quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

MULHER: A DONA DA SABEDORIA


Jamais saberemos se Deus fez

primeiro a mulher e dela construiu a beleza,

a harmonia, a água, a claridade,

a paz, a lua, a madrugada.

Enfim, as muitas delícias femininas da vida.

Ou será ao contrário?

Não importa a ordem.

Mas que elas estão aí.

E, sem as quais, viver não valeria à pena.

Sendo a mulher, a mais poderosa,

com seus encantos e sua força, graça, estética,

o centro de tudo, o polígono, a destinação,

a detentora da vida e a definidora de seus destinos.

A que inspira a poesia, a música, a doçura, a mística, a felicidade.

E faz brotar os sentimentos mais loucos e as paixões incontidas.

Amplia o amor, sua magnitude e transcendência

universal, infinita em todas as formas e tons.

Na sabedoria divina, mulher e natureza confundem-se.

Tudo feito pela mescla da curva, da sinuosidade,

da maciês tênue, perfumada, adiposa.

Do dorso de veludo verdejante até os horizontes de luz sem fim.

Assim, todas as mulheres são árvores

e, juntas, que linda floresta elas formam.

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(Antonio da Costa Neto, in, Poemas para os anjos da terra. Goiânia: Ed. Kelps, 2011)


DEUS É MACHO?


POR QUE DEUS É MACHO?



"Deus dos sem deuses
Deus do céu dos sem deus
Deus dos ateus
Pergunto cem vezes
Respndes quem és
Serás Deus ou Deusa
Que sexo terás?
Mostra teu dedo, tua face,
tua lígua
Deus dos sem Deuses


(Chico César)


Por que a visão que temos de Deus, desde que somos crianças é de um senhor? Um velho de longas e fartas barbas brancas que se senta sobre núvens azuladas e dita, com sua voz de trovão, para todo o seu universo, suas palavras de ordem que pairam e ecoam fundo dentro de nossas cabeças por todo o sempre. Deixando-nos meio tontos, sem saber para onde e como ir. Não seria isto uma enorme crueldade contra os seres humanos ainda tão ingênuos, fracos e incautos? Que razões antropomórficas levam a tal fenômeno? Por que o predomínio do macho, o poder do falo?

"...Deus fez do barro o homem, sua imagem e semelhança, soprou-lhe, deu vida e deu a ele o nome de Adão. Depois tirou uma de suas costelas e fez dela a mulher para ser sua companheira. Sua cúmplice, e por que não dizer, sua serva, serviçal e escrava, para que o homem não ficasse só. E não se dispuzesse a fazer trabalhos menores como lavar, cozinhar e passar. Mas precisava de quem mantivesse seu pleno bem-estar nestes e nos demais sentidos. Para, poder, então, realizar as tarefas mais nobres e mais importantes. Determinando, por fim, os caminhos a serem trilhados pela humanidade. Mas a mulher teria de ser inferior, por isso vem da costela. Vale uma pequena parte do homem todo poderoso. Não pode, portanto, com ele competir e nem mesmo, tem a pretenção de se igualar. "
Que piadas, minha Deusa, que piadas!!!!

Mesmo na nossa língua, a gramática reza o predomínio do masculino. Por exemplo, se temos quinhentas mulheres sentadas em uma sala, nós devemos dizer: - quinhentas pessoas, no feminino. Mas digamos que, por acaso entra um homem no recinto. Pronto, muda-se tudo e devemos dizer : são quinhentos e um, pois o poder do macho, leva tudo para o masculino. Ou seja, outro absurdo que ninguém vê, assume ou questiona.
Por que o poderosíssimo Deus que tudo vê e tudo sabe até os tempos infinitos, não percebeu que com os avanços tecnológicos tudo passaria a tender para a aceitação e híper valorização do homem, criando o caos que aí está e, na mioiria das vezes, oriundo de tal fato, e, mesmo assim, enviaria seu filho, unigênito, macho e branco, não para atenuar, pelo contrário, para fixar ainda mais este poder, mantendo e ampliando o caos e as mazelas do mundo?
Deus não errou neste sentido? Por que não mandou a sua filha, uma mulher negra, talvez doente, esquálida e maravilhosa, para aí, justamente, fazer sucumbir tal poder para assim mudar os destinos do planeta, da vida, das espécies? Deus que é tão sábio, poderoso, em nome de quem e sob sua vontade, nem mesmo uma folha cai da árvores não teria meios, conhecimentos e desejos de transcender, de processar esta mudança, a mesma que prega os evangelhos, a bíblia, o alcorão e todas as nítidas sabedorias espirituais e filosóficas a quem os mesmos homens advogam a autoria?
Enfim, por que rezamos: "Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome?" Por que não, Mãe Nossa nos mesmos parâmetros e continuidade?... Não seria igualmente para se manter o poder e o mando dos machos provedores, os melhores salários para os homens, para eles os maiores cargos, as possibilidades das decisões? Não seria também por isso, no geral os machos comandam, presidem as organizações, nutrem as famílias? E quem como o meu pão, cumpre o meu desejo, princípio com o qual os governos ampliam e mantêem a burocracia, os estatutos, as leis, as ordens.
Não seria tão mal se fosse apenas na palavra. Mas ela tem poder e respalda a realidade, fixa valores em nosso subconsciênte, que, por fim, definem a condução da vida, seus ditames e sua realidade. Assim, tudo caminha por este prisma, num tempo em que tudo isto é muito ultrapassado. O magistério, por exemplo, é uma profissão de senhoras e de mocinhas delicadas, mantidas por seus pais e seus maridos, não necessitando, portanto, de cabíveis políticas de remuneção de seu trabalho, como já dizia o ex-presidente mineiro, quando governador de Minas: - "As professoras mineiras não são mal pagas, elas são, isto sim, é mal casadas." Um grande absurdo que deveria receber como prêmio a prisão e não a presidência da república que lhe chegou às mãos logo depois. E desta forma, os homens se perpetuam no poder. E para que uma mulher chegue lá é preciso que seja um macho de sáias, como a história tem nos mostrado por meio de Margareth Teacher e agora, Dilma Rouseff, dentre muitas outras, frias, grossas, deterministas, sem amor, calor humano, feminilidade.
Vivemos um tempo em que homens e mulheres devam se entrelaçarem com diferenças, igualdades, semelhanças, distâncias e espaços harmoniosos que se complementam. Falta ao mundo a poesia, a docura, a beleza, a ética, a serenidade e outros valores - todos femininos - que encantam a vida e colocam por terra o determinismo, o poder astuto, o lucro abusivo, o ódio, o crime - todos masculinos - que perduram na sociedade na condição de maioria astuta e infinita. Daí o caos, o sofrimento, os males que destroem o mundo, a vida, a paz, a harmonia, a felicidade das pessoas, a qualidade de vida.
Já é muito mais que tempo de darmos um fim em tudo isto. De entendermos que da fluência e interação de todos os gêneros é que nascerá as possibilidades de uma vida decente e plena. Abaixo, portanto, a perenidade de um Deus macho a quem é dado todo o poder, toda a honra e toda a glória. É com batom, babados, rendas, luzes, flores, poesia e beleza que construiremos o mundo com o qual todos sonham. Com ciranda, e, não, guerras perenes entre mulheres e homens na condição de ditadores e subordinadas. Deusas, sim. São elas que faltam para direcionar a força que eles já têm. Com abundância e sobra.
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Antonio da Costa Neto

