terça-feira, 24 de julho de 2007

O SOM AZUL DE MÔNICA SALMASO


Mônica Salmaso é a musa do canto e do encanto. Rainha da simplicidade com seus casaquinhos de frio, azuis como o céu que é pra onde nos leva com aquele ar de quem canta para se encontrar. E se perdeu no paiol da poesia, da mística, da graça, da música...
O timbre anasalado, gripe de criança, saindo fumaça e radiante fazendo redemoínhos emoldurados no ar. Cor de ouro, esvoaçantes, encachoeirados, azuis. Como não? Ouvir Mônica Salmaso é como tomar aquele chá quentinho, gostoso, enfrente à lareira, quando o que mais precisamos é de algo que nos aqueça o corpo e a alma.
Ela consegue esta mágica que se complementa com a luz dos olhos grandes, brilhosos e inquetos.
Um olhar de quem sabe amar brincando. Os gestos leves, mãos de fada, o movimento igualmente poético, necessário e preciso. Nem mais e nem menos. No ponto. Como doce feito em casa no fogão de lenha, no tacho de cobre. Puro, metálico, cristalino. Água da fonte, fruta orvalhada, mãe que chama, flor no cabelo...
As bijouterias artesanais, a saia farta e lisa. Não sei porque - E quem não sabe? - ela tem predileção pelos azuis. A grandiosidade daquela cara de cavalo, sempre lavada, sem maquiagem, apenas enfeitada pelo cabelo longo, preto, solto, esvoaçante, mulato que lembra a beleza rústica de uma Catherine Hepburn bem brasileira, bem nossa, bem de agora. O requintado gosto musical na escolha do repertório. O filtro de todos os sons dos instrumentos e do papel de cada um dos músicos em busca da preciosa qualidade como quem garimpa o maior e o mais puro dos diamantes também azulados. É uma perfeccionista absolutamente viciada, graças a Deus. Personalista por natureza. A valorização máxima de tudo o que faz: concepção musical e gráfica do encarte e capa do disco, fotos, arte, colocação da voz, do ser e do estar em todo o contexto, o momento, a sutileza. Sua música é um momento sagrado de oração, de revelar bênçãos. É levar-e-trazer alegrias que se acalantam no fundo do lado bom dos seres.
Um sonho de luz na alma brasileira. Na poesia. Na arte, no povo do Brasil tão carente de beleza, harmonia e de preces. Que simbolizam-se na música boa que ela faz. No recado que exibe e na felicidade que expressa apenas por existir. Lutar e suar como acontece com os verdadeiros talentos deste país, deste mundo louco e conturbado.
A eterna inversão de valores tudo faz para ofuscar este tipo de trabalho. Só não acontece quando o talento é maior. A vontade vibra. A força acontece. A beleza transcende e o sangue grita em harmoniosas melodias, em tons, em versos.
Mônica Salmaso me faz sonhar. Me faz dormir com um semblante risonho num tom de azul. Um azul existente. Azul que há e nos inunda de felicidades e do frescor de novas esperanças.

Antonio da Costa Neto

Um comentário:

Unknown disse...

Consegui achar a postagem sobre Monica, adorei, Antonio, gostei muito e vou te pedir autorizacao para publica-lo em meu blog,vou citar a fonte. Lindo o seu texto, vc escreve muito bem. Ao ler sua postagem, tive toda uma imaginacao de como seria tudo isto que vc descreveu, imagens visuais e sonoras vieram a minha mente, valeu, Antonio, abracao pra vc e parabens pelo blog!