quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

LUA MINHA


Agora eu sei que jamais estarei de novo sozinho
no mundo ou na vida.
Numa noite destas de solidão, aí pelos meus
andares chutando latas, olhei pro céu
e lá estava ela: loura, redonda, iluminada.
Sorria pra mim com seus dentes largos
e a cabeleira loura ao vento.
Brincamos de bailar, de pega-pega, de passar anel...
E, de vez em quando, desaparecia por detrás
de uma nuvem travessa, mas ficava cantarolando baixinho
como o gato que se esconde mas deixa a cauda à mostra.
Só pra ser encontrada logo e me fazer rir,
e tornar-me outra vez menino
cheio de luzes e de alegrias.
Não tive como me despedir. Ninguém teria.
Num salto, num quase vôo,
pude apanhá-la inteira.
E agora, a tenho comigo, pra sempre.
Iluminando meus cantos, meu quarto, minha vida.
Ela deita-se comigo sob o cobertor comum,
e, de vez em quando, debaixo do meu travesseiro
e trás-me de presente os sonhos mais belos.
Me faz virar peixe, voar como borboleta,
ser bicho do mato, folha de grama,
pingo de água, ter gosto de amêndoa,
cheiro de hortelã, de madressilva, estas coisas.
Num dia desses, ela foi longe e me fez ser estrela
para brilhar junto com ela.
Eu era a companhia para a melhor das festas,
no céu, no meio dos santos e dos anjos.
A virgem Maria estava especialmente
maravilhosa nas suas vestes longas, a um só tempo puras,
mas demasiado ousadas,
num misto de tudo o que é belo e bom
e que se arrastavam no chão do paraíso,
e, de tão simples, exalavam o cheiro das rosas
feitas por Deus, o seu filho,
o dono da festa, cheia de incensos
e de delícias outras.
Apenas sentidas, mas não, explicadas,
para o quê, não existem palavras. Nem gestos.
De tanto dançar e me divertir com aquela gente
eu amanheci cheio das coisas boas
e me contaminei de cada uma delas
que passaram a fazer parte de mim
e nunca serei mais o mesmo...
...Ela é prestativa que só.
Chama por mim ao amanhecer, me acorda docemente
e com seu tom doce de anjo, tocando de leve o meu rosto
com o seu dedo de veludo azul,
me acordando sem susto, sem ruído,
mas num sussurro doce e terno
Depois, é quando vai pro seu canto,
bocejando como um anjo travesso
destes que passam as noites em claro,
apreciando as farras, as madrugadas
ela vai dormir quentinha e me esperar escondendo o segredo
que só nós dois conhecemos
para começar, quando eu chego, as cócegas noturnas.
As risadas de desmaiar, de desfalecer, de levitar de emoção.
E eu não mais soube o que é tristeza, dor, solidão, saudade.
Nem precisei dos amigos humanos,
só do meu cachorro ciumento,
latindo e uivando quando ela abre seu olhar e seu sorriso.
Trouxe a lua pra morar comigo
e passei a me chamar felicidade.


(Antonio da Costa Neto)

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