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

PÊNIS, PRA QUE TE QUERO - UM ENSAIO SOBRE A PSICOLOGIA MASCULINA



"Anos atrás, resolvi fazer uma palestra sobre "identidade masculina".
Há algum tempo o tema me intrigava. Saí à cata de bibliografia em português. Surpresa: não encontrei nenhum livro sobre o assunto escrito por homem. Surpresa maior: encontrei 4 ou 5, escritos por mulheres, abordando o tema Homem sob diversos ângulos
.
Fiquei ainda mais intrigado, e comecei a observar e a refletir. Todos os meios de comunicação de massa têm um espaço específico para a mulher, feminista ou não. A Cinderela americana (livro : Complexo de Cinderela*) aportou por aqui e ficou mais de um ano na lista dos livros mais vendidos. São livros, debates, congressos, programas de rádio e TV, estudos científicos, teses e mais teses- e até delegacias de polícia- tudo sobre ou para a mulher. No Brasil (em 1985*) existem mais de 180 grupos feministas catalogados. As mulheres respondem tudo ou quase tudo sobre elas e muito sobre nós. Sentados à beira do caminho, ficamos olhando, há mais de uma década (1985*) a luta do mulherio em busca de sua libertação. E nós? O que estamos fazendo?
Acho que não precisamos fazer nada. o poder, em termos sociais, está praticamente todo em nossas mãos. Afinal, foram 20 anos de ditadura machista que nos auxiliaram a garantir um espaço mais amplo e seguro- sem contar os séculos anteriores. Em casa quem manda, ainda que pró forma, somos nós. Das crianças elas cuidam, senão a gente põe uma babá ou vão para a creche. No sexo, tudo resolvido, umas coisas se faz com a patroa, outras lá fora. A Constituinte (promulgada em 1988, em 1985/86 estava no auge da elaboração)é nossa. O futebol é nosso. A representação política dentro e fora do país é nossa. Então, para que se preocupar com esse papo de feministas? É. Mas às vezes eu fico pensando e, por enquanto, só pensando. Como será que eu sou por dentro? Como será minha alma? Por que o mundo colocou tanto peso nas minhas costas e eu deixei? Eu queria tanto conversar algumas coisas com os amigos, mas não me sinto à vontade.Companheiro, como é, para você, ver as mulheres falarem tanto sobre nós? Será que elas estão certas? Tenho tantas dúvidas!!!! Mas quando a gente se junta só dá para falar de futebol, de mulheres alheias, de conjuntura política, da dívida externa, e da cotação do dólar.
Falar com você, companheiro, sobre os nossos sentimentos masculinos, não dá mesmo.
Como será que você se sente quando está sem vontade de fazer amor e o faz só por obrigação, para não decepcionar a companheira?
Como é para você, masturbar-se às vezes só por ansiedade, e não poder contar nem para a sua mulher?
Como você se sente quando a ereção não vem?
E quando a gente tem que parar de acariciar, abraçar e pegar a filha no colo, porque ela está ficando mocinha? E com o filho? Também não é a mesma coisa?
Você percebe o seu corpo? Se acha bonito ou feio? Você achou outro homem bonito? Como é que você se sente com seu pênis? Se for pequeno, ele o envergonha? Você o esconde? E suas nádegas? Como você as sente? Eu fico até sem jeito de querer saber essas coisas....
Se fôssemos juntar tanta coisa num homem só, possivelmente sairia isso (se ele não mentisse): - Eu já espanquei minha mulher, porque não aguento a idéia de outro homem por perto. Cheguei a matá-la. Uns dizem que é por amor, outros que não. Mas, eu mesmo não entendo nada.
-Às vezes eu choro, mas sozinho. Tem vezes que eu tenho vontade de te abraçar, companheiro, e ficar assim sem dizer nada ou, então me enroscar e ficar no teu colo, como se fosse o colo do pai que nunca tive. Mas eu tenho medo, vergonha, e não tenho nem coragem de admitir essa necessidade ou desejo.
-Se você soubesse como é duro não poder perder nunca! Em nada.
-Às vezes eu até passo você prá trás, ou o uso como degrau, mesmo você sendo meu amigo. Eu não posso ser fraco.
-E se eu sou homossexual, será que continuo sendo homem?
-Se sou branco e você negro, eu me acho superior! E será que sou mesmo? Você se sente inferior por ser um homem negro?
-Se sou velho, sirvo para alguma coisa?
E se tenho uma deficiência física? Como fico como homem?
É tanta solidão! É tanta dor! È tanto medo de amar e de me entregar, que nem sei, companheiro!"

(Ronaldo Pamplona da Costa)



sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

SÓ PARA PESSOAS INTELIGENTES...

"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Pelo mais covarde medo de expressá-los.

Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.
Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar:
a democracia é o governo do povo.

Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se integrasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou
as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras ideias. Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre.".

Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa
parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.

O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces; a verdade é amarga.
Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo.
O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges
sendo queimados em praças públicas.

As praças ficavam apinhadas com o povo em festa,
se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.

Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro
"O Homem Moral e a Sociedade Imoral"
observa que
os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais.

Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo,
a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo
tornam-se capazes dos atos mais cruéis.

Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional,
segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.

É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.
Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.
O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido!
Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos. Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos
e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção.".
Isso é tarefa para os artistas e educadores.

O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

(Rubem Alves)