terça-feira, 15 de novembro de 2011

SÓ É UM BOM BRASILEIRO SE FOR EVANGÉLICO!!! ACREDITA NISSO?


A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico.

A parábola do taxista e a intolerância. Reflexão a partir de uma conversa no trânsito de São Paulo. A expansão da fé evangélica está mudando “o homem cordial”?

ELIANE BRUM


O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom.

Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.

- Você é evangélico? – ela perguntou.
- Sou! – ele respondeu, animado.
- De que igreja?
- Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.
- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?
- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.
- Legal.
- De que religião você é?
- Eu não tenho religião. Sou ateia.
- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.
- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.
- Deus me livre!
- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.
- (riso nervoso).
- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?

- Por que as boas ações não salvam.
- Não?
- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.
- Mas eu não quero ser salva.
- Deus me livre!
- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.
- Acho que você é espírita.
- Não, já disse a você. Sou ateia.
- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.
- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?
- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto...

O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.)

Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:

- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.
- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.
Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa.

A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros.

Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro.

Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica.

É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país.

Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó.

Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova.

Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta.

Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum.

Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende.

Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.


Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista (Foto: ÉPOCA)

ELIANE BRUM Jornalista, escritora e
documentarista. Ganhou mais
de 40 prêmios nacionais e
internacionais de reportagem.
É autora de um romance -
Uma Duas (LeYa) - e de três
livros de reportagem: Coluna
Prestes – O Avesso da Lenda
(Artes e Ofícios), A Vida Que
Ninguém Vê
(Arquipélago
Editorial, Prêmio Jabuti 2007)
e O Olho da Rua (Globo).
E codiretora de dois
documentários: Uma História
Severina e Gretchen Filme
Estrada.
elianebrum@uol.com.br


domingo, 13 de novembro de 2011

ESPELHO: a foto mais linda dos meus sobrinhos gêmeos. Concorda?


Obs.: Além deles serem lindos, o tio também é um puta fotógrafo. É mole?

LANÇAMENTO DO MEU NOVO LIVRO: POEMAS PARA OS ANJOS DA TERRA


(clique no convite baixo, para vê-lo aumentado)




No dia 09 de dezembro de 2 011, a partir das 20 horas, aconteceu, no Restaurante Carpe Diem, de Brasília, o coquetel de lançamento do meu novo livro: Poemas para os anjos da terra, juntamente com meu amigo Moysés André da Silva Filho, com o seu Lições de viver e de morrer: construindo tesouros espirituais,
conforme os dados do presente convite. Foi uma festa maravilhosa. Se você se interessa por alguns destes livros é só fazer contato comigo:


61 - 3274 27 55

61 - 9832 25 37

62 - 3206 62 96
Espero você.
O meu, é um livro que homenageia, em versos, Sivânia-Go e sua gente. Revivendo sua cultura, folclore, crenças, valores, bons e saudosos momentos.

Certamente, você vai gostar.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

FRAGMENTOS DO POEMA DO MENINO JESUS - DE FERNANDO PESSOA, CONFIGURADO COMO ALBERTO CAEIRO






Num meio-dia de fim de primavera
eu tive um sonho como uma fotografia.
Eu vi Jesus Cristo voltar à terra
e veio pela encosta de um monte.
Era a eterna criança, o Deus que faltava.
Tornando-se outra vez menino,
a correr e a rolar pela relva,
a arrancar flores para deitar fora
e a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir de
Segunda pessoa da Trindade.
Um dia, que Deus estava dormindo
e que o Espírito Santo andava a voar
ele foi até a caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro, ele fez com que ninguém
soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo, ele criou-se

eternamente humano e menino.
E com o terceiro ele criou um Cristo

e o deixou pregado numa cruz que serve de modelo às outras.
Depois ele fugiu para o sol
e desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje ele vive comigo na minha aldeia
e mora na minha casa em meio ao outeiro.
É uma criança bonita, de riso e natural.
Atira pedra aos burros.
Rouba a fruta dos pomares.
E foge a chorar e a gritar com os cães...
...Nem sequer o deixaram ter pai e mãe
como as outras crianças.
Seu pai eram duas pessoas: um velho carpinteiro
e uma pomba estúpida, a única pomba feia do mundo.
E sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher, era uma mala

em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que justamente ele

pregasse o amor e a justiça.
Ele é apenas humano.
Limpa o nariz com o braço direito,
chapina as possas d'água;

colhe as flores, gosta delas, esquece-as.
E porque sabe que elas não gostam

e que toda a gente acha graça, ele corre atrás das raparigas

que carregam as bilhas na cabeça
e levanta-lhes as sáias.
A mim, ele me ensinou tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
E aponta-me todas as belezas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem nas mãos e olha devagar para elas.
Ensinou-me a gostar dos reis e dos que não são reis.
E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente.
Sempre a escarrar no chão e a dizer indecências.
E a Virgem Maria leva as tardes

da eternidade a fazer meias.
O Espírito Santo coça-se com o bico;
empoleira nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é tão estúpido como nas Igrejas.
Diz-me que Deus não percebe nada das coisas

que criou, do que duvido.
"Ele diz por exemplo que os seres
cantam sua glória."
Mas os seres não cantam nada,

se cantassem, seriam cantores.
Eles apenas existem e por isso são seres.
Ele é o humano que é o natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E é por isso que eu sei com toda certeza
que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E depois, cansado de dizer mal de Deus
ele adormece nos meus braços
E eu o levo ao colo para casa.
Damo-nos tão bem um com o outro
na companhia de tudo
que nunca pensamos um no outro.
Mas vivemos juntos os dois
com um acordo íntimo,
como a mã0 direita e a esquerda.
Ao anoitecer, nós brincamos nas
cinco pedrinhas no degrau da porta de casa
graves, como convêm a um deus e a um poeta.
E como se cada pedra fosse um universo
e fosse por isso um grande perigo
deixá-la cair no chão.
Depois ele adormece.
E eu o deito na minha cama
despindo-o lentamente
seguindo um ritual muito limpo, humano

e materno até ele ficar nu.
Ele dorme dentro da minha alma.
Às vezes ele acorda de noite
e brinca com os meus sonhos.
Vira uns de perna para o ar,
põe uns encima dos outros.
E bate palmas sozinho sorrindo para o meu sono...
...Quando eu morrer, filhinho,
seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
e leva-me para dentro da tua casa.
E deita-me na tua cama
e conta-me histórias, caso eu acorde,
para eu tornar a adormecer.
E dá-me os sonhos teus para eu brincar...


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A MALUCADA QUE DESEJA MUDAR O MUNDO



"Aqui estão os loucos, os desajustados, os rebeldes, os desordeiros, os pinos redondos nos buracos quadrados ... Aqueles que vêem as coisas de forma diferente - eles não gostam de regras ... Você pode citá-los, discordar deles, glorificar ou vilipendiá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los porque eles mudam as coisas ... Eles empurram a raça humana para a frente. E enquanto alguns podem vê-los como loucos, nós os vemos como gênios. Porque aqueles que são loucos o suficiente para pensarem que podem mudar o mundo, são os que, realmente, o fazem ".

(Think Different, narrado por Steve Jobs)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

05 DE OUTUBRO: SILVÂNIA FAZ ANIVERSÁRIO. PARABÉNS!!...



Todo mundo tem uma paixão secreta, acredito! Seja ela qual for. Mas sei também que todo mundo tem uma paixão explícita. E aqui venho deixar escancarada e clara uma das minhas. Quarta-feira, 05 de outubro pode ser para muita gente uma data comum. Um dia sem nenhum brilho especial. Uma ou outra pessoa pode até puxar pela memória e ser pega de surpresa ao lembrar, ainda que de maneira atrasada, o aniversário de alguém. De um acontecimento marcante, um amor, um beijo, alguma coisa feliz, gratificante. Enfim...
Eu, porém, vou mais longe, se me permitem. Vou voltar no tempo e arriscar algumas emoções. Pois, 05 de outubro é a data de aniversário da minha cidade natal. A minha amada Silvânia, a antiga e inesquecível Bonfim, de todos nós. "Terra que ensinou Goiás a ler, a ter cultura, sendo sua Atenas". Cidade que viveu tempos memoráveis do cinema. Desde aqueles filmes mudos e engraçados do Padre Januário que espero, mas não acredito, que alguém teve a sensibilidade de manter, guardar e conservar, pois se trata de verdadeiras jóias. Onde olhos curiosos acompanhavam ansiosos o mundo que se descortinava frente às enormes telas do Cine Teatro Municipal e do Cinema do Seu Aurelino, na rua do Neves de Siqueira, onde hoje fica o que nós, silvanienses chamamos de "máquina de arroz". Ou do teatro das freiras salesianas e da arte suprema e inesquecível de D. Nair Damásio.
Ali, muitos se conheceram e, possivelmente, se apaixonaram. Apertaram as mãos às escondidas, trocaram o primeiro beijo, a primeira carícia carregada de suspiro como se a vida quisesse imitar a arte. E conseguisse. Cidade que tem às margens a telúrica Estação Ferroviária, um por do sol poético. Cheiro do eucalipto, as águas do Rio Vermelho, as velhas histórias de Zé Caetano, Josito, D. Maria Teresa. Silvânia do saudoso Manezão, das figuras humanas tão suas, tão próprias: Hermínio Cotrim, Urbano Caetano, D. Freuza Corrêa, Chico da Altina, Sinhô, "Seu" Hermelindo de Melo, Filhote, Tãozinho, Donozor, Ivo Lenza.
Silvânia, fragmentos de poemas, sempre inacabados. A voz da Salete encantando multidões e sua irmã, Catarina, fazendo dublagens de Rita Pavonne, um encanto. As Comédias feitas pela Catarina Solange, Bete Lobo, Valda e Lucy do Anísio. Gracinha do Acrísio, um misto de beleza, carisma, inteligência. Literalmente, uma graça. Maria Érika, sua arte, sua força, sua beleza astuta, sua elegância. Carmita, seu sorriso, sua máquina de costura, sua batalha incansável, por anos, até hoje, até sempre. Silvânia do Inácio, o anjo sem asas. Do Astrogildo, homem bom, sensível, bem-humorado, uma pessoa maravilhosa (e detalhe, o dono da letra mais linda do mundo). Fazendo par com a sua Cota e ciranda com seus filhos e netos. Silvânia dos Damásios, de D. Darvina, minha eterna professora, com quem muito aprendi. Dos jardins paradisíacos de D. Inácia Leite. As fazendihas com suas porteiras rangendo, suas vacas, galinhas, hortas, flores ao vento. E, logicamente, dos Silva, que lhe deram o nome, o encantamento da simplicidade que tudo dignifica.
Que Tem os famosos colégios Anchieta, Nossa Senhora Auxiliadora e o Aprendizado Padre Lancísio. Além do José Paschoal, de educação rigorosa, desdobrando as tradições da clássica pedagogia, dos ensinamentos igualmente especiais e profundos como os suspiros, as saudades, a bondade no coração do seu povo. A Catedral de Nossa Senhora do Rosário e a Igreja Matriz do Senhor do Bonfim, com sua pracinha de cidade de interior. Onde mora Ivani, um encanto de pessoa. Um coreto melancólico e solitário, que nos faz voltar no tempo. Terra de gente católica, que tem como símbolo da fé um Cristo de braços abertos. Silvânia dos apelidos exóticos, lúdicos, engraçados: Capetão, Café, Sinhana Caminhão, Bugi, Biscoito, Nego Olavo, Zé Côco, Geraldo Manteiga, Pequena, Mané que Boi Pisou, Cobrinha, Bastião Tatu, Tibão, Desgracinha, Luzia Gata, Id Brenner e tantos outros.
Silvânia deve estar em festa. Antes estaria. E era festa das grandes. Os desfiles em comemoração a sua fundação, eram verdadeiros motivos de grandes expectativas. Os ensaios das "bandas" de cada escola se sucediam cansativos, mas cheios de entusiasmos. Cada um queria render sua homenagem. Numa das principais avenidas da cidade os dobrados emocionavam o público. Um amontoado de gente formava um verdadeiro corredor humano para ver o desfile passar. Alguns nem respiravam. Cada centímetro era disputadíssimo. E a cidade lá, acolhendo cada nota como prêmio de uma segura gratidão. Silvânia dos festivais, dos encontros de juventude, dos cursilhos de cristandade, das festas dos ex-alunos. Dos espetáculos, das semanas de retiro, dos jogos escolares. Os uniformes de gala, as gincanas.Os amores inesquecíveis. Silvânia da bondade do Dr. Thiago, do azul cristalino no olhar mais que centenário de D. Zulmira Batista, iluminando as bondades e purezas de sua alma.
As excursões para Aparecida, D. Rilza sorridente e amorosa. Dr. Helvécio atendendo as pessoas no seu casarão da Praça. Os ciprestes do quintal de D. Quetinha. A livraria da Nenzita. Vivin com seu terno bege, a barba bem feita e o sapato sempre limpo, intocável. Maria Preta fazendo graças e matando todos de dar risadas. Os velórios das pessoas ricas. As pamonhadas, a feira ao lado do Céssi. Os pomares de jabuticabeiras, o rádio de D. Nestina sempre no último volume. Os anúncios do Ditão no alto-falante da igreja comunicando as tradicionais "notas de falecimento".
A visita da imagem do Divino Pai Eterno e toda gente animada decorando suas portas, iluminando a graça das toalhas brancas e bordadas ao calor das mãos humanas, calejadas, sofridas. A cidade que tem como um dos cartões postais a Praça do Rosário. Famosa por sua fonte luminosa onde todos se encontram durante o final de semana e ainda vivem ali os grandes carnavais. Os bailes do Clube Recreativo, as festas religiosas e profanas. As barraquinhas enfeitadas, as garçonetes vestidas de camponesas, com seus aventais bordados e os chapéus de palha enfeitados com flores e laços coloridos. A Avenida, o Bar Patropi, o saudoso Tôen do Clóvis...
A casa deliciosa de Seu Cipriano, onde íamos estudar entre paredes de adobo, terreiro de margaridas, cortinas estampadas ao vento. E aquele portão lá na rua, longe da casa onde a gente batia e ficava esperando a pessoa e o sorriso. Os meninos do Seu João de Oliveira, com quem eu até não me encontrava muito, mas até hoje, quando encontro qualquer um deles é uma festa tão grande, a demonstração de uma alegria imensa, que fico emocionado e sem ar. Os filhos do Soguim e D. Laudicena. As nossas idas em sua casa para colher as uvas-do-pará, uma delícia como poucas. Como não sentir saudades e não ter vontade de chorar relembrando tempos tão doces?
Silvânia dos Clubes Atenas e das Pedrinhas, do queridíssimo Padre Januário. Da AABB. E como não poderia deixar de lembrar aqui, Silvânia das galerias enormes do Anchieta, das festas juninas, da quadra de vôlei no meio da praça. A quadrilha lindamente marcada pela voz da Amelinha, do Toinho da Elpídia. Não se sabia o que era mais bonito, se a dança, as roupas, a alegria dos casais ou a voz melodiosa de seus marcadores. Do relógio acertado pelo Tãozinho, do Zequita, D. Luiza Mestre, a Julina do Asilo, D. Preta do Hermelindo, D. Nega Costureira, Antonio da Laura, D. Almira, Neném do Nego, Vó Cândida, Fia, D. Bárbara, Galeno, Sinhá e inúmeros outros amores profundos, perfumados e inesquecíveis.
Silvânia de D. Inhazica, encantadora. Do Zé Caixeta, um grande prefeito, seguido de Zé Denisson, Zé Tavares, Milton, Adonias do Prado, Augusto Siqueira e tantos outros. Silvânia das festas maravilhosas de São Sebastião, do Divino, das comemorações da Paixão de Cristo, do Natal. O mês de maio, inteirinho dedicado à Maria. Silvânia de D. Josefina Batista, D. Nina. Lôpo Ramos, Tim, Moisés Umbelino, Pe. Pedro Celestino. Das plantações de marmelo do Seu Manoel Ramos, mais cheirosas dos que as noivas e o seu perfume invadia toda a pequena cidade durante as noites inteiras. E a gente acordava se deliciando e dando graças a Deus por aquele presente: motivo pra sorrir e agradecer sempre.
Silvânia do mel de Seu Brenner, do sorriso doce de D. Isaura, o mais eficaz dos remédios do hospital. O sino das igrejas, as músicas, as rezas de D. Tina Guimarães. A elegância de D. Didi Félix, a doçura das Teresinhas Lôbo e Caixeta. A poesia, as madrugadas silenciosas e repletas de bênçãos para os dias que sempre chegavam radiantes, vindos das mãos de Deus. Os pedaços da cidade que adolesciam com a sua juventude a cada final de manhã, a cada nova primavera. Silvânia de tantas outras lembranças. Silvânia, minha paixão ensolarada, repleta de luz, de sonhos e poesias. Cheia da sutileza que transforma os homens em santos, as mulheres em anjos. Levando, enfim, todas as suas almas para o céu. Pois elas estranhariam muito se não houvesse esta continuidade. Silvânia, enfim, um canto pitoresco da paraíso, que, felizmente, ficou esquecido na terra.
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Antonio da Costa Neto
antoniocneto@terra.com.br

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

OS 10 PRINCÍPIOS DA FELICIDADE, DE MOYSÉS ANDRÉ DA SILVA FILHO


Lendo, previamente, o maravilhoso livro LIÇÕES DE VIVER E DE MORRER: CONSTRUINDO TESOUROS ESPIRITUAIS, do Pr. Moysés André da Silva Filho - (Igreja Batista de Brasília e Funerária Bom Pastor - Mãos que ajudam na hora da dor) - que será publicado até o final do ano, deparei-me com algo fundamental e que constitui a mais absoluta sabedoria. Pedi então a sua autorização e estou publicando aqui os seus dizeres. Entendendo que as pessoas estão precisando disto com a mais rápida urgência. Com o que poderão contribuir com a melhora do mundo e das suas vidas. Será um livro para não deixar de ler e ter. E enquanto ele não vem, deixo um pequeno aperetivo:

...Listo aqui, como propósito de síntese e sugestão, o que seria, evidentemente, dentro da complexidade e da subjetividade próprias, muito maior, o que seria, a princípio, viver bem. O que, finalmente, espero ser a grande contribuição que o presente trabalho poderá dar aos seus leitores, e, podem crer, para a minha mais que imensa alegria. Apresento então, o que quis denominar como Os Dez Princípios Básicos para a Felicidade:
  • 1. Seja um agente convicto do minimalismo materialista: existe uma região de um povo simples e muito feliz no sudeste da Índia, em que o princípio básico da cultura e da vida é de que se a pessoa puder colocar tudo o que possui dentro de uma mochila e conseguir viver bem e em paz, apenas intercambiando água, comida e o pouco que necessita pra viver o seu cotidiano, então esta é uma pessoa feliz. Claro que cito isto aqui apenas como exemplo, pois vivemos em uma outra realidade, outro sistema social fundamentado no capitalismo e na força, no dogma do dinheiro. Então, é evidente que não podemos ser e agir de forma tão simplista. Seria uma vida muito miserável se considerarmos a realidade do nosso meio. Temos sim, que possuir o que e com o que viver bem, ter conforto, comida, lazer, educação, saúde. Mas podemos entender e fundir em nossas vidas o ideal de Mahatma Gandhi, quando, sabiamente, nos diz que a terra garante a sobrevida e o bem-estar de todos, mas jamais dará conta da ganância de poucos. E podemos ver e sentir que todos os problemas que vivemos no mundo, têm origem nesta ganância infinita por bens materiais efêmeros e finitos. Que muitas vezes nos leva à perda da vida, ao sofrimento na morte e à condenação da alma. Podemos colocar em prática esta filosofia e experimentar a felicidade de viver bem e em paz tendo o mínimo possível para o nosso prazer, manutenção e sobrevida digna. Só isso, nada mais.
  • 2. Tenha todo o cuidado com o corpo: pensar e preservar a saúde do próprio corpo . Faça a higiene correta e diária e movimente-se todos os dias, com exercícios físicos leves e moderados. Alimentar-se de forma frugal, saudável e ponderada, tanto do ponto de vista da qualidade, quanto da quantidade. Ouça seu organismo, ele grita alto quando é para você parar de comer. Beba muita água todos os dias. Agindo assim tudo ocorrerá de forma muito melhor e equilibrada. Aí estaremos evitando as doenças cardiovasculares, a obesidade mórbida, os males respiratórios, do estômago, do fígado, do pâncreas. Evite à exposição ao sol e use o filtro solar com frequência. Repouse, não dispense nunca as 6 ou 8 horas de sono todos os dias, pois estas são sagradas. Dê-se um tempo para a distração, o entretenimento, o lazer, as festas, as confraternizações, alegrias. Visite o médico e o dentista regularmente. Vista-se de forma simples, elegante, leve e com isto, você irá esbanjar sorrisos e mais sorrisos de felicidade completa e duradoura.
  • 3. Compartilhe tanto as alegrias como os sofrimentos: se o seu vizinho sofre, você não pode e nem deverá estar completamente feliz. E se ele está contente, esta alegria também é sua. E como o mundo é uma aldeia, lembre-se que seus vizinhos são todos, mesmo aqueles que moram nos países orientais e nos pontos mais longínquos do mundo. Se existe uma criança com fome do outro lado do mundo, não posso me deitar e dormir em paz como se eu não tivesse nada com isto. É o pensar global, pois nada no mundo acontece sem a participação de todos os seus agentes, de forma direta ou indireta, como bem nos diz a física quântica, tão em moda ultimamente. Mesmo que tudo nos impeça de agir, mas teremos consciência da nossa parcela de responsabilidade e o entendimento de nossa obrigação de fazer o que esteja ao nosso alcance. A reflexão, a boa palavra, a oração, o pensamento para Deus para que este problema se resolva. A síntese da sabedoria e da bondade, como destinação para o viver bem é a capacidade de se colocar no lugar dos que sofrem, dos que precisam, sentem dor, fome, estão doentes, presos, sozinhos no mundo. Não é porque eu e minha família vamos bem. Tivemos um jantar suculento. Vamos dormir numa boa cama, em uma casa confortável e protegida é que as coisas vão bem no mundo. Precisamos ter a sensibilidade suficiente e o coração aquecido e aberto para entender que só aí é que começam e não que terminam as dores, os sofrimentos e as pragas infernais. Só aí já teremos um excelente começo. O planeta seria um paraíso se mais pessoas pensassem e agissem desta forma.
  • 4. Tenha sensibilidade e vontade política: as relações políticas é que definem todos os processos e resultados da vida. Portanto, o ignorante político não pode nunca ser feliz. Nem nas cidades, nem nos campos e nem em lugar algum. Saiba que exatamente tudo o que existe no mundo e que advém do pensamento ou da mão do homem é feito para beneficiar alguém. E, geralmente, são os mesmos, os poucos privilegiados. Enquanto bilhões de seres humanos padecem no desespero, na fome, na miséria. E não é só a questão material, mas a espiritual, a humana, a psicológica, a cidadania que é, aliás, bem mais forte e importante dentro deste contexto. Chegamos a um tempo em que, para ser feliz é preciso desconfiar e questionar tudo. Quem faz as leis e para quem elas são feitas? Para que serve a escola e o que ela me ensina ou ao meu filho, aos jovens, às crianças do mundo? Para que, afinal, serve o esporte, o futebol, a copa do mundo? O que é o governo, suas ações, a igreja, a família, o comércio, os negócios? É por vontade de Deus que existem poucos ricos e muitos miseráveis passando fome? Ou é por responsabilidade dos que se dizem donos do Planeta e da vida? Precisamos questionar tudo o que existe. Provavelmente, não precisaremos mudar tudo, mas, sem a menor sombra de dúvida, tudo no mundo precisa ser questionado. A ordem, portanto é duvidar, procurar saber, ter curiosidade. Desconfie das pessoas, principalmente, das boazinhas e elegantes. Todo o mundo tem a sua maldadezinha atávica, própria do ser humano, até você mesmo. Não acredite tanto na luz azul de olhos tão lindos, peles macias, mãos de fadas, vozes de anjos. Tudo pode ser jogo consciente ou não. É mais que necessário questionar, colocar em dúvida, por em questão tudo o que acontece,existe, dizem, fazem ou se omitem. Não há mais condições para sermos, ao mesmo tempo, bobinhos e felizes. Teremos que ser uma coisa ou outra. E a absoluta maioria das pessoas tem optado pela ignorância política, a omissão, a covardia. E elas são em quantidades tão grandes que ninguém sequer saber disto.
  • 5. Dedique-se à meditação e à prece: o exemplo pode ser grosseiro, sei disto, mas como o carro precisa parar no posto para se abastecer. Nós prescindimos da oração, da reflexão para recarregar nossas energias e termos forças para continuar nossas lides e vidas. O momento da meditação, do silêncio, o contato com Deus e com os mistérios do alto é absolutamente fundamental. Precisamos fazer frutificar nossas crenças em algo maior do que nós, em Deus e em sua magnitude. A reflexão nos faz maiores e mais fortes. Saber respirar, escutar o silêncio e os gritos de desespero do nosso próprio ego é uma sabedoria sem precedentes no processo de evolução do ser humano. Orar é preciso, vigiar, também. E não podemos nunca deixar de agradecer as belezas e as delícias que nos são dadas todos os minutos e segundos. O fato de existirmos, de estarmos vivos ou mortos, já é, em si, motivo sólido para agradecer muito a Deus, ao infinito, ao universo.
  • 6. Tenha consciência ecológica: o problema do meio ambiente tornou-se um dos mais cruciais e importantes. E todo o esforço que pudermos fazer neste sentido,será pouco, especialmente, pelos próximos 50 anos, no mínimo. Tudo deverá ser feito no sentido de se minimizar o aquecimento global, o desgelo dos pólos, a poluição do ar, da terra e das águas, evitando a todo custo todo e qualquer desperdício. Daqui há10 anos teremos sérios problemas com a água doce, até para beber se não for feito nada neste sentido. O desmatamento deve ser visto como algo horrendo e evitável a todo o custo. Cuide dos animais, dê carinho, amor, recolha-os, goste deles. Amar e acariciar as crianças, ser responsável pela sustentabilidade e a minimização dos recursos naturais renováveis ou não. Precisamos de atitudes, pensamentos e palavras ecologicamente corretas no extremo sentido do termo. O cuidado com a natureza inteira e com todas as coisas da vida é algo fundamental e indispensável para a preservação da vida, a felicidade humana. Talvez seja este o cuidado mais importante e especial. E se estivermos fazendo com que ele aconteça na íntegra, com amor e sensibilidade crítica, já estaremos fazendo tudo o que é necessário e cumprindo, por osmose, os princípios do ser feliz.
  • 7. Seja humilde: a prática sábia do ser humilde é uma das grandes sabedorias úteis na construção de um mundo mais feliz. Ser humilde não é submeter-se a sofrimentos e à vontades outras que não a sua, muito pelo contrário. Ser humilde é entender que somos efêmeros e minúsculos frente à grandiosidade do mundo. Reconhecer que exalamos maus odores, que temos as peças íntimas suadas, que somos passageiros e que valemos, materialmente, muito pouco. Reconhecer o outro como igual a você, amar a todos. Despir-se de preconceitos e de juízos de grandiosidade, o que é infantil e ridículo. Aceitar as agruras do mundo, entender as pessoas, senti-las de perto, tocar em todas, escutá-las, recebê-las. Entender que não somos, em nenhuma circunstância, por mais que tenhamos dinheiro, cargos de confiança, status, poder, mais ou melhor do que ninguém. Vimos da mesma origem e nos transformaremos no mesmo pó. Somos iguais perante Deus e devemos fazer de tudo para contribuir com todos. Nosso destino e nossa meta é a felicidade de todos os seres vivos sobre e sob a terra.
  • 8. Cultive o amor, a arte, a sabedoria e a beleza: sem o amor, nada somos. Mas falo aqui do amor em sua integridade, sua beleza, sua intensidade. Amar mesmo, tudo e todos. Não o amar por amar, com esta ação e este discurso piegas tão antigo e desgastado. Por outro lado, a arte e a beleza são úteis, necessárias, elas são filhas de Deus. Elas enobrecem, dão brilho à alma e que se externa nos olhos, nos gestos e na essência da felicidade. Conjugue o amor com a arte em todos os seus segmentos e aspectos. Pois a arte e a sabedoria são os elos da nossa dignidade maior. Associe a isto a sabedoria, o conhecimento, a leitura, a curiosidade, a investigação. Conjugue estes princípios, pois assim você será só felicidade e terá mais que o dever, motivos infinitos para agradecer. Agradecer a Deus à vida e aos seres vivos em sua volta.
  • 9. Estabeleça, para sua vida uma tênue linha de equilíbrio: o equilíbrio em tudo que se pensa, faz ou fala é ponto fundamental para ser feliz. Minimizar problemas, dores e sofrimentos. Se você precisa fazer uma crítica, chamar a atenção de alguém, de uma criança, por exemplo, faça isto, mas com calma, com amor, carinho e compreensão. Nunca fale a verdade inteira, deixe um mínimo para o estabelecimento da paz e da tranquilidade. Distribua o poder, ouça as pessoas. Leve em conta suas opiniões, mas nunca na totalidade. Se você tem uma ideia, considere, na prática, um pouco mais da metade dela, na ordem dos 60%,. Para que você possa garantir boa parte de seu desejo. Mas deixe que as demais pessoas envolvidas complemente os 40% restantes. Assim, todos ficarão felizes, se sentirão respeitados e motivados. Fazendo de você um grande amigo, uma pessoa respeitada. Distribuir os bens entre os que os constituíram. Estabelecer esta dinamicidade equilibrada pode ser sim, o grande segredo para a qualidade de vida, conquista da felicidade em seu sentido mais pleno possível.
  • 10. Utilize o máximo da sua capacidade, inteligência, do seu cérebro: os estudiosos da mente humana fizeram uma descoberta que achei muito interessante e com a qual concordo inteiramente. Eles afirmam que, de fato, o nosso cérebro são três. Ou seja, ele tem três partes distintas, mas que funcionam de forma integrada, regando-se umas as outras. Fazendo com que o que for feito a partir do seu comando, seja inteiro, bom, agradável. Constituindo o bem para as pessoas e para as coisas como um todo. Uma parte do cérebro é sensitiva, emocional, criativa, o seu lado direito. A outra é lógica, racional, respondendo pelo pensamento inteligente propriamente dito, o seu lado esquerdo. E a terceira parte, a central, é a prática, a do fazer, do realizar, do pé no chão e da mão na massa. O interessante é que em cada pessoa estas partes desenvolvem mais ou menos de forma diferente. Assim, é importante que você descubra qual a parte mais forte, ou seja, a que comanda seu cérebro e agir a partir dela, que será a maior parte, de maior interferência em tudo o que você fizer. Mas, para você ser feliz, não pode ser só ela. É preciso integrar as demais. Então, se você é uma pessoa vaidosa, fala muito, gosta de coisas coloridas, é romântico, então a sua parte mais forte é a sensitiva. Se é lógico, matemático, gosta de números, de estatísticas, escritórios, cores sóbrias e sérias, você é mais racional. E se for prático, gostar de fazer, ter facilidade com administração, dinheiro, resultados, é prático. Escolha o que fazer a partir do que o comanda. O que é muito importante, por exemplo, na escolha e exercício da profissão, como acontece com a maioria dos nossos jovens que depois, sofrem tanto com isto, o que pode ser evitado com este segredo. Não se esqueça das demais partes e procure fazer ou dizer tudo com beleza, poesia, amor, leveza, criatividade; lógica, conhecimento, sabedoria e praticidade, ação, objetividade. Falo por experiência própria. Comecei a me exercitar neste sentido e a felicidade, que já sorria para mim, começou a gargalhar de alegria, sendo minha parceira constante. Não tenha dúvida...