terça-feira, 6 de outubro de 2009

UMA SEREIA CHAMADA MARIA BETHÂNIA


"...Cresci num lugarejo repleto de rios, mas passava as férias na praia. Sempre amei perdidamente o mar. Meu pai dizia que a terra e o oceano se espelham. "Tudo que existe aqui em cima existe no fundo do mar." Eu o escutava e a minha imaginação corria solta: - "Tudo, pai? Coqueiro, abelhas, montanha?" Ele jurava que sim. Não àtôa, os marinheiros me encantavam. Admirava as tatuagens que eles carregavam nos braços. "Quando mandar em mim arranjarei uma igual", planejava. Àquela época, poucas mulheres ousavam exibir tatuagem. Eu, atrevida, deseja uma nas costas, do lado direito, perto da bunda. Cogitei primeiro desenhar uma sereia. Sou fascinada por sereias. Depois mudei de opinião: - Vou botar uma estrela, um sol, uma lua." Acabei não desenhando nada...

...Sereias ainda me fascinam imensamente. Criança, ganhava umas de minha mãe, pequeninas, de barro. Agora, ganho de amigos e dos fãs. Em casa, há um punhado: de metal, gesso, madeira. Sereias são as donas da voz... Senhoras da emissão que cantam por minha boca. Só sei cantar graças às sereias. Elas me ensinaram. Minha voz apenas mora em mim. Não é minha. É das sereias. É de Deus...

...Acredito sim que elas existem. Certas pessoas conseguem ouvi-las, enxergá-las. Mas as sinto, talvez porque queira senti-las. Creio que hoje esteja no mesmo lugar em que as sereias se encontram. Uma bênção!"


______
(Texto extraído de "Minha voz não é minha. É das sereias." Entrevista concedida por Maria Bethânia à revista Bravo, edição de outubro/2009, falando de música, política, religião e sereias).

Nenhum comentário: