quinta-feira, 14 de outubro de 2010

VOCÊ É.... Martha Medeiros




VOCÊ É...

"Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava. Você é os nervos a flor da pele no vestibular. Os segredos que guardou. Você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, Do Francês, Placaford... Você é o renascido depois do acidente que escapou. Aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai. Você é o que lembra.

Você é a saudade que sente da sua mãe. O sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda. A dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, de ter se calado quando deveria gritar. Você é aquilo que foi amputado no passado. A emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas. Você é o que chora.


Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa. Você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta. Você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta. Os pedaços que junta. Você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo. Você é o que desnuda.


Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar. Você é o desprezo pelo o que os outros mentem. O desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá. Você é aquele que rema, que cansado não desiste. Você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta. Você é o que queima.


Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta. Você é os direitos que tem, os deveres a que se obriga. Você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca. Você é o que pleiteia.


Você não é só o que come e o que veste. Você é o que requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê. Portanto, não tenha, nunca, medo dos espelhos...
"

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Que vontade de voltar a sentir gosto de estrelas na boca." (Mário Quintana)

UM PAÍS QUE ELEGE TIRIRICAS, WESLIANS, ETC. ETC.


Não é pelo fato da política em si, mas antes pela questão humanística que envolve o fenômeno. O que Joaquim Roriz está fazendo com a sua 'amada" esposa, D. Weslian, é absolutamente descabido. É um crime sem proporções, atirando uma inocente indefesa na arena de leões tarimbados e famintos, para que a devorem em segundos. Ver D. Weslian nas rodas de discussão política, nos debates, ou nas mesas de montagem de estratégias ou diretrizes de ação, é de fazer pena é de dar dó. E ele ainda fez tudo em nome do amor, da compaixão, do companheirismo de muitos anos. O que, sem dúvida, chega a ser cômico.

Ela, coitada, fica alí parecendo uma bobinha no meio de homens letrados, de raposas velhas no jogo de poder e da exurpação do outro, como é o caso da miserável política brasileira. É um peixe fora d'água. Sendo uma pena que ela não tenha nem ao menos alguns neurônios funcionando. Se tivesse não se exporia a tamanho ridículo, e, depois, se separaria definitivamente deste homem que usa o amor e o companheirismo para exercer a sua vontade fria e abjeta, justamente contra aquela que é a sua companheira de meio século, de quem herdou a fortuna e as fazendas do seu velho e rico pai e quem, no final das contas, deu a ele duas filhas, duas deputadas, que juntas ajudam a segurar o feudo da família, o DF, exatamente como nas dimensões políticas e sociais da ultrapassada idade da pedra. Um horror.

A esta altura dos acontecimentos, a capital do Brasil, pasmem, a capital, está prestes a se tornar um sítio asfaltado, onde os aristocratas cruéis do passado, tendo como capatais do mesmo jogo, suas filhas, ordenam que façamos ou soframos, de preferência , sem reclamar, isto ou aquilo. Um absurdo incomum, a prova de que somos um país na mais astuta periferia do mundo. E estamos prestes à derrocada total se esta sofisticada motorista de fogão - ou nem isto - for eleita a governadora do Distrito Federal brasileiro.

Pelo menos teremos, como disse Alexandre Garcia, a grande atração que serão os programas eleitorais que precedem ao segundo turno das eleições. Vai ser muito engraçado continuar vê-la trocando palavras, alinhavanbo pensamentos, tropeçando nos papéis, nas fichas que consubstanciam suas colas, pois é incapaz de emitir uma única ideia com começo, meio e fim, enquanto Agnelo, um médico, um político mais do que experimentado, desdobrará com sobra de eficiência - igualmente na mentira - suas propostas, planos de ação para o exercício de uma política infinitamente superior, e que, transpira a mudança sobre estas quase duas décadas em que Roriz manda e não pede, comete suas falcatruas políticas e fala nos programas, como se fosse Deus, com sua coreografia ensaiada, dura, mecânica, que em nada combina com a sua figura ultrapassada dos coronéis escondidos nos séculos da história.

E mesmo assim é bem possível que ela ganhe, o que, de tudo, cumprirá a política do quanto pior, melhor. Só assim, depois deste circo todo, quem sabe o eleitorado "consciente" do Distrito Federal passe a ter, além desta visão opaca e tortuosa, um pouco de vergonha na cara, o que, já não era sem tempo. Enquanto isto, D. Weslian ficará cuidando de suas práticas ridículas, dos seus vestidos de gosto duvidoso, suas conversas de cozinha e a exibição das tecnologias avançadas da fazenda que "papai nos deixou".

Mas nós, o povo de Brasília, bem que merecemos. Já ajudamos a eleger as suas filhas deslavadas. E mais um pouco, seremos todos, como D. Weslian já é, perfeitos robôs nas mãos de sua excelência Roriz que sempre contribuiu para o caos de Brasília, com seus governos irresponsáveis, seus projetos eleitoreir0s e suas obras faraônicas que calam, com eficiência as bocas dos trouxas, dos palhaços e dos imbecis que somos todos nós. Sejamos então chefiados pela grande mãe religiosa, boa, dedicada, caridosa. Mas vazia, perdida, ingênua e sem ação nenhuma na vida. Caso contrário, não estaria até hoje vivendo ao lado de quem se casou. Já teria procurado um ponto de decência para viver a sua vida e terminar seus dias de estrada, que, pela lógica, não hão de ser tantos mais. Até hoje, ela ficou na penumbra, na meia-luz, ajudando ao seu amado esposo a cometer as desgraças horrendas que ele chama de boa política, e que, com certeza, levará todo o Distrito Federal a um caos insustentável nos próximos anos. Mas agora ela vem para o centro do palco, para cantar desafinada e dançar desengonçadamente.

Mas, felizmente, eleitor, o foco de luz está nas suas mãos, sendo você livre para acendê-lo ou não. Da mesma forma, você é o dono e senhor dos cordões que abrem e fecham as cortinas. Estando, portanto, o espetáculo dantesco em suas mãos. E quem o assistir terá depois noites e dias de pesadelos constantes. Pense nisto e ao invés de usá-los, vamos colocar os narizes de palhaços na porta da família Roriz, para que este seja um país que não mais eleja Tiriricas, Weslians, etc. etc, Eles que fizeram o circo. Agora, portanto, que se deleitem com o espetáculo de horror que são todos, protagonistas.
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Antonio da Costa Neto

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Liberdade para mim é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome." (Clarice Lispector)

RORIZ, O MACACO, A FRAUDE E A PIADA DO PALHAÇO

Sebastião tinha 1m52 de altura, 70kg de peso e 34 anos quando morreu de diabetes, na véspera do Natal de 1996. Oito anos antes quase conquistara a prefeitura do Rio de Janeiro, a segunda maior capital brasileira, arrebatando mais de 400 mil votos do esclarecido eleitorado carioca. Foi o terceiro mais votado entre 12 candidatos. Se tivesse vencido, não seria empossado. A família Hominidae, da qual Sebastião fazia parte, não tinha nenhuma tradição política. Ele fazia parte de uma espécie, os pan troglodytes, popularmente conhecida como chimpanzé.
Carinhosamente aclamado pelas crianças como ‘Macaco Tião’ no Zoológico do Rio, ele foi a invenção política mais divertida do Casseta & Planeta, antigo programa humorístico da Rede Globo. Sebastião ganhou a eternidade no livro Guinness de recordes como o chimpanzé mais votado do mundo. O ‘Macaco Tião’ é o deboche escancarado na política brasileira, que apela para o bizarro quando leva o eleitor ao voto de protesto fantasiado pela ironia, pelo bom humor e pela graça.
Isso já acontecera no final dos anos 50, nas eleições municipais de São Paulo, quando alguém se impressionou com uma praga hoje felizmente extirpada do território brasileiro: o baixo nível dos 450 candidatos que disputavam então uma vaga na Câmara Municipal.
Antecipando em três décadas o ‘Macaco Tião’ carioca, lançou-se em São Paulo a candidatura a vereador do rinoceronte ‘Cacareco’, do Zoo da capital paulista, numa época em que cada eleitor escrevia o nome de seu candidato numa cédula de papel. Cem mil paulistanos tiveram a pachorra de escrever no seu voto o nome do mamífero chifrudo e de casca mais grossa que a maioria da fauna política nacional. ‘Cacareco’ foi o nome mais sufragado da eleição de 1959, superando sozinho os 95 mil votos do partido mais consagrado nas urnas. ‘Tião’ e ‘Cacareco’ representam a face divertida e moleque da política.
Weslian, 1m70 de altura, 76kg de peso e 67 anos, é a faceta sem graça, a cara do escárnio, o lado mais debochado a que chegou a política em Brasília, a capital de 190 milhões de brasileiros, supostamente o centro mais esclarecido de uma multidão de 135 milhões de eleitores.
Da família Roriz, grife de um clã político que governou o Distrito Federal em quatro mandatos, num total de 14 anos, Weslian fez sua retumbante e tardia estréia nas eleições de 2010 na noite de terça-feira (28), no debate da Rede Globo com os candidatos a governador, quando faltava menos de uma semana para o pleito de 3 de outubro.
Weslian entrou no jogo eleitoral pela porta dos fundos: foi apontada na sexta-feira (24) pelo marido, o ex-governador Joaquim Roriz, que na véspera viu o Supremo Tribunal Federal empacar (5 votos contra 5) no julgamento em que ele tentava escapar dos efeitos sanitários da Lei da Ficha Limpa, que cassou Roriz por envolvimento e renúncia em um escândalo de corrupção.
Com o cálculo político da esperteza, Roriz imaginou enganar a lei e iludir os eleitores trocando seis por meia dúzia. Renunciou preventivamente e botou no lugar a mulher, dona Weslian, uma simplória dona de casa, companheira de 50 anos de casamento e dedicada a obras de cunho social e benemerente. Assim, mantinha o nome Roriz na tela de votação e o número da coligação, o que reviveu o mote de um antigo seriado de TV: o ‘Casal 20’. A frieza de carrasco de Roriz ficou evidente no debate da Globo, quando expôs a mulher a um dos mais sórdidos espetáculos de auto-imolação já encenados na política brasileira.
Weslian, coitada, surgiu no estúdio, patética e apatetada, tentando interpretar o papel que o marido lhe empurrou, goela abaixo, exibindo toda a fragilidade de um projeto político esfacelado pelo advento da Lei da Ficha Limpa. Honrada e despreparada, Weslian tropeçava na gramática, no raciocínio, no noviciado e na improvisação, trocando perguntas, confundindo candidatos e espantando a grande maioria dos 1,8 milhão de eleitores da capital brasileira.
Não soube nem mesmo administrar as dezenas de folhas, perguntas e respostas preparadas pela assessoria de Roriz, perdendo minutos preciosos tentando localizar a ‘cola’ salvadora. Não conseguiu nem mesmo usar, na plenitude, o tempo precioso reservado às perguntas e respostas. Não se fazia entender na hora de perguntar, não conseguia compreender a questão na hora de responder. Ao tentar responder uma pergunta sobre ‘transporte público’, dona Weslian lembrou que o candidato do PT, ex-comunista, não acreditava em Deus e devolveu com uma pertinente questão: “O senhor é contra o aborto?”.
Foi uma das cenas mais constrangedoras e pungentes de toda a campanha eleitoral de 2010, em qualquer quadrante do Brasil. O desamparo e o abandono de dona Weslian, jogado às feras da política pelo marido impiedoso e insensível, desatou uma imprevista corrente de piedade para com a inesperada candidata, filha de um rico fazendeiro de origem libanesa que pastoreava o cerrado do Planalto no quadriláteiro que, anos depois, JK, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer demarcariam para encravar a futura capital brasileira. Misericordiosos, os três candidatos adversários – do PT, PSOL e PV – fizeram perguntas entre si, poupando a criatura de Roriz, que tropeçava em seus papéis, em suas frases, em suas idéias inacabadas.
Weslian, cristã e católica fervorosa, invoca sempre Deus e Nossa Senhora, lembrando que acompanhou de perto a vitoriosa carreira do marido. “Ele sabe administrar uma fazenda como ninguém”, confessou no debate, fazendo uma involuntária metáfora sobre o estilo que o Casal 20 agora evoca nos últimos momentos do programa eleitoral de rádio e TV, com seu lema de campanha: “Weslian vai trazer de volta o jeito Roriz de governar”.
Mais do que a fraude explicitada pela manobra esperta do marido, Weslian encarnava, no estúdio refrigerado da Globo, o personagem ridículo e subalterno que joga no chão a política brasiliense. Uma proeza nada desprezível para uma cidade que já viu desfilar figuras inusitadas, folclóricas, divertidas ou lamentáveis como Fernando Collor, Cacique Juruna, Severino Cavalcanti, Paulo Maluf, Clodovil, Roberto Jefferson, Agnaldo Timóteo, José Roberto Arruda e o próprio marido de Weslian, o implacável Joaquim Roriz.
A fauna política que teima em habitar o bioma do Cerrado é gerada, em boa parte, pela flacidez das leis e pela tolerância ou pelo bom humor do eleitor que, na falta de um ‘Macaco Tião’ ou de um ‘Cacareco’, acaba descobrindo utilidades inesperadas ou debochadas para o seu voto. Agora mesmo, as previsões mais modestas apontam o palhaço ‘Tiririca’ como um dos campeões de voto para a Câmara dos Deputados, virtualmente eleito com quase um milhão de votos pelo PR de São Paulo, o que seria a maior votação do país.
Ao contrário do Supremo, que decidiu não decidir no julgamento de Roriz, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do DF resolveu, na tarde desta quarta-feira (29), brecar o truque do ex-governador, vetando toda a propaganda de rua e os programas de rádio e TV que exaltam o Casal 20, um flagrante desrespeito à lei e um claro embuste da renúncia voluntária e programada de Roriz. Ele não poderá mais aparecer ao lado da mulher, como fiador, conselheiro ou sequer ‘amado esposo’ da candidata inventada de última hora para escapar da lâmina afiada da Lei da Ficha Limpa.
Não existem evidências de que Joaquim Roriz inveje o quociente intelectual ou a vestimenta colorida de ‘Tiririca’. Mas a desastrosa aparição de Weslian na corrida eleitoral e no debate da Globo reforçam a suspeita de que Joaquim Roriz vê os habitantes de Brasília com o nariz vermelho de palhaços, como aqueles que acreditam que “a política, pior do que está, não fica”. Com a ajuda do ex-governador, sabe-se, sempre poderá ficar.
No domingo, dia 3, os eleitores conscientes da capital brasileira tiveram a chance de devolver esta piada sem graça, cravando seus votos em quem merece. Não precisaram nem eleger o macaco ou o rinoceronte. Bastaria repudiar a fraude.
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Luiz Cláudio Cunha é jornalista, eleitor em Brasília e não vota em palhaço.