terça-feira, 6 de dezembro de 2011

BRINCANDO DE FAZER PALAVRAS, DO LIVRO POEMAS PARA OS ANJOS DA TERRA


Brincando de Fazer Palavras

Antonio da Costa Neto


Não que eu mereça,
mas gosto de me sentir amigo
de Manoel de Barros.
E como dois moleques de cabelos brancos,
nós brincarmos de inventar palavras:
- colocá-las para voar;
- fazer cócegas na barriga delas;
- encher as mãos e as fazer derramar
como se fossem água fresca, limpa e aos borbotões.
Nós as bebemos e elas escorrem pelo queixo,
matando a sede de beleza, de sabedoria.
Depois, as arranjar em filas como formigas
que, em procissão, somem no meio da aboboreira
de flores amarelas e pesados frutos no chão.
Nós dois e as palavras brincamos com o barro
fazendo esculturas, passarinhos, borboletas
e outros seres iluminados de braços e asas abertas.
Prontos para invadirem o infinito das almas.
Aí, nós voamos com elas, no tapete mágico
que a gente tece dentro da mente.
Cruzando os fios dos pensamentos e dos sonhos,
alinhavando sílabas, pontuando versos.
E com tudo isso, faremos um manto imenso e brilhante.
Só de poesia, renda, brocados e fitas, repleto de muito
poder e glórias para vestir este mundo
nu, ao relento e morto de vergonha.
Meu amiguinho, muito melhor do que eu,
consegue com elas, tudo,
como o senhor, o mago,
a quem elas, prontamente, obedecem e atendem.
Enquanto isto, eu, aprendiz,
vou tentando correr atrás das palavras,
remendá-las em poesias
para tentar contar histórias
e, se possível, encantar a vida.

________________

(*) Do livro, ainda inédito: Poemas para os anjos da terra.

Nenhum comentário: