quinta-feira, 2 de agosto de 2007

EDUCAÇÃO, POESIA, BELEZA E DRUMMOND



















..."Por que motivo de modo geral as crianças são poetas, e,
com o tempo, deixam de sê-lo?
Será a poesia um estado de infância relacionado com a necessidade
de jogo, a ausência de conhecimento livresco, a despreocupação
com os mandamentos práticos do viver,
estado de pureza da mente, em suma? (...).
Mas se o adulto, na maioria dos casos
perde essa comunhão com a poesia,
não estará na escola,
mais do que em qualquer outra instituição social,
o elemento corrisivo do instinto poético da infância,
que vai fenecendo à medida em que o ensino sistemático se desenvolve,
até desaparecer no homem feito e supostamente preparado para a vida?
Receio que sim.
A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem,
sem, via de regra, fazê-lo através da poesia da matemática,
da geografia, das linguagens.
A escola não repara em seu ser poético,
não o entende na sua capacidade de viver poeticamente
o conhecer o mundo.
Então, o que eu pediria à escola,
se não me faltassem luzes pedagógicas,
era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas,
e depois, como veículo de informação prática e teórica,
preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo,
que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.
Alguma coisa que se "bolasse" nesse sentido,
no campo da educação,
valeria como corretivo prévio de aridez
com que se constumam transcorrer destinos profissionais,
murados na especialização,
na ignorância do prazer estético,
na tristeza de encarar a vida como um dever pontilhado de tédio."


(Carlos Drummond de Andrade)

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