quinta-feira, 31 de maio de 2007

HOMEM COMUM


Sou um homem comum,
de carne e de memória,
de osso e esquecimento.
Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião
e a vida sopra dentro de mim,
pânica,
feito a chama de um maçarico
e pode,
subitamente,
cessar.
Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas, rostos e
mãos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia em
Pastos-Bons,
defuntas alegrias, flores, passarinhos
facho de tarde luminosa,
nomes que já nem sei
bocas, bafos
, bacias,
bandejas, bandeiras, bananeiras,
tudo
misturado
essa lenha perfumada
que se acende
e me faz caminhar.
Sou um homem comum
brasileiro, maior, casado, reservista,
e não vejo na vida, amigo,
nenhum sentido, senão
lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rápido destino.
Mas a poesia é rara e não comove
nem move o pau-de-arara.
Quero, por isso, falar com você,
de homem para homem,
apoiar-me em você,
oferecer-lhe o meu braço
que o tempo é pouco
e o latifúndio está aí, matando.
Homem comum, igual
a você,
cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo.
A sombra do latifúndio
mancha a paisagem,
turva as águas do mar
e a infância nos volta
à boca, amarga,
suja de lama e de fome.
Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas.



(Ferreira Guillar)

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