terça-feira, 24 de maio de 2011

AS MEIAS VERDADES DA PROFESSORA AMANDA GURGEL

Li, certa vez, um belo poema do Carlos Drummond de Andrade, em que ele trata a verdade como se fosse apenas a sua metade. Ou seja, mais ou menos assim, todas as pessoas que estão envolvidas em um dado fenômeno ou incidente, cada uma tem a sua, e procura defendê-la com todo o zelo. Para que ela tenha o status de ser inteira. Podendo, portanto, ocasionar o que o indivíduo quer com a defesa daquela meia verdade, que é, no caso, a visão do interesse parcial de cada um. E, por isso mesmo, incompleta, questionável e, na maioria das vezes, duvidosa.

Seguindo este raciocínio, num momento em que todo o universo da educação no Brasil acha-se meio abalado com as palavras corajosas da Profa. Amanda Gurgel, ditas de punho cerrado e sem titubear, frente autoridades educacionais e parlamentares do Rio Grande do Norte, em Natal, há alguns dias. Tudo o que a Professora Amanda diz é, no entender das pessoas, e, no meu próprio, verdade sim, pura e absoluta. A professora clama abertamente pela falta de estrutura, seriedade e de apoio governamentais. Grita contra o baixíssimo salário, o escárnio, a humilhação porque passa toda a categoria dos educadores brasileiros, com o que, também como educador, não posso duvidar em nenhum dos seus pontos ou aspectos e quero aqui parabenizá-la pela força, a determinação, a ousadia, a coragem. "Se todos fossem iguais a você..."

É claríssimo que a forma como o governo trata a educação, os educadores, as escolas é muito mais do que degradante em todos os sentidos e poderíamos listar, dentro desta discussão, um sem número de coisas. Mas como toda verdade tem dois lados e, ainda por cima, diz a sabedoria popular que tem três: o de quem conta, o de quem ouve e o lado da verdade em si, claro que o governo e as autoridades verão tudo isto de uma outra forma e cada um usará a sua voz e sua vez para as justificativas vazias. E tudo continuará da mesma forma, aliás, como sempre, a serviço dos ricos, dos poderosos, da pequena burguesia. Assim, eu gostaria aqui de apresentar o terceiro lado, fundamentado, inclusive, numa experiência que vivi como professor de escola pública do Distrito Federal.

É que com tantos planos, mudanças de governos e de processos, inclusive econômicos, participei, certa vez, de um grande estalo positivo na educação pública do DF em que, de uma hora para outra, mais do que se triplicaram todos os salários. Escolas foram consertadas, ampliadas, tomadas providências e adquiridos muitos dos recursos necessários e tão reclamados pela categoria de educadores.

Mas claro, a alegria plena durou uma semana. Algumas pequenas mudanças até aconteceram, mas, infelizmente, apenas aperfeiçoando o caos até ali existente. E já no próximo pagamento os reclamos eram gerais. Os recursos se desgastaram por falta de manutenção. Os muros voltaram a cair, as carteiras, quebradas, etc. E, num prazo muito mais curto do que se esperava o caos se instala de novo, mais forte e robusto, e, com ele, todos os problemas de sempre que se fazem presentes até hoje. E pelo que vejo, até sempre.

Gostaria de lembrar à Profa. Amanda Gurgel, de que, tudo o que ela clama é justo e legítimo. Resta tratar do outro lado da verdade, que é, justamente, a dos professores, que, em sua absoluta maioria, não merece nem mesmo a vergonha que recebe. No Brasil, os educadores constituem uma categoria de subservientes aos ditames do poder e do governo. Muitos trabalham, sofrem, suam suas camisas, eu sei disso. Mas será que são capazes de questionar o para quê e para quem trabalham? Contra o que e contra quem gastam seu cotidiano, seus corpos, voz, saúde? Por que os "bons" professores são incapazes de questionar os programas ridículos impostos pelo MEC para perpetuar o poder abusivo ao qual representa? Não percebem, por exemplo, que a chamada escolar induz à subserviência, amortece qualquer crítica ou visão política dos alunos? E ainda fazem a chamada com todo o vigor. Aplicam provas, punem, fiscalizam, são policialescamente cretinos, maus, perversos.

Definem os limites dos erros, condenam, fazem sofrer e chorar com a maior naturalidade do mundo. A esta altura do campeonato, não desconfiam, ainda, os professores, supostamente tão bem preparados por nossas universidades ridículas, licenciados, que passaram por bancas, monografias, estágios, que a escola, tal como é e funciona presta muito mais desserviços do que serviços a quem pensa estar educando. Não se tocam que atuam contra quem trabalham e a favor da perversidade de quem tem. E, por ter, opera, manda, determina em benefícios próprios. Por favor, quando é que teremos nós, os ditos educadores, pelo menos um pouco de bom senso, de dignidade profissional?

Não enxergam os rigores da escola que lava as consciências a serviço da perpetuação do mesmo poder que os oprime? Será que os professores sabem que se dedicam à boçalidade da imposição dos poderes iníquos de uma sociedade fraca, atrasada, mesquinha, draconiana? Que disciplinam e não educam, mas adéquam, confinam e adestram as pessoas a tal regime social e econômico justamente para mantê-lo? Não entendem que trabalham para formar trabalhadores facilmente exploráveis e eleitores incautos e irresponsáveis? E que para que isto aconteça todas as coisas têm que ser exatamente desta forma? Assim, o baixo salário do professor, por exemplo, não é necessidade de dinheiro, mas estratégia política. Pois, quem ganha mal educará pior ainda, matando assim o governo, dois coelhos com a mesma balrroada.

Acredito que o governo precisa mudar e muito. Mas os professores também, talvez, mais ainda, pois são eles é que executam a vergonha toda que aí está. Já passou e muito da hora de deixarmos de ser tão ingênuos, tão bobinhos, manipuláveis, marionetes, palhaços. Mas parece que é exatamente o que todos querem, inclusive os Sindicatos e Associações afins. Pois só uma inteligência muito crua e abaixo da média para não perceber a manipulação tão grande e tão séria que eles fazem e que tanto alegra e perpetua o poder do governo, dos empresários da educação, enfim, da fatídica burguesia de sempre, enquanto o trabalhador, o homem do povo morre a cada dia.

A educação a que nos referimos apenas será feita com uma profunda conscientização ética, crítica e política dos professores sobre o maquiavelismo das práticas pedagógicas. A manipulação ideológica dos uniformes, das táticas escolares, da inutilidade dos currículos, do que ensinam e do como ensinam. Ou seja, estamos ainda antes da estaca zero do começo de um processo da mudança que queremos. Por enquanto, se a astuta maioria dos professores que faz quase nada. E, pior ainda, trabalha contra o que acredita e diz que faz, tivesse a hombridade de devolver aos cofres públicos o que recebe sem merecer, daria para o governo - se quisesse, é claro e não vai querer, pois, neste jogo de faz de conta não dá para saber qual é a banda mais podre da história - solucionar quase todos os problemas da estrutura material. Mas, infelizmente, falamos de uma conjuntura que envolve ideias, filosofias, crenças, valores, o que, justamente, falta a grande parte dos ditos educadores deste País.

E foi por isso Amanda, que você foi parar no Programa do Faustão. Pois a Rede Globo é muito mais articulada do que todos nós juntos e sabe que o seu discurso sozinho e parcial como tem sido, não vai alterar em nada a ordem das coisas. E, no final de tudo, só eles é que continuam ganhando o jogo. Não podemos mais ser ingênuos, reprodutivos e lutadores contra nós mesmos. Se não somos sábios o suficiente, que sejamos, pelo menos espertos. Pois eles o são. E muito, eles, sim, sabem fazer as coisas. Enquanto nós, os educadores de "boa vontade" não passamos de meros joguetes em suas mãos e os construtores das vontades geradas em seus corações frios e inumanos.

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Antonio da Costa Neto
Confira a fala da Professora Amanda Gurgel no:
http://www.youtube.com/watch?v=7iJ0NQziMrc



Faça suas comparações e os contatos conosco.

Pois só discutindo é que vamos crescer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim,nossa escola como todas Instituiçoes sao REPRODUTORAS,de um Sistema podre e falido!Nao desanimemos.Nao e hora de critica negativa ela so nos enfraquece.E HORA de:DIALOGO,REFLEXAO,VERDADE,SOLIDARIEDADE,CONSCIENTIZAÇAO,UNIAO,e FORÇA.Nao percamos a chance.Nao deixemos mais uma vez o bonde da HISTORIA passar!!!.