...Suponhamos
que comecemos fazendo uma lista dos problemas do mundo de hoje que, em
princípio, podem ser resolvidos com a moderna tecnologia.
Em
princípio, temos a capacidade tecnológica para alimentar, abrigar, proteger,
dar carinho, afeto, calor humano e vestir adequadamente todos os habitantes do
mundo.
Em
princípio, temos a capacidade tecnológica para assegurar o suficiente cuidado
médico, possibilitando uma saúde de alta qualidade para todos os habitantes do
mundo.
Em
princípio, temos a capacidade tecnológica, humana e pedagógica para oferecer
suficiente educação a todos os habitantes do mundo para gozarem de uma vida
intelectual e cultural madura.
Em
princípio, temos a capacidade tecnológica de colocar fora da lei a guerra e
instituir sanções sociais que evitarão o conflito ilegal e o derramamento de
sangue de milhares de inocentes.
Em
princípio, temos a capacidade de criar em todas as sociedades uma liberdade de
opinião, pensamento e atitude que reduzirá ao mínimo os constrangimentos
ilegítimos impostos pela sociedade ao indivíduo.
Em
princípio, temos a capacidade de desenvolver inúmeras novas tecnologias que libertarão novas fontes de energia
natural e poder para o pleno atendimento
das emergências físicas, sociais, políticas, éticas, culturais, psicológicas e
ecológicas em todo o mundo.
Em
princípio, temos a capacidade de organizar as sociedades do mundo atual para
realizarem planos de saúde, educação, liberdade humana, produção de alimentos,
habitação, infra-estrutura desenvolvida a fim de resolver todos os problemas da
pobreza, da miséria, fome, violência,
mortalidade infantil, degradação da natureza, educação e o
desenvolvimento de novos recursos necessários para assegurar uma boa qualidade
de vida para todos, indistintamente.
Claro,
todos sabemos que o ser humano é capaz de fazer todas estas coisas. Por que
então não as faz? Haverá um perverso traço de caráter que corre através
da espécie humana e que torna um ser humano indiferente à condição do outro?
Ou estamos essencialmente em face de um tipo de degradação moral que nos
permite ignorar nosso vizinho em razão do nosso próprio interesse?
Existirá
uma razão mais profunda e sutil pela qual, a despeito de nossa imensa
capacidade tecnológica, não estamos ainda em condições de resolver os
principais problemas do mundo? Se passarmos os olhos pela lista dos
problemas, há um aspecto deles que logo se sobrepõe parcialmente. E claro que a
solução de um problema tem muito haver com a solução de outro, que, por sua
vez, tem muito haver com a solução de todos.
São tão
interligados e imbricados de fato, que não é de modo algum claro por onde
devemos começar. Suponhamos, por exemplo, que concebamos a idéia de que o
primeiro problema a ser solucionado é o de alimentar, abrigar, assistir e
vestir adequadamente todos os habitantes do mundo. Como começaríamos a resolver
este problema? A capacidade tecnológica existe, a capacitação profissional,
também. Podemos produzir todo o alimento necessário para se chegar a este
resultado, os materiais de construção que ofereceriam o abrigo, os tecidos que
vestiriam cada indivíduo e a assistência afetiva, moral e psicológica para cada
um deles. Então, por que não fazemos isso?
A
resposta é que não estamos organizados para fazê-lo.
Não
fomos educados para fazê-lo.
A nossas
exacerbadas competição e alienação não nos deixa fazê-lo.
Enfim,
não queremos fazê-lo.
(C. West. Churchman)
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