quinta-feira, 18 de novembro de 2010

QUEM É MARCOS?


Marcos...

... Marcos é um gay em São Francisco. Um negro vegetando na África do Sul. Uma mãe abandonada na Etiópia. Um asiático na Europa, um chicano em San Isidro. Um anarquista na Espanha. Uma menina faminta e nua que enfrenta o frio das madrugadas sem teto entre os ratos e escorpiões. Um palestino em Israel. Uma adolescente estuprada. Um índio longe da floresta; um judeu na Alemanha. Um comunista no pé da Guerra Fria. Um artista sem galeria e nem portifólios. Um pacifista na Bósnia. Uma criança sem brinquedos e sem carinho. Uma dona de casa só, num sábado à noite em qualquer bairro da periferia das grandes cidades. Uma prostituta envelhecida, um doente terminal de AIDS. Um leproso, um homem cuja única opção possível foi a de ser assaltante para tentar sobreviver. Um pai de família desempregado, um alcóolatra atirado em qualquer sarjeta. Um tetraplégico sem amigos nem cadeira de rodas e nem mesmo, umas muletas rudes onde se apoiar. Uma moça sozinha no terror da tempestade. Um repórter escrevendo histórias que enchem as páginas policiais. Um homossexual assassinado; uma odalisca semi-nua trocando seu corpo por um pedaço de pão e suspirando fundo quando olha suas fotos de há trinta, quarenta anos atrás. Uma vítima da violência; um feto abortado. Uma anciã desabrigada e antevendo a tempestade negra, carregada de ventos e de frio. Um atropelado sangrando. Uma mulher solteira, só e aterrorizada no metrô às três horas da madrugada, amargando a mais profunda solidão. Um louco maltrapilho andando sem destino. Um camponês sem terra, um trabalhador demitido injustamente. Um estudante confuso, estressado e punido. Um dissidente no meio da economia de livre mercado. Uma negra na fila para o emprego. Um cego frente do azul deslumbrante do mar do Havaí. Um surdo num espetáculo de ópera. Um adolecente mutilado. Um condenado à pena de morte amargando a sua sela com dia e hora marcada para a execução que se avizinha. Um suicida nos estertores finais. Um escritor sem livro e nem leitores. E, sobretudo, um zapatista nas montanhas do sudeste do México. Um ecologista no deserto caústico. Um fugitivo de Havana. Um favelado desasistido e sem nada para seus filhos comerem. Uma refém no ônibus seqüestrado no centro do Rio de Janeiro. Um prisioneiro viciado em drogas...
Assim é Marcos. Tão humano como qualquer outro neste mundo. Marcos é todas as pessoas exploradas, marginalizadas e esquecidas. As minorias oprimidas, resistindo e dizendo: “basta!!!”
Marcos sou eu. É você. Somos todos Marcos, cada um de nós, indistintamente: Marcos... Joãos... Marias... Pedros... Josés... Lúcias...
Anas... Júlios... Terezas! ... ...

_________________
( Texto retirado de um periódico mexicano, do qual não me recordo a identificação, sem a citação do autor. Tradução livre e adaptações de Antônio Costa Neto).

Um comentário:

André disse...

Ótimo texto!