sábado, 29 de dezembro de 2007

BENAZIR






Antes de mais nada preciso ter a honestidade de confessar a minha mais absoluta ignorância sobre a política do Paquistão, suas interferências, fatores, aspectos e jogos de poder. Mas desde que o nosso Chico César compôs e gravou aquela música que diz: "...não aponte o dedo para Benazir Buttho, seu puto, ela está de luto pela morte do pai..." eu resolvi me apaixonar por ela.

Sem dúvida, uma mulher ousada, corajosa, guerreira, bela, arrogante, altiva, sensual, perigosamente gostosa. Sua imagem exótica e colorida lembra-nos jardins de tulipas orvalhadas em manhãs de primavera. Apaixonada pelo pai, como bem dita a vã psicologia desde os tempos de Freud. Um exemplo, sem dúvida, de garra, de luta, de força para todos os seres humanos. Principalmente para todas as mulheres do mundo, das quais foi e é um exemplar digno de nota.
Benazir se escreve com "B" de beleza. Bonita, elegante, e, certamente, perfumada e carismática, inimitável e única. Sempre teve sua pesada batalha, dores, sofrimento, perdas irreparáveis pela democracia, a política, a liberdade, os direitos do seu povo. Mas até que ponto tudo isto é verdade e que tipo de verdade, se assim o for? Sei que foi uma grande estudiosa de direito, ciência política, filosofia. Certamente, uma mulher extraordinária. Mas calada para sempre depois de um brutal atentado cometido pelos velhos decréptos, asmáticos e horrorosos que competiam com ela. A vaidade humana é o maior dos terrores e dos males que precisa ser combatido com todas as forças, antes que sucumbamos todos.
Benazir foi tudo. Idolatrada, odiada, acusada de graves atos de corrupção, se auto-exilou, vivendo seus últimos anos longe de sua terra e de sua gente. Rica e desejosa do poder devia ter seus muitos defeitos. Primeiro porque era gente e a raça humana não presta. Segundo porque tinha sede de poder e deve ter sido uma competidora sagaz. Um soldado cheio de armaduras. Tenho amigos inteligentes que dizem que ela se foi em boa hora, outros dizem até que já foi um tanto tarde demais. Não sei.
Como já disse, sou um ignorante sobre suas marcas e ações políticas, mas um admirador do seu carisma, imagem, gana, tenacidade, ousadia, sensibilidade, beleza. Eu, por razões intelectuais deveria fazer uma pesquisa para que pudesse melhor fundamentar meus escritos. Mas neste caso, a pressa da homenagem é bem maior do que a do conhecimento. Já sendo um pouco tardia esta constatação. Não importa mais. A não ser transformar o sangue derramado em poesias e bênçãos para nossos corações. Seja como for, que brilhe eternamente como uma estrela azul no firmamento infinito como a sua vontade e os mistérios escondidos na luz destes olhos enormes, vibrantes e inquietos.
De qualquer forma, boa parte do povo paquistanez chora e sofre com a morte de Benazir Buttho. E eu também.




Antonio da Costa Neto

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Deus escolhe as mães


...Tente imaginar Deus pairando sobre a Terra e selecionando as mães com grande cuidado e deliberação. Enquanto observa, Ele instrui ao seu anjo a tomar notas em um livro gigantesco:
- "Beth Arminstrong, filho, santo protetor, Matheus
- Marjorie Forest, filha, santa protetora, Cecília.
- Carrie Rudledge, gêmeos, santo protetor... Dê a ela São Geraldo. Ele está acostumado a ouvir impropérios."
Finalmente, Ele passa um nome ao anjo e sorri: - "Dê a ela um filho cego."
O anjo fica curioso: - "Por que, Senhor? Ela é tão feliz."
- "Exatamente por isso", responde Deus. - "Como eu poderia dar uma criança com deficiência a uma mãe que não soubesse rir? Isso seria uma crueldade."
- "Mas ela tem paciência?" Pergunta o anjo.
- "Eu não quero que ela tenha paciência demais, porque é justamente a paciência que ela vai aprender a desenvolver. Quando o choque e o ressentimento passarem, ela vai saber cuidar da situação."
- "Mas Senhor, acho que ela nem acredita na sua existência."
Deus sorri. - "Isto não importa. Eu posso dar um jeito nisso. Esta mulher é perfeita. Ela tem a dose certa de egoísmo."
O anjo se surpreende: - "Egoísmo? Mas isso é uma virtude?"
Deus confirma com um movimento de cabeça. - "Se ela não conseguir se separar da criança de vez enquando, para tratar de si mesma, não vai sobreviver. Além disso, se por um excesso de dedicação ela superproteger o menino, criará um ser fragilizado. Sim, aqui está a mulher que eu abençoarei com um filho imperfeito.
Ela vai levar tempo para descobrir as bênçãos que isto lhe trará. Mas aos poucos, ela deixará de achar - como a maioria das pessoas - que os progressos e as conquistas são comuns e naturais e passará a valorizá-los como uma fonte de alegria. Ela irá vibrar a cada pequeno passo à frente.
Quando o seu filho disser 'Mamãe' pela primeira vez, ela vai sentir que estará assistindo a um milagre e ficará maravilhada! E já pensou a emoção quando ele reconhecer um objeto com o toque das mãos. Quando ela precisar de descrever uma árvovre florida - um ipê amarelo bem carregado ao pôr do sol - ao seu filho cego? Ela os verá como muito poucas criaturas jamais viram as minhas criações. E os perfumes da natureza inebriarão o seu olfato quando ela perceber a importância que têm para seu filho."
- "Vou permitir a ela ver todas as coisas que eu vejo - ignorância, crueldade, preconceito - e dar oportunidade para que as supere. Ela nunca ficará sozinha. Eu não só estarei a seu lado em todos os minutos de cada dia de sua vida, como me manifestarei em cada gesto de coragem e amor que esta mulher tiver..."
- "E qual será o santo protetor?" Pergunta o anjo, com a caneta suspensa no ar...
Deus sorri. - "Um espelho bastará!..."
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Erma Bombeck


WOOD ALLEN




"- Como pode haver tanto mal no mundo?

- Conhecendo a humanidade, como eu conheço,

me admiro é que não haja mais..."



(Wood Allen, Hannah e suas irmãs)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

PARA SARAH, RAQUEL, LIA...E TODAS AS CRIANÇAS



Eu queria uma escola que cultivasse a curiosidade

de aprender que é em vocês natural.

Eu queria uma escola que educasse seu corpo e seus movimentos:

que possibilitasse seu crescimento físico e sadio.

Normal.

Eu queria uma escola que lhes ensinasse tudo sobre a natureza, o ar,

a matéria, as plantas, os animais, seu próprio corpo.

Deus.

Mas que ensinasse primeiro pela observação, pela descoberta, pela experimentação.

E que dessas coisas lhes ensinasse não só o conhecer,

como também a aceitar, a amar e preservar.

Eu queria uma escola que lhes ensinasse tudo sobre a nossa história

e a nossa terra de uma maneira viva e atraente.

Eu queria uma escola que lhes ensinasse a usarem bem a nossa língua,

a pensarem e a se expressarem com clareza.

Eu queria uma escola que lhes ensinassem a pensar, a raciocinar,

a procurar soluções.

Eu queria uma escola que desde cedo usasse materiais concretos

para que vocês pudessem ir formando corretamente os conceitos matemáticos, os conceitos de números, as operações...

usando tampinhas, pedrinhas... só porcariinhas!...

fazendo vocês aprenderem brincando...

Oh! meu Deus!
Deus que livre vocês de uma escola em que tenham que copiar pontos.

Deus que livre vocês de decorar sem entender, nomes, datas, fatos...

Deus que livre vocês de aceitarem conhecimentos "prontos",

mediocremente embalados nos livros didáticos descartáveis.

Deus que livre vocês de ficarem passivos, ouvindo e repetindo, repetindo, repetindo...

Eu também queria uma escola que ensinasse a conviver, a coooperar, a respeitar,

a esperar, a saber viver em comunidade, em união.

Que vocês aprendessem a transformar e criar.

Que lhes desse múltiplos meios de vocês expressarem

cada sentimento,

cada drama,

cada emoção.

Ah! E antes que eu me esqueça:

Deus que livre vocês de um professor incompetente.

Carlos Drummond de Andrade