domingo, 4 de abril de 2010

ALGO ASSIM...


Algo assim
harmonioso como o cemáforo
que insiste em iluminar de vermelho
(da mesma cor do sangue)
o engarrafamento engessado.
Ao lado, uma criança parruda,
preta e nua,
grita e puxa o próprio saco
como se quisesse extirpá-lo.
Acho que procurava uma dor maior
capaz de neutrazlizar
a fome que a fazia chorar.
Enquanto isso,
a torre de arame
desvirgina a núvem
espessa dona da tarde de inverno.
Há vinte e três dias
chove e faz frio,
intensamente,
sobre a cidade.
Há mais de cinquenta anos
chove e faz frio.
Intensamente.
Dentro de mim.
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Antonio da Costa Neto. In "Poemas para os anjos da terra". Ainda inédito.

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