domingo, 9 de dezembro de 2012

PEDAGOGIA DA FELICIDADE: A SAÍDA POSSÍVEL


 (*) Antonio da Costa Neto


“... por vezes, a maior prova de inteligência está na recusa em aprender. É que o corpo tem razões que a didática ignora. Precisamos decifrar o que é bom para a vida do que só é bom para o lucro...”
(Rubem Alves) 

          Para nós, educadores, é comum defrontarmos com um dilema que vem de encontro à séria discussão feita na área em todo o mundo: O que as escolas têm feito para os alunos não gostarem delas? A maioria dos alunos não quer ir à escola. Pelo contrário, sente um prazer incontido em depredá-la, pichá-la, destruí-la. E, se pudesse, a abandonaria para sempre. Eles querem falar em férias, recessos, feriados e que a greve dos professores chegue e perdure por longos meses e coisas afins.
        Numa pesquisa feita por uma respeitada organização de ensino de São Paulo detectou-se que a frase que os alunos mais gostam de ouvir é a seguinte: “... Amanhã não haverá aula!...” Ora, alguma coisa está errada com a escola e seus processos. É que estamos muito longe de saber e de fazer a verdadeira educação.
        E o instinto de sobrevivência dos alunos já os protege dos seus mecanismos prejudiciais, se considerarmos o que seria aprender para ser agente de um mundo com um mínimo de prazer e paz. Mas, e os pedagogos, os professores, os profissionais de educação? Ora, estes são os que desconhecem por completo o que seria educar de fato, por mais incrível que possa parecer. É que, infelizmente, foram obcecados por uma certa ordem pedagógica que não educa, mas adestra, confina em nome da “pseudo-educação” que fazem por meio dos conhecimentos que julgam ensinar. Assim, adequam as maiorias, os alunos, aos interesses das minorias privilegiadas. Operam o horror contra a humanidade e nem sabem disto.
      A cegueira conceitual a que são expostos - especialmente durante a sua formação profissional - os inibe de enxergar a realidade que decorre de suas ações. Recorro aqui ao discurso da escola como aparelho ideológico do Estado opressor. O que parte dos educadores não quer entender. Resistindo bravamente.
      Ainda hoje, os educadores, sobretudo os mais convencionais estão contra o aluno e a favor da estrutura econômica, do poder e das agruras do mundo. E fazem tudo para ensinar o que os alunos não precisam e rejeitam porque não serve a eles, mas para adequá-los aos interesses de uma sociedade perversa. Do que se defendem, como nos lembra Rubem Alves: “... por vezes, a maior prova de inteligência está na recusa em aprender. É que o corpo tem razões que a didática ignora. Precisamos decifrar o que é bom para a vida do que só é bom para o lucro...” Que, quase sempre, prejudica e destrói a vida.
        O grande problema, talvez o único, é que os educadores se esquecem de que vivemos num mundo dual, de dominantes e dominados e foram treinados para beneficiar os comandos, sucumbindo os demais à exploração fácil. A escola inculca uma moral escrava, facilitando a formação de seres potencialmente exploráveis, que, por sua vez, se rebelam, se ausentam, conflituam. O que é um processo psicológico de defesa absolutamente natural.
       Assim, havemos de concordar com os que travam a luta ideológica contra as lides da escola que aí está e que tem sido um brutal processo contra todas as pessoas, de uma ou de outra formas. À medida em que, por exemplo, facilitam a concentrador de poder e de requeza no âmbito dos critérios econômios, ela instaura, naturalmente, a pressão, a violência, o perigo e o risco contra todos. Pois é impossível enriquecer os ricos sem empobrecer, explorar e violentar o pobre, o que cria, a nosso ver, um ciclo vicioso de violêcias contra todos e, assim, por diante. 
       O fracasso da educação, a resistência dos alunos, a reprovação, o vandalismo, enfim, a crise educacional é responsabilidade exclusiva dos educadores em todos os níveis. Não é o aluno que é preguiçoso, indolente. É a escola que é cética, dura, rígida, desinteressante e se perdeu nos caminhos da história. E continua aí sem coragem para enfrentar os desafios necessários de reconduzir o teor do poder, da crítica, da distribuição da riqueza. O que o sistema macro se nega a fazer não economizando esforços para tal.
      Com o que constrói o caos, ao qual sucumbe a cada momento. E, para superar isto, é preciso que os educadores se debrucem sobre este conjunto de causas e passem a entender a dimensão política e social do que fazem e como fazem.
     Para melhorarmos a educação e a escola, são os seus profissionais é que precisam primeiro, melhorar, mudar, e, não, os seus frequentadores. É ela que tem que se adaptar aos interesses dos alunos e não o contrário. É este o jogo político a ser reformulado.
          Muito pouco do que a escola faz tem o menor interesse para a vida a felicidade. Ela ensina o que serve aos interesses das elites. E o faz por meio de instrumentos aniquiladores de toda consciência, no que se transforma numa arena de sofrimento. Não proporcionando motivações outras, como se o aprender na escola fosse o mesmo caminho do gado que parte silencioso para o matadouro. E molda um futuro despido de esperanças.
     Por isso, estar na escola é um sacrifício para muitos. Principalmente, para os mais inteligentes e perspicazes. Precisamos refazer a educação com muita profundidade, e, a partir de sua dinâmica interna, ou seja, da cabeça de quem a faz. Os educadores devem dominar um novo conceito e enxergar criticamente o papel da educação e relativo à história do mundo, percebendo os serviços e desserviços que prestam, os infinitos erros que cometem, enfim, a ingenuidade política que lhes é imposta e contra a qual não conseguem revidar. 
        Vivemos hoje num mundo que é fruto da fina inteligência e não pode mais se submeter à ignorância com que as escolas têm atuado. E quando digo escolas, digo todas: a pública e a particular, elas existem para legitimar a exploração humana; pioram as pessoas, trocando seus sentimentos por cifras, coragem, por medos, bondades, por ganância desenfreada. Todas elas fazem isto. Com maior ou menor rigor, elegância e sofisticadas “técnicas pedagógicas” num desserviço sem precedentes às sociedades a que julgam servir. À revelia dos avanços humanos a escola é uma das instituições mais conservadoras e tradicionais e continua na idade da pedra – os professores para ensinar ainda escrevem na pedra .      Funciona da mesma maneira à gerações incontáveis, com o professor de pé, na frente, cuspindo poder, o que começa com a sua postura e o cenário das ultrapassadas salas de aula, onde um comanda, todos obedecem a exemplo dos estados totalitários e ninguém se dá conta disto: as instituições, as universidades, os sindicatos de classes. 
   Condicionam os alunos a receberem o conhecimento passivamente, pois, assim, teremos cidadãos subservientes, trabalhadores submissos, perpetuando a exploração fácil, o que constitui a alienação mais refinada perversa e criminosa. Portanto, o mundo novo com que tanto sonhamos, depende também dos educadores em geral e dos professores em particular, pois eles formam as consciências dos que conduzem a vida. Cabe, portanto, a cada um o iniciar deste processo sem os discursos defensivos e inúteis. Recomeçar pelo amor às crianças, aos jovens, aos, aprendizes: “estes seres estranhos que não entendem a nossa linguagem”.
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(*) MsC em Políticas e Administração da Educação. Professor, pesquisador, conferencista. Desenvolve projetos de qualificação humana e pesquisas sobre o tema. É autor de livros, artigos e inúmeras publicações e presta consultorias na área.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012



HEBE CAMARGO E A SUA DELICADA HIPOCRISIA: UMA GRACINHA

 O Brasil, certamente, ficou bem mais empobrecido e triste com a morte da famosa e querida Hebe Camargo. E eu também. Sempre fui um telespectador assíduo de seus programas desde antes do SBT (e olha que já tem tempo) e sempre a considerei uma mulher e tanto. Arrojada, leve, elegante, com um humor afinadíssimo, muito inteligente, uma artista versátil, uma brasileira inquieta, etc. etc., o que não é, em definitivo, pouca coisa. 
Hebe Camargo como artista, como ser humano tem sim o seu valor que deverá figurar para sempre na história de nós brasileiros e também como figura marcante no mundo do espetáculo, da música e da TV, inclusive, internacionalmente. Digna da nossa saudade, do nosso encantamento, da admiração que o Brasil inteiro tem - e deve mesmo ter - por ela, e quem sabe, até o mundo. Na verdade, trata-se de um ser humano grandioso, que se vai, precocemente, em função da sua jovialidade, sua lucidez, sua vida, suas alegrias.
 Mas também... vamos lá, minha gente, será que ela era tão boa assim, tão merecedora deste jargão todo, consternação e encantamento? Ou será que somos mesmo ingênuos demais, tupiniquins demais e nos derretemos diante de quaisquer estereótipos de bem-avanturança, por vezes até falsos e falaciosos, que é com o que, a bem da verdade, Hebe Camargo chegou onde chegou e fez o que fez. Era uma dama, a diva da televisão brasileira, não resta dúvida. Mas também, havemos de admitir que era a rainha do morde e assopra, com o que agradou sempre a gregos e troianos e como toda unanimidade é burra, como dizia Nelson Rodrigues - este sim - trago comigo, no fundo do peito, junto com as lágrimas e as saudades que também sinto, algumas dúvidas e questionamentos.
D. Hebe Camargo foi sempre na televisão a grande protetora da pequena-burguesia. Fazia discursos arraigados e emocionantes contra a corrupção, a violência, as elites, mas, claro, sem dar nomes aos bois e, em seguida, desmanchando tudo o que fez por entre lágrimas ou gargalhadas, copões de cerveja que tomava  e deixava todo mundo estasiado, porque nunca arrotou, por maior que fosse a quantidade de cerveja que ingeria. Espetacular. E tudo isto constituia o seu discreto charme, que, por sua vez, fazia desencadear toda a admiração, o júbilo, o sucesso, o verdadeiro império material que constituiu durante sua prestimosa, laboriosa e ostentada existênica - me lembro aqui o famoso dito de que os caixões não têm gavetas. 
Hebe era exuberante, mesmo, em tudo; tanto para as bondades, quanto para o que não presta. Acabava de fazer um discurso emocionado, longo, aos gritos - ou melhor ainda aos berros - contra os políticos irresponsáveis, a ladroagem com o dinheiro do povo, as obras faraônicas. Limpava os olhos, fazia um vapt-vupt que plagiava de Chico Anísio. No intervalo, ela retocava a maquiagem e recebia Paulo Maluf e sua Sylvia, para entre abraços e beijos se esquecer e fazer com que esquecessem o discurso anterior. Mas, lógico, ficava a fama, o nome, a bandeira de luta. Pelo que, ao contrário do que parece, abria mais espaços para os Malufes e seus pares, passarem a mão, gatunarem, e continuarem, como ela mesma dizia: umas gracinhas!!!
 O tão decantado sofá da Hebe era só para os elegantes, os ricos, os que ainda vivem, pela mesma curriola, nos endereços chiques, nos metros quadrados mais caros de toda a América Latina, no Morumbi, como ela própira, o que não estou mal-empregando, mas chamando a atenção para a incoerência brutal, que, de fato, não enxergamos, na maioria das vezes. "As pessoinhas" do jargão hebecamarguiano eram e são, de fato, os corruptos, os poderosos, os artistas ricos, as elites nacionais e internacionais, com suas meias-verdades entermeadas por jóias grandiosas, algumas até de gosto duvidoso. Muita maquiagem e muito laquê no cabelo, fazia com que se tornassem mais e mais perversos e poderosos.
 Sei que serei taxado de radical e de estremista, assim como sei também que é esta  ingenuidade brasileira que nos encaminha para o caos. Por isso, admirarmos os governos do PT que permitem os mensalações, os recheios de meias e cuecas, a transgressão, a arbitrariedade, o roubo, o assassínio de nossas consciências e nunca nos acordamos para enfrentar este desafio.
 Somos judáico-cristãos pordemais, balizados no barateamento do perdão, com o que aplaudimos e mitizamos nossos algozes, os verdadeiros responsáveis por nossas dores, sofrimentos, conflitos e crises. 
E é o que nos arrasta para a dor, o sofrimento, a miséria de sempre e já passa muito a hora de entendermos e desmascararmos estas indiossincrasias, que, na verdade, constituem os nossos infernos individuais e coletivos, ou seja, o da sociedade brasileira. Somos bobinhos demais e não aprendemos a desdobrar, a ver o que há por trás das enormes simpatias, dos discursos belos, dos sorrisos rasgados e seus poderes sugjacentes.
 E Hebe tinha mesmo que ser assim. Pois neste país, infelizmente, só vence na vida, ganha júbilo e história quem tem a coragem de vestir esta fantasia. Temos que ser, para vencer e sermos aceitos, hipócritas e simpáticos.
 Agradarmos a todo o mundo, para não agradarmos a ninguém. E, no fundo, darmos autógrafos aos pobres e infelizes, interrompermos nossos jantares, abraçar operários suados nas ruas, mesmo tomando um banho de álcool para nos desinfetar da fétida pobreza quando chegamos em casa.
 E isto a Hebe fez muito bem. Teve cara o suficiente para os "nina-nina-não!!!" quando se tratava de crimes horripilantes, mas sem se envolver, sem dar a sua cara, sem descer do muro. Mas ela fez muita coisa boa também. Contribuiu para a evolução da televisão que está aí como um dos melhores instrumentos de comunicação, educação e aprendizado.
 Só falta mesmo algum conteúdo que preste. Mas ela contribuiu e muito para que tecnicamente, pelo menos a televisão ai permacecesse e deu-nos muitas alegrias com sua arte, com sua graça. Como Hebe, eu também faço aqui um morde e assopra, porque quero que meu texto seja lido. Mas... se eu fosse membro do júri universal, eu a absolveria e dava o céu para ela. Afinal de contas, tadinha, ela já está muito acostumada. E eu não quero ser falso nem fingindo, advogando uma coisa e fazendo outra na contra-mão dos discursos que é o que aqui critico até de forma tão veemente.
 E pra criticar, tenho que ser melhor em termos de concepção, filosofia e valores. Eu daria o céu para ela. Afinal, somos "pessoinhas" filhas de Deus. Umas gracinhas. E merecemos todos, o melhor de tudo. Até ela. E por que não?

domingo, 23 de setembro de 2012

CAETANO, VENHA VER O PRETO QUE VOCÊ GOSTA...



"Lembro com muito gosto o modo como ela se referia a ele. Pelo menos ela o fez uma vez e isso ficou marcado muito fundo, dizendo: Caetano, venha ver o preto que você gosta. Isso de dizer o preto, sorrindo ternamente como ela o fazia, o fez, tinha, teve, tem, um sabor esquisito, que intensificava o encanto da arte e da personalidade do moço no vídeo. Era como isso se somasse àquilo que eu via e ouvia, uma outra graça, ou como se a confirmação da realidade daquela pessoa, dando-se assim na forma de uma bênção, adensasse sua beleza. Eu sentia a alegria por Gil existir, por ele ser preto, por ele ser ele, e por minha mãe saudar tudo isso de forma tão direta e tão transcendente. Era evidentemente um grande acontecimento a aparição dessa pessoa, e minha mãe festejava comigo a descoberta." 

                            

                          (Do livro "Verdade Tropical" de Caetano Veloso)

quarta-feira, 18 de julho de 2012


FELICIDADE SONHADA...



           Identifiquei-me muito com esta foto e os melhores momentos da minha vida são vividos de forma muito semelhante. Sempre que posso, durmo com meus três cachorros? Ébano, Baninho e Princesa, encima do meu colchão, e, nas noites de frio, debaixo do cobertor. Eles têm as suas formas próprias de se acomodarem para dormir. O Baninho fica aconchegado ao meu peito. O Ébano, entre as pernas e a Princesa, do lado dele, mas com o peito encostado na minha outra perna. A maior delícia do mundo. E se eu me viro na cama e me desencosto de qualquer um deles, de imediato, eles já mudam a posição para manter o contato.
           Lá pelas tantas, o Baninho me lambe a cara até se cansar. Ele é o único que faz isto, o que eu agradeço com um afago. É quando ele respira fundo e volta a dormir o sono dos justos. Se eu ficar deitado até às 15 horas, eles também ficam. Só se levantam quando eu me levanto e ficam me seguindo pela casa o dia todo. Não tiram os olhos de mim, como se eu fosse a coisa mais linda do mundo. Já marquei para eles uma consulta no oculista, pois acho que todos, assim como eu, estão com problemas de visão.
          Quando as crianças gêmeas dormem aqui em casa, elas vêm me fazer companhia durante as noites de sono, que é o que complementa a minha alegria. Em relação à foto, meu quarto é muito parecido com este. A cama é quebrada e com uma perna de tijolos. Juro. Lá também entram galinhas, patos e outros bichos curiosos que ficam olhando tudo sem entender nada. O colchão bem fofinho e durmo sempre com um velho edredom florido que é a maior delícia do mundo. E concluo que ser feliz é, na verdade poder e viver estas coisas simples e doces. Gostosíssimas. Melhores do que qualquer coisa na vida. Melhor mesmo e de longe. Por isso não posso reclamar da vida. Ela é completamente carregada de alegrias. Por esses momentos maravilhosos que vivo.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O CORINTIANS É O CAMPEÃO DA LIBERTADORES DA AMÉRICA



"Nós, o povo, os trabalhadores com vergonha na cara e consciência das coisas – especialmente os educadores – precisamos a começar a entender que o futebol e seus campeonatos importantes, incluindo, é claro, a Copa do Mundo, não é só uma brincadeira inocente, para que as pessoas fiquem felizes e vibrem com a vitória de seus times - como forma de substituir as alegrias que deveriam advir da vida, da relação com o mundo, o desenvolvimento do país e a felicidade das pessoas. É também, para que o povo sofra com a derrota do seu time do coração e não sinta as dores políticas, a falta de estrutura, o descaso do governo, a carestia, a inflação, a corrupção e tantos outros males que nos afligem enquanto povo e privilegia os ricos, as elites, os poderosos. Temos de largar de ser bobos. Os meios de comunicação instigam tanto esta alegria ou tristeza, para que ela seja maior, mais instantânea, e, portanto, não enxerguemos ou não sintamos as demais. Por que o governo brasileiro investe tanto e gasta bilhões com a Copa do Mundo? É para isto. O que eu acho descabido, principalmente, para um governo do PT, que se diz da esquerda e a serviço dos trabalhadores e dos pobres. O problema é que teremos de comer arroz e feijão ainda por séculos para entendendermos isto. Fizeram de tudo, ao logo dos anos para dar ao povo uma lavagem cerebral, daquelas. Por isso aceitamos e cruzamos os braços diante dos Marcones, dos Agnelos, dos Cachoeiras. Do transporte urbano aos frangalhos, da violência, do desemprego, da inflação, dos hospitais públicos miseravelmente sucateados, etc. etc. etc. Mas, enquanto isto: Salve o Corinthias, o campeão dos campeões…. – “Oba, caiu meu dente postiço. Vou ter que parar de cantar!…”

sexta-feira, 29 de junho de 2012

DOM SEBASTIÃO VOLTOU
16 de junho de 2012
 
Marco Antonio Villa - O Estado de S.Paulo
Luiz Inácio Lula da Silva tem como princípio não ter princípio, tanto moral, ético ou político. O importante, para ele, é obter algum tipo de vantagem. Construiu a sua carreira sindical e política dessa forma. E, pior, deu certo. Claro que isso só foi possível porque o Brasil não teve - e não tem - uma cultura política democrática. Somente quem não conhece a carreira do ex-presidente pode ter ficado surpreso com suas últimas ações. Ele é, ao longo dos últimos 40 anos, useiro e vezeiro destas formas, vamos dizer, pouco republicanas de fazer política.
Quando apareceu para a vida sindical, em 1975, ao assumir a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, desprezou todo o passado de lutas operárias do ABC. Nos discursos e nas entrevistas, reforçou a falácia de que tudo tinha começado com ele. Antes dele, nada havia. E, se algo existiu, não teve importância. Ignorou (e humilhou) a memória dos operários que corajosamente enfrentaram - só para ficar na Primeira República - os patrões e a violência arbitrária do Estado em 1905, 1906, 1917 e 1919, entre tantas greves, e que tiveram muitos dos seus líderes deportados do País.
No campo propriamente da política, a eleição, em 1947, de Armando Mazzo, comunista, prefeito de Santo André, foi irrelevante. Isso porque teria sido Lula o primeiro dirigente autêntico dos trabalhadores e o seu partido também seria o que genuinamente representava os trabalhadores, sem nenhum predecessor. Transformou a si próprio - com o precioso auxílio de intelectuais que reforçaram a construção e divulgação das bazófias - em elemento divisor da História do Brasil. A nossa história passaria a ser datada tendo como ponto inicial sua posse no sindicato. 1975 seria o ano 1.
Durante décadas isso foi propagado nas universidades, nos debates políticos, na imprensa, e a repetição acabou dando graus de verossimilhança às falácias. Tudo nele era perfeito. Lula via o que nós não víamos, pensava muito à frente do que qualquer cidadão e tinha a solução para os problemas nacionais - graças não à reflexão, ao estudo exaustivo e ao exercício de cargos administrativos, mas à sua história de vida.
Num país marcado pelo sebastianismo, sempre à espera de um salvador, Lula foi a sua mais perfeita criação. Um dos seus "apóstolos", Frei Betto, chegou a escrever, em 2002, uma pequena biografia de Lula. No prólogo, fez uma homenagem à mãe do futuro presidente. Concluiu dizendo que - vejam a semelhança com a Ave Maria - "o Brasil merece este fruto de seu ventre: Luiz Inácio Lula da Silva". Era um bendito fruto, era o Messias! E ele adorou desempenhar durante décadas esse papel.
Como um sebastianista, sempre desprezou a política. Se ele era o salvador, para que política? Seus áulicos - quase todos egressos de pequenos e politicamente inexpressivos grupos de esquerda -, diversamente dele, eram politizados e aproveitaram a carona histórica para chegar ao poder, pois quem detinha os votos populares era Lula. Tiveram de cortejá-lo, adulá-lo, elogiar suas falas desconexas, suas alianças e escolhas políticas. Os mais altivos, para o padrão dos seus seguidores, no máximo ruminaram baixinho suas críticas. E a vida foi seguindo.
Ele cresceu de importância não pelas suas qualidades. Não, absolutamente não. Mas pela decadência da política e do debate. Se aplica a ele o que Euclides da Cunha escreveu sobre Floriano Peixoto: "Subiu, sem se elevar - porque se lhe operara em torno uma depressão profunda. Destacou-se à frente de um país sem avançar - porque era o Brasil quem recuava, abandonando o traçado superior das suas tradições...".
Levou para o seu governo os mesmos - e eficazes - instrumentos de propaganda usados durante um quarto de século. Assim como no sindicalismo e na política partidária, também o seu governo seria o marco inicial de um novo momento da nossa história. E, por incrível que possa parecer, deu certo. Claro que desta vez contando com a preciosa ajuda da oposição, que, medrosa, sem ideias e sem disposição de luta, deixou o campo aberto para o fanfarrão.
Sabedor do seu poder, desqualificou todo o passado recente, considerado pelo salvador, claro, como impuro. Pouco ou nada fez de original. Retrabalhou o passado, negando-o somente no discurso.
Sonhou em permanecer no poder. Namorou o terceiro mandato. Mas o custo político seria alto e ele nunca foi de enfrentar uma disputa acirrada. Buscou um caminho mais fácil. Um terceiro mandato oculto, típica criação macunaímica. Dessa forma teria as mãos livres e longe, muito longe, da odiosa - para ele - rotina administrativa, que estaria atribuída a sua disciplinada discípula. É um tipo de presidência dual, um "milagre" do salvador. Assim, ele poderia dispor de todo o seu tempo para fazer política do seu jeito, sempre usando a primeira pessoa do singular, como manda a tradição sebastianista.
Coagir ministros da Suprema Corte, atacar de forma vil seus adversários, desprezar a legislação eleitoral, tudo isso, como seria dito num botequim de São Bernardo, é "troco de pinga".
Ele continua achando que tudo pode. E vai seguir avançando e pisando na Constituição - que ele e seus companheiros do PT, é bom lembrar, votaram contra. E o delírio sebastianista segue crescendo, alimentado pelos salamaleques do grande capital (de olho sempre nos generosos empréstimos do BNDES), pelos títulos de doutor honoris causa (?) e, agora, até por um museu a ser construído na cracolândia paulistana louvando seus feitos.
E Ele (logo teremos de nos referir a Lula dessa forma) já disse que não admite que a oposição chegue ao poder em 2014. Falou que não vai deixar. Como se o Brasil fosse um brinquedo nas suas mãos. Mas não será?
 
MARCO ANTONIO VILLA, HISTORIADOR, É PROFESSOR DA , UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR)
 
 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Signo do Homem de Escorpião

 – Escorpiano, Eu...

O Escorpião normalmente costuma ser auto confiante, e nada que possam pensar a seu respeito o fará mudar. Ele não é exibido ou metido, apenas sabe do que é capaz, conhece suas virtudes e nenhuma critica vai faze-lo mudar de opinião a seu respeito. Por isso não estranhe quando ouvi-lo responder a um elogio seu com um “Eu já sabia”. Mas não carregue muito nas criticas ou ele pode levar para o lado pessoal e acabar virando seu inimigo.
Comece a trata-lo como um garoto bonzinho, inofensivo e acabará entrando numa fria! Ele não tem nada de ingênuo e meigo,e muitas vezes esconde um certo comportamento perverso que contribui para a má fama do escorpião. Deixa-lo sentir-se muito a vontade para fazer o que quiser, pode torna-lo insuportável! Nestas horas é bom dar uns gritos e mostrar que não está para brincadeiras! Sua fama de cruel se deve ao prazer que alguns sentem ao enfrentar e destruir suas vítimas sem sentir um pingo de remorso.
Mas ele nem sempre age a luz do dia enfrentado diretamente seu inimigo. Muitas vezes ele pode usar outras pessoas para conseguir o que deseja, mantendo-se imune a todo tipo de julgamento. Na verdade esta fama é um pouco exagerada, pois a maioria nem se mexe para prejudicar alguém. O que ele costuma ser é rancoroso e sincero no seu ódio! Se ele odeia, o mundo todo saberá! Pergunte a um homem de escorpião sobre o que acha de um desafeto e se prepare para ouvir as piores coisas do mundo! Ele não economizará em dizer os maiores impropérios seguidos de um verdadeiro desejo em ver esta pessoa arruinada!
Dá mesma maneira que não esquece uma mágoa e suas feridas demoram para cicatrizar, o escorpião jamais esquece um presente ou um benefício.Normalmente, sua forma de agradecer será através de uma boa recompensa. Ele é muito leal com os amigos e pode fazer sacrifícios por eles que não faria nem para seus parentes mais íntimos. Para defini-lo melhor, a frase “para os amigos tudo, para os inimigos a morte” serve perfeitamente! As mulheres que passarem por sua vida sempre terão um espaço em seu coração, por isso ele pode fazer algumas comparações que podem feri-la
. Esta é uma maneira que ele usa para dizer como deve se comportar e o que espera de você! Por exemplo, se disser que adora mulheres que sabem cozinhar, estará dizendo que você poderia se esforçar para aprender algo mais que fritar um ovo!Quando se trata de ciúmes é bom você agir com muita cautela.  Ele pode explodir em um acesso de raiva se achar que olhou para outro homem, mas odeia mulher ciumenta e não costuma aceitar que elas tenham o mesmo comportamento raivoso ou possessivo que ele.
Este signo simplesmente detesta que digam o que ele deve ou não fazer. Por isso, costumam ficar insuportáveis quando resolvem desafiar uma autoridade com provocações e desprezo. Querer controla-lo pode surtir o efeito contrário, e ele pode aparecer com uma nova namorada só para deixa-la arrasada na frente de todo mundo. O escorpião é muito possessivo em tudo que acredita ser seu, incluindo o sucesso na carreira.
Porém jamais vai deixar evidente esta sua crença, esperando o tempo certo para agir. Ele sabe ser paciente e confia em si para não ficar brigando por posições que ele sabe que merece mais que ninguém. Pensar que ele está acomodado com uma situação, é não conhece-lo a fundo.
Sua aparencia calma e tranquila esconde uma mente que não para de raciocinar na melhor maneira de conseguir chegar na frente dos outros concorrentes! Me mostre um escorpiano que saiba perder e eu lhe direi que esta louca! Eles odeiam perder e acham que o segundo lugar é tão ruim quanto o ultimo! Se é para entrar em um jogo que seja para ganhar. Mesmo que perca, não será por falta de esforço. O escorpião é um dos poucos signos que adora sonhar por que sabe que suas chances de tornar seus sonhos em realidade são maiores por causa de sua determinação.
Quando ele se apaixona. seu amor pode ser tão intenso que você pode achar que acabou de descobrir o homem da sua vida! Apesar de sua forma pouco delicada de expressar seu amor, seja através de seu ciúme ou de demonstrações explicitas em praça publica de que você é a mulher que ele ama, na maioria das vezes terá um homem dedicado, calmo, compreensível e muito companheiro. O escorpião costuma ficar tranquilo e meio anestesiado quando está amando uma mulher que lhe passa confiança.
Saber que não precisa ficar correndo atrás da amada para saber se ela está pulando a cerca, serve como um ótimo tranquilizante para alguém tão possessivo. Mesmo assim, é capaz dele te ligar várias vezes só para dizer o quanto te ama, e aproveitar para saber se está em casa, mesmo. O romance ao seu lado dificilmente será monótono. Quando ele ama, faz com toda sua força e não espera menos de você!  Ele não quer que o seu amor seja tão grande quanto o dele, apenas quer que o ame mais do que qualquer coisa!
Ele vai contar para todos os amigos que está apaixondo e em pouco tempo toda cidade saberá. Afinal, para que esconder a felicidade se pode se deliciar com a inveja de quem o ouve assoviando pelas ruas como o homem mais feliz do mundo? Sim, outra particularidade do escorpião é que ele adora ser invejado e sente-se feliz em saber que alguém pode perder o sono por causa disto!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O BRASIL É CARINHOSO?

 
Bom dia, dona Dilma!

Eu também assisti ao seu pronunciamento risonho e maternal na véspera do Dia das Mães.
Como cidadã da classe média, mãe, avó e bisavó, pagadora de impostos escorchantes
descontados na fonte no meu contracheque de professora aposentada da rede pública
mineira e em cada Nota Fiscal Avulsa de Produtora Rural, fiquei preocupada com o anúncio
do BRASIL CARINHOSO.
Brincando de mamãe Noel, dona Dilma? Em ano de eleição municipalista? Faça-me o favor,
senhora presidentA!  É preciso que o Brasil crie um mecanismo bastante severo de controle
dos impulsos eleitoreiros dos seus executivos (presidente da república, governador e prefeito)
para que as matracas de fazer voto sejam banidas da História do Brasil.
Setenta reais per capita para as famílias miseráveis que têm filhos entre 0 a 06 anos foi um
gesto bastante generoso que vai estimular o convívio familiar destas pessoas, porque elas irão,
com certeza, reunir sob o mesmo teto o maior número de dependentes para “engordar”
sua renda. Por outro lado mulheres e homens miseráveis irão correndo para a cama
produzir filhos de cinco em cinco anos. Este é, sem dúvida, um plano qüinqüenal engenhoso de estímulo à vagabundagem, claramente expresso nas diversas bolsas-esmola do governo do PT.
É muito fácil dar bom dia com chapéu alheio. É muito fácil fazer gracinha, jogar para a platéia.
É fácil e é um sintoma evidente de que se trabalha (que se governa, no seu caso) irresponsavelmente.
Não falo pelos outros, dona Dilma. Falo por mim. Não votei na senhora. Sou bastante madura,
  bastante politizada, marxista, sobrevivente da ditadura militar e radicalmente nacionalista.
Eu jamais votei nem votarei num petista, simplesmente porque a cartilha doutrinária do
PT é raivosa e burra. E o governo é paternalista, provedor, pragmático no mau sentido, e delirante.
Vocês são adeptos do “quanto pior, melhor”. São discricionários, praticantes do “bullying”
mais indecente da História do Brasil.
Em 1988 a Assembléia Nacional Constituinte, numa queda-de-braço espetacular,
legou ao Brasil uma Carta Magna bastante democrática e moderna. No seu Art. 5º está
escrito que todos são iguais perante a lei*.  Aí, quando o PT foi ao paraíso, ele completou
esta disposição, enfiando goela abaixo das camadas sociais pagadoras de imposto seu
 modus governandi a partir do qual todos são iguais perante a lei, menos os que são
diferentes: os beneficiários das cotas e das bolsas-esmola. A partir de vocês. Sr. Luís
Inácio e dona Dilma, negro é negro, pobre é pobre e miserável é miserável. E a Constituição
que vá para a pqp. Vocês selecionaram estes brasileiros e brasileiras, colocaram-nos no tronco,
como eu faço com o meu gado, e os marcaram com ferro quente, para não deixar dúvida
de que são mal-nascidos. Não fizeram propriamente uma exclusão, mas fizeram, com certeza,
publicamente, uma apartação étnica e social. E o PROUNI se transformou num balcão
de empréstimo pró escolas superiores particulares de qualidade bem duvidosa, convalidadas
pelo Ministério de Educação. Faculdades capengas, que estavam na UTI financeira e deveriam
ter sido fechadas a bem da moralidade, da ética e da saúde intelectual, empresarial, cultural
e política do País. A Câmara Federal endoidou?  O Senado endoidou? O STJ endoidou?
O ex-presidente e a atual presidentA endoidaram? Na década de 60 e 70 a gente lutou por uma
escola de qualidade, laica, gratuita e democrática. A senhora disse que estava lá, nesta trincheira,
se esqueceu disto, dona Dilma?  Oi, por favor, alguém pare o trem que eu quero descer!
Uma escola pública decente, realista, sintonizada com um País empreendedor, com uma
grade curricular objetiva, com professores bem remunerados, bem preparados, orgulhosos da
carreira, felizes, é disto que o Brasil precisa. Para ontem.  De ensino técnico, profissionalizante.
Para ontem. Nossa grade curricular é tão superficial e supérflua, que o aluno chega ao final do
ensino médio incapaz de conjugar um verbo, incapaz de localizar a oração principal de
um período composto por coordenação. Não sabe tabuada. Não sabe regra de três. Não sabe
calcular juros.  Não sabe o nome dos Estados nem de suas capitais. Em casa não sabe consertar
o ferro de passar roupa. Não é capaz de fritar um ovo. O estudante e a estudantA  brasileiros
só servem para prestar vestibular, para mais nada. E tomar bomba, o que é mais triste.
Nossos meninos e jovens lêem (quando lêem), mas não compreendem o que leram.  Estamos
na rabeira do mundo, dona Dilma. Acorde! Digo isto com conhecimento de causa porque
domino o assunto. Fui a vida toda professora regente da escola pública mineira, por opção
política e ideológica, apesar da humilhação a que Minas submete seus professores. A educação
de Minas é uma vergonha, a senhora é mineira (é?), sabe disto tanto quanto eu. Meu contracheque
confirma o que estou informando.
Seu presente para as mães miseráveis seria muito mais aplaudido se anunciasse apenas
duas decisões: um programa nacional de planejamento familiar a partir do seu exemplo,
como mãe de uma única filha, e uma escola de um turno só, de doze horas. Não sabe como
fazer isto? Eu ajudo. Releia Josué de Castro, A GEOGRAFIA DA FOME. Releia Anísio Teixeira.
Releia tudo de Darcy Ribeiro. Revisite os governos gaúcho e fluminense de seu meio-conterrâneo
e companheiro de PDT, Leonel Brizola. Convide o senador Cristovam Buarque para um café-amigo,
mesmo que a Casa Civil torça o nariz. Ele tem o mapa da mina.
A senhora se lembra dos CIEPs? É disto que o Brasil precisa. De escola em tempo integral,
igual para as crianças e adolescentes de todas as camadas, miseráveis ou milionárias. Escola com
quatro refeições diárias, escova de dente e banho. E aulas objetivas, evidentemente.  Com biblioteca,
auditório e natação. Com um jardim bem cuidado, sombreado, prazeroso. Com uma baita horta,
para aprendizado dos alunos e abastecimento da cantina. Escola adequada para os de zero a seis,
para estudantes de ensino fundamental e para os de ensino médio, em instalações individuais
para um máximo de quinhentos alunos por prédio. Escola no bairro, virando a esquina de casa.
De zero a dezessete anos. Dê um pulinho na Finlândia, dona Dilma. No aerolula  dá pra chegar
num piscar de olhos. Vá até lá ver como se gerencia a educação pública com responsabilidade
e resultado. Enquanto os finlandeses amam a escola, os brasileiros a depredam. Lá eles
permanecem. Aqui a evasão é exorbitante. Educação custa caro? Depende do ponto de
vista de quem analisa. Só que educação não é despesa. É investimento. E tem que ser
feita por qualquer gestor minimamente sério e minimamente inteligente. Povo educado ganha
mais, consome mais, come mais corretamente, adoece menos e recolhe mais imposto para as
burras dos  governos. Vale à pena investir mais em educação do que em caridade,
pelo menos assim penso eu, materialista convicta.
Antes que eu me esqueça e para ser bem clara: planejamento familiar não tem nada a ver
com controle de natalidade. Aliás, é a única medida capaz de evitar a legalização do controle
de natalidade, que é uma medida indesejável, apesar de alguns países precisarem recorrer a ela.
Uberlândia, inspirada na lei de Cascavel, Paraná, aprovou, em novembro de 1992, a lei do
planejamento familiar. Nossa cidade foi a segunda do Brasil a tomar esta iniciativa, antecipando-se
ao SUS. Eu, vereadora à época, fui a autora da mesma e declaro isto sem nenhuma vaidade,
apenas para a senhora saber com quem está falando.
Senhora PresidentA, mesmo não tendo votado na senhora, torço pelo sucesso do seu governo
como mulher e como cidadã. Mas a maior torcida é para que não lhe falte discernimento,
saúde nem coragem para empunhar o chicote e bater forte, se for preciso. A primeira chibatada é o
seu veto a este Código Florestal, que ainda está muito ruim, precisado de muito amadurecimento
e aprendizado. O planeta terra é muito mais importante do que o lucro do agronegócio e
a histeria da reforma agrária fajuta que vocês estão promovendo.  Sou  fazendeira e ao
mesmo tempo educadora ambiental. Exatamente por isto não perco a sensatez.  Deixe
o Congresso pensar um pouco mais, afinal, pensar não dói e eles estão em Brasília,
bem instalados e bem remunerados, para isto mesmo. E acautele-se durante o processo
eleitoral que se aproxima. Pega mal quando um político usa a máquina para beneficiar
seu partido e sua base aliada. Outros usaram? E daí? A senhora não é “os outros”.
A senhora á a senhora, eleita pelo povo brasileiro para ser a presidentA do Brasil,
e não a presidentA de um partidinho de aluguel, qualquer.
Se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. Sei disto, é claro. Assim mesmo
vou aconselhá-la a pedir desculpas às outras mães excluídas do seu presente:
as mães da classe média baixa, da classe média média, da classe média alta, e da
classe dominante, sabe por quê? Porque somos nós, com marido ou sem marido, que,
junto com os homens produtivos, geradores de empregos, pagadores de impostos,
sustentamos a carruagem milionária e a corte perdulária do seu governo tendencioso,
refém do PT e da base aliada oportunista e voraz.
A senhora, confinada no seu palácio, conhece ao vivo os beneficiários da Bolsa-família?
Os muitos que eu conheço se recusam a aceitar qualquer trabalho de carteira assinada,
por medo de perder o benefício. Estou firmemente convencida de que este novo programa,
BRASIL CARINHOSO, além de não solucionar o problema de ninguém, ainda tem
o condão de produzir uma casta inoperante, parasita social, sem qualificação profissional,
que não levará nosso País a lugar nenhum. E, o que é mais grave, com o excesso de
propaganda institucional feita incessantemente pelo governo petista na última
década, o Brasil está na mira dos desempregados do mundo inteiro, a maioria qualificada,
que entrarão por todas as portas e ocuparão todos os empregos disponíveis,
se contentando até mesmo com a informalidade. E aí os brasileiros e brasileiras vão
ficar chupando prego, entregues ao deus-dará, na ociosidade que os levará à delinqüência e às drogas.
Quem cala, consente. Eu não me calo. Aos setenta e quatro anos, o que eu mais queria
era poder envelhecer despreocupada, apesar da pancadaria de 1964. Isto não está sendo
possível. Apesar de ter lutado a vida toda para criar meus cinco filhos, de ter educado milhares
de alunos na rede pública, o País que eu vou legar aos meus descendentes ainda está
na estaca zero, com uma legislação que deu a todos a obrigação de votar e o direito
de votar e ser  votado, mas gostou da sacanagem de manter a maioria silenciosa no ostracismo social,
desprecisada  e desinteressada de enfrentar o desafio de lutar por um lugar ao sol, de ganhar o
pão com o suor do seu rosto. Sem dignidade, mas com um título de eleitor na mão,
pronto para depositar um voto na urna, a favor do político paizão/mãezona que lhe
dá alguma coisa. Dar o peixe, ao invés de ensinar a pescar, esta foi a escolha de vocês.
A senhora não pediu minha opinião, mas vai mandar a fatura para eu pagar. Vai.
Tomou esta decisão sem me consultar. Num país com taxa de crescimento industrial
abaixo de zero, eu, agropecuarista, burro-de-carga  brasileiro, me dou o direito de
pensar em voz alta e o dever de me colocar publicamente contra este cafuné na
cabeça dos miseráveis. Vocês não chegaram ao poder agora. Já faz nove anos, pense bem!
Torraram uma grana preta com o FOME ZERO, o bolsa-escola, o bolsa-família, o vale-gás,
as ONGs fajutas e outras esmolas que tais. Esta sangria nos cofres públicos não
salvou ninguém? Não refrescou niente?  Gostaria que a senhora me mandasse
o mapeamento do Brasil miserável e uma cópia dos estudos feitos para avaliar o quantitativo
de miseráveis apurado pelo Palácio do Planalto antes do anúncio do BRASIL CARINHOSO.
Quero fazer uma continha de multiplicar e outra de dividir, só para saber qual a
parte que me toca nesta chamada de capital.  Democracia é isto, minha cara. Transparência.
Não ofende. Não dói.
Ah, antes que eu me esqueça, a palavra certa é PRESIDENTE.
Não sou impertinente nem desrespeitosa, sou apenas professora de latim, francês e português.
Por favor, corrija esta informação.
Se eu mandar esta correspondência pelo correio, talvez ela pare na Casa Civil ou nas
mãos de algum assessor censor e a senhora nunca saberá que desagradou alguém
em algum lugar. Então vai pela internet. Com pessoas públicas a gente fala publicamente
para que alguém, ciente, discorde ou concorde. O contraditório é muito saudável.
Não gostei e desaprovo o BRASIL CARINHOSO. Até o nome me incomoda. R$2,00 (dois reais)
por dia para cada familiar de quem tem em casa uma criança de zero a seis anos,
é uma esmolinha bem insignificante, bem insultuosa, não é não, dona Dilma?
Carinho de presidentA da república do Brasil neste momento, no meu conceito, é uma
campanha institucional a favor da vasectomia e da laqueadura em quem já
produziu dois filhos. É mais creche institucional e laica. Mais escola pública e laica em
tempo integral com quatro refeições diárias. É professor dentro da sala de aula,
do laboratório, competente e bem remunerado. É ensino profissionalizante e
gente capacitada para o mercado de trabalho.
Eu podia vociferar contra os descalabros do poder público, fazer da corrupção
escandalosa o meu assunto para esta catilinária. Mas não. Prefiro me ocupar de algo
mais grave, muitíssimo mais grave, que é um desvio de conduta de líderes políticos
desonestos, chamado populismo, utilizado para destruir a dignidade da massa ignara.
Aliciar as classes sociais menos favorecidas é indecente e profundamente desonesto.
Eles são ingênuos, pobres de espírito, analfabetos, excluídos? Os miseráveis são.
Mas votam, como qualquer cidadão produtivo, pagador de impostos. Esta é a jogada. Suja.
A televisão mostra ininterruptamente imagens de desespero social. Neste momento
em todos os países, pobres, emergentes ou ricos, a população luta, grita, protesta,
mata, morre, reivindicando oportunidade de trabalho. Enquanto isto, aqui no País das
Maravilhas, a presidente risonha e ricamente produzida anuncia um programa de
estímulo à vagabundagem. Estamos na contramão da História, dona Dilma!
Pode ter certeza de que a senhora conseguiu agredir a inteligência da minoria de brasileiros
e brasileiras que mourejam dia após dia para sustentar a máquina extraviada do governo petista.
Último lembrete: a pobreza é uma conseqüência da esmola. Corta a esmola que a pobreza acaba,
como dois mais dois são quatro.
Não me leve a mal por este protesto público. Tenho obrigação de protestar, sabe por quê?
Porque, de cada delírio seu, quem paga a conta sou eu.
Atenciosamente,
Martha de Freitas Azevedo Pannunzio

