segunda-feira, 23 de agosto de 2010

EIS QUE DEUS CRIOU A MULHER E DEU-LHE O NOME DE LUZIA




"Primeiro não havia nada
nem gente, nem parafuso,
o céu era então confuso
e não havia nada...
Mas o espírito de tudo
quando ainda não havia,
tempo, pedra, peixe, dia...
Espírito de tudo!
Dizem que existe uma tribo
de gente que sabe o modo
de ver este fato todo,
diz que existe esta gente...
Gente que toma um vinho.
Diz que tudo é sagrado..."

(Gênsesi, de Caetano Veloso, fragmentos)



Parece-me que a humanidade quer e precisa muito se evoluir. Mas, se o tenta fazê-lo vai sempre pelo caminho errado, pela ingenuidade, a não-percepção. Não consiguindo ainda, superar coisas tão primárias, que, no mundo de hoje, qualquer criança já desconfia e contexta. Um bom exemplo é a mentira fatídica sobre a origem da humanidade por meio de Adão e de Eva.

Ainda mais, pela ridícula ótica que é mostrada pela bíblia e por todas as crenças teológicas que circundam por meio da superada abordagem judáico-cristã. Segundo a qual, Deus haveria criado um boneco - masculino - de barro, souprou-o, deu-lhe vida e o nome de Adão. Depois, sentindo que não seria bom que ele estivesse só, e, principalmente, tivesse, ele próprio de cuidar de sua comida, saúde, higiene, meios de sobrevivência; arrancou uma de suas costelas - coitado, e, por que será que os machos seus herdeiros genéticos continuam com as duas? Seria mais um milagre de Deus, para quem tudo é mais que fácil, mais que possível? Enfim... - e dela fez a mulher.

Mais um pouco e se não parecesse tão ridículo e repugnante, contariam-nos a história assim: - Depois de fazer, soprar o boneco de barro, dar-lhe vida e nome. Deus o alimentou fartamente, e, mais tarde, de seus excrementos, Deus fez a mulher. Um ser tão desprezível. E, para tal, teve de usar máscaras e luvas para não se sujar e suportar o odor horrível que aquilo exalava. E ainda aproveitariam para explicar porque exalam da mulher odores tão fortes, caso ela não se higienize correta e diariamente. Parece muito, não é mesmo? Mas não se enganem, era isto que os famigerados e ridículos machos, sequiosos pelo poder e exploração queriam induzir quando escreveram e mitizaram esta escabrosa fábula. Na qual, a maioria de nós, ainda, sob o jugo de tanta evolução da ciência e da tecnologia, ainda hoje, por mais incrível que possa parecer, ainda acredita. Você, não?

Tudo isto faz parte de uma fatídica história escrita e contada pelos machos, que sempre lideraram todos os campos do saber, da ciência, da comunicação e da mídia, até hoje. Basta dar uma olhada no expediente dos bons jornais, revistas, periódicos, livros e eventos importantes. Só os homens criam, editam, coordenam. Mulheres, quando aparecem é apenas para digitar, secretariar, servir cafezinhos. E os homens, os machos fazem tudo isto para perpetuarem seu poder, seu bem-estar e as formas de uso e exploração da mulher, que, bobinha, acaba se abaixando e deixando a mesma página virar durante séculos, milênios.

Mas vamos entender tudo pela ótica dos fatos, e, não mais, dos fenômenos criados e perpetuadores da desvalorização da mulher e dos valores femininos, o que, em última análise, significa um atraso sem tamanho, um grande estorvo a todas as formas possíveis de evolução e de melhorias. Mas, na verdade, Deus, em sua sabedoria macro, entendeu logo que a força do macho destruiria o planeta e as formas de vida - tal como temos visto e sentido nos tempos de hoje.

Então, do nada, apenas de um simples ritual de que necessitava, ele soprou dentro de suas duas mãos e dali surgiu, não um homem, mas uma mulher: Luzia, pois entendeu que ela significava a luz, a visão do mundo e da vida. Então Luzia viveu e cresceu no paraíso, tornando-se uma mulher bonita, forte, de um lauto sorriso, muitos conhecimentos, sagacidade, malícia. Depois desejos, suores íntimos, prazeres, sabedorias. Mulher vistosa, de grandes peitos, ancas largas, boa parideira. Que pelos caminhos e na ordem correta das coisas, um dia, deita-se, arreganha suas pernas muito amplamente. E do seu arc0-iris colorido de vida e luz. A luz própria das Luzias, ela começou a parir infinitas mulheres e humens. Que depois, novamente se acasalaram criando outras, inúmeras mulheres e homens. Chegando a você, meu leitor, um galho fantástico desta árvore genealógica a que chamamos, por falta de um nome melhor, de humanidade.

Portanto, o mundo dos seres humanos vem de Luzia. Vem de uma mulher, e não de Adão que foi, apenas um de seus primogênitos. O condutor esperto da loucura de dizer e fazer acreditar que é dele, dos donos do falo, os comandos das coisas da vida, do universo de Deus. Que, por sinal, chama-se Deus, por ser. justamente, uma palavra neutra que não termina por "a" e nem por "o". Não sendo, portanto, nem macho, nem fêmea, mas um ser numa terceira dimensão mágica, muito acima do minimalismo material dos sexos e dos gêneros. A evolução que tanto queremos começa com o pensar grandioso. Superando as dicotomias fracas e comuns, que nós, pobres micróbrios que habitamos uma poeira cósmica chamada terra e que não é nada frente à grandiosidade do universo.

Mas não somos tão diminutos assim, pois nos originamos na força mágica de Luzia. O poder infinito da luz que há de guiar-nos a todos, a partir de agora.


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Antonio da Costa Neto

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