segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CONSUMOU-SE O ESTRAGO: DILMA FOI ELEITA. E AGORA?



Sim, como já sabíamos, a Senhora Dilma Vana Rousseff Linhares foi eleita a primeira mulher Presidente da República do Brasil. E, não por acaso, no dia das bruxas. E claro que eu já sabia que isto iria acontecer. Pois quem tem um pouco de inteligência, alguma informação e vive no Brasil não tinha e não tem como duvidar deste fenômeno, embora lastimável. Eu, por exemplo, como educador, há anos, já me cansei de saber como as coisas funcionam neste País e que este acidente, mais cedo ou mais tarde, seria inevitável. Pois o nosso povo tem sempre a nítida opção pelo pior, o sofrimento. Foi, para isto, sempre adestrado por uma pedagogia instrumentalista, uma imprensa burguesa, e, finalmente, pela eterna cultura da dominação fácil.
É aquela política - inocente - do quanto pior, melhor. Aprendemos, ao longo da história dos que nos "civilizaram" (leia-se escravizaram) que é assim que é o certo. Ou seja, no Brasil, apenas funciona e dá certo, ou resultados, aquilo que é bom para os ricos, os patrões, os que estão por cima. Os que mandam e exploram sem piedade os pobres, as mulheres, as crianças, os trabalhadores, as minorias oprimidas, os diferentes, nós.
Aqui, o povo só funciona diante daquela ótica difundida por Fritjof Capra, em O ponto de mutação, meu livro de cabeceira, que é a filosofia do benefício extremo do branco, do macho e do capital, condenando as massas populares a todas as espécies de horrores. Mas tudo camuflado no discurso bonito, no sorriso largo e em outras antigas estratégias. E é exatamente assim que eu vejo a eleição de Dilma Rousseff. Esta economista que mentiu muito que era mestre em teoria econômica, até que "outras forjadas meritocracias" dispensaram, definitivamente, este tipo de farsa inadimissível para quem vai presidir a república de um país.
Tomara que eu esteja enganado - o que vou admitir completamente se estiver - mas acrdito que, com a eleição de Dilma Rousseff, nós acabamos de assinar o nosso atestado da mais profunda ignorância política, de acesso ao caos, de busca acelerada do insustentável que invadirá as nossas vidas e nossas casas ainda num muito curto espaço de tempo. Quem viver, certamente, verá. Não estou dizendo isto por uma rebeldia adolescente de esquerda, mas porque "já vi este filme antes e sei que é morte no final. Na certa." Sempre fui um entusiasta de Lula. Fiz o que pude em suas três primeiras eleições: desde a defesa ferrenha nas mesas de bares entre uma cerveja e outra, até o uso de bótons, camisetas. Participação de carreatas, panfletagens, discussões durante minhas aulas, etc.
Bati de porta em porta pedindo votos, enfrentei o corpo-a-corpo, fiz a cabeça de amigos, parentes e até de desconhecidos nas ruas. E me decepcionei profundamente já no início do primeiro mandato. Pois, como bom portador da cultura lá do meu interior, aprendi com a minha mãe que: "Pelo balanço da carruagem você sabe quem é que vai dentro." E quando Lula, começou a mostrar a mesmice na montagem da sua equipe, convidando velhas figuras para o seu pacto, confinando tudo no antigo retrato em branco e preto. Sendo contraditório entre o que sempre disse e o que faria.
Como o "outro", negando os seus compromissos e já abusando da incoerência astuta, característica de todos os que chegam ao poder. Já aí a minha ficha de brasileiro desconfiado começou a cair.
Com tudo isto, passei a ver que a hipocrisia já iniciava a dominar a sua cabeça. E daí para frente, para mim, pelo menos, foram muito mais decepções do que alegrias. Embora elas tenham ocorrido. Não há como negar os poucos avanços periféricos, justamente para justificar os retrocessos centrais contra o povo, contra os que mais necessitam. O que se filtra com um discurso humanístico e uma aparência bonachona que é o que de pior existe: o inimigo fantasiado de amigo, em quem você confia e, quando menos se espera é engolido de uma vez para sempre.
Mas votei em Lula e também no atual Senador Cristóvam Buarque - como governador do DF - para ver e viver coisas diferentes. E não, as mesmas, fantasiadas com o discurso bonito, no geral, escrito pelas assessorias letradas, e muito bem pagas com o dinheiro que falta para o leite das crianças das favelas, enquanto os fatos continuam os mesmos: a guerrilha urbana, a violência, a fome, o desemprego, a morte precoce, enfim, a exploração abusiva dos que têm muito. Entre eles, Cristóvam, Lula e agora, Dilma sobre os que nada possuem: as classes populares, os trabalhadores, nós, o povo.
Agora, com Dilma, tudo volta a se repetir. Ou seja, o eleitor incauto e mal-informado, iludido pela perversa manipulação política que é feita, perpetua o caos, o retrocesso, o massacre das ditaduras disfarçadas, o sofrimento já não mais aceitável, frente à evolução do mundo, da ciência, da tecnologia. Mas não, infelizmente, da consciência das pessoas, com o que se aprazem as elites políticas e econômicas, agora comandadas por um verdadeiro coronel de sáias. Daqueles que batem forte o salto das botas, fumam charuto e nunca riem ou choram, apenas para se fazerem respeitar, impondo o medo e a tortura ideológica, que é, sem dúvida, a pior de todas.

Quero aqui alinhavar alguns pontos porque digo isto:
  1. Dilma Rousseff, foi sempre o braço direito e esquerdo, a cabeça e o coração de Lula, na condução de um governo absolutamente irresponsável, pautado na esperteza e no pulo do gato, em nome da eficiência, que foram as bolsas: desemprego, família, escola, trabalho e tal. Na verdade, o único diferencial desta farsa que denominaram do melhor governo do mundo. Lula sai do governo rico, com os filhos bem colocados, tranquilo, ainda novo, até para enfrentar um outro pleito. Deixando o país devastado, atirado ao crime e à miséria. Mas convencendo o eleitor, que trocou a sua dignidade por um prato de lentilhas, que fez o melhor que pode. Estamos num país sem estradas, escolas, hospitais, saneamento. Pobreza intensa - embora ele jure que não. Um crime, que espero, um dia, a história possa cobrar com os devidos superavits. E se Dilma fosse o que diz ser, não participaria deste circo todo e nem o deixaria chegar onde chegou, com o que satifaz as grandes fortunas, as empresas de vulto, o capital internacional, os bacanas. Pelo contrário, usaria a sua força, imagem e dita competência para modificar profundamente este quadro devastador.
  2. Ela reproduz o discurso do seu mito (Lula), embora com a emoção de uma estátua de bronze. Fala bonito mas com propostas vazias, duras. Não enxerga nada para além do óbvio. Como Fernando Henrique, ela se esqueceu todo o Marx que leu, toda a sua cultura de esquerda. Mas guardou bem as técnicas terroristas que a sua biografia diz ter usado e abusado nos tempos da juventude. Tudo o que diz sobre o social, os direitos humanos, a educação, a cultura, a saúde, a paz social, a vida, o esporte, a família, etc. é muito bem costurado pela cultura letrada, que, claro, ela tem. Mas é contraditório, é vazio de ideias, de processo, de possibilidade de realização. Trata-se de alguém não entende de felicidade, de amor, de valores humanos. Ela não gosta de nada disto. Enfim, repete o que os maiores ditadores da história já fazem a milênios, cumprindo a máxima: "todo canalha é simpático, elegante, bem vestido, culto, fala bonito e cuida bem do terno, do sapato e dos dentes para sorrir lindo, dar tapinhas calorosos nas costas. Enquanto, mdedonhamente, prepara o atestado de óbito daquele que chama de amigo e de quem aperta a mão com força, segurança e sentimento de afeto e amizade. Um horror."
  3. A Dilma é uma mulher com o estereótipo do macho, por isso ela serve a esta comédia. Não refiro-me aqui à sua vida íntima, à sua sexualidade, às suas relações, o que é uma questão pessoal e que não vem ao caso. Sendo melhor tê-las, sejam como forem, do que se assexuar e fazer disto um instrumento de maldade contra a vida e os humanos que nos cercam. Mas é "macho" porque pensa e age como tal. Como Margareth Teacher, a dama de ferro, por exemplo, comanda e dita regras como homem. Fala alto, é agressiva, grossa, dá murro na mesa, expõe-se aos gritos, é prepotente, insensível. Faz, na história política, um papel de Xuxa dissimulada. Ou da professora boazinha, da mãe judia, que, segundo Freud, se fantasia de pura, ingênua, angelical, para, justamente, destilar seu veneno a serviço do próprio interesse e para quem presta seus serviços usurpadores. O que faz parte do mundo fálico em que vivemos até hoje, infelizmente.
  4. Falta ao fatídico projeto de governo - se é que existe algum - a multiplicidade de ideias, a divrsidade, o agregar as diferenças, os diferentes. Como há séculos, o modelo é o mesmo: linear, reducionista, duro, mecânico. Feito e seguido por burguêses escolhidos para trabalharem de forma fragmentária. Os técnicos, assessores, deputados, parlamentares, senadores, etc. não se conhecem e nunca se encontram, discutem ou pensam juntos. É um eterno faz-e-desmancha, jogando no ralo milhões de rais, tornando tudo sem o menor efeito. Nem parece que trabalham num projeto único e para o objetivo comum que é o bem-estar do povo brasileiro. Mas as coisas são retalhadas, confusas, obscuras, frias, pesadas, sem a feminilidade, a empatia, o respeito, sem, enfim, agregar o novo. O governo federal sempre foi e será, pelo que vemos, um amontoado de pessoas desocupadas. A síndrome do ócio remunerado como brincam os mais ousados e com alguma dose de humor. Não existe leveza, integração, trocas, interesse político pela vida , eficácia, empatia, enfim, todas estas coisas sugeridas pelas modernas formas de gerir e governar cintinuam ausentes. Os que definem o salário mínimo, ganham 50 vezes mais. Quem planeja o transporte público jamais o utilizou, nem de brincadeira. A habitação popular é planejada por quem mora em palácios, saúde planificada pelos que têm caros planos de saúde e ganham aos tubos. Pelos caminhos que as coisas tomam, o governo Dilma tem tudo para continuar errando para o povo, mas acertando, profundamente para os poucos privilegiados que o realizam. Sendo, portanto, elitista ao extremo e repetindo os mesmos erros historicamente acumulados e acreditando, que, mudar o discurso é mais do que suficiente para mudar as coisas, como nos lembra o escritor moçambicano, Mia Couto. Como sempre e mais uma vez, a história se repete e de uma forma cada vez mais séria, mais grave, levando o povo a pagar o preço.

