sábado, 25 de agosto de 2007

MULHERES & ADMINISTRAÇÃO



De manhã cedo
essa senhora se conforma
bota a mesa, tira o pó,
lava a roupa seca os olhos
Ah! Como essa santa
não se esquece de pedir
pelas mulheres, pelos filhos, pelo pão
Depois sorri meio sem-graça
e abraça aquele homem,
aquele mundo
que a faz assim feliz
De tardezinha
essa menina se namora,
se enfeita, se decora,
sabe tudo, não faz mal
Ah! Como essa coisa é tão bonita
ser cantora, ser artista
isso tudo é muito bom
E chora tanto de prazer e de agonia
DE ALGUM DIA, QUALQUER DIA ENTENDER DE SER FELIZ
De madrugada
essa mulher faz tanto estrago,
tira a roupa, faz a cama,
vira a mesa, seca o bar
Ah! Como essa louca se esquece
quantos homens enlouquece
nessa boca, nesse chão
Depois parece que acha graça
e agradece ao destino aquilo tudo
que a faz tão infeliz
Essa menina, essa mulher, essa senhora
em quem esbarro a toda hora
num espelho casual
é feita de sombra e tanta luz
de tanta lama e tanta cruz
que acha tudo natural


(Essa mulher. Canção de Joyce e Ana Terra.
Lindamente gravada por Elis Regina)




MULHERES & ADMINISTRAÇÃO:
BABADOS E RENDAS CONSTRUINDO UM MUNDO MELHOR

Antonio da Costa Neto (*)

“... Mas ela ao mesmo tempo diz
que tudo vai mudar...
Pois ela vai ser o que quis
inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz
Vivam sempre em comunhão
e a tigresa possa mais do que o leão..."

(Caetano Veloso)

Resumo:

O texto trata do papel e da grande importância das mulheres e dos valores femininos na nova administração. Reflete sobre os desafios inerentes à superação das inúmeras crises da produção, da produtividade e da economia. Propõe soluções para uma ação administrativa mais feminina, voltada para a melhoria da qualidade de vida, em termos sustentáveis, abertos, belos; solidários e flexíveis conforme as exigências da economia globalizada do terceiro milênio.
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Todo um conjunto das novas exigências passa a se fazer presente com o advento do terceiro milênio. Assim, a mudança dos paradigmas que norteiam tanto as ciências, como as práticas sociais e os padrões de vida em sociedade requerem posições diferenciadas profundamente; algumas vezes, até revolucionárias. A imensa série de crises porque passa o planeta terra, neste marcante início de século e de milênio já é, por si, um forte sintoma desta necessidade de transformações em todos os âmbitos e segmentos. O que envolve o viver; o produzir; o conviver; o festejar; o desfrutar e até o morrer. Tudo anda inseparavelmente ligado, suplicando por novas fontes do fazer e do gerenciar; onde a mulher passa a ser um personagem da mais absoluta importância e a função por ela exercida, muito mais que indispensável.
Não só a função da mulher, mas também o seu valor e o efetivo reconhecimento; enquanto detentora do poder de equalizar as transformações tão necessárias para que o mundo seja belo, agradável, melhor, as dimensões sustentáveis e a vida prazerosa em todos os sentidos. O que, em síntese é o objetivo de estarmos vivos e em perene desafio.
Até aqui, o paradigma de predomínio do branco, do macho e do capital tem dado às ciências e suas práticas, um caráter absolutamente sexista e com uma tendência masculinizada; capitalista, a serviço exclusivo dos interesses do capital. É o fruto do superado modelo cartesiano de pensar; de ver; de crer, de fazer as coisas, enfim, de administrá-las, concretizando assim as suas grandes metas.
