quinta-feira, 7 de abril de 2011

MINHA TIA VIROU TIETA

Minha tia ainda era moça

e se dobrava sobre o tanque para lavar a roupa.

Se balançando suada sob o sol causticante das tardes de junho.

E eu, de frente, baldeando a água do poço

pelo sarilho do balde

e ficava olhando aqueles peitos maduros e robustos

como duas cidras enormes no ponto de virarem doce.

Eu parava e ficava estático olhando.

Era impossível não imaginar coisas... e loisas...

Minha tia desconfiava, ria sem graça,

disfaçava e limpava a espuma da mão na vasta saia de azul claro,

com enormes rosas vermelhas, amarelas, botões e folhas verdes.

Ela ia por ali se espreguiçando lentamente

(como quem queria fazer... nada, deixa pra lá!)

e, como eu, imaginando coisas.

Lembro que eu me animava e enchia os tanques,

os baldes, as latas.

O trancelin de ouro, enfeitava os peitos dela

com uma medalha enorme do Sagrado Coração...

Que pecado!...

Minha tia lia Jorge Amado

e queria que eu fosse para o Seminário ser padre.

É, ela sonhava mesmo era em ser uma Tieta,

não do Agreste, mas do sertão goiano.

Minha tia era doida para provocar escândalos.

E ouvia as conversas alheias, atenta.

Com as mãos na cintura

e os olhos enormes feito melancias.

_________

Antonio da Costa Neto

Nenhum comentário: