Fui alertado por muitos amigos ajuizados a não escrever este texto. Diziam: - "Cuidado, Antonio, você vai se queimar..." Mas minha cabeça dura não deixou que os ouvisse e aqui estou escrevendo neste computador, do qual nada entendo, estas maltraçadas linhas. Até porque sou convencido que, por mais parodoxal que possa parecer aos olhos leigos, a espiritualidade maior quer que eu as escreva, enquanto o universo sorri agradecido.
Primeiro, quero deixar claro que considero-me uma pessoa profundamente espiritualizada. E dedico minha vida e minhas forças a serviço do que entendo como o bem para as pessoas, à conquista de dias melhores, à concretização da justiça, da paz e da dignidade para todos. E, foi justamente por isso, é que me autorizei a escrever este texto que agora você lê. E, espero, chegue até o fim.
Desejo aqui tratar da notória pessoa de Jesus Cristo. Este personagem maravilhoso e milenar que a tantos encanta. Até aos que o cruxificariam novamente se ele aqui voltasse, fizesse o que fez, se cercasse de quem se cercou e defendesse as mesmas idéias e ideologias.
Se trouxéssemos para hoje, Jesus Cristo seria tido como o líder de uma legião de doze vagabundos. De andarilhos desocupados e alternativos. Uma horda de hippies barbudos, malucos, bêbados e fumados que estariam pelas esquinas apregoando o amor, a dignidade, a paz, o respeito entre as pessoas e as coisas mais que dizem que ele clamou aos céus e terras. E fariam isso para não trabalhar, se ocuparem de algo mais útil de fato.
E, certamente, as senhoras carolas que hoje frequentam as igrejas católica, evangélica, espírita, kardecista, etc; se vissem este grupo acentado nas calçadas de suas casas; ligariam para o 190 e pediriam à polícia para levar para a cadeia aquele bando de desocupados que lhes causava medo, pois poderia vir a assaltar as suas casas, ou mesmo, estrupá-las ao longo da noite que estaria por vir.
Analisando este conjunto de incoerências, ao meu ver, óbvias e exequíveis, pois, estas mesmas pessoas louvam sem cessar ao Cristo, nosso Deus. Os padres Marcelos cantam e encantam entre os artistas da rede globo e os prédios das igrejas se apresentam suntuosos, tocando magestosamente os céus e com sua arquitetura arrogante por sobre as casas pequenas e em sua maioria humildes de nossas cidades e povoados.
Assim, vejo que toda a história de Jesus Cristo se enquadra direitinho ao modelo da exploração capitalista entre os homens, que, sofridos e esfarrapados não conseguem desconfiar deste truque milenar e tão bem estruturado e mantido por Sua Santidade, o Papa. E viceja entre as colunas de mármore e os arabescos de ouro do luxuoso Vaticano. Onde os pobres não entram. As mulheres nada decidem, a visão do pecado se expande, assolando o crime, E, de forma indireta e inteligente, legitima a exploração, a socialização da miséria que mata os filhos de Deus, a concentração abusiva do poder e da renda. Ao mesmo tempo em que crianças são mortas, mulheres violentadas, desgraças constituídas: como fome, miséria, opressão, violência.
O famigerado paradigma judáico-cristão ainda se dilui nas relações humanas que aparentam o bem, mas fundem-se no mal. As procissões com velas acesas; as mulheres ajoelhadas com a figura humilde, o olhar longíncuo frente às imagens dos santos e santas cobertos até os pés e numa postura de subserviência para que sirvam de exemplo aos que terão direito à melancólica rotina de uma desprezível eternidade no céu, cantando glórias ao Senhor todo poderoso. Mas só para os que não pecam, não roubam porque não precisam, pagam o dízimo em dia porque podem e freqüentam as igrejas todos os domingos para que a aprendizagem de tais lições de horror nunca se perca.
Enquanto a psicologia, desde Freud já apontava os rigores do inconsciente e do iceberg de imposições e sofrimentos que ali se escondem, paralelamente, continuamos orando de mãos postas, olhos fechados e centrados no nosso próprio ego:
"...Pai Nosso que estás nos céus, Santificado seja o Vosso Nome..
Venha a nós o Vosso Reino. Seja feita a Vossa Vontade...
O pão nosso de cada dia, nos dai, hoje. Perdoai-nos as nossas ofensas...
...E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal..."
E, ainda nos dizem, que esta é a oração que o Senhor nos ensinou. Claro, pois fica assim belo e fácil de nos enganar. Mas não se colocam em pauta os rigores ideológicos, e, de certa forma, a antropológica lavagem cerebral que esta junção linear de palavras vem significar na prática concreta e no sentido político das coisas. Isso nunca.
Seria cômico se não fosse trágico. Se associarmos isto aos rigores das ciências sociais transdisciplinares dos nossos dias, tudo seria menos do que medíocre. Num quadro ridículo em que a maioria absoluta da humanidade se expõe todos os dias, nos grandes centros e nos rincões do sertão cheio de analfabetos, desabrigados, famintos, mendigos que vivem da não menos famosa caridade alheia, que camufla a injustiça que o mesmo modelo de religião aqui descrito acaba fazendo acontecer.
Enquanto nosso consciente reza para papai do céu, nosso inconsciente abriga os governantes que estão nos céus dos palácios; os patrões burgueses e exploradores que ocupam as melhores mansões dos pontos mais nobres dos aglomerados humanos do mundo inteiro. O pão nosso, dai-nos hoje, pois não somos aptos para conquistá-lo. Formamos uma massa de incompetentes, de cegos, de micróbios minúsculos frente a grandiosa capacidade que os detentores do capital e do poder têm de decidir. E confundimos tudo isto com a figura de Deus. Do mesmo Deus que nos criou, nos guarda, vigia e pode, como tal, definir toda a eternidade por nós, sobre nós e até contra nós.
Ora, como o grandioso Deus poderia criar uma humanidade assim tão pequena? Que por entre os rigores da evolução, da sofisticada teconologia e dos avanços conqusitados, continua ironicamente em defesa de valores tão diminutos, de concepções insignificantes. E, assim, agindo antagonicamente contra o próprio Cristo - que, a bem da verdade, nem existe. Mas que foi criado e moldado para possibilitar a exploração fácil, o consumo abusivo que enriquece os ricos em nome da paz, da fraternidade e do amor divino.
Deixemos de ser ingênuos e inexpressivos. Já passa muito da hora de aposentarmos esta história de Jesus Cristo, os rigores da igreja, as confusas e amareladas páginas da bíblia, dos evangelhos, dos mandamentos que nos são impostos pelos rigores da igreja.
Acordemos para a vida, para o amor que consiste em fazer simplesmente o bem. Em quebrar os modelos maléficos da opressão e da resistência. Sorrir simplesmente. Acariciar os que carecem, enunciar a necessária crítica, a indignação frente às injustiças, a conquista da dignidade plena é a saída que o mesmo Deus certamente deseja para constituir o seu plano de amor. Para que todos vivam. E vivam em abundância.
Amar e respeitar de fato o outro, a vida e a natureza. É só o que interessa e sobre o que deveríamos nos debruçar para ensinar, aprender. Aprender e ensinar sempre. Sendo o que nos basta para vivermos felizes, em paz e como dignos herdeiros da energia máxima que tudo faz e ilumina. E que, por falta de uma melhor palavra, podemos, por enquanto, continuar chamando de Deus.
_______Antonio da Costa Neto
Um comentário:
legal, amigo, mas, vamos com calma, aglutinando e somando forças,eles não querem mudar o "quadro".30 anos lá conheço bem os bastidores. mas está chegando o fim deste tripe sedutor, pecado(má consciência)diabo(nem Bafomé,nem JesusLúcifer o portador da luz,ou PedroSatã)lei(proibições, fazem escondido)
parabéns.
syd
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