da extrema maldade do ser humano. É como aquela passagem do filme Hanna e suas irmãs do Woody Allen: - "Fico muito assustado por ver tanta maldade neste mundo!" - "Pois eu, conhecendo a humanidade como conheço, me surpreende por não ter mais." Reafirmo a citação, mas apenas substituo a palavra "humanidade" pela palavra "escola". Pois ao meu ver, a maldade que ali circula, as dores e sofrimentos que seus profissionais mal-resolvidos e pouco amados causam às pessoas é que são os maiores responsáveis por esta trilha do caos no mundo.
Haverá ainda tempo para que os educadores desconfiem que o verdadeiro papel da escola, o qual ela tem cumprido com imensa competência, é o de emburrecer, de aniquilar as consciências, de alienar e de ajustar o ser humano aos rigores da exploração das massas de gente?


Por que os educadores que se dizem tão preparados são tão imbecis e insensíveis à questão social daquilo que eles mesmos fazem? Por que são social e humanamente tão cínicos?Será que eles estão dormindo? E ainda há tempo para que acordem vivos?

Não desconfiam, coitados, de que são mal-pagos estrategicamente para que ensinem pouco a uma multidão de famintos, para que nem saibam que o que sofrem é a falta de alimentos? Não se desfazem da burocracia infeliz que lhes é imposta porque são incompetentes para isso? Não sabem que os alunos se negam a aprender porque são mais inteligentes do que eles? Não descobriram ainda que a instituição escola é uma reunião de pessoas - na sua maioria mulheres - frustradas, infelizes, feias, mal-cuidadas, escolhidas a dedo para infernizarem com muito mais competência a vida de todos?

Coitados dos educadores, tão "sabidos" mas tão ridículos. Coitadas das escolas, na mão de gente tão mórbida, pequena, imbecilizada. Gente fria, mesquinha, desinformada. Longe do conhecimento prático do que é, de fato, um procedimento ético. Pobre humanidade: conduzida para a própria morte como o gado. Tangido por gargantas e mãos aniquiladas pela vontade suprema de explorar e consumir a elas próprias. Que também se entregam. E por pensar tão pequeno, morrem e são devoradas felizes por mergulharem no vazio escuro e silencioso da omissão que elas mesmas praticam todos os dias.

Dizem que no inferno tem um departamento especial, só para educadores. Não posso deixar de acreditar. E deve ser dos piores. Exposto aos ruídos, à friagem mórbida, à escuridão, ao mofo, ao cheiro esquisito dos donos da casa. Pois é o mínimo que esta gente tão imbecil pode merecer para toda uma eternidade. Pois, sem qualquer dúvida: é a pior das categorias vivas ou não-vivas, sobre e sob a terra.
Antonio da Costa Neto







Um comentário:

Anônimo disse...

quem conduz e arrasta o mundo não são as maquinas,mais as ideias(Victor Hugo)E COM ESSE PENSAMENTO Q T PARABENIZO TEM IDEIAS EXTREITAMENTE BOAS .POREM E PRECISO REPENSAR EM COMO REPASA-LAS E EXPRESSAR .AS MUDANÇAS ACONTENCEM GRADATIVAMENTE E ACREDITO QUE AINDA E POSSIVEL,FAZER UMA EDUCAÇÃO COM MAIS QUALIDADE MAIS JUSTA...