sábado, 11 de dezembro de 2010


Inácio tinha fama de ser mentiroso.

Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo

dois dragões-da-independência

cuspindo fogo e lendo fotonovelas.

A mãe botou-o de castigo.

Mas na semana seguinte ele veio contando

que caíra no pátio da escola um pedaço de lua,

todo cheio de buraquinhos.

Feito queijo.

E ele provou e tinha gosto de queijo.

Desta vez, Inácio não ficou só sem sobremesa

como foi proíbido de jogar futebol duarante quinze dias.

Quando o menino voltou falando que

todas as borboletas da Terra

passaram pela chácara de Siá Elpídia

e queriam formar um tapete voador

para transportá-la ao sétimo céu.

A mãe decidiu levá-lo ao médico.

Após o exame, o Dr. Aristoclides

abanou a cabeça:

- Não há nada a fazer, Dona Culana.

Este menino é mesmo um caso de poesia.

________

(Texto de Carlos Drummond de Andrade

devidamente adaptado para a epígrafe do livro:

Anjo sem asas: Tio Inácio cheio de graças, de Antonio da Costa Neto)


Nenhum comentário: