quarta-feira, 24 de junho de 2009

LULA E A SUA ESCALA DE VALORES. ECA!!!!



O presidente Lula é um político que não tem princípios. Tem fins. Dele só se poderia esperar, portanto, que saísse em defesa do presidente do Senado, José Sarney, engolfado pela onda de escândalos na instituição que comanda pela terceira vez. É notório que Lula deve a alma, como se diz, a Sarney, seu aliado firme desde a campanha de 2002, e conta com ele e a sua patota para adquirir em 2010 a adesão do PMDB à candidatura da ministra Dilma Rousseff - a "sacerdotisa do serviço público", como o senador a endeusou em um comício.

Além disso, desde que alcançou o Planalto, Lula tem demonstrado uma coerência impecável: sempre que se viu obrigado a escolher entre a ética e a conveniência, jamais desapontou os que apostavam que ficaria com esta em detrimento daquela. Ainda há pouco, quando rebentou na Câmara a história da farra das passagens aéreas, Lula deu de ombros. "Sempre foi assim", desdenhou, como que repetindo o comentário, no auge da crise do mensalão, em 2005, de que o caixa 2 é "usado sistematicamente" por todos os partidos. Mesmo que novamente ele tenha confirmado o retrospecto, suas palavras chamam a atenção por desnudar uma vocação insanável para a desmoralização das instituições.

Se as posições do presidente não surpreendem, os termos que lhe ocorrem para manifestá-las retratam uma mentalidade à qual pode se aplicar, no sentido mais raso, o que já considerou "a evolução da espécie humana" (para justificar a teoria de que, com a idade, os esquerdistas migram para o centro). Na política, ele não perde para ninguém em matéria de capacidade adaptativa. Vinte anos atrás, quando fazia questão de se exibir como o demolidor de "tudo isso que está aí", dizia que Sarney era "grileiro" e "grande ladrão".

Hoje, quando inebriado pelas delícias do poder só pensa em desfrutá-las pelo maior tempo possível, ensina que "Sarney tem história suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum". Esquecendo-se o ignorante, que foi por elas que foi eleito. E que está alí para minimamente representar e defender a pessoa comum, os homens e mulheres do povo, os trabalhadores sem nomes nas colunas sociais. Esta comparação feita por Sua Excelência, é, além de ridícula, exdrúxula, pois demonstra no ato falho, a idelogia deste respeitável senhor, que, outrora, se dizia como uma delas; ou seja, uma pessoa comum. Talvez, Sarney não devesse, por razões de elegância linguística - apenas ser comparado a um bandido perigoso - só por elegância e gentileza, mas daí compará-lo a uma pessoa comum, ainda mais por um Presidente que representa os trabalhadores, já é meio demais. É quase inaceitável.
Aliás, comparar o Presidente do Senado José Sarney com as pessoas comuns, os trabalhadores simples de mãos calejadas, que comem dignamente o pão com o suor do próprio rosto. Com as donas de casa, boas parideiras, esposas dedicadas, simples, que ajudam seus companheiros como podem e choram ao ver seus filhos partirem em busca da sobrevivência, é sim um grande desrespeito que as pessoas comuns não merecem. O senhor Sarney é uma raposa velha e cheia de sorte que passou a vida ganhando aos tubos e constituindo para ele e sua respeitável família, fortunas, patrimônios, universidades, títulos, dinheiro. Boa parte do orçamento da União vai para a casa dos Sarneys, para os lautos salários de senadores, governadores, altos assessores, por décadas a fio, com o que, temos igualmente de matar de fome milhares e milhares de pessoas. O que me dá um certo alento é poder constatar na sua frágil figura que o tempo se foi apressado, e, como diz a boa sabedoria popular: os caixões não têm gavetas, felizmente.

Na atual escala lulista de valores, as pessoas incomuns devem desfrutar de um salvo-conduto que lhes permita afrontar, se não a lei, o decoro pelo qual, dada a sua condição, deveriam ser as primeiras a zelar.O presidente fez coro com o senador bom companheiro que foi à tribuna invocar a "correção de uma vida austera, de família bem composta" como uma espécie de manto protetor contra críticas e notícias constrangedoras - como o recebimento indevido, meses a fio, de R$ 3.800,00 de auxílio-moradia (o que primeiro negou e depois disse desconhecer) ou o fato de ter sete parentes e dois afilhados políticos incluídos por baixo dos panos na folha de pagamento do Senado. Lula também ecoou a versão sarneyana de que é vítima de "setores radicais da mídia" e outros supostos interessados em enfraquecer o Legislativo, ao desqualificar como "denuncismo" a exposição objetiva de indecências que os políticos e seus parceiros na alta burocracia do Congresso escondiam nos porões.

O caso escabroso dos atos administrativos secretos, já na casa dos 650, por exemplo, foi revelado por dois repórteres de um importante jornal em circulação neste país que tiveram acesso às descobertas de uma comissão de sindicância do próprio Senado. Impermeável à realidade e com a sua famosa quase-lógica, Lula perguntou retoricamente "o que ganharia o Senado em ter uma contratação secreta, se tem mais de 5 mil funcionários transitando por aqueles corredores?".

Talvez ele devesse procurar a resposta com o notório Agaciel Maia, que recentemente teve de se demitir da direção-geral da Casa para a qual foi nomeado por Sarney há 14 anos. Lula atacou a imprensa por "todo dia arrumar uma vírgula a mais" no noticiário da esbórnia. Para ele, com o seu amoralismo, pode parecer uma vírgula. Para a opinião pública, é um ponto de exclamação. Ressalte-se que nada do que se veiculou sobre as mazelas das Casas do Congresso foi desmentido, o que torna dispensável a advertência do presidente sobre o risco de a imprensa ser "desacreditada".

Ele se disse preocupado com as denúncias, porque "depois não acontece nada". Não venha o presidente do mensalão ofender a sensibilidade dos brasileiros ao sugerir que, em razão da impunidade - assunto sobre o qual ele pode falar de boca cheia - melhor faria a mídia se o imitasse, compactuando, nesse caso pelo silêncio, com os abusos dos poderosos.

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