quarta-feira, 6 de junho de 2007

A SÍNDROME DO SAPO FERVIDO







Vários estudos biológicos já provaram que um sapo colocado num recipiente, com a mesma água de sua lagoa, fica estático durante todo o tempo em que aquecemos a água, até que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento de temperatura (mudança de ambiente) e morre quando a água ferve. Inchadinho e feliz. Por outro lado, outro sapo que seja jogado neste recipiente já com a água fervendo, salta imediatamente para fora. Meio chamuscado, porém vivo.
Por alguma razão grande parte das pessoas tem um comportamento similar ao Sapo Fervido. Não percebem as explorações graduais que são feitas pelo sistema social, os patrões, os políticos... Acham que está tudo bem, a redução dos salários e o arrocho dos impostos é regular e normal, assim como a substituição da dignidade pelo vale transporte, o vale alimentação, o vale bunda, o vale...

Que a crise vai naturalmente passar. Que é só esperar um pouquinho, dar um tempo! E faz um grande estrago em suas vidas inteiras, “morrendo” inchadinhas e felizes, sem ter percebido as maldades vagarosas que vão acontecendo. Outros, graças a Deus, ao serem confrontados com estas, pulam, saltam, em ações que representam na metáfora, as mudanças necessárias e, muitas vezes, até inadiáveis.
Temos vários Sapos Fervidos por aí. Prestes a morrer, porém boiando estáveis e impávidos, na água que se aquece a cada minuto. Sapos Fervidos que não percebem que o conceito de governar, de estudar, ensinar, aprender, trabalhar, ter prazer, enfim, de viver, mudou. O método antigo “de obter resultados por meio da exploração das pessoas”, foi gradualmente substituído por “fazer as pessoas crescerem por meio do seu desejo, crenças, valores, bem-estar, conquista de seus sonhos, atingindo os objetivos que atendem a todos e satisfazendo as necessidades individuais e sociais".
Os Sapos Fervidos não percebem, também, que, como cidadãos precisam ter uma profunda reflexão intersubjetiva sobre os fatos e fenômenos e visão grandiosa dos processos que fazem desencadear quando falam, calam e se omitem. Não sabem, os coitados, que são os atores responsáveis por suas próprias histórias, e, o que é pior, resistem bravamente em sabê-lo. E que para isso, a sua vontade política precisa ser favorável ao crescimento global das pessoas com o espaço para o diálogo, para a comunicação clara, uma relação adulta e o desdobramento das relações ideológicas em tudo o que acontece e que deve ser analisado e criticado profundamente.
O desafio ainda maior está na humildade de atuar de forma coletiva e, principalmente, a serviço de todos, sem qualquer distinção.
Fizemos durante muitos anos o culto do individualismo e a turbulência exige, hoje, o esforço coletivo, que é a essência da eficácia humana, como resposta. Tomar decisões coletivas requer, fundamentalmente, muita competência interpessoal para o desenvolvimento das pessoas e a melhoria efetiva da qualidade de vida humana em sociedade. O que pede partilhar o poder, delegar, acreditar no potencial das pessoas, e saber ouvir, ter compaixão, respeito, carinho, afeição, calor humano e se colocar no lugar dos oprimidos, dos que sofrem com a nossa ação e a nossa ganância. .
Os Sapos Fervidos que ainda acreditam que o fundamental é a obediência e não a competência, que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, boiarão no mundo da produtividade, da qualidade, do livre mercado e das novas exigências que são impostas pela nova ordem mundial, a todos os seres vivos, sem exceção.
Acordem Sapos Fervidos, saiam dessa! O mundo mudou. Pulem fora antes que a água ferva. O Brasil, a sofrida humanidade, os horrores por que passa o planeta precisam de vocês. Ainda que meio chamuscados, mas vivos, felizes, cheios de sonhos, vontades, consciência crítica, sensibilidade e prontos para agir. Ainda há tempo para salvarmos o mundo do caos absoluto e definitivo, se tivermos pressa, para o que é necessário inicialmente que acordem, que pulem e, principalmente, que acreditem na força do amor.
_______________
Texto de Hayne Müller com tradução livre de Antonio da Costa Neto

Nenhum comentário: