quinta-feira, 10 de junho de 2010

COPA DO MUNDO: QUE PALHAÇADA É ESTA?


Suspendam tudo, pois começou a Copa do Mundo de Futebol, o evento mais importante na vida de todos nós, habitantes do planeta Terra. Esta é uma afirmação que a todo o momento nos deparamos, de uma forma ou de outra, frente ao momento que estamos vivendo. A Copa chegou. Portanto, o mundo deve parar e reverenciar este feito de proporções universais e que, segundo dizem: "tudo altera, tudo modifica".
Seria cômico, é lógico. Mas isto, se não fosse trágico. Sempre detestei futebol e dei de ombros para suas intolerâncias, malvadezas e banhos de sucesso. E achei que tudo em volta do futebol não passa de uma enorme baboseira, sendo, essencialmente bom, para os jogadores, os técnicos bem pagos, enfim, as musas futibolísticas que fazem verdadeiras fortunas por meio de alguns chutes certeiros, e só. E claro, como o mundo é dual, quem faz fortuna de um lado faz, igualmente, miséria por outro e advinhe quem está de qual lado?
Mal comparando - mas procurando ser didático - copa do mundo no Brasil, para mim, hoje, tem a mesma proporção de um pai que tem o filho querido morrendo de câncer numa cama de hospital e ele, o pai, acha-se tremendamente preocupado com a cor da tinta que deve escolher para a pintura da sala de jantar, completando a reforma da casa que ele iniciou meses antes do filho apresentar sinais da doença que agora se alastra da forma mais grave.
O futebol, como todo esporte competitivo apresenta características sociais horrendas, ainda mais numa sociedade capitalista como a nossa e em pleno esforço de ascensão, pois induz ideologicamente massas inteiras ao julgo do poder da bola, da força dos jogadores, celebridades instantâneas a serviço do nada, e, o mais sério, na própria estrutura do jogo, suas normas, preceitos, convenções, formas.
Walter Bracht, em seu texto maravilhoso: "Criança que pratica esporte respeita as regras do jogo... capitalista" faz uma reflexão importantíssima quando nos afirma que "para se dar bem no futebol, o atleta tem que se sucumbir ao cumprimento de normas que lhe foram impostas por um programa que ele não ajudou a construir. E se não o fizer, será sumariamente excluído do jogo pela autoridade única do juiz, a quem é dado todo o poder de decisão pelos jogadores e sobre eles, de uma forma dogmática, autoritária inflexível e definitiva. Ora, ao presenciar este tipo de coisa, a platéia inteira está, sem que saiba, incorporando este exato tipo de ação, o que, é lógico, culmina com a construção de uma sociedade com os mesmos moldes. Ou seja, desta forma, o futebol, por meio de sua magia ajuda a construir cidadãos omissos e subservientes ao poder constituído, uma vez que o comportamente não-conformado do atleta no jogo não modifica o jogo, mas exclui, de forma determinista e imediata o indivíduo inconformado do mesmo jogo", o que é um absurdo descabido num mundo onde se deve respeitar os direitos humanos e que a democracia plena e o direito à cidadania são servidos em todos os banquetes dos discursos fabulosos da evolução da humanidade.
Assim, a Copa do Mundo é muito importante para os que dela participam: os jogadores, os árbitros das partidas que saem dali ricos. As equipes técnicas, os manipuladores de todo o processo, inclusive, induzindo aos resultados que desejam e que, por sua vez, persuadem e alteram as convicções, o jogo da vida, a esfera econômica e seus feitos, o mundo político, enfim, todas as contingências habitadas e vividas pela espécie humana que, ao que parece , se nega a evoluir.
Em particular, oedio quando o Sr. Galvão Bueno faz a locução de uma partida em que o Brasil joga. Ele estilhaça, exagera, arrebenta, inflama o possível gol, a jogada do futebol-arte quando feita pelos pés de nossos atletas, mal sabendo que, com tudo isto ele acelera o caos, as crises, os males que afligem nosso povo, enquanto atua num processo antagônico ao que se espera, se deseja, e, finalmente, até acredita-se que já se está fazendo. Quanto mais longo e afiado o seu grito, mais forte e afiada a lâmina do punhal que dilacera o coração dos brasileiros comuns, dos homens e mulheres do povo, dos trabalhadores como eu, como você.
Não sabe - e nem quer saber - este cidadão que, com isto, está favorecendo aos ganhos privilegiados das elites, das quais ele faz parte e, ao mesmo tempo, dando a sua contribuição para sucumbir o povo, a plateia, a galera ao transtorno, à dor, ao sofrimento e às perdas sociais e políticas. A Copa do Mundo é um fenômeno da maior importância sim, mas para uma lavagem cerebral no mundo inteiro e ao mesmo tempo, e, claro, de forma muito eficiente.
Pois, ao ver seus atletas competindo e ganhando aos tubos, o cidadão é conduzido psicologicamente ao mesmo patamar, sem que se perceba disso. Fazendo, desta forma a euforia contagiante dos mais ricos, que estão cada vez mais ricos e poderosos, enquanto que as massas são expostas à fome, à crise, à dor e ao sofrimento, sem que ninguém saiba, ou que tome alguma providência para se lutar contra isto. Pois a própria dinâmica do futebol, do campeonato, suas máscaras e fórmulas não deixam sobrar espaços para esta tão necessária e já, inadiável, transformação.
Quando a Copa do Mundo resplandece no horizonte, nós, os brasileiros, os trabalhadores, os mais pobres e menos informados, arregalam bem os olhos e não enxergam mais nada. É, exatamente, o momento preciso para que as elites nacionais e internacionais, sequiosas por mais bens, poder e dinheiro, lançam suas armas e botes, elaboram projetos, aprovem decretos, modifiquem leis para que ganhem, para que tenham mais e assim, poderem explorar os que se espremem nas galeras, roem as unhas, penam e sofrem quando perdem e se devaneiam na alegria e na explosão do gozo quando o ganho vazio do gol que nada significa para suas vidas, substitui o deleite da moradia, da comida, da cidadania, da segurança, da decência.
É assim que, por exemplo, os ladrões comuns fazem para assaltar você. A pegada com força no ombro não deixa que sinta a mão que leve e sorrateiramente toca a sua carteira, abre a sua bolsa e leva o que é seu. Assim mesmo. Como nossos olhos se arregalam para a Copa é o ponto preciso para que se alterem as normas das eleições - que estrategicamente acontecem logo depois da Copa do Mundo - aumentar as taxas de juros, alterar as leis que dão ao trabalhador algum ganho, retirar vagas e condições estruturais do mercado de trabalho e assim por diante.
E não se preocupe com que o Governo gasta para fazer a Copa funcionar, para criar meios, condições, recursos, construir estádios, modificar linhas de trânsito, criar apoios para que tudo seja um sucesso. Ele ganha muito mais com os tostões que nega ao cidadão comum pela mesma força da Copa. Ninguém, a não ser nós o povo que torce, que pena e padece é tão ingênuo e manipulável neste jogo de coisas.
Aí, digamos, o Brasil ganha e o que vem depois? Você pega a taça, os dividendo bilhardários dos jogadores e técnicos e passa, com tudo isto, a resolver os seus problemas que agora se ampliaram com os mecanismos políticos do "inter-copa" e que foram manipulados sem que você soubesse. Ou seja, enquanto você sofria com a goleada dos adversários ou morria de prazer com as vitórias dos que dizem representar você e o seu país, mas que estão muito longe de ter e sofrer os mesmos problemas, os mesmos males e as mesmas dores que você. Aliás, muito pelo contrário.
Não se iluda, a riqueza simbólica do futebol é muito maior do que você possa imaginar neste jogo da manipulação do poder e da ordem de todas as coisas que por ali trafegam. Não sabem - e nem podem saber, é claro - nossos melhores atletas que trabalham contra nós, contra o povo a quem representam. Mas endossam, com seus golpes e gols os valores que massacram nosso cotidiano, que retiram nosso direito de viver. Os leigos, os incautos, os alienados defendem o futebol, os torneios, as olimpíadas as copas como o elo deteminante da alegria de um povo, que, claro, não posso negar. É bom jogar, torcer, ma tudo, até certo ponto. Mas que tais coisas fossem feitas com todas as barrigas cheias, com as conquistas feitas, a dignidade, a cidadania para se viver bem e em paz. E não, como um subterfúgio da mentira, do engodo e do crime de se substituir as condições de vida e de dignidade por este tubo de ensaio vazio e inoperante. A alegria de jogar e torcer não pode ser, como tem sido para a absoluta maiora da população um suscedâneo, um meio de substituir as condições mínimas de uma vida plena e de uma cidadania decente.
Já passa da hora de deixarmos de ser manipulados, inocentes úteis e simples degraus da escada em que os poderosos e ricos, inclusive nossos atletas e as equipes que os cercam usam para subir, nos massacrar e rir de sarcasmos perante a dor, o sofrimento que aflige a nós, o povo.
A Copa do Mundo, meu amigo é, na verdade, um grande presente para a seleção que representa você, mas, para isto, recebe bilhões e transforma seus componentes em verdadeiros deuses que vivem no cosmos de suas mansões cinematográficas e que enchem seus bolsos. enquanto falta esparadrapo nos hospitais públicos, comida na sua mesa e salário no bolso dos professores que educam seus filhos mal e porcamente, etc. etc. etc.
Sejamos sim, brasileiros de raça. Mas, antes de tudo, seres conscientes dos viezes de nossas dores, carências, misérias, que não são, de nenhuma maneira, vontade de Deus. Mas fruto de nossa ignorância, nossa omissão e marasmo pólítico que começa na nenhuma vontade de lutar, de arregaçar as mangas para fazer o que for preciso, muito antes de bancarmos os "pseudo-patriotas oba-obas" que aplaudem os subterfúgios dos que nos marginalizam. Sendo, antes de mais nada, assassinos inocentes de nós mesmos. E depois, os piores dos cegos, ou, justamente, aqueles que não querem ver.
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Antonio da Costa Neto
antoniocneto@terra.com.br

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