sábado, 21 de abril de 2012

MELHORIAS POSSÍVEIS



MELHORIAS POSSÍVEIS

Imagine um mundo futuro com todas as melhorias possíveis e pelas quais muitos lutam. Sem aquecimento global, chuva ácida e um mecanismo automático para que uma brisa serena e molhada reviva as flores, o verde, o frescor da vida. Água em abundância, limpa, doce, cristalina, fresquinha, bem utilizada. Pronta pra beber, lavar e limpar os corpos as folhas, as flores, os bichos, a terra.
Os mais velhos cultivariam suas hortaliças, com nabos, batatas, frutas e legumes cultivados sob cânticos de felicidades causados por uma vida calma, longa e saudável. A beleza não se apagaria nunca, soberana e simples, como os corações açucarados e ávidos para fazerem o bem a qualquer ser vivo.
As crianças aprenderiam brincando, em campos abertos por entre matas, rios, cachoeiras, pássaros, borboletas. Encantamentos, delícias, histórias de amor, poesia, música, carinho, contato humano e muito afeto.Sem normas fixas, uniformes, o dever de casa que se assememelham à escravidão cotidiana, que, no mundo que temos, mais cedo ou mais tarde virá.
Os adolescentes aperfeiçariam sua formação por meio de jogos, de relações e atitudes pró-ativas sempreem favor do outro.
As escolas não seriam mais simples refeitórios. Pois todos comeriam onde estivessem, com as mãos, se lambuzando de sabores e delícias. Elas ensinariam aprendendo pelo e para o prazer, o amor à vida e à esperança de uma vida longa e cheia de paz e de alegria. A saúde reinaria inteira, solta e forte, sendo desnecessários os hospitais, os manicômios e seus profissionais da doença.
A paz reinaria. Seriam destruídos os presídios. Os casebres seriam opção e, não, necessidade de moradia, cercados de jardins, árvores, flores, cheiros da natureza que acalantariam sonos reparadores deixando as pessoas prontas para a vida sem hipocrisias. O que seria o mais importante.
Teríamos um mundo que não necessitaria de governos, seus gestores frios e cínicos e dos gastos estúpidos que ncessitam para as falcatruas comuns e criminosas. Sem os que roubam e mandam enforcar, crentes que o sangue dos inocentes lavaria seus corpos e suas almas.
Pois todos teriam consciência na teoria e na prática de até onde vai o seu direito, o seu dever e o seu patrimônio e poderíamos rasgar todas as leis e fazer uma grande fogueira com todas as normas. Um mundo sem ditadores, com o qual sonhamos e se tornará, um dia, bem breve, uma realidade.

Onde ninguém furtará, porque tudo será de todos e não haverá nem meio e nem necessidade. Mas haverá, sim, a ética do amor, do reconhecimento e da escuta que seriam natural a todos e subjacente a uma educação e uma cultura vindo do interior das pessoas, seus custumes, cultura, caráter, valores. Todos ensinarão a todos pelo simples ato de ser, de viver e de estar.
O sexo e o amor poderiam ser praticados em qualquer hora e lugar, pois seriam visto como respeito e a preservação da vida. Ato de querer bem e se deliciar, lindamente, com o prazer dos corpos. Que, por estarem juntos e justos, atritam-se produzindo a energia do belo, do íntimo, do inexplicável. Tal como hoje acontecem e são vistos a violência, o crime, a corrupção, a vergonha, o espancar, sangrar, tirar a vida, sem pudor, medo ou arrependimento.
Um cenário de luz e arte, horizonte infinito sem mágoas, dores, ressentimentos, desgraças, mortes repentinas, desespero e lágrimas.
E é por lutarem por este mundo que há de vir, que muitos são abandonados mortos e cruxificados, real ou simbolicamente. E tidos como loucos, são demitidos, deixados ao sabor amargo da própria sorte. O que é feito pelos que rezam, lêem a bíblia, dirigem escolas, órgãos públicos, empresas...
Mas que, no fundo, tutam pelo contrário de tudo isto.
Pois o que mais temem é a felicidade dos outros, dos que sofrem, têm fome, necessitam, imploram.
Precisamos combater esta cegueira, esta imbecilidade.
E só assim estaremos, de fato, contribuindo para a plena
realização dos planos de Deus.

Estamos, portanto, frente a esta longa caminhada que ainda espera pelo primeiro passo, mão estendida, sorriso de amor.
Um diia chegaremos lá. Mesmo que ainda tenhamos que esperar por milhares. Talvez, milhões de anos.

(Antonio da Costa Neto)

terça-feira, 17 de abril de 2012

MULHERES & ADMINISTRAÇÃO


De manhã cedo

essa senhora se conforma

bota a mesa, tira o pó,

lava a roupa seca os olhos

Ah! Como essa santa

não se esquece de pedir

pelas mulheres, pelos filhos, pelo pão

Depois sorri meio sem-graça

e abraça aquele homem,

aquele mundo

que a faz assim feliz

De tardezinha

essa menina se namora,

se enfeita, se decora,

sabe tudo, não faz mal

Ah! Como essa coisa é tão bonita

ser cantora, ser artista

isso tudo é muito bom

E chora tanto de prazer e de agonia

DE ALGUM DIA, QUALQUER DIA ENTENDER DE SER FELIZ

De madrugada

essa mulher faz tanto estrago,

tira a roupa, faz a cama,

vira a mesa, seca o bar

Ah! Como essa louca se esquece

quantos homens enlouquece

nessa boca, nesse chão

Depois parece que acha graça

e agradece ao destino aquilo tudo

que a faz tão infeliz

Essa menina, essa mulher, essa senhora

em quem esbarro a toda hora

num espelho casual

é feita de sombra e tanta luz

de tanta lama e tanta cruz

que acha tudo natural

(Essa mulher. Canção de Joyce e Ana Terra.

Lindamente gravada por Elis Regina)

MULHERES & ADMINISTRAÇÃO:

BABADOS E RENDAS CONSTRUINDO UM MUNDO MELHOR

Antonio da Costa Neto (*)

“As mulheres são artesãs

tecem sonhos com fios de lágrimas

e vidas em suas barrigas,

que ficam cheias de alegrias e esperanças infanfis.

Mulheres são feiticeiras, inventam

magias e encantamentos, acreditam

em príncipes e em finais felizes.

Elas trazem em si toda a sabedoria;

repartem o pão, o carinho e o próprio tempo.

Mulheres são seres especiais, são anjos próximos de Deus.

São mães e a mais perfeita tradução dos

mistérios e da eternidade da alma.”

(Bob Hirsch)

Resumo:

O texto trata do papel e da grande importância das mulheres e dos valores femininos na nova administração. Reflete sobre os desafios inerentes à superação das inúmeras crises da produção, da produtividade e da economia. Propõe soluções para uma ação administrativa mais feminina, voltada para a melhoria da qualidade de vida, em termos sustentáveis, abertos, belos; solidários e flexíveis conforme as exigências da economia globalizada do terceiro milênio.

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Todo um conjunto das novas exigências passa a se fazer presente com o advento do terceiro milênio. Assim, a mudança dos paradigmas que norteiam tanto as ciências, como as práticas sociais e os padrões de vida em sociedade requerem posições diferenciadas profundamente; algumas vezes, até revolucionárias. A imensa série de crises porque passa o planeta terra, neste marcante início de século e de milênio já é, por si, um forte sintoma desta necessidade de transformações em todos os âmbitos e segmentos. O que envolve o viver; o produzir; o conviver; o festejar; o desfrutar e até o morrer. Tudo anda inseparavelmente ligado, suplicando por novas fontes do fazer e do gerenciar; onde a mulher passa a ser um personagem da mais absoluta importância e a função por ela exercida, muito mais que indispensável.

___________________

(*) Administrador, Mestre em Políticas Educacionais. Consultor em Programas de Gerenciamento; Educação; Pesquisas e Mudanças de Paradigmas. É autor dos livros: Paradigmas em educação no novo milênio; Escolas & Hospícios: ensaio sobre a educação e a construção da loucura; Poemas para os anjos da terra e de vários artigos publicados em jornais e revistas especializadas. Professor de OS&M e Programas de Gestão da Faculdade Paulo Martins em Brasília – DF

E-mail: antoniocneto@terra.com.br

Não só a função da mulher, mas também o seu valor e o efetivo reconhecimento; enquanto detentora do poder de equalizar as transformações tão necessárias para que o mundo seja belo, agradável, melhor, as dimensões sustentáveis e a vida prazerosa em todos os sentidos. O que, em síntese é o objetivo de estarmos vivos e em perene desafio.

Até aqui, o paradigma de predomínio do branco, do macho e do capital tem dado às ciências e suas práticas, um caráter absolutamente sexista e com uma tendência masculinizada; capitalista, a serviço exclusivo dos interesses do capital. É o fruto do superado modelo cartesiano de pensar; de ver; de crer, de fazer as coisas, enfim, de administrá-las, concretizando assim as suas grandes metas.

Daí, o resultado de um mundo violento; da degradação da natureza; o já preocupante fim da água, da fauna, da flora, enfim, dos recursos naturais e de uma qualidade de vida em termos no mínimo aceitáveis. A sociedade moderna, apesar de tudo, continua sendo demasiado machista. A ideologia do “falo” ainda constitui um dos atrasos mais gritantes que assola as várias dimensões da vida. Se a mulher é desvalorizada, colocada no segundo plano; como um cidadão de menor grandeza, é evidente que os valores éticos, estéticos, humanos e afetivos que são mais vinculados à natureza feminina, ficam, da mesma forma; secundarizados, em relação à força, à produtividade, à técnica fria; a produção e o lucro.

Estes são, na verdade, padrões masculinos; auto-afirmativos; voltados para resultados mensuráveis e objetivos; que desencadeiam as realizações inerentes aos interesses de um capitalismo perverso; profundamente atrasado e centralizador. Congregando, a um só tempo, ganhos enormes, como também, desgastes e conflitos insustentáveis. Tendo por conseqüências, a fome, a miséria, a opressão, a violência e toda uma realidade que tem feito decair, em níveis assustadores, não só a qualidade de vida humana em sociedade, como também as suas perspectivas futuras.

Fritjof Capra (1 980), faz uma reflexão muito profunda quando relata que é evidente que o comportamento agressivo, competitivo, se fosse absolutamente o único, tornaria a vida impossível. Mesmo os indivíduos mais ambiciosos, mais orientados para a realização de determinadas metas, necessitam de apoio compreensivo, de contato humano; de momentos de espontaneidade e descontração; amor, carinho e afeto.

Em nossa cultura, espera-se, e, com freqüência, força-se a mulher a satisfazer essas necessidades. Assim, secretárias, recepcionistas, aeromoças, enfermeiras, donas-de-casa; executam as tarefas que tornam a vida mais confortável e criam a atmosfera para que os competidores possam triunfar. Elas alegram seus patrões e fazem cafezinhos para eles; ajudam a apaziguar os conflitos nos escritórios; são as primeiras a receber os visitantes e a entretê-los com conversas amenas. Nos consultórios médicos e hospitais, são as mulheres que estabelecem os primeiros contatos com os pacientes que iniciam o processo de cura.

Nos departamentos de física, as mulheres fazem chá e servem bolinhos, em torno dos quais os homens discutem suas teorias. Todos estes serviços envolvem as atividades integrativas, humanísticas e processuais, e, como têm um status inferior em nosso sistema de valores, ao das atividades auto-afirmativas, lucrativas, técnicas e de resultados; quem as desempenha recebe salários e condições de trabalho menores. Na verdade, muitas destas mulheres nem sequer são pagas, como as donas-de-casa e as mães.

Ao meu ver, esta citação reflete o preconceito machista contra a figura da mulher. Que, muitas vezes, ela própria tenta mascarar e ignorar subjugando-se ao poder do homem; ao poder do macho. Isto é profundamente triste e devastador do ponto de vista da necessária evolução da humanidade frente aos rigores do mundo e os desgastes a que vêm sido submetidas as pessoas. Pela sordidez de uma onda tecnológica fria sem a inclusão da ética; de uma economia iníqua e de uma singular inversão de valores que se mantém intocável ao longo dos séculos e, diria eu, até dos milênios da existência histórica do ser humano mundo (Costa Neto, 2 003).

Creio que há muito já tenha chegado a hora da mulher assumir o seu papel e o seu poder no gerenciamento das instituições; das empresas, do governo, do terceiro setor. Mas fazê-lo por uma abordagem própria. Agregando doçura; beleza cooperação, a criatividade, a estética, a solidariedade, a poesia. Enfim, trabalhando com a emoção e o sentimento femininos - e não se tornando os verdadeiros “machos de saias”- como a vasta maioria das mulheres que assume o poder sobre os demais, conforme lembra-nos Muraro (1 991), para que assim, as tecnologias se abrandam, se tornem mais doces, os valores humanos aflorem acima dos do capital e do estigma do “ter” sobre o “ ser” a todo o custo.

Ou seja, o papel da mulher, sendo definitivo para que possamos usufruir novas conjunturas e não, apenas de estruturas de superfície, que se diferenciam apenas pragmaticamente, mantendo a essência das coisas e dos fatos; dentro dos estereótipos de uma ideologia há muito ultrapassada e perpetuadora de um caos insustentável em todas as dimensões e sistemas do chamado mundo contemporâneo.

Nos campos da administração, da política, da economia, das ciências da tecnologia e da comunicação, geralmente estrelada pelos machos “intelectualmente brilhantes” e também na área da ação social, da educação, das artes e muitas outras, temos a presença marcante e histórica de várias mulheres corajosas, ousadas e guerreiras que têm conseguido apresentar diferenciais respeitáveis como os de Hazel Handerson com suas avassaladoras idéias na política e na economia; Marilyn Ferguson, na constituição de verdadeiras redes humanas mundiais para a reorganização do planeta, e, ainda: Clotilde Tavares; Ir. Dulce; Evita Perón; Maria Bonita; Chiquinha Gonzaga; Anna Nery; Mãe Menininha do Gantois; Maria da Conceição Tavares; Frida Kalo; Nélida Pinõn; Ana Miranda; Hilda Hirst; Anaid Beiris; Lota Macedo Soares; Cecília Meireles; Salomé dos Doces; Leila Diniz; Elizabeth Bishop; Florbela Spanca; Patrícia Galvão; Virgínia Vitorino; Olga Benário; Margarida Maria Alves; Nízia Floresta; Violeta Parra; Nilze da Silveira; Heloisa Helena; Rose Marie Muraro; Marilena Chauí; Indira Gandhi; Benazir Butho; Golda Mehir; Madre Teresa de Calcutá; Dulcina de Moraes; Simone de Bonvoir; Elis Regina; Marina Silva; Renée Weber; Oprah Winfrey; Anita Garibaldi e muitas outras.

