sexta-feira, 18 de maio de 2007

TEXTO DA ADRIANA FALCÃO


Foi-se mais um ano.
E com ele se foi uma quantidade incalculável de amores,
Cores, idades, alguns amigos, não sei quantos neurônios,
Memórias, remorsos, desvarios, cabelos, ilusões, alegrias, tristezas,
Várias certezas (se não me engano, treze).
Algumas verdades indiscutíveis,
Umas calças que não fecham mais
E aquele vestido que eu gostava tanto.
Foi-se o meu gosto por vitrines.
Foi-se quase todo meu vidro de perfume.
Foi-se meu costume de imaginar asneiras à noite.
Foi-se meu forte instinto de acreditar no que me dizem.
Foi-se meu açucareiro de porcelana.
Que pena.
Foi-se o tempo em que uma simples farra não significava
necessariamente uma condenação sumária ao dia subseqüente.
Foi-se a poupança.
O troquinho da gaveta.
Foi-se aquele antigo projeto.
Foram-se exatamente nove vírgula seis por cento de todas
as minhas esperanças.
Será que você não se cansa tempo?
Não pensa em tirar férias, dar uma pausa, respirar um pouco?
Não lhe agrada a idéia de mudar o andamento, diminuir o ritmo?
Em vez de tic-tac, inventar uma palavra mais comprida
para compasso, mantra, ícone, diagrama?
Me diz sinceramente: para que tanta pressa?
Anda difícil acompanhar seus passos ultimamente.
Mas já é dezembro.
Foi-se mais um ano.

(Texto de Adriana Falcão, in O doido da garrafa –
Adaptação de Antonio da C. Neto)

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