domingo, 26 de abril de 2009

CAVALO DE PAU - Yeda Scmaltz



Quando amo, sou assim:

dou de tudo para o amado

— a minha agulha de ouro,

meu alfinete de sonho

e a minha estrela de prata.

Quando amo, crio mitos,

dou para o amado meus olhos,

meus vestidos mais bonitos,

minhas blusas de babados,

meus livros mais esquisitos,

meus poemas desmanchados.

Vou me despindo de tudo:

meus cromos, meu travesseiro

e meu móbile de chaves.

Tudo de mim voa longe

e tudo se muda em ave.

Nos braços do meu amado,

os mitos se acumulando:

um pandeiro de cigana

com mil fitas coloridas;

de cabelo esvoaçando,

a Vênus que nasceu loura.

(E lá vou eu navegando.)

Nos braços do meu amado,

os mitos se acumulando,

enchendo-se os braços curtos

e o amado vai se inflando.

— O que de mais me lamento

e o que de mais me espanto:

o amado vai se inflando não dos mitos,

mas de vento até que o elo arrebenta

e o pobre do amado estoura.

(Nenhum amado me agüenta.)

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