sexta-feira, 11 de maio de 2007

ELIS VIVE!







"Quem cala sobre o teu corpo consente na tua morte."
"Quem grita, vive contigo!"
(Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)

Hoje, não sei porque, amanheci pensando muito em Elis Regina, o meu mito maior. À tarde, ouvi quase todos os seus discos, reli as capas, os CDs, os vinis que tenho guardados. Cantei muito, gritei junto com ela criando coisas cheias de significados profundos e inimagináveis. Assisti a trechos de alguns DVDs e continuei a pensar. A tentar adivinhar suas cores, roupas, relações com este mundo tão complicado, shows, novos discos, depoimentos, entrevistas, tudo; se ela ainda permanecesse com sua carne entre nós.
Não fui trabalhar e não fiz nada além de venerar e imaginar esta artista encantadora. Muitas interrogações me passaram pela cabeça: Como ela estaria hoje se estivesse viva? Que músicas gravaria? Sempre que gosto de uma nova canção viajo imaginando como ficaria em sua voz, e, possivelmente, com arranjo do César. Quantos compositores novos estariam no mercado por meio de suas mãos e de sua redonda e aveludada voz? Como encararia a carreira dos filhos Pedro, Maria Rita e João Marcelo? Voltaria a se casar com César Camargo Mariano, com outro, ou estaria sozinha?
Seria convidada para as entrevistas do Programa do Jô? Cantaria que música no final do seu último bloco com a sua interpretação belíssima, os gestos longos e rápidos, de azul, num vestido longo e farto, as mãos leves e o sorriso escancarado, barulhento, certamente invadiria mundo inteiro. Seus arranjos e técnica estão atualíssimos.
Elis não envelhece. Não sai de moda. Os sucessos antigos parecem ter saído hoje do estúdio de gravação, tal a sua contemporaneidade, a modernidade do repertório. Elis continua atual. E, infelizmente, a vida não anda. Apenas se repete. E assim sendo, ela poderia voltar a viver, a gritar, gesticular muito, brigar, fazer encrencas, artes e política.
Pensei no grande desperdício de vida, de vigor e arte, uma mulher como esta morrer tão cedo, com apenas 36 anos de idade, deixando muita tristeza, angústias e lágrimas. Ficamos todos meio órfãos, “formando dentro da gente um pântano de solidão”. Quem daria aquele tom sublime à Fascinação; Aos nossos filhos; Me deixas louca; A comadre; As aparências enganam; e... muitas mais?...
Quantas músicas lindas deixamos de ouvir, de deleitar o som divino, único e insubstituível. Nunca mais existirá outra Elis Regina de Carvalho Costa, que, pelo encanto e a força do talento, cantou tão pouco e deixou-nos um vazio intransponível e sem tamanho que merece de vez em quando, um dia de dedicação, de ouvidos apurados para sentir nuances, tons e ritmos, de suspiros e ais pela sua ausência tão imensa.
A falta que faz os seus cabelos curtíssimos, a figura baixinha, leve, esperta, elétrica, falando muito, gargalhando, transpirando vida, som, poesia, esperança de melhores dias e, claro, muita música, como instrumento de fazer política, de mudar as coisas.
Elis hoje se chama saudade e seu desaparecimento nos causa muita dor, levando a uma busca infinita em todos nós que continuaremos a amá-la sempre. Que não podemos viver sem o alento da voz e sua presença viva aquecendo o frio de nossas almas. Seus fãs. Os súditos eternos de Minha Majestade.
Ave Elis!

Um comentário:

Adélia disse...

Saudade da Elis...
Saudade de mim mais moça ouvindo Elis e querendo cortar o cabelo como o dela, rssss. Saudade do tempo louro em que a vida não cabia em mim de tanta leveza. Era Elis cantando e eu percorrendo todas as possibilidades da imaginação. São lembranças moças que não quero deixar para traz...