sexta-feira, 20 de junho de 2008

A RIQUEZA SIMBÓLICA DO FUTEBOL


Não podemos negar que o futebol é a grande coqueluche. A paixão, o encanto das multidões que atravessa épocas, idades, períodos históricos. Uma grande façanha, num mistério que ativa profundamente corações, almas, altera destinos. Faz vibrar, morrer e até matar. Arranca lágrimas, suspiros e gritos de dor até dos que se consideram os mais machos, os intocáveis. E tratam a emoção como coisa de mulher; para os fracos. E estes, são os que mais se esvaem, se entregam, se deprimem com a derrota, o desalento das frustrações futebolísticas...
Fico vendo tudo isto e pensando: - Pobre humanidade, tão leiga, incauta e inocente... coitadinha! A esta altura da evolução da ciência, da tecnologia, de tantas idéias revolucionárias e o ser humano ainda continua submisso e ingênuo a esta barbárie psicológica e social, absolutamente contra a sociedade, a economia e as pessoas. Um cinismo muito bem estruturado para enganar principalmente as classes populares, os pobres, o povo que trabalha, os donos das mãos que alimentam os habitantes da terra.
A vida, é lógico, seria outra se as pessoas gastassem a metade dos neurônios e da energia mental e física que colocam a serviço do futebol discutindo o preço (como eram vendidos os escravos de luxo), o salário do jogador como se fosse o deles. Se preocupando com os lances do jogo, a postura do juiz, a vitória de não sei quem. Ao invés disso, deveriam pensar a política, a economia, o mercado de trabalho, os impostos e taxas, o preço do aroz, do feijão, do aluguél, dos remédios, a péssima qualidade da educação, enfim, os problemas reais que envolvem a vida humana em sociedade.
Será que elas nem de leve desconfiam que o futebol - e os demais esportes competitivos, também - existe inclusive para isto. Para lançar uma nuvem de fumaça entre o indivíduo e os conflitos sociais, a corrupção, o uso fácil das massas, a exploração das mulheres, crianças, dos trabalhadores, a negação dos direitos humanos, da dignidade, da cidadania. Loucas de êxtase, elas não conseguem perceber o crime que se esconde por trás das estratégias do futebol, das negociatas que o envolvem, inclusive na simbologia do jogo, na competição entre machos que chutam, ferem, tomam a qualquer custo para aumentarem vantagens próprias.
Não enxergam os coitados que a própria vida também é conduzida da mesma forma, da luta de vencedores engolindo vencidos e colocam no meio da arena o futebol, justamente para ocultar o conflito, neutralizar consciências, alienar as pessoas.
A ficha de ninguém cai? Será que é tão maravilhoso assim ver um bando, uma chusma de suados e fedorentos correndo atrás de uma bola? Querendo tomá-la a qualquer custo, competindo, chutando, e, de vez enquando, fazer aquela rede tremer como uma péssoa doente? Não é muito pouco e pobre frente a complexidade da vida, os problemas que enfrentamos, as dores, os sofrimentos, os conflitos do mundo?
Pensando desta forma, de fato o futebol é muito rico. Não só de maneira simbólica, mas, também, de forma concreta. É riquíssimo em estratégias para manipular e tornar fácil o abuso das massas, das galeras, das torcidas cegas.
Quem vibra tanto numa partida, dá socos e urros, espuma o canto da boca para xingar o juiz e os jogadores adversários durante uma partida de futebol, jamais terá ânimo ou disposição para analisar as questões vivenciais mais sérias. Será incapaz de perceber se está ou não sendo usurpado pelos impostos, as leis, o governo, os patrões, os afortunados, os políticos miseravelmente corruptos. Será uma presa fácil ao jugo exterminador das elites capitalistas. Então, na universalização do futebol são sempre elas que ganham. E o seu placar deve marcar no mínimo uns dez a zero para elas, para as elites, que, satisfeitas têm mais este recurso em seu favor e fazem de tudo para perpetuá-lo.
Walter Bracht, um cientista brasileiro da motricidade humana, afirma em seu importante ensaio intitulado: "A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo...capitalista"... Quando nos diz que "cumprindo o papel de reforçar a estereotipação do comportamento masculino, o futebol tem contribuido enormemente para o adestramento mental e físico necessário para a preparação e a manutenção da força de trabalho necessária aos interesses da classe dominante." E continua : " o aprendizado do futebol enfatiza o respeito incondicional e irrefletido às regras e dá a estas um caráter estático e inquestionável. O que não leva à reflexão e ao questionamento, mas sim, à acomodação, forjando um conformista feliz e eficiente. Nele, o aprender as regras significa reconhecer e aceitar regras pré-fixadas. Pois o comportamento inconformado à regra não leva a uma transformação do futebol, mas à imediata exclusão do indivíduo inconformado. No que entra a autoridade do juíz que, no inconsciente coletivo, representa os poderes sociais estabelecidos, o mito das autoridades a quem devemos toda a obediência"...
Ora, isto é, politicamente, um grande malefício contra a sociedade que quer e precisa se transformar para alçar os padrões mínimos da dignidade e da cidadania. E aí, estes ilustres senhores que dão sua vida a serviço do futebol, dele extraindo fortunas incalculáveis, status, prestígio e valores, em nenhum momento desconfiam que trabalham contra a sociedade, contra os humildes, os pobres, o povo. Não percebem, porque não querem. Porque enquadram o ser humano aos esquemas da exploração, da fome, da miséria, da violência. E assim, na mesma proporção em que a sociedade mais se oprime, mais aumentam os esquemas, as estratégias do futebol, dos jogos, campeonatos, torneios, copas, etc.
E mais, se numa partida, as duas equipes têm condições iguais para jogar? Então a que ganha é porque foi superior, mais preparada, mais dedicada e mereceu o mérito. O que, como num passe de mágica é repassado para o inconsciente das pessoas que internalizam uma sensação idêntica para as relações econômicas, sociais e do trabalho. Assim, "se o meu patrão é rico e bem-sucedido é porque ele é melhor do que eu. Estudou, se dedicou e merece o mérito. Pois nascemos em condições iguais." Onde se ocultam as relações de poder e as dicotomias socioeconônomicas, residindo aí o crime maior dos esportes competitivos: o de assassinar a consciência crítica das pessoas, tornando-as inocentes úteis a todos os processos exploratórios.
É preciso, para fixar melhor isto, criar líderes econômicos com salários arquimilionários, como os mitos do futebol, recebendo homenagens estonteantes, para quem são estendidos tapetes vermelhos enfrente aos maiores palácios do mundo. Vigiar dia e noite os astros, policiando suas vidas. Caso contrário, a coisa perde o sentido. Se o atleta, geralmente um beócio, um pateta, um bobo, se transforma numa pessoa comum. O futebol, sendo, como deveria, um instrumento lúdico para a distração, o lazer e a saúde, dexaria de ser este importante meio político de manipulação humana e social. Ajudando a manter a ostentação de poucos por meio da exploração de muitos. Assim, como todas as demais práticas sociais prestam um único serviço: o de aniquilar a percepção crítica para que os ricos continuem mais ricos, os explorados mais explorados, os pobres muito mais pobres e tudo permaneça como se fosse certo, justo e normal. Pois se no futebol ganha quem é o melhor, na vida também é assim e pronto.
É por isso que os poucos representantes cínicos das elites, barrigudos e impecavelmente bem-vestidos em seus ternos caríssimos, se apresentam com um indisfarçável sorriso nos lábios durante as comemorações das vitórias, as entregas de títulos, troféus e medalhas. Pois sabem que ali se escondem os mecanismos perversos de perpetuação das suas fortunas construídas às custas do suor dos torcedores, do sofrimento das galeras. Os profissionais do futebol e do esporte se vendem a estes déspotas degenerados para constituirem este espetáculo de horror. E o pior, acreditam piamente, juram que não. Ao contrário, afirmam que agem pelo povo sofrido, que amam o Brasil e que fazem tudo pelo país. Inclusive ganham medalhas, acumulam troféus em suas estantes dentro das mansões luxuosas compradas com os muitos milhões que ganham jogando bola como se isto fosse a coisa mais importante do mundo.
Mas um dia, não sei quando, há de despertar a verdade. E os trabalhadores do futebol, os grandes atletas e o povo desconfiarão desta imensa farsa. Deste crime com cara lúdica de palhaço drogado. Tomara que ainda seja tempo para a reversão de alguns processos. E que, apesar de tudo, a dignidade possa abrir suas imensas asas sobre todos. Para aí sim, podermos comemorar, nos abraçar, cantar e dançar pelas ruas, de alma lavada. E não mais como os bobalhões ridículos de hoje em dia, festejando a própria desgraça e sem se dar conta disso.
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Antonio da Costa Neto

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A MUSA IMPASSÍVEL - A Poetisa Parnasiana Francisca Júlia da Silva




foto de Jo7Caldeira
O meu canto favorito em São Paulo é o triângulo formado pela Estação da Luz, o Parque da Luz e a Pinacoteca. E dentro da Pinacoteca, e dentre o seu acervo imperdível, está a minha escultura favorita: a Musa Impassível. O que eu nunca imaginei, era a baita história por trás dela.
O nome, tão apropriado para essa escultura em granito carrara, de quase 3 metros de altura, 3 toneladas, e aquela expressão, completamente...impassível. E a melhor parte é que a história da obra é tão impressionante quanto a escultura em si.
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A escultura foi feita por Victor Brecheret, também responsável pelo Monumento as Bandeiras, que fica em frente ao Parque Ibirapuera. Antes de ir para a Pinacoteca, a Musa adornava o túmulo da poetisa Francisca Júlia, no Cemitério do Araçá (na Dr. Arnaldo), que faleceu no dia 1 de novembro de 1920.
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Francisca Júlia da Silva nasceu em 1871 na antiga Vila de Xiririca, hoje município de Eldorado, interior de São Paulo. Ela se mudou aos 8 anos de idade para São Paulo, e já demonstrava um grande talento com as palavras. Aos 14 anos começou a escrever versos para o jornal O Estado de S.Paulo, Correio Paulistano e para o Diário Popular.
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Seu primeiro livro, “Mármores”, foi lançado em 1895, com muitos elogios da crítica - e não custa lembrar que era uma época em que as mulheres tinham pouca ou nenhuma voz. Nesse livro se encontra um poema, Musa Impassível, reproduzido aqui embaixo.
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Após lançar em 1899 o "Livro da Infância", para rede de escolas públicas de São Paulo, a poetisa se tornou precursora da literatura infantil no Brasil. Em 1909 ela se casou com o telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil, Filadelfo Edmundo Munster, que foi diagnosticado com tuberculose em 1916 e veio a falecer em 1920.
Poucas horas após o seu falecimento, Francisca Júlia foi encontrada morta no quarto do marido. Apesar de ter sido cogitada a hipótese de suicídio, a história que seguiu era de que a poetisa haviamorrido de amor.
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Após a sua morte, um grupo de intelectuais liderado pelo senador e mecenas José Freitas Valle, entrou em contato com o Presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís, para encomendar uma escultura que estaria à frente do túmulo da poetisa. Com a autorização em mãos, Freitas Valle contactou o jovem escultor brasileiro que estudava em Paris, Victor Brecheret.
"Brecheret realizou o trabalho de 1921 a 1923 em Paris. O resultado não poderia ser melhor. Uma linda escultura envolvida por sensualidade. Olhos fechados que nos remete a querer esquecer a dor da morte. Seios grandes e fartos para afirmar a importância da mulher na sociedade. Dedos e braços longos e delicados simbolizando a força e a superioridade de uma mulher que abriu segmento na literatura feminina. Nascia a Musa Impassível"
A escultura foi instalada em seu túmulo em 1923 e por ali residiu até começarem ser percebidos os danos causados pela urbanização da cidade, principalmente pela chuva ácida. Em 13 de dezembro de 2006, 83 anos depois de sua instalação, a escultura foi retirada com a ajuda de 15 pessoas e um guindaste.
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Saindo do mundo dos mortos para o mundo dos vivos, a escultura chega finalmente à Pinacoteca, e no lugar da escultura original, foi colocada uma réplica em bronze.
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| Essa e outras histórias você encontra no site São Paulo Antiga.











Muito pouco se escreveu sobre o maior vulto feminino do parnasianismo brasileiro. Num universo inteiramente dominado por poetas do chamado sexo forte, Francisca Júlia provou que mulher também sabia fazer poesia de qualidade. Como poucos, criou versos perfeitos e em nada ficou a dever à chamada "trindade parnasiana" (Olavo Bilac, Raimundo Correa e Alberto de Oliveira, que foram seus admiradores e principais incentivadores).
Desde a infância, Francisca Júlia já demonstrava pendor para a poesia. O ambiente familiar a isso contribuía: o pai, Miguel Luso da Silva, era advogado provisionado, amigo particular dos livros; a mãe, Cecília Isabel da Silva, professora na escola de Xiririca (hoje Eldorado, no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo). Foi nessa aprazível cidade às margens do Rio Ribeira de Iguape que, a 31 de agosto de 1871, nasceu a poetisa Francisca Júlia da Silva. O ano de seu nascimento é um tanto contraditório: alguns citam 1874, outros 1875. De acordo com o irmão de Francisca, o também escritor Júlio César da Silva, a quem devemos dar crédito, o ano correto é mesmo 1871.
Transferindo-se com os pais para São Paulo, Francisca Júlia logo passou a colaborar com os jornais mais importantes da época. Sua estréia deu-se no jornal O Estado de S. Paulo, onde publicou seus primeiros sonetos. A partir de então, começou a colaborar assiduamente para o Correio Paulistano e Diário Popular. Colaborou também para jornais do Rio de Janeiro, com destaque para as revistas O Álbum, de Arthur Azevedo, e, especialmente, A Semana.
Em 1895, apareceria seu primeiro livro, Mármores, reunindo sonetos publicados n´A Semana de 1893 até aquele ano, custeado pelo editor Horácio Belfort Sabino. Prefaciado por João Ribeiro, o livro causou sensação nas rodas culturais de São Paulo e Rio de Janeiro. Olavo Bilac, numa crônica emocionada, destacou: "Em Francisca Júlia surpreendeu-me o respeito da língua portuguesa, não que ela transporte para a sua estrofe brasileira a dura construção clássica: mas a língua doce de Camões, trabalhada pela pena dessa meridional, que traz para a arte escrita todas as suas delicadezas de mulher, toda a sua faceirice de moça, nada perde da sua pureza fidalga de linhas. O português de Francisca Júlia é o mesmo antigo português, remoçado por um banho maravilhoso de novidade e frescura."
A Semana era uma das revistas mais conceituadas que então se editava na Capital Federal. Dirigida por Valentim Magalhães, tinha como redatores ilustres escritores da época: João Ribeiro, Araripe Júnior e Lúcio de Mendonça. A estréia de Francisca Júlia na revista provocou grande alvoroço: os redatores não acreditavam que uma mulher pudesse escrever versos tão perfeitos. Não foi sem razão que João Ribeiro exclamou: "Isto não é verso de mulher! Deve ser uma brincadeira do Raimundo Correa!..."
Encantado com esse talento literário que emergia, João Ribeiro prefaciaria o livro Mármores. Ombreando-a à trindade parnasiana, Ribeiro escreveu: "Nem aqui, nem no sul nem no norte, onde agora floresce uma escola literária, encontro um nome que se possa opor ao de Francisca Júlia. Todos lhe são positivamente inferiores no estro, na composição e fatura do verso, nenhum possui em tal grau o talento de reproduzir as belezas clássicas com essa fria severidade de forma e de epítetos que Heredia e Leconde deram o exemplo na literatura francesa."
João Ribeiro espargiu mais elogios, recordando a estréia da poetisa n´A Semana: "A sua poesia enérgica, vibrante, trazia a veemência de sonoridades estranhas, nunca ouvidas, uma música nova que as cítaras banais do nosso Olimpo nos haviam desacostumado."
Tanto confete lançado em torno de sua estréia literária parece não ter subido a cabeça da jovem e já consagrada poetisa, então com 24 anos. Ao contrário, cada vez mais incentivada por amigos de peso, dedica-se integralmente à atividade poética, traduzindo para o português versos do poeta alemão Heine. Apesar de parnasiana na forma, Francisca Júlia também teve alguma passagem pelo simbolismo, introduzido no Brasil nessa última década do Século XIX. Em 1899, juntamente com o irmão Júlio César, escreve o Livro da Infância, obra didática logo adotada pelo Governo de São Paulo em escolas do primeiro grau. Seu segundo e último livro de poesias, Esfinges, porém, só apareceria em 1903, novamente prefaciado pelo amigo e admirador João Ribeiro, sendo editado pela firma Bentley Júnior & Cia. A exemplo de Mármores, seu novo livro foi igualmente aplaudido pela crítica. Aristeu Seixas não poupou elogios: "Nenhuma pena manejada por mão feminina, seja qual for o período que remontemos, jamais esculpiu, em nossa língua, versos que atinjam a perfeição sem par e a beleza estonteante dos concebidos pelo raro gênio da peregrina artista."
Outros poetas famosos não deixaram de manifestar, em crônicas emocionadas, vibrantes elogios à mais nova produção literária de Francisca Júlia, entre eles, Vicente de Carvalho e Coelho Neto. Em 1909, a poetisa contrai matrimônio com Filadelfo Edmundo Munster, telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil. A bela cerimônia, que teve Vicente de Carvalho como padrinho, realizou-se na capela de Lajeado, Capital (SP). Nessa ocasião, foi convidada (e gentilmente recusou) a fazer parte da Academia Paulista de Letras, então em vias de ser fundada. A partir desse ano, decide deixar a poesia de lado e se dedicar apenas ao esposo e ao lar. Alguns anos mais tarde, outra vez em colaboração com o irmão Júlio César, produz seu último trabalho literário, Alma Infantil, editado em 1912 pela Livraria Magalhães. Na segunda década do século, Francisca Júlia já era uma poetisa há muito consagrada. Aos 46 anos, recebe a maior homenagem que lhe prestaram em vida, quando um grupo de admiradores organizou, em 1917, uma sessão literária e ofereceu seu busto à Academia Brasileira de Letras. Era a consagração da talentosa artífice de versos, da "Musa Impassível", como ficou conhecida. Acometido de tuberculose, após demorado tratamento, Filadelfo Munster faleceu em 31 de outubro de 1920. A perda do companheiro tão querido foi arrasadora para a sensível poetisa, cuja emoção não pode conter, em nada demonstrando ser a autora daqueles versos frios, impassíveis. Confessou aos amigos que sua vida não tinha mais sentido sem a companhia do marido e deixou claro que "jamais poria o véu de viúva" (seria uma indicação de suicídio?).
Retirou-se para repousar em seu quarto e ingeriu excessiva dose de narcóticos. No dia seguinte, ao abraçar o caixão onde jazia o corpo inerte do esposo, num último e emocionado adeus, Francisca Júlia falecia aos 49 anos. Seu corpo foi enterrado no Cemitério do Araçá, em São Paulo, ao meio-dia de 2 de novembro.
Foi apresentada proposta, pelo deputado estadual Freitas Vale, para se erigir uma mausoléu em memória à poetisa, que seria construído no governo de Washington Luiz. Sobre essa escultura, as palavras de Menotti del Picchia dizem tudo: "A estátua que se ergue hoje no cemitério do Araçá, a Musa Impassível, é um mármore criado pelo cinzel triunfal de Victor Brecheret. Na augusta expressão dos seus olhos, do seu busto ereto, da suas mãos rítmicas, há toda a grandeza e a beleza daquela musa impassível da formidável parnasiana que concebeu e realizou a Danças das Centauras . O estatuário é bem digno da poetisa."
A despeito da importância incontestável de sua obra, Francisca Júlia ainda não ocupa o lugar que lhe é devido no cenário da poesia brasileira, talvez por "esquecimento" dos estudiosos da literatura brasileira e dos críticos literários em geral. Nos livros didáticos adotados nas escolas secundárias e nas universidades, pouco ou nada se encontra sobre a poetisa e sua obra. É uma falta de respeito à sua memória e uma dívida a ser resgatada com a literatura de língua portuguesa.
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Desde o dia 13 de dezembro de 2006, a escultura de Victor Brecheret, Musa Impassível, foi transferida do Cemitério do Araçá para a Pinacoteca do Estado. O monumento, concebido em data desconhecida, tem 2,80m e trata-se de uma homenagem póstuma à poetisa parnasiana Francisca Júlia da Silva - falecida em 1920. E ficou exposta, ao ar livre, por mais de 60 anos a pleno processo de degradação pelas intempéries do tempo e a poluição gerada pelos carros que trafegam nas vias vizinhas ao cemitério, apesar da sua extrema importância para a arte e a cultura brasileiras. Durante um período seis meses, profissionais especializados submeteram a peça a um minucioso processo de restauro, que pôde ser acompanhado pelos visitantes. Segundo a historiadora e coordenadora do projeto, Márcia Camargos, seria incabível manter esta preciosa recuperação longe dos olhos do público. Ela ainda esclarece que uma réplica em bronze, de 2,8 metros, substituiu a peça original no Cemitério do Araçá. Musa Impassível é uma homenagem de Brecheret à poetisa parnasiana Francisca Júlia da Silva. A obra se encontrava no túmulo de Francisca e foi descoberta, há 15 anos, pela filha do artista, Sandra Brecheret Pellegrini.


Pinacoteca do Estado de São Paulo:
Praça da Luz, 2
(11) 3229-9844
São Paulo - SP
_______
Roberto Fortes
(Escritor e poeta, prepara livro sobre a vida e a obra de Francisca Júlia).

terça-feira, 3 de junho de 2008

ANTONIO, O SANTO DO MEU NOME


SANTO ANTONIO

"Ó meu Senhor Jesus, eu estou pronto a seguir-te mesmo no cárcere,

mesmo até a morte, a imolar a minha vida por teu amor,

porque sacrificaste a tua vida por nós."
__________

Estamos no mês de junho e por isso resolvi prestar esta homenagem ao meu querido chará, o Antonio, meu santo preferido. Protetor dos pobres, o auxílio na busca de objetos ou pessoas perdidas, o amigo nas causas do coração. Assim é Santo Antônio de Pádua, frei franciscano português, que trocou o conforto de uma abastada família burguesa pela vida religiosa.
Contam os livros que o santo nasceu em Lisboa, em 15 de agosto de 1195, e recebeu no batismo o nome de Fernando. Ele era o único herdeiro de Martinho, nobre pertencente ao clã dos Bulhões y Taveira de Azevedo. Sua infância foi tranqüila, sem maiores emoções, até que resolveu optar pelo hábito. A escolha recaiu sobre a ordem de Santo Agostinho.Os primeiros oito anos de vida do jovem frei, passados nas cidades de Lisboa e Coimbra, foram dedicados ao estudo.
Nesse período, nada escapou a seus olhos:
desde os tratados teológicos e científicos às Sagradas Escrituras. Sua cultura geral e religiosa era tamanha que alguns dos colegas não hesitavam

em chamá-lo de "Arca do Testamento".
Reservado, Fernando preferia a solidão das bibliotecas e dos oratórios às discussões religiosas. Bem, pelo menos até um grupo de franciscanos cruzar seu caminho.
O encontro, por acaso, numa das ruas de Coimbra marcou-o para sempre.
Eles eram jovens diferentes, que traziam nos olhos um brilho desconhecido.
Seguiam para o Marrocos, na África, onde pretendiam pregar
a Palavra de Deus e viver entre os sarracenos.
A experiência costumava ser trágica. E daquela vez não foi diferente. Como a maioria dos antecessores, nenhum dos religiosos retornou com vida.
Depois de testemunhar a coragem dos jovens frades, Fernando decidiu entrar para a Ordem Franciscana e adotar o nome de Antônio, numa homenagem à Santo Antão. Disposto a se tornar um mártir, ele partiu para o Marrocos, mas logo após aportar no continente africano, Antônio contraiu uma febre, ficou tão doente que foi obrigado à voltar para a casa.
Mais uma vez, os céus lhe reservava novas surpresas. Uma forte tempestade obrigou seu barco a aportar na Sicília, no sul da Itália. Aos poucos, recuperou a saúde e concebeu um novo plano: decidiu participar da assembléia geral da ordem em Assis, em 1221, e deste modo conheceu São Francisco pessoalmente.
É difícil imaginar a emoção de Santo Antônio ao encontrar seu mestre e inspirador, um homem que falava com os bichos e recebeu as chagas do próprio Cristo. Infelizmente, não há registros deste momento tão particular da história do Cristianismo. Sabe-se apenas que os dois santos se aproximaram mais tarde, quando o frei português começou a realizar as primeiras pregações. E que pregações! Santo Antônio era um orador inspirado. Suas pregações eram tão disputadas que chegavam a alterar a rotina das cidades, provocando o fechamento
adiantado dos estabelecimento comerciais.
De pregação em pregação, de povoado em povoado, o santo chegou a Pádua. Lá, converteu um grande número de pessoas com seus atos e suas palavras. Foi para esta cidade que ele pediu que o levassem quando seu estado de saúde piorou, em junho de 1231. Santo Antônio, porém, não resistiu ao esforço e morreu no dia 13, no convento de Santa Maria de Arcella, às portas da cidade que batizou de "casa espiritual".
Tinha apenas 36 anos de idade.
O pedido do religioso foi atendido dias depois, com seu enterro na Igreja de Santa Maria Mãe de Deus. Anos depois, seus restos foram transferidos para a enorme basílica, em Pádua. O processo de canonização de frei Antônio encabeça a lista dos mais rápidos de toda a história. Foi aberto meses depois de sua morte, durante o pontificado de Papa Gregório IX, e durou menos de ano.
Graças a sua dedicação aos humildes, Santo Antônio foi eleito pelo povo o protetor dos pobres. Transformou-se num dos filhos mais amados da Igreja, um porto seguro a qual todos – sem exceção – podem recorrer.
Uma das tradições mais antigas em sua homenagem é, justamente, a distribuição de pães aos necessitados e àqueles que desejam proteção em suas casas.
Homem de oração, Santo Antônio se tornou santo porque dedicou toda a sua vida para os mais pobres e para o serviço de Deus.
Diversos fatos marcaram a vida deste santo, mas um em especial era a devoção a Maria. Em sua pregação, em sua vida a figura materna de Maria estava presente. Santo Antônio encontrava em Maria além do conforto a inspiração de vida.
O seu culto, que tem sido ao longo dos séculos objeto de grande devoção popular é difundido por todo o mundo através da missionação e miscigenado
com outras culturas (nomeadamente Afro-Brasileiras e Indo-Portuguesas).
Santo Antônio torna-se um dos santos de maior devoção de todos os povos e sem dúvida o primeiro português com projeção universal.
De Lisboa ou de Pádua, é por excelência o Santo "milagreiro", "casamenteiro", do "responso" e do Menino Jesus. Padroeiro dos pobres é invocado
também para o encontro de objetos perdidos.
Sobre seu túmulo, em Pádua, foi construída a basílica em sua homenagem, até hoje, uma das mais visitadas do mundo.

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Bênção do
pão de Santo Antonio

Senhor, Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso abençoai + este pão, pela intercessão de Santo Antônio, que por sua pregação e exemplo distribuiu o pão da vossa Palavra aos vossos fiéis. Este pão recorde aos que o comerem ou distribuírem com devoção, o pão que vosso Filho multiplicou no deserto para a multidão faminta, o Pão Eucarístico que nos dais todos os dias no mistério da Eucaristia; e fazei que este pão nos lembre o compromisso para com todos os nossos irmãos necessitados de alimento corporal e espiritual. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, pão vivo que desceu do céu, e dá vida e salvação ao mundo,na unidade do Espírito Santo.
Amém!

Para que não F
alte o Pão

Santo Antônio, amigo dos pobres, peço-te a graça de nunca faltar pão e alimento em nossa mesa.Prometo-lhe, por minha vez, olhar sempre para os mais necessitados, repartindo com eles o pão que nos mandares, através do trabalho honesto. Ajuda-nos a buscar sempre o Pão vivo que desceu do céu, que é Jesus na Eucaristia.
Amém

Oração para Achar Objetos P
erdidos

Eu vos saúdo, glorioso Santo Antônio, fiel protetor dos que em vós esperam. Já que recebestes de Deus o poder especial de fazer achar os objetos perdidos, socorrei-me neste momento, a fim de que, mediante vosso auxílio, eu encontre o objeto que procuro... Alcançai-me, sobretudo, uma fé viva, uma esperança firme, uma caridade ardente e uma docilidade sempre pronta aos desejos de Deus. Que eu não me detenha apenas nas coisas deste mundo. Saiba valorizá-las e utilizá-las como algo que nos foi emprestado e lute sobretudo por aquelas coisas que ladrão nenhum pode nos arrebatar e nem iremos perder jamais.
Assim seja.

Ato de Consagração a Santo Antonio

Ó grande e bem-amado Santo Antônio de Pádua! Vosso amor a Deus e ao próximo, vosso exemplo de vida cristã, fizeram de Vós um dos maiores Santos da Igreja. Eu vos suplico tomar sob vossa proteção valiosa minhas ocupações, empreendimentos, e toda a minha vida. Estou persuadido de que nenhum mal poderá atingir-me enquanto estiver sob vossa proteção. Protegei-me e defendei-me: sou um pobre pecador. Recomendai minhas necessidades e apresentai-vos como meu medianeiro a Jesus, a quem tanto amais. Por vosso mérito, Ele aumente minha fé e caridade, console-me nos sofrimentos, livre-me de todo mal e não me deixe sucumbir na tentação.Ó Deus poderoso, livrai-me de todo o perigo do corpo e da alma. Auxiliado continuamente por Vós, possa viver cristãmente e santamente morrer.
Amém.

Oração pelos B
enfeitores

Ó glorioso Santo Antônio, que estás tão perto do Senhor, peço-te que intercedas por todos os que me amam e que me fazem algum bem. Lembra-te também de todos os que, no passado, se aproximaram de mim com sua bondade, sua ajuda e seu conforto. Que o Senhor atenda suas aspirações e desejos, recompensando abundantemente a generosidade deles nesta vida e no céu.
Amém.

Para A
lcançar uma Graça
Eu te saúdo, pai e protetor Santo Antônio!Intercede por mim junto a Nosso Senhor Jesus Cristo a fim de que ele me conceda a graça que desejo (mencionar a graça).Eu te peço, amado Santo Antônio, pela firme confiança que tenho em Deus a quem serviste fielmente. Eu te peço pelo amor do menino Jesus que carregastes em teu braço. Eu te peço por todos os favores que Deus te concedeu neste mundo, pelos inúmeros prodígios que Ele operou e continua operando diariamente por tua intercessão.
Amém

Oração por uma Pessoa E
nferma

Ó querido Santo Antônio, que sempre ajudaste os que a ti recorrem com confiança, peço-te com fervor por uma pessoa doente a quem quero muito.Suplico-te que obtenhas o dom da sua cura ou, pelo menos, que sejam aliviados os seus sofrimentos, e ela tenha a força de oferecê-los a Deus em união com a paixão de Cristo.Tu, que na tua vida terrena foste amigo dos que sofrem e te prodigalizaste em favor deles através da caridade e do teu dom dos milagres, fica a nosso lado com tua proteção, consola o nosso coração, e faze que nossos sofrimentos físicos e morais sejam fonte de merecimento para a vida eterna.
Amém.

Oração para Pedir um E
mprego

Santo Antônio, olha compassivo para minha necessidade.Preciso de trabalho para cumprir o mandamento do Senhor. Preciso trabalho para o sustento meu e dos meus familiares. Faze que eu encontre um trabalho digno, honrado e remunerado. Ajude-me neste momento angustioso, tu que conheceste o valor do trabalho, o sacrifício da fome, a alegria de ter um lar feliz.
Amém.
Oração pela Família

Querido Santo Antônio! Abençoai e protegei a nossa família. Conservai-a sempre unida no amor. Assisti-a nas necessidades temporais e afastai dela todo mal. Abençoai-nos. Fazei que nunca nos falte trabalho como também todas as coisas necessárias para podermos viver honestamente e educar bem os filhos.

Oração para os N
amorados

Meu grande amigo Santo Antônio, tu que és o protetor dos namorados, olha para mim, para a minha vida, para os meus anseios. Defende-me dos perigos, afasta de mim os fracassos, as desilusões, os desencantos. Faze que eu seja realista, confiante, digna e alegre. Que eu encontre um namorado que me agrade, seja trabalhador, virtuoso e responsável. Que eu saiba caminhar para o futuro e para a vida a dois com as disposições de quem recebeu de Deus uma vocação sagrada e um dever social. Que meu namoro seja feliz e meu amor sem medidas. Que todos os namorados busquem a mútua compreensão, a comunhão de vida e o crescimento na fé.
Assim seja.

Oração a
Santo Antonio

Lembrai-vos, glorioso Santo Antonio, amigo do Menino Jesus, filho querido de Maria Imaculada, de que nunca se ouviu dizer de alguém que tenha recorrido à vós, que tenha sido por vós abandonado. Animado de igual confiança, venho à vós fiel consolador e amparador dos aflitos. Gemendo sob o peso dos meus pecados, me prosto a vossos pés. Não rejeitais, pois, a minha súplica: (fazer o pedido).
Sendo tão poderoso junto ao Coração de Jesus, escutai-a favoravelmente
e dignai-vos a atendê-la.
Rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Glória ao Pai.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O NOVO É NOVO...


O novo é energia magnética que me atrai e me leva à frente de mim mesmo. Eu sou o novo na experiência de meu momento como consciência que percebe. O novo não é algo que pode ser descoberto, pois o novo não se esconde, ele está aí. Antes, sou eu que me escondo do novo na ignorância de não olhá-lo. Não é algo que descoberto, seja, a partir de então, a solução permanente de um cotidiano monótono. O novo é novo, porque é momento, não pode ser repetido.

Ele é individual porque é percepção, porque é unidade de consciência no indivíduo. Tudo é novo, nós é que somos velhos irritados com a mutabilidade, com a novidade de tudo. A eternidade nos assusta porque pensamos na repetição infinita do que somos: velhos.

Há cansaço nisso. Há monotonia sem fim. Há declínio da percepção do que é novo. Há necessidade de estar seguro, amparado por um sistema de "novos" que se suscederam e foram inúmeras vezes testados. Formas criadas como bolhas no mar cósmico da insegurança do que não conhecemos. Belas visões de segurança. Mas apenas visões...

O século XXI ainda significará para a humanidade um novo estado de consciência, algo que hoje é fruto da aspiração daqueles que buscam um estágio superior de evolução. Entretanto, essa época que vislumbramos através dos reflexos dourados que nos toca o espírito, não virá por meio de uma doação divina.

Ela será forjada com o fogo da inspiração da consciência, uma conquista do espírito humano realizada pela transformação individual. A velha fórmula será consumida pelo fogo ardente do coração e o novo emergirá de dentro do ser humano sequioso, vivo, sendento e em infinitas buscas.



(Eduardo Luppi)

domingo, 1 de junho de 2008

POR QUE SOMOS TÃO BURROS?


Por que somos todos tão estúpidos? Por que, em plena “sociedade da informação”, as pessoas vivam justamente o paroxismo da desinformação, da ignorância, da imbecilidade? Por que as pessoas, por exemplo, confundem filosofia com metafísica e saem por aí dizendo cretinices como “a filosofia não serve pra nada?”
As pessoas não sabem que todas as ciências modernas foram criadas, sim, por filósofos? Que, por exemplo, o protocolo “www”, alicerce da internet tal e qual a utilizamos cotidianamente, foi criado por Tim Berners-Lee, e que Berners-Lee se inspirou, entre outras coisas, nos estudos de um filósofo e sociólogo chamado Ted Nelson? As pessoas acham que a medicina, as engenharias, a biologia, a física e a química foram criadas por indivíduos desde aqueles dias assim, especializadíssimos? As pessoas acham que a filosofia trata apenas de coisas abstratas, sem nexo e sem conexão com a realidade imediata?
As pessoas são burras? Você, leitor, é burro? Eu sou burro? O burro é burro? O que é burro? Eu acho que todos somos muito burros, sim. Eu mesmo sou uma anta. O Lino, quando eu ainda estava em Silvânia, disse que eu sou um sujeito muito inteligente, mas ele que me desculpe, porque eu não sou, não. Eu sou é burro demais. Já passei por um monte de coisas e nunca aprendi nada. Li uma pá de livros e estou sempre relendo um ou outro pra ver se gravo alguma coisa que preste. Cometo sempre os mesmos erros. Pior do que isso: há quem me pague para cometer erros.
O mundo é mesmo um globo superpovoado por gente burra, não? Mas aonde eu quero chegar? Exatamente aqui: as pessoas falam o tempo todo sobre um monte de coisas, mas não fazem idéia do que estão falando. As pessoas são, em tese, animais racionais, mas agem o tempo todo de forma irracional. Mas por que isso acontece? Por que as pessoas viraram as costas para toda a tradição cultural do Ocidente? As pessoas, em geral, estiveram, em algum momento, de frente para toda a tradição cultural do Ocidente?
Por que as pessoas, para usar aquele mesmo exemplo, dizem que “a filosofia não serve para nada” sem, contudo, saber, de fato, o que é filosofia? As pessoas, quando usam o termo “filosofia”, têm consciência do que estão falando? Sabem que filosofia não é só metafísica e abstrações e masturbação mental, mas também estética, lógica, epistemologia, ontologia (não, eu não escrevi “odontologia”, eu escrevi “ontologia”) e um monte de outras coisas?
Voltando novamente ao ponto: por que isto acontece? Eu digo que isso acontece por culpa da escola. Todo mundo, ou quase todo mundo passa anos e anos na escola estudando coisas como história, geografia, álgebra e trigonometria, mas ninguém sabe para quê. Um engraçadinho poderia dizer: Para passar no vestibular. Não é pouca coisa, está certo, mas e daí? Existe algum significado real em entender as causas e conseqüências da Revolução Francesa? Existe algum significado real em saber calcular uma hipotenusa? Existe algum significado real em saber desenhar a fórmula estrutural do ácido sulfúrico? Você, professor de física, pergunte ao seu aluno do primeiro ano: Por que estudar o movimento retilíneo uniformemente variado? Você, professor de literatura, pergunte ao seu aluno do terceiro ano: Por que estudar a Geração de 45?
E não aceite como resposta qualquer coisa associada a passar no vestibular. Pergunte pelo significado real (se é que existe algum) de cada uma dessas coisas. E, afinal, quando confrontado com aquele silêncio sepulcral, pergunte a si mesmo, professor: O que eu estou fazendo aqui? Por que eu estou aqui?! Eu penso que a forma como os jovens são educados é errada. A maneira como conteúdos e conceitos são transmitidos é errada. O modo como procuram criar cidadãos conscientes é errado porque os educadores muitas vezes não são cidadãos conscientes. O que acontece, então? E qual seria a “maneira correta”? O que acontece é que o estudante conclui o ensino médio, mas é incapaz de formular um raciocínio completo e coerente. O que acontece é que muitos professores são incapazes de formular raciocínios completos e coerentes. O que acontece é que o professor de exatas despreza as humanidades porque não enxerga nelas qualquer “funcionalidade”, qualquer “valor prático”.
O que acontece é que o professor de humanidades despreza as exatas porque nunca conseguiu calcular aquela maldita hipotenusa. O que acontece é que ninguém sabe nada sobre coisa alguma. Os alunos não aprenderão enquanto não houver uma reforma ou mesmo uma revolução no ensino. Os alunos não aprenderão enquanto os educadores não compreenderem que têm de ser mais flexíveis. Os alunos não aprenderão enquanto os educadores não se adequarem a eles, porque, sim, o sistema que precisa se adequar aos estudantes, não o contrário.
Como fazer um adolescente entender e obedecer a uma disciplina, para os padrões dele, desgraçadamente rígida? Como pretender que um adolescente “fique quieto e aprenda” quando o que é ensinado, da forma como é ensinado, simplesmente não o interessa? Como pretender que um adolescente “fique quieto e aprenda” quando ele sequer pode escolher as disciplinas que mais lhe interessam? Com a desculpa de oferecer uma “formação ampla” aos estudantes, acabam oferecendo uma formação nula. Como pretender que um adolescente “fique quieto e aprenda”, por exemplo, geografia quando, no fim das contas, nem o professor de geografia compreende o que é que está ensinando e por quê? O que temos hoje no sistema educacional em todo o mundo é uma cadeia de erros que perpetua a burrice, a apatia, o desinteresse.
Uma cadeia de erros que forma milhares de profissionais especializadíssimos, mas - inacreditavelmente - despreparados. Uma cadeia de erros que está relegando ao abismo toda uma tradição cultural porque as pessoas não pensam mais, as pessoas não raciocinam mais, as pessoas não têm mais bases para pensar e para raciocinar, não têm mais bases para se situarem historicamente, filosoficamente. Como uma pessoa acéfala, amante das novelas e séries globais toscas que, não, não abordam a realidade cotidiana, mas uma idealização cretina da mesma, como uma pessoa assim pode ter subsídios para, por exemplo, apreciar a contento um material riquíssimo como a adaptação de A Pedra do Reino, na mesma Globo?
As pessoas vivem dispersas no vácuo, girando e girando pela eternidade afora, sem qualquer referência, divorciadas dos outros e de si mesmas, divorciadas até mesmo de Deus, posto que a idéia de Deus, como defende Baudrillard, perdeu-se em razão de simulacros e de rituais vazios, perdeu-se nos vãos da burocracia das religiões. No fundo, além de burros, somos todos ateus. E, não, as coisas não vão melhorar.
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André de Leones
Orgulhosamente para o Jornal A VOZ
de Silvânia-Goiás