terça-feira, 4 de agosto de 2009

AFINAL, QUEM É ESTE FELIPE MASSA?


Este é mesmo o país da mais absoluta inversão de valores. Depois do famigerado e inexplicável desaparecimento de Michael Jackson, que tudo acobertou, deixando como mínimos os escândalos de todas as ordens em que o país mergulha, agora o acidente com um tal de Felipe Massa é a bola da vez. Afinal, o que de tão importante faz este moço pela qualidade de vida da família brasileira? O trabalho que ele faz resulta em alguma forma de educação, de segurança, de comida na mesa, de saneamento, de ecologia? Não consigo entender porque, embora sendo um ser humano e que o seu sofrimento, a sua dor devam ser reduzidos ao mínimo, sendo, para isto, assistido, amado, resguardado. Mas, por que afinal ele é mais igual do que os iguais, já que a constituição diz que todos somos ramos da mesma árvore e gozamos como cidadãos dos mesmos direitos?
Pais e mães de família morrem aos montes todos os dias, atropelados, vítimas de balas perdidas, de fome, de frio, por falta de uma assistência mínima nos vergonhosos hospítais públicos. Sobre estes, nem mesmo a coluna policial publica nada, enquanto deveria denunciar os crimes bárbaros do governo, a omissão social, a barárie humana que nos consome a cada dia. É que as crianças mortas, os pais analfabetos, as mães desdentadas não dirigem, não conhecem as pistas dos autódromos sofisticados do mundo, não ganham as corridas repassando a imagem petética do pão e do circo que rende fartos milhões de dólares para as grandes rodas internacionais, os negócios de ouro que fazem as grandes fortunas em volta do mundo, às custas, é claro, da fome do povo.
Ao longo da minha vida já presenciei a luta frenética de tanta gente que estudou pra caramba, se debruçou sobre pesquisas, tratados, teorias e práticas, varando noites, ficando sem comer, submetendo-se a concursos, a vestibulares concorridíssimos, abrindo mão de sonhos, alegrias, festas, aventuras para prestar serviços às pessoas, à saúde, à vida. Homens de mãos calejadas que plantam as roças, cultivam os alimentos que nos nutrem. Mulheres, operárias, professores, policiais, cientistas, carroceiros que, estes sim, desbravam almas, descobrem caminhos, contribuem de fato para que a vida melhore. E depois morrem, muitas vezes como célebres anônimos que são esquecidos horas depois de seus sepultamentos.
Ficam as perguntas: O que teria de tão importante e inaltecedor a fórmula 1? Que significado real tem o vencer as curvas dos autódromos em altas velocidades que encandecem a competitividade entre os homens e que depois é filtrada nos mecanismos violentos e destruidores da vida de muitos, de inocentes, de nós mesmos? Quantas pessoas terão morrido nas filas inumanas dos hospitais públicos nestes dias em que o Felipinho repousava sua carinha bonita no hospital de luxo em Budapeste? No fim das contas quantos pratos de comida custam a fantástica viagem sem necessidade num avião-ambulância enquanto a maioria não tem nem mesmo um analgésico para minimizar dores insuportáveis? O que deveríamos mesmo era nos envergonhar de tudo isso.
Não sei e nem quero saber quem é este tal de Felipe Massa, mas concluo que seja gente, pessoa, ser humano. E como tal, é um elo tão importante como os pobres de uma favela, as crianças famintas que sobrevivem esquálidas nas periferias da áfrica, nos guetos, nos repúdios sem fim deste mesmo Brasil que tanto lastima e sofre com os poucos pontos em sua testa. Pontos estes, não conseguidos no trbalho duro e digno da construção civil, na guerra contra a violência urbana, mas, ao contrário, na busca inútil de um banho de champagne francês, de uma velocidade acima do poder humano como se pudesse voar em busca de cifras, dos aplausos vazios, da exacerbada luta materialista e desprezível que acaba por sucumbir-nos ao caos, ao desalento e à miséria.
E para isto é preciso que os Felipes sejam encantados na categoria de celebridade como se muito bem fizesse ao país, aos brasileiros sem pátria que rezam por ele como quem inocentemente aplaude seus algozes. Claro que S. Exa. Felipe merece meus respeitos e as congratulações dos brasileiros - principalmente dos pobres e alienados - que dele recebem alguma alegria como forma de ocultar suas carências e necessidades. Mas em termos de importância, sou muito mais eu, que, dentro da minha insignificância e anonimato, estudei muito mais, luto, trabalho, batalho, ensino, dando assim, uma contribuição bastante sólida para este povo sofrido. E nem por isso, minhas dores, sofrimentos, angústias, febres, acidentes são publicados. Nem mesmo no mural do condomínio onde moro. Pobres de nós. Quando seremos acordados deste pesadelo?
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Antonio da Costa Neto

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