Daí, o resultado de um mundo violento; da degradação da natureza; o já preocupante fim da água, da fauna, da flora, enfim, dos recursos naturais e de uma qualidade de vida em termos no mínimo aceitáveis. A sociedade moderna, apesar de tudo, continua sendo demasiado machista. A ideologia do “falo” ainda constitui um dos atrasos mais gritantes que assola as várias dimensões da vida. Se a mulher é desvalorizada, colocada no segundo plano; como um cidadão de menor grandeza, é evidente que os valores éticos, estéticos, humanos e afetivos que são mais vinculados à natureza feminina, ficam, da mesma forma; secundarizados, em relação à força, à produtividade, à técnica fria; a produção e o lucro.
Estes são, na verdade, padrões masculinos; auto-afirmativos; voltados para resultados mensuráveis e objetivos; que desencadeiam as realizações inerentes aos interesses de um capitalismo perverso; profundamente atrasado e centralizador. Congregando, a um só tempo, ganhos enormes, como também, desgastes e conflitos insustentáveis. Tendo por conseqüências, a fome, a miséria, a opressão, a violência e toda uma realidade que tem feito decair, em níveis assustadores, não só a qualidade de vida humana em sociedade, como também as suas perspectivas futuras.
Fritjof Capra (1 980), faz uma reflexão muito profunda quando relata que é evidente que o comportamento agressivo, competitivo, se fosse absolutamente o único, tornaria a vida impossível. Mesmo os indivíduos mais ambiciosos, mais orientados para a realização de determinadas metas, necessitam de apoio compreensivo, de contato humano; de momentos de espontaneidade e descontração; amor, carinho e afeto.
Em nossa cultura, espera-se, e, com freqüência, força-se a mulher a satisfazer essas necessidades. Assim, secretárias, recepcionistas, aeromoças, enfermeiras, donas-de-casa; executam as tarefas que tornam a vida mais confortável e criam a atmosfera para que os competidores possam triunfar. Elas alegram seus patrões e fazem cafezinhos para eles; ajudam a apaziguar os conflitos nos escritórios; são as primeiras a receber os visitantes e a entretê-los com conversas amenas. Nos consultórios médicos e hospitais, são as mulheres que estabelecem os primeiros contatos com os pacientes que iniciam o processo de cura.
Nos departamentos de física, as mulheres fazem chá e servem bolinhos, em torno dos quais os homens discutem suas teorias. Todos estes serviços envolvem as atividades integrativas, humanísticas e processuais, e, como têm um status inferior em nosso sistema de valores, ao das atividades auto-afirmativas, lucrativas, técnicas e de resultados; quem as desempenha recebe salários e condições de trabalho menores. Na verdade, muitas destas mulheres nem sequer são pagas, como as donas-de-casa e as mães.
Ao meu ver, esta citação reflete o preconceito machista contra a figura da mulher. Que, muitas vezes, ela própria tenta mascarar e ignorar subjugando-se ao poder do homem; ao poder do macho. Isto é profundamente triste e devastador do ponto de vista da necessária evolução da humanidade frente aos rigores do mundo e os desgastes a que vêm sido submetidas as pessoas. Pela sordidez de uma onda tecnológica fria sem a inclusão da ética; de uma economia iníqua e de uma singular inversão de valores que se mantém intocável ao longo dos séculos e, diria eu, até dos milênios da existência histórica do ser humano mundo (Costa Neto, 2 003).
Creio que há muito já tenha chegado a hora da mulher assumir o seu papel e o seu poder no gerenciamento das instituições; das empresas, do governo, do terceiro setor. Mas fazê-lo por uma abordagem própria. Agregando doçura; beleza cooperação, a criatividade, a estética, a solidariedade, a poesia. Enfim, trabalhando com a emoção e o sentimento femininos - e não se tornando os verdadeiros “machos de saias”- como a vasta maioria das mulheres que assume o poder sobre os demais, conforme lembra-nos Muraro (1 991), para que assim, as tecnologias se abrandam, se tornem mais doces, os valores humanos aflorem acima dos do capital e do estigma do “ter” sobre o “ ser” a todo o custo.
Ou seja, o papel da mulher, sendo definitivo para que possamos usufruir novas conjunturas e não, apenas de estruturas de superfície, que se diferenciam apenas pragmaticamente, mantendo a essência das coisas e dos fatos; dentro dos estereótipos de uma ideologia há muito ultrapassada e perpetuadora de um caos insustentável em todas as dimensões e sistemas do chamado mundo contemporâneo.
Nos campos da administração, da política, da economia, das ciências da tecnologia e da comunicação, geralmente estrelada pelos machos “intelectualmente brilhantes” e também na área da ação social, da educação, das artes e muitas outras, temos a presença marcante e histórica de várias mulheres corajosas, ousadas e guerreiras que têm conseguido apresentar diferenciais respeitáveis como os de Hazel Handerson com suas avassaladoras idéias na política e na economia; Marilyn Ferguson, na constituição de verdadeiras redes humanas mundiais para a reorganização do planeta, e, ainda: Clotilde Tavares; Ir. Dulce; Evita Perón; Maria Bonita; Chiquinha Gonzaga; Anna Nery; Mãe Menininha do Gantois; Maria da Conceição Tavares; Frida Kalo; Nélida Pinõn; Ana Miranda; Hilda Hirst; Anaid Beiris; Lota Macedo Soares; Cecília Meireles; Salomé dos Doces; Leila Diniz; Elizabeth Bishop; Florbela Spanca; Patrícia Galvão; Virgínia Vitorino; Olga Benário; Margarida Maria Alves; Nízia Floresta; Violeta Parra; Nilze da Silveira; Heloisa Helena; Rose Marie Muraro; Marilena Chauí; Indira Gandhi; Benazir Butho; Golda Mehir; Madre Teresa de Calcutá; Dulcina de Moraes; Simone de Bonvoir; Elis Regina; Marina Silva; Renée Weber; Oprah Winfrey; Anita Garibaldi e muitas outras.
Elas têm contribuído enormemente para este novo enfoque que traz o potencial da verdadeira e nova essência, além das meras aparências das formas meramente organizadas. Mas, ao contrário, advogam a real implementação de novos valores que integrem a solidariedade humana, a empatia, o respeito à alteridade, a “feminilização” consciente e eficiente das ciências e suas práticas .E não mais aquelas voltadas para a manutenção dos interesses da parte da humanidade que detém o poder e a riqueza. Mas construindo uma ciência viva e vívida que sirva a todos. Que agregue melhorias concretas num sentido mais pleno e profundo possível.
Em sua clássica obra A conspiração aquariana: transformações pessoais e institucionais nos anos 80, a já citada autora, pesquisadora e jornalista Marilyn Ferguson nos relata com singular sabedoria que as mulheres sustentam a metade do céu.
Elas representam a maior força única para a renovação política em uma civilização completamente desequilibrada como a nossa. Assim, como os indivíduos são enriquecidos pelo desenvolvimento de ambos os lados do eu: o masculino e o feminino; a sociedade como um todo está se beneficiando amplamente com a mudança do significativo poder entre ambos os gêneros.
Ferguson continua: o poder da mulher é o barril de pólvora de nossos dias. À medida que ela aumenta sua influência na administração, na economia; no governo e em outras áreas de grande importância, sua perspectiva ultrapassará os limites do velho paradigma. As mulheres são mais flexíveis e mais voláteis que os homens, têm consentimento cultural para serem mais intuitivas, sensíveis e sentimentais, mais voltadas para o sentido da proteção e da conservação em seu aspecto mais fluido.
As mulheres mudam as regras do processo de decisão ao administrarem, são muito mais capazes de “esticar as negociações”. Ao invés de exigirem “a fatia do bolo” que os homens produziram com seus instrumentos negligentes e voltados para ganhar a qualquer custo, elas apresentam “uma nova receita”, mais integrativa, mutável e com lacunas a serem preenchidas pelos consumidores deste “novo bolo”. Igualmente, elas facilitam a pluralidade de idéias e a construção coletiva de regras, normas e valores. Também como mães, elas procuram ‘nichos’ de proteção para “seus filhotes”, e, assim, vão conduzindo o mundo para uma perene sustentabilidade, gerando processos de uma vida melhor e mais intensa em todos os sentidos em todos os momentos.
As mulheres possuem um poder mais integrador e tendem a acabar com o fenômeno da estreita definição de papéis e funções entre os gêneros humanos. Hoje em dia, até mesmo, nas lides domésticas, muito por força da coerção feminina, boa parte dos homens enfrenta o tanque, o fogão, cuida das crianças e da casa, da decoração, da limpeza, gerando mais harmonia, prazer e vigor na vida em família. Assim, numa similaridade antropológica dos fenômenos, o mesmo se dá nas outras instâncias onde as mulheres podem exercer alguma forma de poder nas decisões. É a nova dimensão do ‘ecofeminismo’; um fenômeno mundial que deixa claro o grande salto evolutivo das mulheres - diferenciado da evolução dos homens - que especialmente, a partir dos meados da década de sessenta vem ocorrendo em todo o mundo (Capra, 2 003).
Já há muito, somos sabedores de grupos de mulheres; associações femininas profissionais, de exigência de direitos de igualdade entre os gêneros, de exercício autônomo da vida sexual; espiritual e artística; independência, sagacidade; autonomia; dentre outras. O que passa pela exigência de novas e profundas éticas de organização, canalizando uma excepcional qualidade de gerenciamento. Com base na técnica associada à intuição, à malícia, à percepção aguçada de fatos e fenômenos que passariam despercebidos para a grande maioria dos homens.
Tavares (l 986) defende a idéia da significativa capacidade da mulher para simplificar estruturas burocráticas, rotinas, fluxos; planejamento, pois estão menos preocupadas com o poder pelo poder, pura e simplesmente. Elas são mais autênticas, mais verdadeiras, e, portanto, mais sensíveis, eficientes e criativas neste sentido.
Anseiam muito mais pela funcionalidade legítima, pela dinamicidade das respostas e pela efetividade da ação gerenciada, seja, de produtos ou de serviços. Algumas mulheres precisam se libertar dos estereótipos do modelo masculino de liderança, que é apenas manipulador do poder. Criando muletas eternas que ainda prejudicam boa parte daquelas que não se autorizam a ousar, a serem independentes, a implementarem os próprios valores. Este problema ainda existe, é claro, mas estamos muito mais perto de sua solução, diferente do caso da grande maioria dos homens que ainda caminha no sentido inverso; buscando valores antagônicos, fruto da cegueira conceitual e da crise de percepção das formas masculinizadas de gerir processos de gestão nos vários segmentos em que tais aspectos possam ser compreendidos e implementados.
A ascensão da mulher para assumir a administração é considerada como uma inefável fonte de esperança para o mundo que caminha para o desastre, mas ainda não é demasiadamente tarde para descobrirmos a força do amor, da sensibilidade, da cooperação e da beleza, para que o mundo seja melhor e mais feliz, no que as mulheres têm uma missão da mais alta importância. Mais coração do que razão; mais babados e rendas do que fardas e espadas. Mais sorrisos abertos e formas de carinho do que ordens impostas, dedos em riste, determinações rígidas, concentração de poder.
O que precisamos é de nos deliciar, comungando com a natureza e não de lutarmos cegamente contra ela, destruindo-a, em função da ganância e da desenfreada competição; do enriquecimento material indefinido; frutos de um modelo absolutamente ultrapassado de administração; uma espécie de “Clube do Bolinha”; onde a mulher não entra e não tem o poder de nada definir ou alterar. Ficando igualmente do lado de fora, a fina inteligência; a sensibilidade; a sagacidade crítica; a sábia intuição feminina, a beleza, a poesia, a arte, agregadoras de amor, comunhão e bondade, eficiência, sutileza; um terceiro caminho de humanização da técnica e do controle organizacional, com vistas à sustentabilidade da administração, do planejamento, dos processos de gestão. Para que a vida seja preservada com dignidade, alegria e bem-estar; esta sim, a grande meta da boa organicidade, de uma administração que possa ser, de fato, reconhecida por mérito; respeitada, aplaudida e merecedora desta denominação.
Administrar bem é ser um excepcional artista. É enfrentar o palco sem medo do foco, da ousadia, da criação; da sagacidade exigente da platéia; dos novos valores e da possibilidade de segmentos para uma outra história. Onde a organização, segundo Costa Neto(2 004), o planejamento, o poder, a empresa, a economia; a política; enfim, a administração tenham uma dignidade diferente e prestem um outro serviço: pela crença, pelos valores, pela vida, e, por fim, para que a humanidade possa ter paz, ar respirável e alegria de viver em seu sentido pleno, com um equilíbrio saudável em todas as dimensões.
George Stratton (l 976) descreveu a superioridade do cérebro feminino em relação ao masculino na percepção do todo; a esperança, a criatividade que salvariam o mundo quando as mulheres tomassem o lugar que realmente lhes cabe, contribuindo na condução do destino da vida na terra. Segundo o autor, o gênero masculino necessita do âmago feminino para administrar com eficiência e eficácia. As mulheres são mais capazes de exercer a liderança com a necessária empatia, integração e reconciliação, uma capacidade de espera, uma excelente proposta para o futuro, frente às tendências que ora desencadeiam como frutos da chamada nova ordem mundial.
De uma maneira mais ampla, as mulheres são mais propensas a um maior desenvolvimento do hemisfério direito do cérebro, que em harmonia com o hemisfério esquerdo, de fundo lógico, tornam-se mais sensíveis, abertas, críticas e perceptivas. Conduzindo a intuição de uma forma mais inteligente e produtiva. O problema reside na concepção “sexista” da maioria dos homens, e também de muitas mulheres que tendem a menosprezar as decisões e as opiniões femininas; por razões muito mais de vaidade, cultura machista e uma ideologia recessiva; fruto de um histórico patriarcal que comanda nossos valores e formas de enxergar a vida e seus dilemas. É apenas uma questão de percepções rasas, e não, de superioridades ou inferioridades de seres ou gêneros (Oliveira, 2 002).
De Gregori (2 000) segue a mesma linha de raciocínio divulgando a concepção cultural da família e da escola que querem, a qualquer custo, “construir mulheres” dependentes e inseguras, para que sirvam aos interesses de seus “pretensos donos e senhores”- numa brutal coisificação e mercantilização da mulher - e sem questionar, ou fazer valer suas vontades e seus direitos. Submetendo-se, sem que, pelo menos o saibam à condição de “mulher-objeto”, uma ótica muito criticada pelos movimentos feministas e pelas organizações mais sensíveis das décadas de sessenta; setenta e até meados dos anos oitenta; inclusive, como a queima pública de “soutiens”, em manifestações de protestos revolucionários das mulheres, muito difundidos pela mídia internacional.
Porque toda mudança política que diz respeito à mulher ao seu poder; ou ao seu prazer envolve tantas polêmicas? Como, por exemplo, o uso dos anticonceptivos e da camisinha feminina; a causa do aborto? A liberdade de expressão, do direito de votar e ser votada; o tabu da virgindade; da igualdade de direitos e condições de trabalho; salários e muitas outras?
A educação da mulher nas nossas sociedades é feita a partir do estereótipo da submissão, da ingenuidade e da subserviência, com o que fica muito mais fácil para a maioria ambiciosa dos homens galgar espaços; conquistar e gozar, sozinhos, dos méritos advindos destas mesmas cobiças. Embora estas possam ser conseguidas das formas mais injustas, escusas e até simbólica ou concretamente criminosas (Costa Neto, 2 003).
Nas escolas de ensino infantil e fundamental, onde se articula o alicerce da formação intelectual e personalísticas, por estratégia, quase sempre, só existem mulheres trabalhando. Para que, por formas instintivas, embora inconscientes, “os machinhos” se encantem; gostem mais da escola; tenham mais prazer em estudar e sejam, é claro, mais bem avaliados e com méritos melhor reconhecidos que as meninas; pela “intencional ingenuidade freudiana das professoras”. E, por uma manobra draconiana de já colocar as mulheres num segundo plano: como “burrinhas”, preguiçosas, indolentes. É, na verdade, um plano frio e abusivo, contra a qual todos nós, homens e mulheres; precisamos lutar cegamente, se quisermos, de fato, conquistarmos melhores dias para todos..
As técnicas masculinizadas e o modelo cartesiano de organização estão absolutamente superados e falidos. Necessitam; portanto; de propostas arraigadas e novas que agreguem comunhão, amor, bondade e solidariedade humana principalmente em relação aos que mais precisam, aos que sofrem, para o quê, a mulher possui muito maior competência e sensibilidade. Favorecendo, de fato, à grande massa dos oprimidos, marginalizados e esquecidos que passam fome e morrem nas esquinas, debaixo dos viadutos e nas filas dos hospitais públicos horrendamente desumanos. Administrar com a verdadeira sensibilidade, visão crítica e compromisso político, o que, culturalmente é mais fácil para a mulher, talvez seja a grande sabedoria que transcenderá aos sofrimentos do mundo, buscando a evolutiva superação do caos (Henderson, l 998).
Estamos todos construindo em conjunto uma “nova linguagem” de qualidade de vida, o que, por certo, envolve novos valores, crenças e ações, para além dos reduzidos papéis masculinos de verdadeiras polícias do pensamento; de redutores da liberdade, da criatividade, da autonomia. Induzindo, portanto, ao medo de um novo poder de criar e sistematizar soluções viáveis e que dêem respostas no mínimo satisfatórias. No fim, tudo se reduz ao tremendo temor e insegurança que o homem, na verdade, tem, de que a mulher se utilize do seu infinito poder de persuadir, de liderar, com sagacidade e criatividade; alcançando, de fato, o que lhe é culturalmente negado durante toda a história das civilizações: o justo direito de ser ela mesma, com direitos, liberdades e prazeres iguais.
É certo que as velhas estruturas geram um tremendo progresso material e tecnológico, como também, criam problemas até muito maiores. Pois tudo é realizado com uma visão bastante fragmentária; em que não se harmonizam causas e efeitos. A abordagem masculina de gestão para o progresso material e o lucro ilimitado a qualquer custo, produz muito e destrói mais ainda, com suas ações maquiavélicas e egoístas. Longe de concepções e equipes com grupos igualitários e pacíficos, o que requer a profunda liderança feminina, para que a história da evolução das organizações mude este relato de tendências incoerentes e, diríamos, até mentiroso em alto grau.
Faz-se necessário, utilizar a crescente virtuosidade da tecnologia, colocando-a mais a serviço da vida e da felicidade humana; evitando os tão comuns cenários de aniquilação em volta de todo o mundo civilizado, as ameaças lentas e insidiosas de um capitalismo perverso e profundamente opressor, que apenas será combatido pela tenaz inteligência feminina, caso ela seja muito bem aproveitada, de forma assertiva e oportuna.
É preciso, em nossas administrações contemporâneas, colocar um ponto final nos conflitos civis e étnicos, geradores de todos os tipos de violência nas ruas, nos campos, nos estaleiros de nossas indústrias, nos ambientes de trabalho e produção, nas cidades e nas famílias. Necessário se faz que se integrem igualitariamente os gêneros humanos numa ação prática de equilíbrio, sem os mecanismos enganadores. Mas gerando participação, autonomia e poder de decisões em todos os níveis, para mulheres e homens. Não, em contrapartida de competição, mas integrando valores, vontades, ideologias e competências reais e os sonhos de todos.
O paradigma violento da competição-conflito, dominação-submissão; perdas e ganhos, precisa ser rapidamente substituído por concepções e princípios que envolvam novas abordagens e avanços revolucionários que não sairão jamais dos vazios baús das idéias masculinas, mas buscando os sinais de transformação pelas delicadas mãos das mulheres. Conjugando razão e coração com lides mais amorosas, não abandonando, é claro, a técnica; a produtividade; a provisão de lucros eqüitativos e que garantam a sobrevivência calma, lúcida e confortável para todos. Afinal, não estamos falando de filantropias gratuitas, mas de administrações eficientes num mundo gerido pelo poder inquestionável do capital.
É chegado tempo do fim da vitória do capitalismo opressor, dos mercados competitivos e das crescentes crises advindas do eterno “caso de amor” com a moderna tecnologia e seus perversos impactos sobre a vida, a paz, a harmonia; o meio-ambiente.
As mulheres, por certo, não mais se utilizarão desta “poção nociva” da evolução tecnológica, da exploração comercial dos povos do planeta e dos seus recursos naturais renováveis ou não. Mas, sem dúvida, farão uma administração calcada em recursos e potenciais humanos regulamentadores de nossas sociedades, de nós mesmos, e, de nossas vidas presentes e futuras. Resguardando, inclusive as novas gerações de toda esta sorte de sofrimentos e agruras advindas deste tipo absurdo de irresponsabilidade social; uma espécie de crime coletivo, invisível, que vem sendo lentamente cometido contra a humanidade inteira, há milênios.
A busca de formas mais cooperativas, flexíveis, amenas, doces, belas e mais justas de desenvolvimento virá da opção feminina ao decidir com critérios inovadores próprios e com benéficos a toda a sociedade civil emergente. Promovendo a organização de um tempo nosso, único e autêntico, calcada na diversidade de todas as espécies vivas, como verdadeiras fontes de riquezas em favor da vida e seus encantos, é do que nos fala Costa Neto(l 986).
Uma administração para a plena sustentabilidade dos meios integrais de vida, no exato sentido e força da expressão, deverá criar novas sociedades, outras formas de empreendimentos, de instituições e parcerias onde todos ganhem, colocando fim nas organizações com o foco único no dinheiro e no lucro, na maioria das vezes, abusivo, como um “cassino global”, mas com novos indicadores da economia e do progresso verdadeiro, multidimensional e para todos.Com uma olhada por entre os véus dos levantamentos estatísticos, das planilhas e dos diagnósticos feitos em computadores sofisticados e prontamente capazes de legitimar a fome e a miséria, como também, socializá-las com o maior cinismo.
Henderson (l 996) nos lembra que o Produto Nacional Bruto; o Produto Interno Bruto e outras brutalidades deverão ser rapidamente substituídos por novos indicadores do desenvolvimento humano e da importância da difusão das democracias em todo o mundo. Dando ênfase à satisfação das necessidades urgentes do aperfeiçoamento dos sistemas de tomadas de decisão; que passam a ser democráticos, coletivos e com grandes inovações sociais e, ao mesmo tempo, tecnológicas. Construindo futuros com arquiteturas mais adequadas para que o Século XXI seja realmente mais humano, mais profícuo de felicidades e com muitos motivos para que a humanidade possa comemorar.
Cabe às mulheres a criação de sistemas administrativos com novas concepções, hábitos, pensamentos e paradigmas; como ferramentas mentais mais harmônicas, originais, criativas, abertas, integradas e flexíveis, utilizando concepções antagônicas aos modelos que vêm sendo praticados até os nossos dias, promovendo transformações muito profundas, necessárias e inadiáveis.
Só assim poderemos ver surgir os maravilhosos paradoxos da existência humana e os mistérios profundamente belos como processo e resultado de uma grande, e, quase divina criação em todo o universo conhecido e dentro de nós mesmos, para muito além de planos, tabelas, registros contábeis, lucros e relatórios de caixa de finais de balanços.
A organicidade carece de vida nova, de crenças, de valores humanos que sintetizem a profunda felicidade do viver plenamente todos os momentos, cumprindo assim a função que justifica a vida do ser humano no mundo.O grande drama da organização requer uma nova engenhosidade mental, responsabilidade, sabedoria, sistemas de crenças que até o momento se mostraram disfuncionais e que requerem uma outra atmosfera de emoção e ternura como valores fundamentais para que as organizações sobrevivam e colaborem com o plano maior da dignidade em todos os sentidos.
Finalmente, administração com bases femininas terá seu foco central nas políticas públicas e individuais que possibilitem o planejamento e a inovação em produtos e serviços com vistas ao respeito, aos desejos, ritmos, estilos, personalidades das pessoas que receberão as benesses desta ação administrativa específica. Questionando sempre o arcabouço cada vez mais estreito da economia convencional e destruidora de um mundo minimamente saudável, abandonando o falso universalismo e a visão simplista da natureza humana. Construindo um futuro multidiversificado e com matizes de um perfeito arco-íris, num tempo em que já é quase tarde demais para a compreensão destes acontecimentos, fatores e necessidades mais que urgentes.
Pelas mulheres serão buscadas, certamente, ondas luminosas para remodelar a produção e o potencial para crescer e aprender sempre com mais otimismo em relação à natureza humana e sua inteira complexidade. Criando ambientes desafiadores e estilos de vida inteiramente a favor da felicidade das espécies; sem quaisquer distinções étnicas, raciais, geográficas, sexuais, culturais ou políticas. Proporcionando, por assim dizer, uma “grande angular”, criando hoje as realidades de amanhã, sendo previstas e esperadas como sonhos, esperanças e alegrias; concretizando utopias e capacidades para a implementação das mudanças tão necessárias. Dando à organicidade um tom profundo de ecologia, como ciência profunda, rica e inquestionável. E, por falar em ecologia, o que é, em síntese, harmonia e felicidade; lembro-me de uma secular sabedoria chinesa, segundo a qual; “todas as mulheres são árvores, e, juntas, que linda floresta elas formam”.


Referências Bibliográficas:



CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura e emergente. São Paulo: Cultrix, 1 980.
_____________, Ecologia profunda: um novo renascimento. REVISTA NOVA ERA: . Ano III nº 375. São Paulo, 2 001.
COSTA NETO, Antonio da. Sociedades & Conflitos: uma miniatura das relações familiares. In: PROPORCIONALISMO OU CAOS. São Paulo: Lorosae, 2 003.
____________, Paradigmas em educação no novo milênio. Goiânia: Kelps, 2 003.
____________, Batom: uma arma imprescindível. In TRIBUNA DO BRASIL: ano II nº 6l7: Brasília – DF, l 986.
____________, Projeto Humanizar: multiplicando sorrisos – uma resposta aos desafios da moderna economia globalizada do IIIº Milênio (Programa de Consultoria e Intervenção Organizacional). Brasília: Escola Superior de Estratégia e Gerência – ESAG, 2 004.
FERGUSON, Marilyn. A conspiração aquariana: transformações pessoais e organizacionais nos anos 80. Rio de Janeiro: Record, 1 980.
GREGORI, Waldemar de. A construção do cérebro pela família e pela escola. Belo Horizonte: Ed. Luz, 2 000.
HENDERSON, Hezel. Construindo uma sociedade onde todos ganhem. São Paulo: Cultrix, 1 998.
____________, Transcendendo a economia. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1 996.
MURARO, Rose Marie. Os seis meses em que fui homem. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1 991.
OLIVEIRA, Colandi Carvalho de. Psicologia da ensinagem. Goiânia: Kelps, 2 002.
STRATTON, George. Princípios básicos da psicologia feminina. São Paulo: Mc.Graw-Hill do Brasil, 1 976.
TAVARES, Clotilde. Iniciação à visão holística. Rio de Janeiro - RJ: Record, 1 986.

Um comentário:

Nargila Miranda disse...

Adorei o texto e me alimentou mais a certeza que estamos presenciando uma mudança histórica na qual desejo muito ser colaboradora, a Administração será totalmente realinhada graças a presença forte das mulheres!
Ou melhor administração não Gestão, afinal administrar não é nada Gestar, fazer nascer é a grande mudança!