Seremos presididos nos próximos quatro anos por alguém que nunca falou em beleza, em integração, natureza, alegria, em amor e valores afins. Mas em tecnologia, crescimento econômico, dividendos, relatórios, tabelas, burocracia, produto interno bruto e outras brutalidades. Alguém que administra a pulso, com uma visão behaviorista, taylorista, dentro de um paradigma muito mais do que antigo. Atrasado demais. Mineiro demais, no sentido rodriguiano da expressão. Defasado demais e cheirando a mofo. Ou seja, uma visão com tudo aquilo de que não mais precisamos. Mas que, infelizmente, se repete a olhos vistos e nos faz comemorar e dar saltos de satisfação pela vitória.

O que realmente precisamos são de propostas de uma educação de qualidade, humanamente contextualizada, que respeite as crianças, suas difenças, que diversifique o currículo, as práticas pedagógicas. Que trasnforme a escola e a educação em aspectos lúdicos, interessantes, politicamente responsáveis. Não mais construindo dóceis e ingênuos serviçais castrados em sua dignidade, mas cidadões inteiros, sensíveis, críticos e capazes de agir e de lutar para o que for melhor para todos . Mas se Dilma enxergasse isto, certamente, não seria escolhida nem para síndica, quanto mais para a Presidência.
Por que ela não tem um olhar dual sobre o esporte que é burguês em essência e que sua prática é uma aula viva de perpetuação dos oprimidos por meio das regras fixas, da inflexibilidade, os dogmas, o deleite do pão e circo já muito experimentado na antiga Grécia anterior a Sócrates e Platão. O que é mais do que descabido para um tempo tão evoluído como ou nosso. Ou estou enganado?

O verdadeiro líder político que ainda nos falta é alguém que tenha, acima de tudo, sensibilidade e competência afetiva para enxergar, de maneira direta, e não, avessa, caótica, os imensos problemas dos que sofrem, dos que precisam, dos que não têm onde morar, o que comer, educação, lazer, saúde. Esparadrapo, gaze, anestesia, amor, diálogo, calor humano nos hospitais públicos é muito mais urgente do que sofisticados estádios, aeroportos com recursos eletromagnéticos, tecnologia avançada que enriquece ricos e empobrece pobres. Respaldando tudo com uma educação doentia, perversa, que favorece ao escravagismo moderno. Precisamos de quem entenda que o que nos falta é comida, dignidade, saneamento, educação e não, copas do mundo, olimpíadas, convenções internacionais e rodinhas burguesas regadas a champagne francês e caviar da melhor qualidade, enquanto a maioria morre de fome e de frio em seus barracos de zinco, ou ao relento, como ainda acontece no país que eles "melhoraram tanto".

Nós, os eleitores, o povo, que trabalhamos para sustentar os bacanas continuamos aí, à margem de tudo e de mãos estendidas numa súplica descabida que dura alguns milênios e que não vamos mudar assim, elegendo quem elegemos e nos curvando aos assintes abusivos dos homens de ternos e gravatas e agora chefiados por fantoches, babados e fantasias. Temos que conduzir nossas mentes e ações para mudar, transformar, revolucionar radicalmente tudo: estrutura política, educação, família, religiosidade, saúde, qualidade de vida. Por ora, ainda caminhamos para trás. E devemos entender que a eleição de Dilma Rousseff, quase nada representa em termos de evolução, e, sim da continuidade mórbida do Brasil que temos, e, com certeza, não é o que, na absoluta maioria, desejamos.

Por enquanto, não podemos nos respaldar em falsas esperanças. Não, as coisas não vão melhorar. Continuarão o assistencialismo, a guerrilha, os confrontos urbanos, as crianças nas ruas, os trabalhadores insatisfeitos, a educação de péssima qualidade, a saúde dependente, as greves, os manifestos, os conflitos, as balas perdidas, mães desesperadas. E, certamente, não será desta vez que daremos o salto de qualidade política que esperamos há décadas.

Nós perdemos a chance, e não falo, é claro de uma possível eleição de José Serra, o que seria, sem dúvida, a mesma coisa. O que não poderíamos era deixar as coisas chegarem aonde chegaram e que, a cada dia, torna-se mais difícil a reversão do quadro. Pois, no atual momento da nossa história, estamos, sem nenhuma saída. Mas, como nada é por acaso, que pelo menos nos sirva de lição. Restando ainda uma ponta de esperança que é a possibilidade, mesmo remota, de eu estar enganado. Esperemos para ver de que lado a história brasileira vai se colocar.

Antonio da Costa Neto

Um comentário:

Lino Guedes Pires disse...

Há ainda algumas coisas que podemos fazer. Ainda podemos escrever em nossos blogs, ainda podemos ser exemplo de trabalho, estudo e enriquecimento espiritual e material, justamente através do trabalho e do estudo.
Se a Dilma não impedir, podemos pensar em criar empresas responsáveis e que gerem os milhões de empregos necessários para que não mais sejamos importunados por mendigos e assaltantes nas ruas. A cada emprego gerado, certamente são tirados das ruas dois ou três deles.

Podemos ainda lutar por uma meritocracia.

Lino