Elas têm contribuído enormemente para este novo enfoque que traz o potencial da verdadeira e nova essência, além das meras aparências das formas meramente organizadas. Mas, ao contrário, advogam a real implementação de novos valores que integrem a solidariedade humana, a empatia, o respeito à alteridade, a “feminilização” consciente e eficiente das ciências e suas práticas .E não mais aquelas voltadas para a manutenção dos interesses da parte da humanidade que detém o poder e a riqueza. Mas construindo uma ciência viva e vívida que sirva a todos. Que agregue melhorias concretas num sentido mais pleno e profundo possível.

Em sua clássica obra A conspiração aquariana: transformações pessoais e institucionais nos anos 80, a já citada autora, pesquisadora e jornalista Marilyn Ferguson nos relata com singular sabedoria que as mulheres sustentam a metade do céu.

Elas representam a maior força única para a renovação política em uma civilização completamente desequilibrada como a nossa. Assim, como os indivíduos são enriquecidos pelo desenvolvimento de ambos os lados do eu: o masculino e o feminino; a sociedade como um todo está se beneficiando amplamente com a mudança do significativo poder entre ambos os gêneros.

Ferguson continua: o poder da mulher é o barril de pólvora de nossos dias. À medida que ela aumenta sua influência na administração, na economia; no governo e em outras áreas de grande importância, sua perspectiva ultrapassará os limites do velho paradigma. As mulheres são mais flexíveis e mais voláteis que os homens, têm consentimento cultural para serem mais intuitivas, sensíveis e sentimentais, mais voltadas para o sentido da proteção e da conservação em seu aspecto mais fluido.

As mulheres mudam as regras do processo de decisão ao administrarem, são muito mais capazes de “esticar as negociações”. Ao invés de exigirem “a fatia do bolo” que os homens produziram com seus instrumentos negligentes e voltados para ganhar a qualquer custo, elas apresentam “uma nova receita”, mais integrativa, mutável e com lacunas a serem preenchidas pelos consumidores deste “novo bolo”. Igualmente, elas facilitam a pluralidade de idéias e a construção coletiva de regras, normas e valores. Também como mães, elas procuram ‘nichos’ de proteção para “seus filhotes”, e, assim, vão conduzindo o mundo para uma perene sustentabilidade, gerando processos de uma vida melhor e mais intensa em todos os sentidos em todos os momentos.

As mulheres possuem um poder mais integrador e tendem a acabar com o fenômeno da estreita definição de papéis e funções entre os gêneros humanos. Hoje em dia, até mesmo, nas lides domésticas, muito por força da coerção feminina, boa parte dos homens enfrenta o tanque, o fogão, cuida das crianças e da casa, da decoração, da limpeza, gerando mais harmonia, prazer e vigor na vida em família. Assim, numa similaridade antropológica dos fenômenos, o mesmo se dá nas outras instâncias onde as mulheres podem exercer alguma forma de poder nas decisões. É a nova dimensão do ‘ecofeminismo’; um fenômeno mundial que deixa claro o grande salto evolutivo das mulheres - diferenciado da evolução dos homens - que especialmente, a partir dos meados da década de sessenta vem ocorrendo em todo o mundo (Capra, 2 003).

Já há muito, somos sabedores de grupos de mulheres; associações femininas profissionais, de exigência de direitos de igualdade entre os gêneros, de exercício autônomo da vida sexual; espiritual e artística; independência, sagacidade; autonomia; dentre outras. O que passa pela exigência de novas e profundas éticas de organização, canalizando uma excepcional qualidade de gerenciamento. Com base na técnica associada à intuição, à malícia, à percepção aguçada de fatos e fenômenos que passariam despercebidos para a grande maioria dos homens.

Tavares (l 986) defende a idéia da significativa capacidade da mulher para simplificar estruturas burocráticas, rotinas, fluxos; planejamento, pois estão menos preocupadas com o poder pelo poder, pura e simplesmente. Elas são mais autênticas, mais verdadeiras, e, portanto, mais sensíveis, eficientes e criativas neste sentido.

Anseiam muito mais pela funcionalidade legítima, pela dinamicidade das respostas e pela efetividade da ação gerenciada, seja, de produtos ou de serviços. Algumas mulheres precisam se libertar dos estereótipos do modelo masculino de liderança, que é apenas manipulador do poder. Criando muletas eternas que ainda prejudicam boa parte daquelas que não se autorizam a ousar, a serem independentes, a implementarem os próprios valores. Este problema ainda existe, é claro, mas estamos muito mais perto de sua solução, diferente do caso da grande maioria dos homens que ainda caminha no sentido inverso; buscando valores antagônicos, fruto da cegueira conceitual e da crise de percepção das formas masculinizadas de gerir processos de gestão nos vários segmentos em que tais aspectos possam ser compreendidos e implementados.

A ascensão da mulher para assumir a administração é considerada como uma inefável fonte de esperança para o mundo que caminha para o desastre, mas ainda não é demasiadamente tarde para descobrirmos a força do amor, da sensibilidade, da cooperação e da beleza, para que o mundo seja melhor e mais feliz, no que as mulheres têm uma missão da mais alta importância. Mais coração do que razão; mais babados e rendas do que fardas e espadas. Mais sorrisos abertos e formas de carinho do que ordens impostas, dedos em riste, determinações rígidas, concentração de poder.

O que precisamos é de nos deliciar, comungando com a natureza e não de lutarmos cegamente contra ela, destruindo-a, em função da ganância e da desenfreada competição; do enriquecimento material indefinido; frutos de um modelo absolutamente ultrapassado de administração; uma espécie de “Clube do Bolinha”; onde a mulher não entra e não tem o poder de nada definir ou alterar. Ficando igualmente do lado de fora, a fina inteligência; a sensibilidade; a sagacidade crítica; a sábia intuição feminina, a beleza, a poesia, a arte, agregadoras de amor, comunhão e bondade, eficiência, sutileza; um terceiro caminho de humanização da técnica e do controle organizacional, com vistas à sustentabilidade da administração, do planejamento, dos processos de gestão. Para que a vida seja preservada com dignidade, alegria e bem-estar; esta sim, a grande meta da boa organicidade, de uma administração que possa ser, de fato, reconhecida por mérito; respeitada, aplaudida e merecedora desta denominação.

Administrar bem é ser um excepcional artista. É enfrentar o palco sem medo do foco, da ousadia, da criação; da sagacidade exigente da platéia; dos novos valores e da possibilidade de segmentos para uma outra história. Onde a organização, segundo Costa Neto(2 004), o planejamento, o poder, a empresa, a economia; a política; enfim, a administração tenham uma dignidade diferente e prestem um outro serviço: pela crença, pelos valores, pela vida, e, por fim, para que a humanidade possa ter paz, ar respirável e alegria de viver em seu sentido pleno, com um equilíbrio saudável em todas as dimensões.

George Stratton (l 976) descreveu a superioridade do cérebro feminino em relação ao masculino na percepção do todo; a esperança, a criatividade que salvariam o mundo quando as mulheres tomassem o lugar que realmente lhes cabe, contribuindo na condução do destino da vida na terra. Segundo o autor, o gênero masculino necessita do âmago feminino para administrar com eficiência e eficácia. As mulheres são mais capazes de exercer a liderança com a necessária empatia, integração e reconciliação, uma capacidade de espera, uma excelente proposta para o futuro, frente às tendências que ora desencadeiam como frutos da chamada nova ordem mundial.

De uma maneira mais ampla, as mulheres são mais propensas a um maior desenvolvimento do hemisfério direito do cérebro, que em harmonia com o hemisfério esquerdo, de fundo lógico, tornam-se mais sensíveis, abertas, críticas e perceptivas. Conduzindo a intuição de uma forma mais inteligente e produtiva. O problema reside na concepção “sexista” da maioria dos homens, e também de muitas mulheres que tendem a menosprezar as decisões e as opiniões femininas; por razões muito mais de vaidade, cultura machista e uma ideologia recessiva; fruto de um histórico patriarcal que comanda nossos valores e formas de enxergar a vida e seus dilemas. É apenas uma questão de percepções rasas, e não, de superioridades ou inferioridades de seres ou gêneros (Oliveira, 2 002).

De Gregori (2 000) segue a mesma linha de raciocínio divulgando a concepção cultural da família e da escola que querem, a qualquer custo, “construir mulheres” dependentes e inseguras, para que sirvam aos interesses de seus “pretensos donos e senhores”- numa brutal coisificação e mercantilização da mulher - e sem questionar, ou fazer valer suas vontades e seus direitos. Submetendo-se, sem que, pelo menos o saibam à condição de “mulher-objeto”, uma ótica muito criticada pelos movimentos feministas e pelas organizações mais sensíveis das décadas de sessenta; setenta e até meados dos anos oitenta; inclusive, como a queima pública de “soutiens”, em manifestações de protestos revolucionários das mulheres, muito difundidos pela mídia internacional.

Porque toda mudança política que diz respeito à mulher ao seu poder; ou ao seu prazer envolve tantas polêmicas? Como, por exemplo, o uso dos anticonceptivos e da camisinha feminina; a causa do aborto? A liberdade de expressão, do direito de votar e ser votada; o tabu da virgindade; da igualdade de direitos e condições de trabalho; salários e muitas outras?

A educação da mulher nas nossas sociedades é feita a partir do estereótipo da submissão, da ingenuidade e da subserviência, com o que fica muito mais fácil para a maioria ambiciosa dos homens galgar espaços; conquistar e gozar, sozinhos, dos méritos advindos destas mesmas cobiças. Embora estas possam ser conseguidas das formas mais injustas, escusas e até simbólica ou concretamente criminosas (Costa Neto, 2 003).

Nas escolas de ensino infantil e fundamental, onde se articula o alicerce da formação intelectual e personalísticas, por estratégia, quase sempre, só existem mulheres trabalhando. Para que, por formas instintivas, embora inconscientes, “os machinhos” se encantem; gostem mais da escola; tenham mais prazer em estudar e sejam, é claro, mais bem avaliados e com méritos melhor reconhecidos que as meninas; pela “intencional ingenuidade freudiana das professoras. E, por uma manobra draconiana de já colocar as mulheres num segundo plano: como “burrinhas”, preguiçosas, indolentes. É, na verdade, um plano frio e abusivo, contra a qual todos nós, homens e mulheres; precisamos lutar cegamente, se quisermos, de fato, conquistarmos melhores dias para todos..

As técnicas masculinizadas e o modelo cartesiano de organização estão absolutamente superados e falidos. Necessitam; portanto; de propostas arraigadas e novas que agreguem comunhão, amor, bondade e solidariedade humana principalmente em relação aos que mais precisam, aos que sofrem, para o quê, a mulher possui muito maior competência e sensibilidade. Favorecendo, de fato, à grande massa dos oprimidos, marginalizados e esquecidos que passam fome e morrem nas esquinas, debaixo dos viadutos e nas filas dos hospitais públicos horrendamente desumanos. Administrar com a verdadeira sensibilidade, visão crítica e compromisso político, o que, culturalmente é mais fácil para a mulher, talvez seja a grande sabedoria que transcenderá aos sofrimentos do mundo, buscando a evolutiva superação do caos (Henderson, l 998).

Estamos todos construindo em conjunto uma “nova linguagem” de qualidade de vida, o que, por certo, envolve novos valores, crenças e ações, para além dos reduzidos papéis masculinos de verdadeiras polícias do pensamento; de redutores da liberdade, da criatividade, da autonomia. Induzindo, portanto, ao medo de um novo poder de criar e sistematizar soluções viáveis e que dêem respostas no mínimo satisfatórias. No fim, tudo se reduz ao tremendo temor e insegurança que o homem, na verdade, tem, de que a mulher se utilize do seu infinito poder de persuadir, de liderar, com sagacidade e criatividade; alcançando, de fato, o que lhe é culturalmente negado durante toda a história das civilizações: o justo direito de ser ela mesma, com direitos, liberdades e prazeres iguais.

É certo que as velhas estruturas geram um tremendo progresso material e tecnológico, como também, criam problemas até muito maiores. Pois tudo é realizado com uma visão bastante fragmentária; em que não se harmonizam causas e efeitos. A abordagem masculina de gestão para o progresso material e o lucro ilimitado a qualquer custo, produz muito e destrói mais ainda, com suas ações maquiavélicas e egoístas. Longe de concepções e equipes com grupos igualitários e pacíficos, o que requer a profunda liderança feminina, para que a história da evolução das organizações mude este relato de tendências incoerentes e, diríamos, até mentiroso em alto grau.

Faz-se necessário, utilizar a crescente virtuosidade da tecnologia, colocando-a mais a serviço da vida e da felicidade humana; evitando os tão comuns cenários de aniquilação em volta de todo o mundo civilizado, as ameaças lentas e insidiosas de um capitalismo perverso e profundamente opressor, que apenas será combatido pela tenaz inteligência feminina, caso ela seja muito bem aproveitada, de forma assertiva e oportuna.

É preciso, em nossas administrações contemporâneas, colocar um ponto final nos conflitos civis e étnicos, geradores de todos os tipos de violência nas ruas, nos campos, nos estaleiros de nossas indústrias, nos ambientes de trabalho e produção, nas cidades e nas famílias. Necessário se faz que se integrem igualitariamente os gêneros humanos numa ação prática de equilíbrio, sem os mecanismos enganadores. Mas gerando participação, autonomia e poder de decisões em todos os níveis, para mulheres e homens. Não, em contrapartida de competição, mas integrando valores, vontades, ideologias e competências reais e os sonhos de todos.

O paradigma violento da competição-conflito, dominação-submissão; perdas e ganhos, precisa ser rapidamente substituído por concepções e princípios que envolvam novas abordagens e avanços revolucionários que não sairão jamais dos vazios baús das idéias masculinas, mas buscando os sinais de transformação pelas delicadas mãos das mulheres. Conjugando razão e coração com lides mais amorosas, não abandonando, é claro, a técnica; a produtividade; a provisão de lucros eqüitativos e que garantam a sobrevivência calma, lúcida e confortável para todos. Afinal, não estamos falando de filantropias gratuitas, mas de administrações eficientes num mundo gerido pelo poder inquestionável do capital.

É chegado tempo do fim da vitória do capitalismo opressor, dos mercados competitivos e das crescentes crises advindas do eterno “caso de amor” com a moderna tecnologia e seus perversos impactos sobre a vida, a paz, a harmonia; o meio-ambiente.

As mulheres, por certo, não mais se utilizarão desta “poção nociva” da evolução tecnológica, da exploração comercial dos povos do planeta e dos seus recursos naturais renováveis ou não. Mas, sem dúvida, farão uma administração calcada em recursos e potenciais humanos regulamentadores de nossas sociedades, de nós mesmos, e, de nossas vidas presentes e futuras. Resguardando, inclusive as novas gerações de toda esta sorte de sofrimentos e agruras advindas deste tipo absurdo de irresponsabilidade social; uma espécie de crime coletivo, invisível, que vem sendo lentamente cometido contra a humanidade inteira, há milênios.

A busca de formas mais cooperativas, flexíveis, amenas, doces, belas e mais justas de desenvolvimento virá da opção feminina ao decidir com critérios inovadores próprios e com benéficos a toda a sociedade civil emergente. Promovendo a organização de um tempo nosso, único e autêntico, calcada na diversidade de todas as espécies vivas, como verdadeiras fontes de riquezas em favor da vida e seus encantos, é do que nos fala Costa Neto(l 986).

Uma administração para a plena sustentabilidade dos meios integrais de vida, no exato sentido e força da expressão, deverá criar novas sociedades, outras formas de empreendimentos, de instituições e parcerias onde todos ganhem, colocando fim nas organizações com o foco único no dinheiro e no lucro, na maioria das vezes, abusivo, como um “cassino global”, mas com novos indicadores da economia e do progresso verdadeiro, multidimensional e para todos.Com uma olhada por entre os véus dos levantamentos estatísticos, das planilhas e dos diagnósticos feitos em computadores sofisticados e prontamente capazes de legitimar a fome e a miséria, como também, socializá-las com o maior cinismo.

Henderson (l 996) nos lembra que o Produto Nacional Bruto; o Produto Interno Bruto e outras brutalidades deverão ser rapidamente substituídos por novos indicadores do desenvolvimento humano e da importância da difusão das democracias em todo o mundo. Dando ênfase à satisfação das necessidades urgentes do aperfeiçoamento dos sistemas de tomadas de decisão; que passam a ser democráticos, coletivos e com grandes inovações sociais e, ao mesmo tempo, tecnológicas. Construindo futuros com arquiteturas mais adequadas para que o Século XXI seja realmente mais humano, mais profícuo de felicidades e com muitos motivos para que a humanidade possa comemorar.

Cabe às mulheres a criação de sistemas administrativos com novas concepções, hábitos, pensamentos e paradigmas; como ferramentas mentais mais harmônicas, originais, criativas, abertas, integradas e flexíveis, utilizando concepções antagônicas aos modelos que vêm sendo praticados até os nossos dias, promovendo transformações muito profundas, necessárias e inadiáveis.

Só assim poderemos ver surgir os maravilhosos paradoxos da existência humana e os mistérios profundamente belos como processo e resultado de uma grande, e, quase divina criação em todo o universo conhecido e dentro de nós mesmos, para muito além de planos, tabelas, registros contábeis, lucros e relatórios de caixa de finais de balanços.

A organicidade carece de vida nova, de crenças, de valores humanos que sintetizem a profunda felicidade do viver plenamente todos os momentos, cumprindo assim a função que justifica a vida do ser humano no mundo.O grande drama da organização requer uma nova engenhosidade mental, responsabilidade, sabedoria, sistemas de crenças que até o momento se mostraram disfuncionais e que requerem uma outra atmosfera de emoção e ternura como valores fundamentais para que as organizações sobrevivam e colaborem com o plano maior da dignidade em todos os sentidos.

Finalmente, administração com bases femininas terá seu foco central nas políticas públicas e individuais que possibilitem o planejamento e a inovação em produtos e serviços com vistas ao respeito, aos desejos, ritmos, estilos, personalidades das pessoas que receberão as benesses desta ação administrativa específica. Questionando sempre o arcabouço cada vez mais estreito da economia convencional e destruidora de um mundo minimamente saudável, abandonando o falso universalismo e a visão simplista da natureza humana. Construindo um futuro multidiversificado e com matizes de um perfeito arco-íris, num tempo em que já é quase tarde demais para a compreensão destes acontecimentos, fatores e necessidades mais que urgentes.

Pelas mulheres serão buscadas, certamente, ondas luminosas para remodelar a produção e o potencial para crescer e aprender sempre com mais otimismo em relação à natureza humana e sua inteira complexidade. Criando ambientes desafiadores e estilos de vida inteiramente a favor da felicidade das espécies; sem quaisquer distinções étnicas, raciais, geográficas, sexuais, culturais ou políticas. Proporcionando, por assim dizer, uma “grande angular”, criando hoje as realidades de amanhã, sendo previstas e esperadas como sonhos, esperanças e alegrias; concretizando utopias e capacidades para a implementação das mudanças tão necessárias. Dando à organicidade um tom profundo de ecologia, como ciência profunda, rica e inquestionável. E, por falar em ecologia, o que é, em síntese, harmonia e felicidade; lembro-me de uma secular sabedoria chinesa, segundo a qual; “todas as mulheres são árvores, e, juntas, que linda floresta elas formam”.


Referências Bibliográficas


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