quarta-feira, 1 de setembro de 2010

UMA HOMENAGEM A WILHELM REICH


“...Por ora, aquele que se afasta do caminho comum e se torna um visionário é considerado um doente mental. Quem se livra das fileiras cerradas da turba humana não é compreendido, as pessoas riem dele quando está fraco; tentam destitui-lo quando está forte e é condenado a desencadear a sua própria ruína. Este é o destino de quem tenta se libertar das fileiras cerradas de uma ciência autorizada e do pensamento linear, elitista e pré-estabelecido como dogma. A teoria científica convencional é um ponto de apoio, uma alavanca no caos dos fenômenos vivos. Para quem voa, é uma altitude de milímetros, quão miseravelmente parece que os carros se arrastam lá embaixo. A busca do recomeço é para muitos considerada a loucura, que para Freud é a tentativa de construção do ego perdido.
Todos somos de certa forma uma máquina elétrica organizada e relacionada com a energia do cosmos, numa eterna consonância entre o mundo e o eu, como tal relação é, no geral, altamente negativa a profundidade do doente mental é humanamente muito mais valiosa. A miséria do sujeito não-convencional e fora da sintonia com a vida cotidiana: um sonhador, um ocioso, os demais são diligentemente encaminhados para a escola e o trabalho e riem do sonhador. Para ele, a vida de todo o dia é estreita e exige um método rígido. Temendo o infinito o homem prático se tranca em um pedacinho da terra e procura segurança para a sua vida, ele cumpre o seu dever e acredita ter a sua paz.
Pensar é muito cansativo e perigoso e o homem prático torna-se cada vez mais impotente e tem uma autoconfiança fascista, é um escravo, um ninguém, mas a sua raça é nórdica e pura, sabe que o espírito governa o corpo e que os generais defendem a “honra”. Os ideais são só para os tolos...”

_______________


“Conhecimento, trabalho, prazer e amor natural são fontes de nossas vidas e deveriam também governá-las.”

“Se, de fato, os impulsos de autoaniquilação são biológicos e imutáveis, resta apenas a perspectiva do massacre humano mútuo.”

“Um animal não mata outro animal porque sente vontade de matar. Isso seria um assassinato sádico e tremendamente cruel em nome do prazer. Mata porque tem fome ou porque sente a sua vida ameaçada.”

“Frustradas, as energias genitais se tornam terrivelmente destruidoras.”

“Homens e mulheres com sentimentos sãos a respeito da vida têm de suportar calados o sinal de depravação com que são estigmatizados por outros, que se deixam dominar não só pelo medo e pela culpa, mas, também, por fantasias perversas.”

“Nossa educação e filosofia social tornaram os adolescentes ou frágeis bonecos ou máquinas da indústria ou de negócios: secas, insensíveis, portadoras de melancolia crônica e incapazes para o prazer.”

“Freud escreveu que a vida, como a encontramos é dura demais para nós; traz-nos dores demais, desapontamentos e tarefas impossíveis. A fim de suporta-la não podemos dispensar medidas paliativas: deflexões poderosas que nos levem a dar menos importância à nossa própria miséria; satisfações substitutas que a diminuem e substâncias intoxicantes que nos tornem insensíveis a ela. Algo deste tipo é indispensável.”

“Se toda a humanidade sonha com a felicidade sexual e poetiza o tema, não deveria também ser possível realizar o sonho?”

“Os humanos só querem ser livres e anseiam pela liberdade. O homem quer experimentar sentimentos fortes de prazer. É apenas o princípio do prazer que determina o sentido da vida.”

“A felicidade está em desacordo com todas as instituições do mundo.”

“A passividade da mulher, embora comum, é patológica.”

“Você é regulado por processos que não pode controlar, que não conhece, que teme, que interpreta erroneamente.”

“As pessoas excessivamente polidas são, habitualmente as mais impiedosas e perigosas.”

“Se queremos de fato evoluir, então, devemos aprender a tolerar a verdade.”


(WILHELM REICH)

Quarenta anos depois de sua morte, Wilhelm Reich continua incomodando o conservadorismo, a mediocridade, a inverdade e a mesmice. Banido da maioria das universidades, tratado como louco, delirante, fantasioso e criador de confusões, ele é negado em seu pleno conhecimento, de acordo com a verdade de sua vida e obra.

Os estudantes de Psicologia, e áreas afins, não deveriam ser punidos com a quantidade mínima de informações que recebem sobre Reich. Pergunto-me, como é possível um homem causar tanto medo e ameaça a sistemas, regimes e países? Na sua vida, tudo o que ele buscou foi a proximidade com a verdade, através de um trabalho científico inestimável para a humanidade, e idéias justas, democráticas, com um cunho de profunda justiça social.

Reich nasceu em 1897, numa região entre a Áustria e a Alemanha. Com infância no campo, interessou-se pela Biologia e Ciências Naturais. Teve pai autoritário que, ao suspeitar estar sendo traído pela mulher, exigiu que Reich confirmasse esse fato. Ele confirmou e, a partir daí, sua mãe passou a ter crises de depressão, até se suicidar. Dois anos mais tarde, seu pai morreu. Reich ficou cuidando de um irmão mais novo. Mais tarde, no fim da adolescência, foi para a guerra, de onde voltou para cursar Medicina. Na Faculdade, deparou com textos de Freud. Apaixonou-se pelo assunto e passou a ter contato com os psicanalistas, tornando-se um deles. Competente, chamou a atenção de Freud, que passou a tratá-lo com intimidade e respeito.Talentoso nos Seminários, vai a Berlim, tornando-se Diretor das Clínicas de Psicanálise.

Fundou as Clínicas de Informações sobre Sexualidade. Milhares e milhares de pessoas procuravam suas palestras, em busca de uma vida sexual mais higiênica, satisfatória e plena. No início da década de 30, com a manifestação do nazismo, Reich precisou fugir, como um rejeitado. Isso já havia acontecido durante o regime comunista, quando emprestou solidariedade ao conhecer os objetivos iniciais da revolução russa de 1917.

Acreditando poder desenvolver a revolução das massas, através da satisfação plena da sexualidade madura, Reich viajou para Moscou. Sentiu-se gratificado ao conhecer uma professora, Vera Schmidt, que desenvolvia a educação preventiva, com informações sobre a sexualidade. Percebeu a mudança das intenções iniciais da revolução russa, e desistiu de seus planos. Expurgado pela esquerda comunista, fugido da direita nazista, nessa altura já tendo descoberto a inexistência da distância entre soma e a psiquê, debruçado sobre o corpo e sua história, também estava sendo perseguido pelos psicanalistas.

Restava fugir. Foi para a Suécia. Sem ter o visto de permanência, já que os nazistas pressionavam os suecos, foi para a Dinamarca. Seus alunos suecos foram obrigados a atravessarem, à noite, o canal que separava os dois países para continuarem seus estudos.Com a expansão do nazismo pela Europa, Reich aceitou um convite para ensinar em uma universidade nos, Estados Unidos. Lá, adquiriu um rancho, no Estado do Maine, próximo a Nova Iorque, instalou-se, com colaboradores, e passou a desenvolver suas pesquisas.

Anos depois, no início da década de 50, desenvolveu estudos sobre a caixa orgonômica, comercializando-a. Foi esse seu grande e fatal erro.Época do Macarthismo, de caça às bruxas, seus inimigos e opositores sustentaram que tal comércio era uma farsa. Reich foi preso e negou-se a aceitar advogado de defesa, afirmando que nenhum promotor ou juiz poderia julgar um trabalho científico como o dele. Levado à prisão, um ano e meio depois, teve uma síncope cardíaca e morreu, fechado em uma cela.

Fim triste e trágico de um ser que operou tantas descobertas para o benefício do homem e da humanidade durante todo o século XX.Triste história da humanidade, capaz de promover tal incompreensão, com quem lhe devotou tanto interesse e amor. Caminhos e descaminhos do homem que foi o espelho do mundo, com suas guerras internas, suas confusões, seus progressos e a beleza de sua alma. A Psicanálise foi a base lançadora de sua catapulta científica.

Depois, percebeu o corpo. Era uma sessão normal de análise. O paciente deitado, falando de sua história. De repente, a raiva assoma, fazendo com que o pescoço e o rosto do indivíduo mude de cor. Nesse momento, o corpo entra no trabalho de Reich.Veio a Vegetoterapia Caracteroanalítica: no corpo, sete anéis que localizam-se próximo às glândulas endócrinas e que, na espiritualidade, correspondem aos sete chakras. Interessante associação:

o 1º nível - olhos, ouvidos, nariz;

o 2º nível - boca;

o 3º nível - pescoço;

o 4º nível - tórax;

o 5º nível - diafragma;

o 6º nível - abdômen;

o 7º nível - pélvis.

A Vegetoterapia é o trabalho de cada nível, com o objetivo de permitir desbloquear a passagem da energia entre os níveis, fortalecendo-os, e permitindo a expansão da saúde e, consequentemente, do prazer de viver.

Reich pesquisou ainda a célula do câncer. Concluiu que esta célula possui deficiência respiratória, normalmente presente em regiões onde o organismo é mais frágil diante de situações de estresses emocionais. Também percebeu que o maior índice de câncer ocorria com pessoas que acusaram, em períodos que variavam de seis meses a dois anos antes do surgimento da doença, desistência; que optaram por não mais continuar no caminho do crescimento, da vida, do caminhar, do lutar, do buscar. Aí reside um dos motivos, imagino, do axioma presente na introdução de todas as suas obras: “Amor, trabalho e conhecimento são a base de toda a vida e deveriam governá-la.”

Reich também olhou para o Cosmo e viu a energia orgone. A energia vital. O prana dos indianos. O C’hi dos chineses. E criou a caixa orgonômica, que tinha a propriedade de aumentar a energia interna do organismo e, através dessa possibilidade, permitir que bactérias e organismos já instalados no corpo, pudessem ser expulsos. Dessa forma, curas aconteceram. A pessoa entrava na caixa, que recebia o calor do ambiente e fazia com que resfriados, febres, câncer em estágios iniciais, pudessem ser reduzidos e curados. Ele também desenvolveu, e levou para a Psicologia, a questão da prevenção das doenças, das neuroses, por meio de programas de profilaxia.

Como, o inacabado programa de pesquisa com gestantes, crianças no pós-parto, desmame, período escolar e adolescência. Ele pretendia evitar a neurose, através de um acompanhamento psicológico, inicialmente com a gestante. Após o nascimento, cuidados com o recém-nascido e sua relação com a mãe. Depois no desmame. Por volta dos sete anos, tornaria a acontecer uma redobrada atenção ao ingressar na Escola. As crianças seriam acompanhadas até a adolescência. Infelizmente, Reich não pôde viver para concluir sua intenção.

Outra incursão do inquieto espírito científico de Reich aconteceu na área dos fenômenos da natureza. Ele criou um instrumento que fazia chover, o “claowbuster” e existem provas de que funcionou. No final de sua vida, voltou os olhos para os OVNI’S. Foi quando a comunidade científica desacreditou-o. Fantasia, delírio ou realidade, até hoje não existe resposta. Nós, os admiradores do caldeirão de idéias e descobertas científicas desse ser privilegiado que foi Reich, esperamos que Deus nos dê tempo de vida suficiente para estarmos atentos ao conteúdo dos documentos que ele deixou ao morrer, pedindo que só fossem divulgados 50 anos após a sua morte.

Estamos aguardando ansiosos. O que será que está guardado por tanto tempo? Por que Reich acreditou que a humanidade não estava preparada para receber esse legado por ocasião de sua morte, em 1957? Acredito que essa visão do despreparo do mundo está retratada no magnífico e surpreendente desabafo, transformado no livro “Escuta, Zé Ninguém”. Nesse livro, Reich, visceralmente, expõe e vomita suas raivas, mágoas, dores e feridas, numa linguagem incisiva e direta. Acusando o Zé Ninguém pelo despreparo de ser e pela disseminação da peste emocional, que era como ele definia a mentira, o julgamento, os achômetros, os boatos, as fofocas, a maldade humana, capazes de destruir sem conhecer, baseando-se nas aparências e nos comentários.

Um dos principais questionamentos reichianos é o da pergunta, na década de 40: “Como podemos ser felizes se, ao nascermos, muitas vezes, fomos gerados em ventres frios?”, como ele denominava a imaturidade emocional das mães grávidas. Na maternidade, as crianças saem do ventre da mãe em salas geladas (18oC), sob luzes fortíssimas que cegam, levando palmadas para chorar e sendo afastadas da mãe, com a qual viviam tão unidas. Em berçários, alguns são circuncidados. Quando os bebês são levados até a mãe para a amamentação, quase sempre, ela está deprimida. Difícil, essa chegada ao mundo.

Na pulsação biológica, sinto, talvez, mais profundamente, uma identificação e uma admiração pelas definições e afirmações reichianas. Ele afirma que o ser humano funciona como pulsação biológica, com movimento de contração e expansão, que é o movimento do coração. Sístole e diástole. Também é o movimento do pulmão e da respiração. Inspiração e expiração. No microscópio, Reich percebeu que o protozoário também possui o mesmo movimento. Intrigado, ele levantou seus olhos, estendidos pelo Universo, percebendo que o mesmo também pulsa. Dia e noite.Olhou para a natureza e viu que o processo se repete. Inverno e verão.Voltou seu olhar para a lua, sentiu a mesma pulsação. Lua cheia e lua nova.Olhou adiante, pousando seus olhos sobre os mares e viu a maré cheia e a maré vazia.

Concluiu que, assim como, no menor animal, no homem e no universo vivem movimentos de pulsação, que designam um aspecto da natureza que atravessa espécies e vai até o cosmo. Todos sintonizados através de um movimento sincronizado, como se fosse uma dança divina. Minha intenção neste artigo foi reverenciá-lo e prestar uma homenagem a um homem, que foi corajoso e inteiro, em todos os momentos de sua vida.

Jayme Panerai Alves
Membro do Libertas Comunidade - Recife (PE)

Nenhum comentário: