sábado, 19 de dezembro de 2009

EDUCAÇAO APÓS AUSCWITZ – THEODOR ADORNO


EDUCAÇAO APÓS AUSCWITZ – THEODOR ADORNO

Neste texto, Adorno ressalta que a principal meta da educação deve ser a de evitar que Auschwit se repita. A barbárie continuara existindo enquanto persistirem as condições que levaram a Auscwitz.

Os ensaios de Freud merecem a mais ampla divulgação e importância pelo fato de ter mostrado a tendência anti-civilizatória dos indivíduos. A estrutura básica da sociedade não mudou nos últimos 25 anos. Milhões de pessoas foram assassinadas de maneira planejada. O genocídio teve também suas raízes no nacionalismo que se espalhou por muitos países no século XIX. As forcas destrutivas integram o curso da historia numa batalha de contra-explosões: explosão da bomba atômica – explosão populacional – explosão da bomba com morticídio de populações inteiras.

Atualmente, as possibilidades de mudar os pressupostos que geraram Auschwitz são limitadas por fatores políticos e sociais. Não adianta também apelar para valores eternos, é preciso fazer uma inflexão do sujeito levando-o a uma reflexão sobre si mesmo. Nesse aspecto, a educação só tem sentido como educação dirigida a auto-reflexão e centrada na primeira infância. Num mundo administrado aumenta cada vez mais a pressão social e a revolta do individuo como resposta. A historia das perseguições confirma que a violência é dirigida especialmente aos socialmente fracos. A tendência é desfazer as perticularidades e as individualidades.

Ao mesmo tempo que a sociedade integra, gera tendências desagregadoras. A falta de autonomia e de auto-determinacão são condições favoráveis à barbárie. O único poder efetivo contra a repetição de Auschwitz é a conquista da autonomia e o poder para a auto-reflexão e autodeterminação da não-participacão na barbárie. Agir de forma heterônoma, curvando-se diante de normas e compromissos de obediência ‘cega’ a autoridade gera condições favoráveis à barbárie. O não confronto com a barbárie é condição para que tudo aconteça de novo.

Os algozes do campo de concentração de Auschwitz eram em sua maioria jovens filhos de camponeses o que pressupõe ser o insucesso da desbarbarizacao maior ainda no campo (zona rural).

Para amenizar os contrastes da educação zona rural-cidade é necessário a formacão de grupos educacionais moveis de voluntários para preencher lacunas da educação. Tendências de regressão a barbárie existe por toda parte, tanto no campo quanto na cidade. A mutilação da consciência manifesta-se na esfera corporal. Uma pessoa inculta por exemplo; produz gestos e linguagem ameaçadora quando dela algo for criticado ou exigido. É preciso analisar também a função do esporte.

Para Adorno, evitar Auschwitz, implica em resistir ao poder cego de toda espécie de coletivo, brutalidades e violências justificadas por costumes e ritos. A educação pautada pela severidade, pela disciplina é condição propicia para a barbárie. A dureza significa indiferença em relação a dor. “Quem é severo consigo mesmo, adquire o direito de ser severo também com o outro”. Os indivíduos desprovidos de auto consciência constitui o caráter manipulador. São pessoas desprovidas de emoções, detentoras de consciência ‘coisificada’ transformando-se a si mesmas e aos outros em ‘coisas’.

Contra a repeticão de Auschwitz será necessário estudar a formacão do caráter manipulador. Identificar o motivo que levou indivíduos em condições iguais a ter comportamentos diferentes. É um equivoco entender isso como resultado da natureza humana e não como um processo de formação. A consciência ‘coisificada’ faz as pessoas frias e incapazes de amar. Seus ‘resquícios’ de amor são dirigidos a técnica, ou melhor, aos produtos da técnica. Se as pessoas não fossem indiferentes umas as outras, Auschwitz não teria acontecido. A incapacidade de identificação foi sem duvida, uma das condições para Auschwitz.

Atualmente, as pessoas se sentem mal amadas e incapazes de amar. O calor humano é pré-requisito contra a barbárie. O amor deve consistir em um ‘dever’ e não somente a vínculos profissionais e aproximativos. “As pessoas que devemos amar são elas próprias incapazes de amar e por isto não são tão amáveis assim”. Ainda que o conhecimento racional não dissolva mecanismos inconscientes, ao menos fortalecera instâncias de resistência contra os extremismos que levam a barbárie. É necessário esclarecer quanto as possibilidades de uma outra fúria semelhante a Auschuitz .

Pode ser a vez dos idosos, dos intelectuais ou de um outro grupo divergente. Faz-se necessário mostrar possibilidades concretas de resistência. O centro de toda educação política deveria ser que Auschwitz não se repita. Para isso, será preciso tratar criticamente o conceito de razão de Estado. As pessoas que executam assassinatos agem em contradições com seus próprios interesses. São assassinas de si mesmas ao cumprir ordens dos assassinos de gabinete.

sábado, 5 de dezembro de 2009

LULA, O FILHO (BASTARDO) DO BRASIL: O FILME


SERIA MESMO O LULA UM FILHO DO BRASIL ?
Chega-nos ao conhecimento mais uma demonstração de desequilíbrio psíquico do pífio representante da nação brasileira. A partir de sua ascensão, foram-se perdendo valores que cultivávamos como habituais normas de conduta. Essas mudanças são consequencias das alterações semânticas, aceitas pelos órgãos jornalísticos, hoje, também, pouco afeitos à limpidez das idéias. Tais alterações são produtos dos erros de raciocínio e da falta de intimidade vocabular, que a incontinência verbal do senhor feudal, pela repetição, torna-as vernaculares. Tudo isso, aliado à esperteza de um espírito pusilânime, tem o poder de corromper os alicerces de todos os poderes da República.
Se a mentira passa à verdade; se o corrupto contumaz deve ser respeitado por não ser um homem comum; se uma organização terrorista, que inferniza os trabalhadores rurais, torna-se uma instituição lutadora em defesa dos direitos dos sem-terra, é transformar os antônimos negativos em palavras representativas de uma nova ética em curso.
Para que se consuma o novo dicionário da sordidez política brasileira, necessário se torna conhecer, a fundo, em todas as dimensões, o seu autor, personagem central de sua própria propaganda político-eleitoreira. O autoendeusamento torna-o réu confesso do desequilíbrio de que acima nos referimos. Considerar-se a si próprio Filho do Brasil, é exigir a legítima paternidade, a um país que já sofreu todos os vexames do filho que não passa de um bastardo. Como se não bastassem as ofensas de sua diplomacia, ofende-se mais ainda a nação, anunciando a sordidez de cobrar do país a herança que acredita ter direito e pretende obtê-la, através da delegação de poderes de seus iguais, nas urnas em 2010. É mais uma indenização cobrada ao país, considerado culpado pelo filho ilegítimo, pela tendência inata de sua família, de não ter vocação para o trabalho. O filme que ilustra a vida do responsável pela obra de estropiamento da língua, “coincidentemente” será levado à exibição em 1º de janeiro de 2010.
Regredimos ao populismo desenfreado do brizolismo e percebemos, claramente, a existência de dois Brasis: o que trabalha e estuda para o desenvolvimento nacional e o que vive de estelionato político, sorvendo os impostos pagos pelo primeiro dos Brasis. Em toda imoralidade, encontra-se a logomarca da Globo, que não pode perder dividendos, mesmo que seja patrocinando um retorno aos filmes da velha fase macunaímica da miséria colorida. Não há outro digno representante desse (para mim) repugnante personagem (Macunaíma) da baixa estima brasileira, criação de Mário de Andrade, que o etílico Lula.
Alguém da escória da personagem do filme em questão deve ter sido o idealizador do título e da narrativa. O embriagado de álcool e de poder tomou posse do Brasil e está alijando, aos poucos, a parte consciente da sociedade, mas ainda sonolenta, para os esconsos vãos que se tornarão guetos dentro em pouco, se não tomarmos uma veemente atitude. Já imagino esse filmeco sendo veiculado no agreste, nos sertões, arrebanhando os ingênuos e estimulando-os ao analfabetismo, à bebida e à rebelião. A pressão para um conflito entre brasileiros está se fazendo prenunciar no horizonte. Esta indecencia de filme, se consentirmos, se não reagirmos, se não clamarmos contra a mídia que lhe dará vida, poderá servir de estopim para tomadas de posição sérias que não vão deixar de fora a guarda particular do ébrio presidente: o MST.
Como dizem os traficantes do Rio, "está tudo dominado". Eles sabem o que dizem, infelizmente. Tudo está dominado, porque está corrompido pelo dinheiro fácil em troca da traição e da sabotagem. Apenas por patriotismo, sem levarmos nenhuma vantagem, porque pertencemos a outro grupamento ético, que não leu o glossário lulista, sabotemos o filmeco do "palhaço de Garanhuns", desde já, para que, no ato da divulgação, caia no ridículo o Filho bastardo do Brasil, que bem poderia ser o Filho de outra coisa que já sabemos o que é. Embora não pareça, o caldeirão da divisão de classes já começou a esquentar. Como não tem a coragem de seu comparsa Chávez e é um poltrão como o Zelaya, usa desses artifícios ultrapassados, mas que caem como uma luva sobre a multidão de ignorantes do interior do país.


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Aileda de Mattos Oliveira Prof.ª da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009


"Eu gosto dos que têm fome

dos que morrem de vontade,

dos que secam de desejo,

dos que ardem..."


(Adriana Calcanhoto)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

CARTA À D. MARISA LULA LETÍCIA


D. Marisa Lula Letícia:

a senhora deve estar muito feliz; seu marido ganhou as eleições, e será presidente por mais quatro anos. Parabéns. Imagino que quando foi eleito pela primeira vez, deve ter sido difícil para a senhora; seria para qualquer mulher. Se habituar a uma nova vida, ter que fazer coisas em que nunca pensou; por outro lado, não poder fazer um monte de coisas às quais estava habituada, ter que obedecer ao protocolo, andar cercada de seguranças, não poder entrar num shopping - a senhora deve ser louca por um shopping, não ? - e tendo que ter uma vida privada, quase secreta, já que a imprensa está sempre de olho.
De olho para falar da cor do esmalte de suas unhas, do penteado, do botox que botou - ou não - e, correndo sempre o risco de alguém de sua intimidade ser indiscreta e contar o que a senhora come no café da manhã, se faz dieta, se fuma, enfim, todas essas coisas que qualquer mulher tem liberdade para fazer,menos a primeira-dama. Devem ter sido quatro anos difíceis , mas já passaram.
Agora a senhora tem mais quatro anos pela frente; quais são os seus planos ? Não seria hora de fazer alguma coisa além de ficar sentada naquela cadeira, nas cerimônias oficiais, enquanto seu marido discursa ? Ah, d. Marisa, esse país é cheio de problemas, e a senhora poderia ajudar em alguma coisa. Já existe o Bolsa Família e o Fome Zero, mas ainda há muita coisa a ser feita. Não digo que a senhora seja a mulher mais poderosa do país, mas é casada com o homem mais poderoso, por isso pode decidir fazer o que quiser, e terá toda a ajuda de que precisar.
Ajuda financeira, e ajuda de centenas de mulheres que adorariam colaborar com qualquer coisa que a senhora inventasse fazer. Capacidade a senhora tem: não me esqueço de um programa de televisão onde a vi fazendo sanduíches para vender nas assembléias de metalúrgicos, anos antes de sonhar onde iria chegar. Esse tipo de coisa a senhora não precisa mais fazer, mas existem outras coisas que não seriam nenhum sacrifício, e que poderiam fazê-la até muito feliz por estar ajudando o governo de seu marido.
Porque botar uma camiseta, sorrir e aplaudir, convenhamos, é muito pouco.Fazer o quê ? Não falta quem lhe diga. Seu marido tem um monte de assessores, todos prontos para ter 50 idéias geniais para que a senhora faça alguma coisa para melhorar a vida de quem precisa. A senhora é forte, decidida, e não tem sentido passar mais quatro anos trocando de terninho para acompanhar o presidente nas viagens, sorrindo para os fotógrafos, não dizer nada sobre assunto algum, e não fazer rigorosamente nada. Não que a senhora tenha obrigação, mas seria bacana termos uma primeira-dama engajada em algum projeto social, fosse ele qual fosse.
Mas se a senhora quiser continuar a viver a vidinha que vive há quatro anos, poderia pelo menos - pela imagem, d. Marisa, pela imagem - visitar às vezes um hospital público (sem avisar, para ver a fila na porta), uma creche, uma escola, para mostrar que se interessa pelos mais necessitados, e que seus próximos quatro anos não serão mais apenas umas férias passadas entre o Alvorada e a Granja do Torto, além de viagens pelo mundo em seu luxuoso jatinho. Pense nisso, d. Marisa. Pegaria muito bem.

Danuza Leão

danuza.leao@uol.com.br

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

À POETA ANA CRISTINA CÉSAR... PARA SEMPRE...



Caros amigos,


Expoente da chamada poesia marginal dos anos 70, a poeta carioca Ana Cristina Cesar (1952-1983) tornou-se conhecida em escala nacional depois de figurar na antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, em 1976.
Alma inquieta, Ana Cristina viveu mais de uma vez, viajou pelo mundo, estudou literatura e cinema, publicou poesia em edições independentes. Escritora compulsiva, produzia poemas, cartas, artigos para jornais e revistas, traduções, ensaios. Entre os principais títulos deixados por Ana Cristina Cesar, encontram-se A Teus Pés, Inéditos e Dispersos, e Crítica e Tradução.
Ana suicidou-se em outubro de 1983, aos 31 anos. Sobre seu trabalho poético, diz o professor e crítico Paulo Franchetti: "Ana Cristina é um dos lugares principais (senão o principal) do novo discurso poético, que funda a produção e a leitura do fragmento, a recolha do lugar-comum e a incompletude estética como resultado da sinceridade confessional ou como índices da impossibilidade mesma da confissão total."
Segundo o ensaísta, o dado novo na poesia de Cristina está no coloquialismo, numa escrita que não quer ser literatura. "Escrevo in loco, sem literatura", anotou ela. É óbvio que essa mesma novidade não passa incólume pelo crivo dos estudiosos, que apontam na poesia dita marginal a falta de rigor e a tentativa de dar uma marcha à ré em direção ao piadismo e a certa inconseqüência do modernismo de 1922. Não falta também quem veja no movimento uma imagem invertida das vanguardas originárias dos anos 50. Enquanto estas são acusadas de formalistas, o pessoal da poesia marginal recebe a pecha de ter relaxado os procedimentos formais da poesia.

O certo é que Ana Cristina Cesar tornou-se o nome mais forte entre todos os identificados com a poesia marginal. O poeta carioca Armando Freitas Filho, que foi amigo de Ana Cristina e se tornou, depois, o principal divulgador de sua obra, tem uma frase interessante para caracterizar a rapidez e a brevidade da vida e da obra da autora de A Teus Pés. Para ele, a amiga queria "pegar o pássaro sem interromper o seu vôo".
Ana gostava profundamente de escrever. Além de suas inumeráveis poesias e cartas, escreveu para diversos jornais e revistas e traduziu diversos autores estrangeiros. Entre esses autores, inclui-se a poetisa americana, Sylvia Plath que da mesma forma que Ana César faria mais tarde, colocou um fim à sua própria vida.
Ana C. morreu em 29 de outubro de 1983 e, com certeza, pela sua juventude e beleza, pelo conteúdo e forma de sua obra, pela interrupção brusca de sua vida e do seu talento, tornou-se um símbolo e um ícone. Quando a vida segue o seu curso normal, as pessoas têm tempo de se preparar para a passagem daqueles que, de alguma forma, têm parte ou influência em suas vidas. Isso não acontece, em casos como o de Ana César, onde a ruptura abrupta sempre deixa o único recurso de uma saudade brutal ou de uma veneração desmedida. De qualquer forma é importante a noção, e o consolo, de que as pessoas se perpetuam, nos corações e nas almas, pelo que deixam, na forma de obras materiais, como é o caso de Ana César, ou através das lembranças de atitudes, palavras ou gestos, que podem fazer melhor a vida dos que ficaram.. Dentro dessa ótica pode-se entender o seguinte poema:
Ausência
Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta..
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
Ausência é um estar em mim.
E sinto-a tão pegada, aconchegada nos meus braços
Que rio e danço e invento exclamações alegres.
Porque a ausência, esta ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.
(Carlos Drummond de Andrade – Com o pensamento em Ana Cristina)


Veja a seleção de seus poemas de que mais gosto:



VOANDO COM O PÁSSARO

Tu queres sono:

despe-te dos ruídos,

e dos restos do dia,

tira da tua boca

o punhal e o trânsito,

sombras de

teus gritos,

e roupas, choros,

cordas e

também as faces

que assomam sobre a

tua sonora forma de dar,

e os outros corpos

que se deitam

e se pisam,

e as moscas

que sobrevoam

o cadáver do teu pai,

e a dor

que se prepara

para carpir tua vigília,

e os cantos que

esqueceram teus braços

e tantos movimentos

que perdem teus silêncios,

o os ventos altos

que não dormem,

que te olham da janela

e em tua porta penetram

como loucos

pois nada te abandona

nem tu ao sono.



SONETO



Pergunto aqui se sou louca

Quem quer saberá dizer

Pergunto mais, se sou sã

E ainda mais, se sou eu

Que uso o viés pra amar

E finjo fingir que finjo

Adorar o fingimento

Fingindo que sou fingida

Pergunto aqui meus senhores

quem é a loura donzela

que se chama Ana Cristina

E que se diz ser alguém

É um fenômeno mor

Ou é um lapso sutil?



olho muito tempo o corpo de um poema

até perder de vista o que não seja corpo

e sentir separado dentre os dentes

um filete de sangue
nas gengivas



O HOMEM PÚBLICO N. 1


Tarde aprendi

bom mesmo é dar

a alma como lavada.

Não há razão para

conservar este fiapo de noite velha.

Que significa isso?

Há uma fita

que vai sendo cortada

deixando uma sombra no papel.

Discursos detonam.

Não sou eu que estou ali

de roupa escura sorrindo

ou fingindo ouvir.

No entanto também

escrevi coisas assim,

para pessoas que nem sei

mais quem são,

de uma doçura

venenosa de tão funda.


Tenho uma folha branca

e limpa à minha espera:

mudo convite

tenho uma cama branca

e limpa à minha espera:

mudo convite

tenho uma vida branca

e limpa à minha espera:

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

SOBRE O MST E A CHACINA CÍTRICA


O MST é detestado por todos: da direita ruralista à esquerda chavista, passando por tucanos, petistas, psolentos, verdes, azuis e amarelos, enfim, todos... Mesmo os que fingem apoiar o MST o detestam.

Isso porque há uma antipatia ancestral e inata contra o MST, esse arquétipo de nosso inconsciente coletivo, esse cancro irremovível que insiste em nos lembrar, mesmo nos períodos de bonança, que fomos o último país do mundo a abolir a escravidão (se é que fizemos isto msmo)e continuamos sendo uma porcaria de nação que jamais fez a reforma agrária.

O MST é o espelho que reflete o que não queremos ver.Há duas questões, na vida nacional, que contradizem qualquer discurso político da boca pra fora e revelam qual é, mesmo, de verdade, a tendência ideológica de cada um de nós, brasileiros: a violência urbana e o MST. Diante deles, aqueles que até ontem pareciam ser os mais democráticos e politicamente esclarecidos passam a defender que se toque fogo nas favelas, que se mate de vez esse bando de baderneiros do campo... "Porra, carajo, mierda, maleditos derechos humaños!... "

O MST nos faz atentar para o fato de que em cada um de nós há um Esteban de /A Casa dos Espíritos/; há o ditador, cuja existência atravessa os séculos, de que nos fala Gabriel García Márquez em /O Outono do Patriarca/; há os traços irremovíveis de nossa patriarcalidade latinoamericana, que indistingue sexo, raça, faixa etária ou classe social: O MST é o negro amarrado no tronco, que chicoteamos com prazer e volúpia.

O MST é Canudos redivivo e atomizado em pleno século XXI. O MST é a Geni da música do Chico Buarque - boa pra apanhar, feita pra cuspir – com a diferença de que, para frustração de nossa maledicência, jamais se deita com o comandante do zeppelin gigante. E, acima de tudo, O MST é um assassino de laranjas! E ainda que as laranjas fossem transgênicas, corporativas, grilheiras, estivessem podres, com fungos, corrimento, caspa e mau hálito, eles têm de pagar pela chacina cítrica!

Chega de impunidade! Como o João Dória Jr., cansei do chamado "Jornalismo Pungente"...! Afinal, foi tudo registrado em imagens – e imagens, como sabemos, não mentem. Estas, por sua vez, foram exibidas numa reportagem pungente do Jornal Nacional - mais um grande momento da mídia brasileira -, merecedora, no mínimo, do prêmio Pulitzer. Categoria: manipulação> jornalística.

Fátima Bernardes fez aquela cara de /dominatrix/> indignada; seu marido soergueu uma das sobrancelhas por sob a mecha branca e, além dos litros de secreção vaginal a inundar calcinhas em pleno sofá da sala, o gesto trouxe à tona a verdade inextricável: os “agentes“ do MST são um bando de bárbaros.

(Para quem não viu a reportagem, informo, a bem da verdade, que ela cumpriu à risca as regras do bom jornalismo: após uns dez minutos de imagens e depoimentos acusando o MST, Fátima leu, com cara de quem comeu jiló com banana verde, uma nota de 10 segundos do MST. Isso se chama, em globalês, ouvir o outro lado.) Desde então, setores da própria esquerda cobram do MST sensatez, inteligência, que não dirija seu exército nuclear assassino contra os pobres pés de laranja indefesos justo agora, que os ruralistas tentam instalar, pela 3ª vez, como se as leis fossem uma questão de tanto bate até que fura, uma CPI contra o movimento (afinal, é preciso investigar porque o governo “dá” R$155 milhões a “entidades ligadas ao MST”, mesmo que ninguém nunca venha a público esclarecer como obteve tal informação, como chegou a esse número, que entidades são essas nem qual o grau de sua ligação com o MST: O Incra, por exemplo, está nessa lista como ligado ao MST?)

Ora, o MST é um movimento social nascido da miséria, da necessidade e do desespero. Eles estão em plena luta contra uma estrutura agrária arcaica e concentradora. Não se pode esperar sensatez de movimentos sociais da base da pirâmide social, que lutam por um direito básico do ser humano. Pelo contrário: é justamente a insensatez, a ousadia, a coragem de desafiar convenções que faz do MST um dos únicos movimentos sociais de fato transgressores na história brasileira. Pois quem só protesta de acordo com os termos determinados pelo Poder não está protestando de fato, mas sendo manipulado.

Se os perigosos agentes vermelhos do MST tivessem sensatez, vestiriam um terno e iriam para o Congresso fazer conchavos, não ficariam duelando com moinhos de vento, digo, pés de laranja. Mas é justamente por isso que o MST incomoda a tantos: ele, ao contrário de nós, ousa desafiar as convenções: ele é o membro rebelde de nossa sociedade que transgride o tabu e destroi o totem. Portanto, para restituição da ordem capitalista/ patriarcal e para aplacar nossa inveja reprimida, ele tem de ser punido. Ele é /o outro/. Quantos de nós já se perguntaram como é viver sob lonas e gravetos – em condições piores do que nas piores favelas -, à beira das estradas, em lugares ermos e remotos, sujeito a ataques noturnos repentinos dos tanto que os detestam?

Quantos já permaneceram num acampamento do MST por mais do que um dia, observando o que comem (e, sobretudo, o que deixam de comer), o que lhes falta, como são suas condições de vida? Poucos, muito poucos, não é mesmo? Até porque nem a sobrancelha erótica do Bonner nem o olhar-chicote da Fátima jamais se interessaram pelo desespero das mães procurando, aos gritos, pelos filhos enquanto o acampamento arde em fogo às 3 da madrugada, nem pelas crianças de 3,4 anos que amanhecem cobertas de hematomas dos chutes desferidos pelos jagunços invasores, ao lado do corpo de seus pais, assassinados covardemente pelas costas e cujo sangue avermelha o rio.

Para estes, resta, desde sempre, a mesma cova ancestral, com palmos medidas, como a parte que lhes cabe neste latifúndio. Para a mídia, pés de laranja valem mais do que a vida humana, quero dizer, a vida subumana de um miserável que cometeu a ousadia suprema de lutar para reverter sua situação. Mas os bárbaros, claro está, são o MST. Por isso, haja o que houver, o MST é o culpado.


(Maurício Caleiro)


terça-feira, 13 de outubro de 2009

E ESTE GOVERNO PSICOPATA?....


"Acabei de ver na TV o Brasil ganhando para sediar as Olimpíadas de 2016 ( as olimpiádas kkkkk). Que horror! Eles choram de alegria, e eu, de tristeza. "

(Arnaldo Jabour)


O que foi que nos aconteceu? No Brasil, estamos diante de acontecimentos inexplicáveis, ou melhor,'explicáveis' demais. Toda a verdade já foi descoberta, todos os crimes provados, todas as mentiras percebidas. Tudo já aconteceu e nada acontece. Os culpados estão catalogados, fichados , e nada rola. A verdade está na cara, mas a verdade não se impõe. Isto é uma situação inédita na História brasileira.

Claro que a mentira sempre foi a base do sistema político , infiltrada no labirinto das oligarquias , mas nunca a verdade foi tão límpida à nossa frente e, no entanto, tão inútil, impotente, desfigurada.

Os fatos reais: com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos. Os culpados são todos conhecidos, tudo está decifrado, os cheques assinados, as contas no estrangeiro, os tapes, as provas irrefutáveis, mas o governo psicopata de Lula nega e ignora tudo. Questionado ou flagrado, o psicopata não se responsabiliza por suas ações...

Sempre se acha inocente ou vítima do mundo, do qual tem de se vingar. O outro não existe para ele e não sente nem remorso nem vergonha do que faz. Mente compulsivamente, acreditando na própria mentira, para conseguir poder. Este governo é psicopata!!! Seus membros riem da verdade, viram-lhe as costas, passam-lhe a mão nas nádegas. A verdade se encolhe, humilhada, num canto. E o pior é que o Lula, amparado em sua imagem de 'povo', consegue transformar a Razão em vilã, as provas contra ele em acusações 'falsas', sua condição de cúmplice e Comandante em 'vítima'.

E a população ignorante engole tudo. Como é possível isso? Simples: o Judiciário paralítico entoca todos os crimes na Fortaleza da lentidão e da impunidade. Só daqui a dois anos serão julgados os indiciados - nos comunica o STF. Os delitos são esquecidos, empacotados, prescrevem. A Lei protege os crimes e regulamenta a própria desmoralização. Jornalistas e formadores de opinião sentem-se inúteis, pois a indignação ficou supérflua.

O que dizemos não se escreve, o que escrevemos não se finca, tudo quebra diante do poder da mentira desse governo. Sei que este é um artigo óbvio, repetitivo, inútil, mas tem de ser escrito.... Está havendo uma desmoralização do pensamento. Deprimo-me: Denunciar para quê, se indignar com quê? Fazer o quê?'.. A existência dessa estirpe de mentirosos está dissolvendo a nossa língua. Este neocinismo está a desmoralizar as palavras, os raciocínios.

A língua portuguesa, os textos nos jornais, nos blogs, na TV, rádio, tudo fica ridículo diante da ditadura do lulo-petismo. A cada cassado perdoado, a cada negação do óbvio, a cada testemunha, muda, aumenta a sensação de que as idéias não correspondem mais aos fatos! Pior: que os fatos não são nada - só valem as versões, as manipulações.

No último ano, tivemos um único momento de verdade, louca, operística, grotesca, mas maravilhosa, quando o Roberto Jefferson abriu a cortina do país e deixou-nos ver os intestinos de nossa política. Depois surgiram dois grandes documentos históricos: o relatório da CPI dos Correios e o parecer do procurador-geral da república. São verdades cristalinas, com sol a Pino. E, no entanto, chegam a ter um sabor quase de 'gafe'. Lulo-Petistas clamam: 'Como é que a Procuradoria Geral, nomeada pelo Lula, tem o desplante de ser tão clara?

Como que o Osmar Serraglio pode ser tão explícito, e como o Delcídio Amaral não mentiu em nome do PT? Como ousaram ser honestos?' Sempre que a verdade eclode, reagem. Quando um juiz condena rápido, é chamado de exibicionista'. Quando apareceu aquela grana toda no Maranhão (lembram, filhinhos?), a família Sarney reagiu ofendida com a falta de 'finesse' do governo de FH, que não teve a delicadeza de avisar que a polícia estava chegando...

Mas agora é diferente. As palavras estão sendo esvaziadas de sentido. Assim como o stalinismo apagava fotos, reescrevia textos para contestar seus crimes, o governo do Lula está criando uma língua nova, uma neo-língua empobrecedora da ciência política, uma língua esquemática, dualista, maniqueísta, nos preparando para o futuro político simplista que está se consolidando no horizonte. Toda a complexidade rica do país será transformada em uma massa de palavras de ordem, de preconceitos ideológicos movidos a dualismos e oposições, como tendem a fazer o Populismo e o simplismo.

Lula será eleito por uma oposição mecânica entre ricos e pobres, dividindo o país em 'a favor' do povo e 'contra'. Recauchutando significados que não dão mais conta da circularidade do mundo atual. Teremos o 'sim' e o 'não'. Teremos a depressão da razão de um lado e a psicopatia política de outro. Teremos a volta da oposição Mundo x Brasil, nacional x internacional e um voluntarismo que legitima o governo de um Lula 2 e um Garotinho depois. Alguns otimistas dizem: 'Não... este maremoto de mentiras nos dará uma fome de Verdades! - Será?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

UMA SEREIA CHAMADA MARIA BETHÂNIA


"...Cresci num lugarejo repleto de rios, mas passava as férias na praia. Sempre amei perdidamente o mar. Meu pai dizia que a terra e o oceano se espelham. "Tudo que existe aqui em cima existe no fundo do mar." Eu o escutava e a minha imaginação corria solta: - "Tudo, pai? Coqueiro, abelhas, montanha?" Ele jurava que sim. Não àtôa, os marinheiros me encantavam. Admirava as tatuagens que eles carregavam nos braços. "Quando mandar em mim arranjarei uma igual", planejava. Àquela época, poucas mulheres ousavam exibir tatuagem. Eu, atrevida, deseja uma nas costas, do lado direito, perto da bunda. Cogitei primeiro desenhar uma sereia. Sou fascinada por sereias. Depois mudei de opinião: - Vou botar uma estrela, um sol, uma lua." Acabei não desenhando nada...

...Sereias ainda me fascinam imensamente. Criança, ganhava umas de minha mãe, pequeninas, de barro. Agora, ganho de amigos e dos fãs. Em casa, há um punhado: de metal, gesso, madeira. Sereias são as donas da voz... Senhoras da emissão que cantam por minha boca. Só sei cantar graças às sereias. Elas me ensinaram. Minha voz apenas mora em mim. Não é minha. É das sereias. É de Deus...

...Acredito sim que elas existem. Certas pessoas conseguem ouvi-las, enxergá-las. Mas as sinto, talvez porque queira senti-las. Creio que hoje esteja no mesmo lugar em que as sereias se encontram. Uma bênção!"


______
(Texto extraído de "Minha voz não é minha. É das sereias." Entrevista concedida por Maria Bethânia à revista Bravo, edição de outubro/2009, falando de música, política, religião e sereias).

domingo, 4 de outubro de 2009

"A VIDA ME ESCOLHEU PARA CANTAR..." (Mercedes Sosa)



En el día de la fecha, en la ciudad de Bs As, Argentina, tenemos que informarle que la señora Mercedes Sosa, la más grande Artista de la Música Popular Latinoamericana, nos ha dejado.
Haydé Mercedes Sosa, nació el día 9 de Julio de 1935 en la ciudad de San Miguel de Tucumán. Con 74 años de edad y una trayectoria de 60 años, Ella transitó diversos países del mundo, compartió escenarios con innumerables y prestigiosos artistas, y dejó además, un enorme legado de grabaciones discográficas.
Su voz llevó siempre un profundo mensaje de compromiso social a través de la música de raíz folklórica, sin prejuicios de sumar otras vertientes y expresiones de calidad musical.
Su talento indiscutible, su honestidad y sus profundas convicciones dejan una enorme herencia para las generaciones futuras. Admirada y respetada en todo el mundo, Mercedes se constituye como un símbolo de nuestro acervo cultural que nos representará por siempre y para siempre.
Quizás, las palabras de su entrañable amiga, Teresa Parodi, resuman el sentimiento de muchos:
“…Mercedes, salmo en los labios
amorosa madre amada
mujer de América herida
tu canción nos pone alas y hace que la patria toda
menudita y desolada no se muera todavía,
no se muera porque siempre cantarás en nuestras almas…”

Sus restos serán velados en el Salón de los Pasos Perdidos, en el Honorable Congreso de la Nación, Avda. Rivadavia 1864 a partir del mediodía de hoy.

Su Familia, allegados y amigos, agradecen profundamente el acompañamiento y el apoyo expresado en estos días.
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Mercedes Sosa honrou a vida. A morte não a encontrou solitária, sem ter feito o que queria. Não foi indiferente à dor, à injustiça, à guerra nem à mentira. Nascida na Argentina, tornou-se cidadã da América Latina e do mundo. Militante comunista, foi obrigada a deixar seu país na década de 70, por uma das tantas ditaduras militares que infestaram nosso continente. Como costumava dizer, trazia o povo em sua voz.
Mercedes Sosa honrou a vida e a luta pela verdade. E a vida, como ela cantou, não é permanecer nem perdurar. Merecer a vida não é calar nem consentir com tantas injustiças repetidas. Honrar a vida é uma virtude, é dignidade, é a atitude de identidade mais definida. Merecer a vida é colocar-se de pé, para além do mal e das quedas. É dar boas vindas, sempre à verdade e à liberdade. A voz de Mercedes Sosa denunciou as maneiras de não ser, as consciências adormecidas e as vidas não vividas.
Merdedes Sosa honrou a vida e cantou seu povo. Cantou a unidade latinoamericana. Trazia a pele da América em sua pele. Carregava em seu coração todas as vozes, todas as mãos, todos os irmãos. Generosa e altiva, saiu a caminhar pelo sul e sua voz acabou ganhando o mundo. “Eu não escolhi cantar para as pessoas. A vida me escolheu para cantar”, disse em uma recente entrevista para a TV argentina. Ela agradeceu a vida e honrou essa escolha. Foi seu compromisso de toda a vida. E neste momento em que ela se despede do solo em que pisou, sua voz se espalha pelo vento e envolve o povo que ela tanto amava. La Negra viveu o que cantou e cantou o que viveu. Aceitou alegremente a escolha feita pela vida e entregou sua voz a ela. Engrandeceu e alargou a humanidade.


(Marco Aurélio Weissheimer)
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No hay sueño que alcance,
ni voz que se haga fuerte,
ni esperanza que aguante,
no hay un solo proyecto que sirva,
ni un sitio en la tierra
donde ser feliz.
Ni sobrevive el sol
ni brilla mas una estrella,
ni me calma tu amor
ni la sorrisa de mis hijos.
Si aquí cerquita mío
hay niños con hambre
que acarician la muerte.
Sólo hay una manera possible:
pararse de frente a la justicia,
abrir las manos,
ponerse el corazón encima
y salir a la vida
con toda la vida adentro.
___________
Maria Teresa Difalco
- Baradero -
Provínicia de Buenos Aires
Argentina

quarta-feira, 30 de setembro de 2009




"Quando eu morrer

voltarei

para buscar

os instantes que

não vivi

junto do mar."



(Sophia de Mello Breyner)

sábado, 26 de setembro de 2009

MAIS UMA VEZ O ESPORTE. ECA!....


Aliás, fico me perguntando sempre qual é o grande sentido e a grande importância do esporte neste país? Ele parece ser mais importante do que a comida, a moradia, a educação, a saúde, o lazer. Outro dia, fiz uma pesquisa de observação que significou 24 horas de televisão ligada ininterruptamente. Neste tempo, entre notícias do esporte, partida de futebol, comentários sobre o assunto, chamadas de urgência sobre venda e preço de atleta (como historicamente se vendiam e compravam escravos, considerados como peças). Teve até um senhor que usou a expressão: "o valor da peça", referindo-se ao passe de um jogador brasileiro para um time europeu. Ao todo, das 24 horas, exatamente 10h e 46 minutos foi sobre esporte, o que é um absurdo, vez que vivemos numa realidade multiplamente complexa (o que envolve tantos outros segmentos igualmente importantes e que não podem ser tratados neste espço da mídia televisiva).

E, de mais a mais, ganhando ou perdendo no esporte, não muda nada de concreto na condição social e política, no real concreto da qualidade de vida das pessoas. Então, o porque desta palhaçada toda? Não quero dizer que o esporte não tenha a sua importância, seus pontos positivos e que não seja algo necessário, mas minha tese é de que, principalmente, o esporte tem esta importância porque:
a) facilita e muito o desprender do cidadão comum dos problemas reais, pois a cabala do esporte é fortíssima;

b) a presença, por exemplo, numa boa partida de futebol, com o indivíduo envolvido até a alma, dando murros e ponta-pés, chingando a mãe do juiz e os atletas adversários, tira de qualquer cidadão toda a capacidade crítica para brigar, de fato para o que lhe interessa, para o que lhe é de direito; com o que a trupe maldita do papai Lula se refastela toda;

c) quando sei que um atleta ganha milhões, e ele é meu ídolo, me envolvo tanto inconscientemente com isso que não ligo mais para o meu salário mínimo ou a minha situação de desempregado, pois mais forte que tudo, é a bandeira do time e a paixão que se estilhaça no meu peito. E o mesmo acontece com as mansões cinematográficas que eles compram e que são "nossas", com as viagens fantásticas que eles fazem e que nós, pobres coitados "vamos juntos";

d) a lição de subserviência e de disciplina animalesca que passam para todos, na medida em que o jogador tem que cumprir as normas que lhe foram impostas, sem questionar. Tem que ser passivo e subserviente para ter sucesso no jogo, o que pra mim é o pior de tudo.

Claro que os atletas privilegiados, os profissinais do esporte não vêm isto e não concordarão jamais, pois é com isto que conquistam status, fortuna, bem-estar e jamais vão dar a mão à palmatória em relação ao brutal crime que cometem durante suas vidas inteiras.

Eu próprio, trabalhei por 12 anos em Faculdades de Educação Física e sei o que aquilo significa em termos de lavagem cerebral. Acho mesmo que já passou da hora dos Galvões Buenos, dos Imperadores, Ronaldos, Romários...enfim, de toda a corja que se utiliza do esporte para matar, aos poucos a alma do povo, de darem um bom tiro de taurus 48 na própria cabeça.

Afinal, seria maravilhoso que seguissem o melhor exemplo que Ayrton Sena já pode dar a este país. Não é atôa, por exemplo, que o viaduto com o seu nome em Brasília, tenha, estrategicamente, uma curva bem no meio. Com esta "Tamburello" inconsciente, o fatídico governo do DF homenageia o povo que se livrou desta praga ....tão forte...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

NO DESCOMEÇO ERA O VERBO - Por: Manoel de Barros




No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá,
Onde a criança diz:eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
Funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo,
ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta,
que é a voz
De fazer nascimentos
-O verbo tem que pegar delírio.




Depois de ter entrado para rã,
para árvore,
para pedra- meu avô começou a dar germínios
Queria ter filhos com uma árvore.
Sonhava de pegar um casal de lobisomem para ir
vender na cidade.
Meu avô ampliava a solidão.
No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos doquintal :
Meus filhos, o dia já envelheceu, entrem pra dentro.
Um lagarto atravessou meu olho e entrou para o mato.
Se diz que o lagarto entrou nas folhas, que folhou.
Aí a nossa mãe deu entidade pessoal ao dia.
Ela deu ser ao dia,
e Ele envelheceu como um homem envelhece.
Talvez fosse a maneira
Que a mãe encontrou para aumentar
as pessoas daquele lugar que era lacuna de gente.




Pela forma que o dia era parado de poste
Os homens passavam as horas sentados na
Porta da VendaDe Seo Mané Quinhentos Réis
que tinha esse nome porque todas as coisas que vendia
custavam o seu preço e mais quinhentos réis.
Seria qualquer coisa como a Caixa Dois dos Prefeitos.
O mato era atrás da Venda e servia também para a gente desocupar
Quinem as emas solteiras que despejavam correndo.
No arruado havia nove ranchos.
Araras cruzavam por cima dos ranchos
conversando em ararês.
Ninguém de nós sabia conversar em ararês.
Os maridos que não ficavam de prosa na portada Venda
Iam plantar mandioca
Ou fazer filhos nas patroas
A vida era bem largada.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009



O mais conhecido autor moçambicano de todos os tempos transita com graça pela poesia e pela prosa, mostrando a força de uma condição que denomina “estar” escritor. Muito arraigado às suas origens, consegue transmitir a leitores das mais diversas nações o vocabulário, a cultura, as angústias e as alegrias de Moçambique, tornando universal um dos países mais pobres do planeta. Não é apenas a incrível qualidade da literatura inventada pelo escritor, nascido em 1955 e batizado António Emílio Leite Couto, que surpreende: sua aparência, o nome adotado e a profissão também.

Mia é filho de imigrantes portugueses que foram residir em Beira e, nas inúmeras palestras que ministra mundo afora, o público muitas vezes aguarda uma senhora negra com vestes multicoloridas. Eis que surge um homem branco, traços europeus, óculos, terno. Sua inventividade é de longa data: aos 3 anos de idade, em função da paixão por gatos, criou para si mesmo o apelido que até hoje usa.

Poeta - é assim que ele se define - continua trabalhando no campo da biologia, área em que se formou. De qualquer forma, coleciona vários prêmios literários internacionais, inclusive um no Brasil: a obra O outro pé da sereia ganhou, em 2007, o 5º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura como melhor romance publicado em língua portuguesa. Aos 14 anos, publicou os primeiros poemas, Notícias da Beira. Desde então, as letras vão saindo magicamente de seus dedos. Ele trafega por um tipo de realismo fantástico que remete a Gabriel García Márquez, mas com raízes muito bem plantadas na realidade de sua região.

Outras vezes, faz lembrar Guimarães Rosa, pela criação incansável de neologismos. Brincações, desconsigo, choraminhices, noitidão, impossível não entender o que querem significar e maravilhoso perceber como é possível poetizar a prosa com palavras inventadas. Aliás, detalhe curioso: inúmeras vezes elas vêm à sua cabeça, e ele as anota em pedacinhos de papel que vai amontoando nos bolsos das roupas. Em algum momento, se encaixam nas frases sempre bem-lapidadas de sua literatura. Outra importante característica do autor de Venenos de Deus, remédios do Diabo é seu engajamento político.

Lutou contra Portugal pela independência de sua pátria (ocorrida há pouco mais de três décadas) atuando na política e no ensino, sem pegar em armas: a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) só permitia isso à população negra. Em nosso país, às suas obras, a editora acrescenta um glossário ao final para que se compreendam os vocábulos típicos do português de lá, que tornam seus livros ainda mais interessantes. O fio das missangas, acaba de ser lançado por aqui, trazendo 29 contos entrelaçados como miçangas ao redor de um fio, revelando muito das falas do homem de sua terra e demonstrando mais uma vez a proximidade e admiração declarada deste moçambicano pelo universo do autor de Grande sertão: veredas.

Mia se revela sempre em produção. Nas respostas dadas nesta entrevista, realizada por e-mail antes de ele sair a campo isolado para uma pesquisa biológica, utilizou sua forma peculiar de usar a língua, mantida nas linhas a seguir, também sem adotar as regras do novo acordo ortográfico. Miriam Sanger Dizem que você mesmo criou o curioso apelido Mia. Sim, por causa da minha relação com os gatos. Contam meus pais que eu dormia com os bichos como se fosse um deles. Certa vez, proclamei que queria ser chamado de Mia. Meus pais aceitaram e talvez tenha sido esse meu primeiro acto de ficção. Tinha, talvez, uns 3 anos de idade. Como sua família foi para Moçambique? Meus pais emigraram do Norte de Portugal no início da década de 1950.

Fixaram-se numa pequena cidade no centro do país, Beira, e ali tiveram seus três filhos. Eu sou o do meio. Meu pai migrou por razões políticas – na altura, Portugal vivia uma ditadura fascista, e ele foi objeto de perseguição política. Como é seu cotidiano? Sou biólogo de profissão e grande parte do meu tempo é passado em trabalho de campo, na floresta e na savana. No mais, sou casado com Patrícia, que é médica. Tenho três filhos: Madyo, Luciana e Rita. Os dois primeiros já saíram de casa. E vivo em Maputo, capital de Moçambique.

Sua primeira obra foi escrita aos 14 anos. Qual foi a repercussão? Ela marca minha decisão de viver o mundo por via da poesia, a necessidade de poetizar a vida. Não é apenas um livro, é uma declaração de fé numa crença que não tem nome, senão o desejo de estar disponível para ser encantado. Você acompanha a literatura brasileira, poderia citar autores preferidos daqui e também de seu continente? Acompanho mal a nova literatura brasileira, mas posso citar como meus preferidos Adélia Prado, Manoel de Barros, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector.

Na literatura africana, há vários nomes expoentes, como o nigeriano Amos Tutuola, os angolanos José Eduardo Agualusa, Luandino Vieira e, já bem conhecido, o sul-africano J. M. Coetzee. Também em Moçambique temos grandes autores, como os poetas José Craveirinha e Rui Knopfli. Mundo afora, é preciso citar Anton Tchekov, Juan Rulfo e Gabriel García Márquez. Brasil e Moçambique são países colonizados por portugueses, que falam a língua portuguesa, com uma grande mistura de raças e povos. Qual a nossa afinidade mais marcante?

Existe uma afinidade de que pouco se fala e que é a religiosidade, um sentimento de crença muito marcado pelos sistemas religiosos africanos. E também o modo como esses sistemas se permeabilizaram e deixaram-se mesclar com a religiosidade católica. Essa marca é para mim mais funda e duradoura que a língua. O Brasil não passou pela experiência de guerra pela independência, ao contrário de Moçambique. Quais marcas permanecem nos moçambicanos? Há coisas que creio que resultaram positivamente pelo facto dos moçambicanos terem resolvido dentro de si sua relação com o ex-colonizador.

Houve uma luta armada que criou terrenos bem distintos de afirmação e nos libertam da necessidade de confronto com o outro. Teria sido diferente se um filho de portugueses tivesse, em solo moçambicano, proclamado o grito do Ipiranga. Existe alguma obra sua que você considere mais especial do que as demais e, uma vez que transita entre diversos gêneros, há alguma com a qual tem mais afinidade? Meu gênero é a poesia. Sou um poeta que escreve histórias e que se realiza na prosa.

Meu romance Terra sonâmbula foi redigido no final da guerra civil no meu país e sua gestação marcou-me profundamente. Eu acreditava que não seria possível escrever um livro que falasse da guerra enquanto ela estivesse decorrendo – apenas depois, no momento da paz, quando os fantasmas da violência estivessem adormecidos. Mas sucedeu que fui visitado, noite após noite, pela urgência da escrita. Eu estava, sem o perceber, a aplacar os demônios interiores que a violência da guerra haviam despertado em mim.

Qual dos gêneros é mais difícil? O infantil, sem dúvida. Porque não sei pensar esse gênero e me custa acreditar que se escreve para crianças. A idéia de que elas pedem uma escrita simplificada é uma tentação fácil, mas profundamente arrogante. Nessa escrita, percebemos que não sabemos falar com a infância que ainda vive em nós. Tanto o Brasil quanto Moçambique vivem situações tristes em diversos aspectos, ainda mais no que diz respeito a infância e educação. Você acredita que haja alguma forma de a literatura ajudar na transformação da realidade nacional? Acredito que a literatura pode ajudar a manter vivo o desejo de inventar outra história para uma nação e outra utopia como saída.

Não que eu tenha ilusão sobre o poder da literatura, mas a escrita literária pode, em certos momentos, ter funções de terapia coletiva. Regresso ao caso moçambicano do período pós-guerra. O que aconteceu foi uma mesma espécie de amnésia coletiva. Ninguém se recorda de nada do que aconteceu. Foram 16 anos de guerra fratricida, 1 milhão de mortos, mas ninguém quer, hoje, relembrar este tempo de cinzas. Trata-se de uma estratégia de não despertar fantasmas mal resolvidos. No entanto, é triste não termos mais acesso a esse tempo, perdermos parte de nossa história recente nos faz sermos menos nós mesmos. É aqui que a literatura pode ter função resgatadora. Pode permitir acesso, fora de sentimentos de culpa e de dedos acusatórios. Como é seu processo criativo? Há alguma preparação especial para iniciar uma obra? Não tenho ritual. No fundo, tenho para mim que a escrita não pode ser resumida ao seu lado visível, que é quando nos sentamos com caneta e papel ou com computador.
Houve algum evento ou pessoa que despertou sua vocação literária? Meu pai é poeta. Mais do que isso: vivíamos a poesia, mais do que líamos. Recordo as vezes em que, devido a uma certa desconfiança, mandavam-me fazer os deveres de casa no local de trabalho dele, que era um armazém obscuro dos Caminhos de Ferro, na pequena cidade colonial da Beira. Doía-me muito ver meu pai, um poeta, ali, naquele recanto poeirento e penumbroso. Mas, ali mesmo, naquele local sombrio, eu aprendi uma das mais importantes lições de toda minha vida.

Meu pai, para meu espanto, se apressava muito que eu desse despacho nos deveres. Demoras?, perguntava ele, inquieto. Mal eu pousava a caneta, ele me pegava pela mão e me levava para a luz, para o descampado. Caminhávamos por entre os trilhos, os carris ferrugentos, e ele passeava por ali garimpeirando pelo chão, à cata de quê?

O que procurava ele entre sujidades e poeiras? Procurava pedrinhas coloridas, dessas que tombavam dos vagões, e trazia na concha das mãos como se tivessem vida e carecessem de aquecimento. Lá fora estrondeava a guerra colonial e o mundo se rasgava. Minha mãe recebia em casa aqueles lixos brilhentos e muito ralhava com ele. As pedras voavam pela janela, meu pai se internava pelo corredor num desmaio de penumbra. Lembro-me de ter interpelado depois de uma dessas zangas maternas. “Pai, tu também és atrasado mental?” Eu hoje agradeço ao meu pai me ter ofertado essa cumplicidade, esse outro pai que nascia dele quando se tornava cúmplice, me esgueirava dos meus deveres e saltava para a desobediência. Meu pai se convertia em outro menino, e eu ainda hoje encontro inspiração nessa habilidade e vou pela linha férrea a descobrir encanto e encantamento na busca desses brilhos do chão. Você pretende, ou gostaria de, um dia viver apenas de literatura? Mesmo que pudesse, e talvez agora eu já possa, não queria viver exclusivamente da escrita.

É vital para mim ter esta dispersão de atividades, poder fazer coisas tão distintas e manter janelas abertas para a ampla diversidade da vida. Eu “estou” escritor, duvido que “seja” escritor. Não dá para não falar do acordo ortográfico. Qual é sua opinião? Não sou contra, mas também não milito a favor. Creio que em Portugal houve reações nervosas e crispadas porque, devido a um falso debate, alguns acreditaram estar a prescindir do patrimônio fundador da sua própria identidade a favor do Brasil.

Eu acredito que se deve discutir os verdadeiros factores que nos afastam – e os principais factores do nosso afastamento não são de ordem lingüística. São de natureza estratégica, das opções políticas dos nossos governos. Os livros brasileiros são lidos sem nenhuma dificuldade em Moçambique, e os moçambicanos são lidos no Brasil sem que a grafia diferente perturbe. Como se deu o convite para compor a letra do hino de seu país, junto com outros autores?

Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique, pensou que era preciso mudar a letra de um hino que tinha sido concebido em período da revolução socialista e marxista. Um novo que servisse, como ele disse, de lençol e sombra para todos os moçambicanos. Ele convocou à maneira da guerrilha um grupo de poetas e músicos, fechou-os numa casa e disse: vocês têm uma semana para produzir um novo hino nacional.

Nós produzimos diversas alternativas. Anos mais tarde, quando se introduziu o pluripartidarismo no país, alguém se lembrou de que havia esse manancial de propostas. E assumimos como criação colectiva aquele que é o novo hino nacional. Você está em produção literária no momento? Estou sempre em produção, mesmo que eu não tenha consciência clara disso. Mas, no caso, estou há três anos laborando num novo romance. Mas realmente, e sem que isso seja uma pose de afectação, não sinto que posso levantar o véu dessa história.

Por fim, cultura é... Um modo de sermos quando todo o resto nos nega.

sábado, 5 de setembro de 2009

A METAFÍSICA DA MORTE - Antonio da Costa Neto


"Pior que a morte é desviver." (Fátima Guedes)


A morte sempre foi em nossa cultura e quase todas as demais um monstro. Uma coisa de fato, horrível, o fruto do maior do medo, do frio, do escuro, do silêncio mórbido que causa os mais profundos arrepios. É o mais absoluto dos terrores: tudo, menos a morte, infelizmente, adiável, mas inevitável a cada um de nós.Todos - ou quase todos - o que mais temos é o medo de morrer. Nascemos e morremos. E pior ainda, já nascemos morrendo, o que é motivo de tristeza e sofrimento para muita gente. Sabemos de sua fenomenologia: um dia alguém vai morrer. Mas para o nosso sossego, a vida continua, dando-nos a ilusão de sermos imortais, o que, em última análise mantêm-nos vivos. Restando-nos a "certeza" de que não será agora, que ainda irá demorar anos e anos. E assim, sempre.
O medo de morrer, o pavor da primeira noite na sepultura, para onde iremos, inevitavelmente e por toda uma eternidade. Restando aí a tão medonha sensação dos crematórios. São, talvez, os maiores temores que a humanidade enfrenta e que a eterna evolução da tecnologia jamais irá resolver. Mesmo que se fale em clones, em elixir da vida eterna, nas belezas do pós-túmulo. Nada alivia esta dor, este sofrimento, este medo. Assim, a própria inexistência de solução - pois inevitavelmente todos morreremos - já mostra que isso não constitui um problema. A sábia energia do universo já deu prova de que todos estes têm solução. Se não tem solução, como é o caso, é porque não é problema e pronto.
Na verdade, o que aí constitui o mal é a nossa infinita ignorância. A humanidade continua muito burra, muito boba, coitadinha. E este brutal e infantil medo da morte é uma das provas mais evidentes da nossa pequenez e insignificância frente a grandiosidade do universo e do mundo. Nossa visão arraigada na matéria, numa sociedade de consumo profundamente atrasada - especialmente a nossa, que se fundamenta no mais rudimentar dos modelos capitalistas - e que se esqueceu de evoluir, há milênios. Uma legião de pessoas que dorme o sono pesado, intranquilo da dinâmica do produto e não, do processo. Do ter que ter à revelia de tudo mais, que passa a vida desvivendo e que, de repente, morre sem saber.
Ficamos e permanecemos assim, verdadeiros escravos do poder e do dinheiro. E o desligar da matéria, o ter que morrer, que abandonar este envólucro carnal que tanto nos encomoda: engorda, envelhece, fica doente, feio, gasta-se tanto com ele, transparece-nos como a maior das tristezas, insuportável para muitos. Que, talvez, mandá-lo embora possa ser um prêmio, uma maravilha sem precendentes. Por que nunca paramos para pensar nisso?
A bem da filosófica verdade, morrer é um grande prêmio, uma bênção a qualquer tempo. Morremos de medo de morrer porque somos uns patetas, um bobos, teleguiados por quem precisa de nossas vidas para nos explorar mais e mais a cada dia. Na minha terra existe um dito popular, uma brincadeira,que acaba sendo uma sábia afirmação pra valer. Dizem-se assim: "Morrer deve ser muito bom. Você já viu alguém que morre voltar para cá? - Então, deve ser bom demais ir para o lado de lá..."
Há apenas um mal em tudo isso: a morte, assim como tudo na vida deve acompanhar um processo natural. Morre-se quando se tem que morrer e pronto. Na velhice, na juventude, na infância. Por doença, um grave acidente, ou apenas e simplesmente, morrer por morrer e acabou. Enfim, tudo é vida e motivo de festa. O ter que morrer significa que fomos escolhidos para nascer um dia. Fomos e somos tão importantes que coube-nos uma missão única e especial e se morremos é porque a cumprimos.
Mas, contudo, a morte deve vir naturalmente como vem o dia depois da noite, a fome depois de horas sem comer, o cansaço depois do trabalho árduo, o gozo depois do bom sexo e assim por diante. Apenas ela não pode ser provocada, buscada, convidada antes da hora.
Nem pensar em suicídios, penas de morte, abortos, eutanázias e o que o valham. Se a pessoa está em coma há anos e vive vegetativamente, é porque tem que ser assim. Faz parte dos designos do universo. Ela já se acomodou, já se encontra confortável no seu canto, cumprindo sua missão, passiva, mas aos nossos olhos de pequenez inexplicável. Se está consciente, ela pensa e o seu pensamento é uma energia rarefeita orientada pelas trilhas da sabedoria maior que sabe muito bem, precisa dela e por isso mesmo, a constituiu desta forma. Aparentemente sofrível, mas pode,no seu âmago ser o maior dos prazeres. E quem somos nós para distinguirmos uma coisa da outra?
Se a pessoa antes deste estado pedia a eutanázia, como geralmente o alegam seus parentes e responsáveis - que na verdade o que querem, consciente ou inconscientemente é se verem livres do trambolho que carregam. Com certeza a esta altura ela já mudou de opinião e pediria para que não a matassem. É como nós quando vivemos certas experiências novas que se fazem acompanhar de uma força, uma nova adrenalina que nos alivia a dor que nos é dada. Sendo, portanto, um processo natural toda morte é um grande prêmio e tem que vir quando tiver que vir, de forma autônoma, natural e livre, como uma brisa, um sonho bom, uma primavera enluarada.
Uma enorme felicidade. Morrer, mesmo fazendo uma comparação materialista baixíssima, é como, por exemplo, conseguir-se um ótimo emprego para quem está sequioso por ele. Passar num ótimo concurso, ganhar na loteria, fazer um ótimo casamento. Enfim, morrer é também uma felicidade.
Mas o ediondo mundo capitalista não nos permite pensar e nem agir assim. Pois, colocaríamos em planos distintos as matérias, os produtos, os bens tocáveis, tangíveis e mensuráveis, traduzindo-se em dinheiro, em bens, em poder. Estas coisas pobres e miseráveis em torno das quais, já no terceiro milênio de evolução da humanidade, as instituições, as escolas, as crenças. as culturas, os governos, as famílias, enfim, a vida, ainda sub-existem em função delas.
Não devemos nos entristecer quando alguém nosso morre. Ao contrário, como orgulhosamente viviam muitas e muitas das comunidades milenares, morte é festa. É um grande motivo de alegria. Entristecemo-nos com a morte do outro porque somos fracos e covardes. Porque aquela pessoa vai-nos fazer falta. Não vai mais nos amar, lavar nossas roupas, cozinhar para nós, nos fazer companhia, dar-nos conselhos. Rir, dançar, cantar conosco. Ficamos tristes porque somos sádicos e egoístas. Pensamos em nós que não merecemos ainda o presente belíssimo da morte: um ramalhete de Deus. E este, só o entrega aos seres especiais, lindos, completos, iluminados, prontos e que merecem este presente. E, com ele, serem felizes sorrindo supremamente e por toda uma eternidade universal e divina.
Resta-nos esperar. E fazer tudo para que venha quando for o seu tempo certo. Que seja belo e delicado assim como as ações que desempenhamos enquanto ficamos por aqui: "gemendo e chorando neste vale de lágrimas". As pessoas morrem como vivem. E devemos fazer de tudo para morrermos como tenhamos vivido: belamente, fortemente, impetuosamente... Como os animais, por exemplo, que geralmente morrem sadios, dormindo e sonhando com bondades e delícias. Sentindo os aromas magníficos da energia do mundo e da vida, da qual a morte é parte importantíssima, inseperável e fundamental para que co-existam. Nascemos e vivemos para morrer. E morrer bem significa o cumprimento do que viemos fazer aqui. Alegremo-nos, pois. Afinal, a morte existe para que morramos de tanto viver, complementando assim a merecida felicidade para os que são bons. Ou pelo menos, desejos de sê-lo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

EU TE COMPREENDO - Antonio Roberto Soares




Sim, eu te compreendo ...

Eu sei das tuas tensões, dos teus vazios e da tua inquietude. Eu sei da luta que tens travado à procura de Paz. Sei também das tuas dificuldades para alcançá-la. Sei das tuas quedas, dos teus propósitos não cumpridos, das tuas vacilações e dos teus desânimos.

Eu te compreendo.. . Imagino o quanto tens tentado para resolver as tuas preocupações profissionais, familiares, afetivas, financeiras e sociais. Imagino que o mundo, de vez em quando, parece-te um grande peso que te sentes obrigado a carregar. E tantas vezes, sem medir esforços.

Eu conheço as tuas dúvidas, as dúvidas da natureza humana. Percebo como te sentes pequeno quando teus sonhos acalentados vão por terra, quando tuas expectativas não são correspondidas. E essas inseguranças com o amanhã? E aquela inquietação atroz em não saberes se amanhã as pessoas que hoje te rodeiam ainda estarão contigo? De não saberes se reconhecerão o teu trabalho, se reconhecerão o teu esforço. E, por tudo isto, sofres, e te sentes como um barco sozinho num mar imenso e agitado.

E não ignoro que, muitas vezes, sentes uma profunda carência de amor. Quantas vezes pensaste em resolver definitivamente os teus conflitos no trabalho ou em casa. E nem sempre encontraste a receptividade esperada ou não tiveste força para encaminhar a tua proposta. Eu sei o quanto te dói os teus limites humanos e o quanto às vezes te parece difícil uma harmonia íntima. E não poucas vezes, a descrença toma conta do teu coração.

Eu te compreendo.. . Compreendo até tuas mágoas, a tristeza pelo que te fizeram, a tristeza pela incompreensão que te dispensaram, pelas ingratidões, pelas ofensas, pelas palavras rudes que recebeste. Compreendo até as tuas saudades e lembranças. Saudade daqueles que se afastaram de ti, saudade dos teus tempos felizes, saudade daquilo que não volta nunca mais... E os teus medos? Medo de perderes o que possuis, medo de não seres bom para aqueles que te cercam, medo de não agradares devidamente às pessoas, medo de não dares conta, medo de que descubram o teu íntimo, medo de que alguém descubra as tuas verdades e as tuas mentiras, medo de não conseguires realizar o que planejaste, medo de expressares os teus sentimentos, medo de que te interpretem mal.

Eu compreendo esses e todos os outros medos que tens dentro de ti. Sou capaz de entender também os teus remorsos, as faltas que cometeste, o sentimento de culpa pelos pequenos ou grandes erros que praticaste na tua vida. E sei que, por causa de tudo isso, às vezes te encontras num profundo sentimento de solidão. É quando as coisas perdem a cor, perdem o gosto e te vês envolto numa fina camada de indiferença pela vida. Refiro-me àquela tua sensação de isolamento, como se o mundo inteiro fosse indiferente às tuas necessidades e ao teu cansaço. E nesse estado, és envolvido pelo tédio e cada ação ou obrigação exige de ti um grande esforço. Sei até das tuas sensações de estares acorrentado, preso; preso às normas, aos padrões estabelecidos, às rotineiras obrigações: "Eu gostaria de... mas eu tenho que trabalhar, tenho que ajudar, tenho que cuidar de, tenho que resolver, tenho que!...". Eu te compreendo.. . Compreendo os teus sacrifícios.

E a quantas coisas tens renunciado, de quantos anseios tens aberto mão!... E sempre acham que é pouco... Pouca coisa tens feito por ti e tua vida, quase toda ela, tem sido afinal dedicada a satisfazer outras pessoas. Sei do teu esforço em ajudar as outras pessoas e sei que isso é a semente de tuas decepções. Sei que, nas tuas horas mais amargas, até a revolta aflora em teu coração. Revolta com a injustiça do mundo, revolta com a fome, as guerras, a competição entre os homens, com a loucura dos que detêm o poder, com a falsidade de muitos, com a repressão social e com a desonestidade. Por tudo isso, carregas um grau excessivo de tensões, de angústia e de ansiedade. Sonhas com uma vida melhor, mais calma, mais significativa. Sei também que tens belos planos para o amanhã. Sei que queres apenas um pouco de segurança, seja financeira ou emocional, e sei que lutas por ela.

Mas, mesmo assim, tuas tensões continuam presentes. E tu percebes estas tensões nas tuas insônias ou no sono excessivo, na ausência de fome ou na fome excessiva, na ausência de desejo para o sexo ou no desejo sexual excessivo. O fato é que carregas e acumulas tensões sobre tensões: tensões no trabalho, nas exigências e autoritarismos de alguns, nas condições inadequadas de salário e na inexistência de motivação, nos ambientes tóxicos das empresas, na inveja dos colegas, no que dizem por trás. Tensões na família, nas dependências devoradoras dos que habitam a mesma casa; nos conflitos e brigas constantes, onde todos querem ter razão; no desrespeito à tua individualidade, no controle e cobrança das tuas ações. Eu te compreendo, e te compreendo mesmo. E apesar de compreender- te totalmente, quero dizer-te algo muito importante. Escuta agora com o coração o que te vou dizer:

Eu te compreendo, mas não te apoio! Tu és o único responsável por todos estes sentimentos. A vida te foi dada de graça e existem em ti remédios para todos os teus males. Se, no entanto, preferes a autocomiseraçã o ao invés de mobilizares as tuas energias interiores, então nada posso te oferecer. Se preferes sonhar com um mundo perfeito, ao invés de te defrontares com os limites de um mundo falho e humano, nada posso te oferecer.

Se preferes lamentar o teu passado e encontrar nele desculpas para a tua falta de vontade de crescer; se optastes por tentar controlar o futuro, o que jamais controlarás com todas as suas incertezas; se resolveste responsabilizar as pessoas que te rodeiam pela tua incompetência em tratar com os aspectos negativos delas, em nada posso te ajudar. Se trocaste o auto apoio pelo apoio e reconhecimento do teu ambiente, então nada posso te oferecer. Se queres ter razão em tudo que pensas; se queres obter piedade pelo que sentes; se queres a aprovação integral em tudo que fazes; se escolhestes abrir mão de tua própria vida, em nome do falso amor, para comprares o reconhecimento dos outros, através de renúncias e sacrifícios, nada posso te oferecer. Se entendeste mal a regra máxima "Amar ao próximo como a ti mesmo", esquecendo-te de amar a ti mesmo, em nada posso te ajudar.

Se não tens um mínimo de coragem para estar com teus próprios sentimentos, sejam agradáveis ou dolorosos; se não tens um mínimo de humildade para te perdoares pelas tuas imperfeições; se desejas impressionar os outros e angariar a simpatia para teus sofrimentos; se não sabes pedir ajuda e aprender com os que sabem mais do que tu; se preferes sonhar, ao invés de viver, ignorando que a vida é feita de altos e baixos, nada posso te oferecer.

Se achas que pelo teu desespero as coisas acontecerão magicamente; se usas a imperfeição do mundo para justificar as tuas próprias imperfeições; se queres ser onipotente, quando de fato és simplesmente humano; se preferes proteção à tua própria liberdade; se interiorizaste em ti desejos torturadores; se deixaste imprimirem-se em tua mente venenosas ordens de: "Apressa-te! ", "Não erres nunca!", "Agrade sempre!"; se escolheste atender às expectativas de todas as pessoas; se és incapaz de dar um não quando necessário, em nada posso te ajudar. Se pensas ser possível controlar o que os outros pensam de ti; se pensas ser possível controlar o que os outros sentem a teu respeito; se pensas ser possível controlar o que os outros fazem; se queres acreditar que existe segurança fora de ti, repito:

Eu te compreendo mas, em nome do verdadeiro Amor, jamais poderia apoiar-te! Se recusas buscar no âmago do teu ser respostas para os teus descaminhos, se dás pouca importância a teus sussurros interiores; se esqueceste a unidade intrínseca dos opostos em nossa vida terrena; se preferes o fácil e abandonastes a paciência para o Caminho; se fechaste teus ouvidos ao chamado de retorno; se perdeste a confiança a ponto de não poderes entregar tua vida à vontade onipotente de Deus; se não quiseste ver a Luz que vem do Leste; se não consegues encontrar no íntimo das coisas aquele ponto seguro de equilíbrio no meio de todas as tormentas e vicissitudes; se não aceitas a tua vocação de Viajante com todos os imprevistos e acidentes da Jornada; se não queres usar o tempo, o erro, a queda e a morte como teus aliados de crescimento, realmente nada posso fazer por ti.

Se aspiras obter proteção quando o que precisas é Liberdade; se não descobriste que a verdadeira Liberdade e a autêntica Segurança são interiores; se não sabes transformar a frase "Eu tenho que..." na frase "Eu quero!"; se queres que o fantasma do passado continue a fechar teus olhos para a infinidade do teu aqui e agora; se queres deixar que o fantasma do futuro te coloque em posição de luta com o que ainda não aconteceu e, provavelmente, não chegará a acontecer; se optaste por tratar a ti mesmo como a um inimigo; se te falta capacidade para ver a ti mesmo como alguém que merece da tua própria parte os maiores cuidados e a maior ternura; se não te tratas como sendo a semente do próprio Deus; se desejas usar teus belos planos de mudar, de crescer, de realizar, como instrumentos de auto-tortura; se achas que é amor o apego que cultivas pelos teus parentes e amigos; se queres ignorar, em nome da seriedade e da responsabilidade, a criança brincalhona que habita em ti; se alimentas a vergonha de te enternecer diante de uma flor ou de um por de sol; se através da lamentação recusas a vida como dádiva e como graça, não posso te apoiar.

Mas, se apesar de todo o sono, queres despertar; se apesar de todo o cansaço, queres caminhar; se apesar de todo o medo, queres tentar; se apesar de toda acomodação e descrença, queres mudar, aceita então esta proposta para a tua Felicidade: A raiz de todas as tuas dificuldades são teus pensamentos negativos. São eles que te levam para as dores das lembranças do passado e para a inquietação do futuro. São esses pensamentos que te afastam da experiência de contato com teu próprio corpo, com o teu presente, com o teu aqui e agora e, portanto, distanciando- te de teu próprio coração. Tens presentes agora as tuas emoções? Tens presente agora o fluxo da tua respiração? Tens presente agora a batida do teu coração? Tens agora a consciência do teu próprio corpo? Este é o passo primordial. Teu corpo é concreto, real, presente, e é nele que o sofrimento deságua e é a partir dele que se inicia a caminhada para a Alegria.

Somente através dele se encaminha o retorno à Paz. Jamais resolverás os teus problemas somente pensando neles. Começa do mais próximo, começa pelo corpo. Através dele chegarás ao teu centro, ao teu vazio, àquele lugar onde a semente germina. Através da consciência corporal, galgarás caminhos jamais vistos, entrarás em contato com os teus sentimentos, perceberás o mundo tal como é e agirás de acordo com a naturalidade da vida.

Assume o teu corpo e os teus sentimentos, por mais dolorosos que sejam; assume e observa-os, simplesmente observa-os. Não tentes mudar nada, sê apenas a tua dor. Presta atenção, não negues a tua dor. Para que fingir estar alegre se estás triste? Para que fingir coragem se estás com medo? Para que fingir amor se estás com ódio? Para que fingir paz se estás angustiado? Não lutes contra teus sentimentos, fica do teu próprio lado, deixa a dor acontecer, como deixas acontecer os bons momentos. Pára, deixa que as coisas sejam exatamente como são.

Entra nos teus sentimentos sem os julgar, não fujas deles, não os evites, não queira resolvê-los escapando deles - depois terás de te encontrar com eles novamente, é apenas um adiamento, uma prorrogação. Torna-te presente, por mais que te doa. E, se assim fizeres, algo de muito belo acontecerá! Assim como a noite veio, ela também se irá e então testemunharás o nascer do dia, pois à noite o sol escurece até a meia-noite e, a partir daí, começa um novo dia.

Se assim fizeres, sentirás brotar de dentro de ti uma força que desconhecias e te sentirás renovado na esperança e a vida entrando em ti. Se assim fizeres, entenderás com o coração que a semente morre mesmo, totalmente, antes de germinar e que a morte antecede a vida. E, se assim fizeres, poderei dizer-te então que: Eu te Compreendo e que, assim, tens todo o meu apoio! E verás com muita alegria que, justamente agora, já não precisas mais do meu apoio, pois o foste buscar dentro de ti e o encontraste dentro da tua própria dor! A CAUSA É INTERIOR.

O homem traz a semente de sua vida dentro de si mesmo. O que quer que lhe aconteça, acontece por sua própria causa. As causas externas são secundárias; as causas internas são as principais. Existe a possibilidade de uma transformação. ..E que só você pode conseguir, basta querer...

(Antônio Roberto Soares)
Contato com o blog: antoniocneto@terra.com.br