quinta-feira, 23 de outubro de 2008

CLARISSE: DENSA E MARAVILHOSA


Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas.
Dos pensamentos mais complexos.
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um
penhasco que eu vou dizer: E daí?
Eu adoro voar!
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“Sou implícita. E quando vou me explicitar perco a úmida intimidade.”

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Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive
apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.
Liberdade é pouco.
O que eu desejo ainda não tem nome.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência
e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
Porque há o direito ao grito, então eu grito.
Sou como você me vê ...
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
depende de quando e como você me vê passar.
Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas
nem de grandes ventanias soltas,
pois eu também sou o escuro da noite.
O que obviamente não presta sempre me interessou muito.
Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito,
daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno
vôo e cai sem graça no chão.
À duração da minha existência dou uma significação
oculta que me ultrapassa.
Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo
passado, o presente e o futuro,
o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.
Vivo no quase, no nunca e no sempre.
Quase, quase - e por um triz escapo.

(Clarisse Lispector)

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