quinta-feira, 7 de maio de 2009

A QUESTÃO DOS PARADIGMAS NO MUNDO DE HOJE


A Questão dos Paradigmas no Mundo de Hoje
Por:

(*)Antonio da Costa Neto


"A sociedade como um todo vive uma crise análoga e singular
diferente de todas as crises parciais que tivemos no passado,
pois não trata apenas de questões passageiras, mas definiti-
vas em relação ao futuro histórico da espécie humana.
Vivemos hoje num mundo globalmente integrado e os pro-
blemas humanos, éticos, políticos, sociais, econômicos, cul-
turais e ecológicos são interdependentes, e, para resolvê-los
precisamos de uma nova prespectiva. Será necessária uma es-
trutura educacional, social, humana, política e econômica
radicalmente diferente. Uma revolução cultural na verda-
deira acepção da palavra: uma autêntica mudança de paradigmas.
A sobrevivência da humanidade
dependerá, certamente, de sermos ou não capazes de realizar
esta mudança."


(Fritjof Capra)


Estas reflexões nos remetem a um dos pontos da maior importância frente à dinâmica e aos problemas do mundo contemporâneo que é a necessidade urgente de se processar uma extraordinária, uma radical mudança de paradigmas. Ou seja, das formas de ver, sentir, acreditar e fazer as coisas, com consciência de suas interferências, benefícios, malefícios, processos e resultados. Enxergando a dualidade de todas as ações e projetos, pois como vivemos numa sociedade complexa, logicamente, tudo que é feito, ou não-feito, logicamente irá beneficiar a alguém e, ao mesmo tempo, prejudicará a outras pessoas. Restando a quem faz, saber a quem beneficia e a quem prejudica com tal ação ou omissão. O grande problema histórico reside exatamente no fato de que sempre são os mesmos poucos beneficiados, enquanto muitos se prejudicam, chegando ao ponto da insustentabilidade para milhões e milhões de pessoas em volta de todo o planeta.
É a síntes do que em ciência se habituou a chamar de Estado da Arte em relação aos paradigmas antigo, novo e emergente.O novo paradigma advoga a idéia de que tudo o que é vivo cumpre ciclos, etapas, fases com início, meio e fim. E ainda, tais ciclos são epigenéticos – ou seja, um ciclo nasce dentro do outro, sendo portanto herdeiro de características e semelhanças recíprocas. O ciclo seguinte nasce da epigênese do anterior e leva deste características, idéias, símbolos e imagens reais e em especial, aquelas criadas psicologicamente, num processo contínuo e infinito, circular e não, linear. O mesmo acontecendo com cada um dos novos ciclos que se sucedem. Por exemplo, uma criança criada com medo será provavelmente um adulto medroso, se for criada com amor, será amoroso e assim por diante.

São recorrentes, isto é, carrega recorrências, imagens, impressões, sensações, emoções, sentimentos que foram criados no ciclo anterior a ele. Se tenho medo de minha mãe e a minha professora se parece com ela, meu inconsciente vai confundir as duas e eu, naturalmente, terei também medo da minha professora, mesmo sabendo que ela não é a minha mãe. Trata-se de uma questão psicológica, e, na maioria das vezes, inconsciente, não-perceptível aos olhos da absoluta maioria das pessoas.

E, finalmente, são probabilísticos porque poderá ocorrer entre eles algum fato ou fenômeno absolutamente forte que transforme a ordem das coisas. Assim uma criança criada com medo e sem amor, poderá encontrar uma professora o suficientemente amorosa e dedicada ao ponto de mudar a sua personalidade, tornando-o num adulto sensato e amoroso, embora as suas características originais negassem isto. Buscando explicar de forma simplificada e bem didática, pois se formos aqui aprofundar a explicação, gastaríamos páginas e páginas.

O ser humano que tem uma expectativa média de vida um pouco acima dos 85 anos, cumpre ciclos, fases, etapas de mais ou menos 5 a 7 anos que denominamos de a) vida intra-uterina/primeira infância; b) segunda infância e puberdade; c) adolescência; d) juventude; e) idade adulta, f) maturidade; f) melhor idade; g) velhice; h) senilidade. O Planeta Terra atravessa ciclos maiores de 1000 anos e dentro deles, os miniciclos que são os séculos, dentro dos quais a história humana passa por altos e baixos que são caracterizados pela física moderna como: a) grande explosão; b) aclive/ascendência; c) clímax; d) declive/descendência; e) saturação; f) caos, que é quando se chega novamente à necessidade de se mudar o paradigma – uma nova grande explosão. E não apenas de aperfeiçoar, maquiar, melhorar o paradigma existente, como a humanidade inteira insiste em fazer. Perpetuando, assim, o caos quase que insustentável em que estamos vivendo muito especialmente nos últimos tempos. Pois os sistemas sociais que temos, notadamente no mundo capitalista, já deram mais do que suficientes provas de sua superação em todos os regimes.

Ou seja, são sistemas, caminhos, formas e estilos de vida que não servem mais a ninguém, frente às especificidades da vida contemporânea e das próprias exigências de um mundo estremamente dinâmico e piperpopuloso.A humanidade passou por vários paradigmas historicamente acumulados que cumpriram suas etapas e se extinguiram no processo natural de evolução. Dentre outros, podemos citar o Paradigma Religioso-Medieval, das concepções, fórmulas mágicas inspiradas e ditadas pelos tenebrosos deuses do universo retratados por monstros e/ou figuras estranhas pelas várias mitologias histórico-antropológicas por nós estudas.

O Paradigma Estrutural-Funcionalista que surge com o advento da Revolução Industrial. Nascendo, com ele, o dogma da disciplina militarmente imposta, a definição da ordem, da hierarquia e dos princípios rígidos impostos pelos detentores dos meios de produção e do capital, a introdução dos modelos científicos de administração, por sua vez centrados nas propostas de Taylor e Fayol, que, analisadas aos olhos de hoje, não passam de um esquema próprio d exploração do homem pelo homem, que se fundamenta na concentração do poder, da renda e do bem-estar material daí advindos.

O Paradigma Judaico-Cristão que aí está, associado à estrutura funcional das organizações e ao dogmatismo religioso da igreja católica, favorecendo à visão do patriarcado, do predomínio do macho, à centralização unificada do poder, da concepção do pecado e da linearidade absurda e antagônica do céu para os bons e do inferno, do fogo eterno para os maus. Ou sejam, aqueles que se rebelarem aos seus princípios e causas.

Que, afinal de contas são os meios para garantir a perpetuação dos benefícios e da riqueza para as elites constituídas, enquanto o povo, a classe trabalhadora tende a viver com as misérias restantes da absoluta ostentação da matéria e do poder com que se garantem as minorias opressoras em todas as dimensões do dito mundo civilizado.Maquiavélica e perversamente a junção destes paradigmas todos leva a grande massa dos seres humanos à uma brutal subserviência aos princípios, valores e dogmas que os constituem e que são, imediatamente, consubstanciados na ação social da igreja, nas leis, nas organizações, escolas, famílias, no Estado, nas normas e nos estatutos das empresas e das escolas e demais instrumentos que, segundo o velho e bom Karl Marx, constituem os aparelhos ideológicos que acabam funcionando a serviço do Estado opressor, manipulando a consciência das pessoas para que elas se adequem facilmente aos modelos de exploração que se reafirmam a cada momento da história, descobrindo, para isso, métodos, técnicas e sofisticados instrumentos de ação e coerção.
Nos meios de comunicação de massa, e, muitas vezes, no fomento da própria arte e da cultura tais instrumentos são absolutamente comuns e não observados pela massa de pessoas que se deixam levar pelo rol das coisas, que muitas vezes são feitas em nome de Deus e do bem para todos. O que deixa como justo e natural a exploração astuta dos trabalhadores, das massas populares, a concentração do poder, da riqueza, do bem-estar e de todos os meios de sobrevivência.

Mas o mais forte, o que conduz na prática a síntese de todos e define as ordens e normas de conduta da vida é o ANTIGO PARADIGMA CARTESIANO-NEWTONIANO. Criado e difundido pelas concepções da física clássica de Isaac Newton e a filosofia de Renée Descartes e que já deu suas profundas marcas de superação. Mas a humanidade continua fazendo todos os esforços no sentido de mantê-lo vivo e presente por meio de sua cultura, seus valores, escolas, universidades, famílias, religiões, instituições de pesquisa, serviço público, etc.As sociedades contemporâneas, infelizmente, ainda não conseguiram identificar o terrível atraso que significa a manutenção de tal paradigma em suas práticas.

O que, na verdade, constitui um crime silencioso contra elas mesmas. Homens e mulheres ainda fogem cegamente da possibilidade de vislumbrar o novo, uma outra concepção de valores. Muitos sabemos que o atual momento já há muito dá suas mostras de uma senilidade absolutamente crônica, de uma anomalia cega e insuperável perante a realidade do homem e do mundo. Mas os que ainda julgam ganhar com isso, impõem drasticamente os seus valores. Pois o paradigma cartesiano-newtoniano (criado por Descartes e difundido por Isaac Newton) é próprio e justo para se ganhar muito dinheiro. Para se acumular poder e fortuna, sendo, claro, também o responsável por muitos avanços na sociedade dos homens, especialmente, no desenvolvimento da técnica, da ciência, do planejamento, das organizações.Mas, terrivelmente, trás um conjunto incomensurável de males, estragos, dores e sofrimentos para a humanidade toda.

Podemos exemplificar neste sentido os imensos cinturões de fome e miséria em volta do mundo, que, por sua vez geram doenças, endemias, violências, guerras, corrupções de todas as ordens. Levando à depressão social, à tristeza, ao estresse, à degradação contínua e rápida da natureza. A total impossibilidade de uma vida com paz, harmonia, decência e alegria de viver para todos, indistintamente. Em síntese, todos os males de que padece o mundo vêm da perpetuação deste paradigma nas ciências, nas práticas humanas e sociais, mas, incompreensivelmente, a mesma humanidade que tanto sofre, tudo faz para que ele não mude.

Pois os que materialmente lucram com ele, impelem a visão ideológica de que é assim que se deve prosseguir e desta forma a história humana se faz, levando o mundo para o caos insuplantável e já visível aos nossos olhos e para, historicamente falando, um muito curto espaço de tempo.

O Paradigma Cartesiano-Newtoniano no máximo camufla uma “pseudo felicidade” para os poucos ricos, os donos, os mandantes, que, cercados de seus badulaques e bijouterias de péssimo gosto. Mas que vivem afugentados e medrosos, temendo que o mundo caia sobre suas cabeças ou se esvaia de sob seus pés a qualquer momento.Na verdade este Paradigma é a junção dos modelos anteriores, modernizada e difundida nos moldes da ciência. É, portanto, um paradigma frio, linear, produtivo, centralizador, exato, preocupado com resultados vistos por uma ótica unilateral, monádica, há muito, fora de contexto, dos propósitos. Um modelo absolutamente capenga e superado como o é a mentalidade da grande maioria das pessoas, e, sobretudo, das nossas brandes instituições.

A nossa proposta é a de transição para adotarmos um NOVO PARADIGMA SISTÊMCO, CONTINGENCIAL, EMERGENTE, HOLÍSTICO. Oriundo das concepções transdisciplinares, da ciência antológica, da visão feminina do mundo, da física quântica, da teoria dos fractais, da teoria geral dos sistemas de F. V. Bertalanffy, Fritjof Capra, Marilyn Ferguson, Waldemar de Gregori, Clotilde Tavares, Humberto Maturana, Francisco Varela e muitos outros. Que difundem em suas concepções científicas, estudos e pesquisas uma visão de mundo muito acima da abordagem cartesiano-newtoniana. Uma maneira de ver e fazer as coisas fundamentada no processo, no prazer, na dotação da alegria, do bem-estar, do compartilhamento, da compaixão, na abertura de horizontes e perspectivas, na co-participação de todos na construção de um planeta e de uma vida melhores, dignos, justos, humanos e felizes para todos.

Enfim, uma nova realidade criada no processo de evolução natural da raça humana, que infelizmente vem fazendo um esforço brutal para não compreendê-lo. Embora por ele suplique todos os dias.Diferentemente, a nova proposta deixa de ser centralizadora absoluta e passa a descentralizar tudo: poder, riqueza, processos de tomada de decisão, participação ativa, acesso aos lucros, às formas de fazer as coisas, o sentimento de estar presente e se fazer importante, numa verdadeira "revolução copernicana" em relação a fatos, fenômenos, e, principalmente, pessoas. É uma proposta que se preocupa em personalizar em vez de padronizar, harmonizar ao invés de mecanizar. É quente, prazerosa, repleta de vida, respeito, beleza, sensibilidade, estética, mística, ações humanas, alteridade, empatia constantes.

Vê infinitos processos e os resultados como um efeito natural e direto destes. Assim, bons processos gerarão bons resultados, sempre, tornando desnecessárias a imposição de limites, a guarda, a punição, a dor, o sofrimento, a punição, a eterna vigilância, a concentração do poder de decidir nas nãos de poucos, a desconfiança geradoras das desgraças humanos em todos os segmentos do mundo de hoje.Para que a humanidade tenha uma qualidade de vida decente, paz duradoura, ar respirável, felicidade, meios de sobrevivência, saúde plena, lazer, educação, acesso e dotação dos meios de sobrevivência (bens, espaço, prazer, participação nas decisões, etc.) é preciso que ela abandone os estreitos limites da visão cartesiana de mundo: fragmentária, mecânica, fechada, preconceituosa, sexista, capitalista e adote a nova concepção global, aberta, flexível, intermitente, calorosa, responsável, afetiva, emocional, inteira, co-responsável . Plena de compaixão, senso ecológico, amor e bondade. Para que todos vivam com amor e alegria. Segurança, bem-estar e qualidade extrema.

Sendo, afinal, o que nós, pobres mortais podemos vislumbrar para que o mundo não seja mais este “vale de lágrimas”, mas uma “passarela sonora, perfumada, cheia de luz, vida, sorrisos e esperanças”. Com corações e almas aliviados, ávidos, contundentes e cheios de amor. E parafraseando o sociológo italiano Domenico De Masi: o ceu existe e consiste em vivermos em paz, comunhão, fraternidade e amor. Mas o inferno também existe , consistindo este na nossa ignorância em percebermos que vivemos na imensidão do paraíso...
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(*) Educador, pesquisador e conferencista nas áreas de educação, gestão de pessoas e formação política. Autor de artigos sobre o tema, incluindo os livros: Paradigmas em educação no novo milênio, Educação alienante existe e Escolas & Hospícios - ensaio sobre a educação e a construção da loucura.

Um comentário:

assunção disse...

Muito boa as colocações sobre os paradigmas atuais, pois estes que nos fazem perceber como as coisas, as mudanças acontecem ao nosso redor.